Que segredos uma flor fóssil revelou sobre o clima de 35 milhões atrás?


Espécime do Báltico, que foi alvo de novos estudos, passou 150 anos com identidade errada

Por Kate Golembiewski
Atualização:

Eva-Maria Sadowski, pesquisadora de pós-doutorado no Museu de História Natural de Berlim, não tinha um plano específico quando decidiu pegar o maior fóssil de flor preservada em âmbar já descoberto.

“Fui sem nenhuma expectativa, só porque estava curiosa”, disse ela. Por que flor fóssil conservada em âmbar pode explicar clima da Europa há 35 milhões de anos?

Sua curiosidade puxou o fio de um caso de identidade equivocada de mais de 150 anos, resultando em uma imagem mais clara de como era a floresta de âmbar do Báltico, no norte da Europa, mais de 33 milhões de anos atrás.

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A flor preservada floresceu a meio caminho entre a extinção dos últimos dinossauros não-pássaros e a evolução dos humanos, que a encontraram no século 19 em território que hoje faz parte da Rússia. Em 1872, os cientistas a classificaram como Stewartia kowalewskii, uma flor perene já extinta.

A identidade da flor de âmbar do Báltico não havia sido revisada até o artigo de Eva-Maria Sadowski aparecer na Scientific Reports no começo de janeiro.

Plantas em âmbar são uma raridade. Entre os espécimes de âmbar do Báltico, apenas 1% a 3% dos organismos capturados são botânicos. Isso talvez resulte de uma preferência dos coletores de âmbar pelos animais, mas também pode ser porque os animais acabam pisando em poças de resina pegajosa, ao passo que as plantas caem acidentalmente.

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Embora sejam mais difíceis de encontrar, as plantas em âmbar fornecem aos paleobotânicos uma riqueza de informações, disse a pesquisadora. O âmbar, que se forma a partir da resina da árvore, preserva espécimes antigos em três dimensões, revelando “todas as características delicadas que você normalmente não encontra em outros tipos de fósseis”.

A flor que chamou a atenção de Eva-Maria Sadowski tinha 2,5 cm de largura – três vezes mais do que a segunda maior flor preservada em âmbar já descoberta. Um colega contou a ela sobre a flor “enorme” e ela se perguntou se ele estava exagerando. Não estava. Ela então decidiu ver o que 150 anos de avanços tecnológicos poderiam revelar sobre a Stewartia kowalewskii.

Depois de ter a flor fóssil em mãos, a pesquisadora poliu o bloco de âmbar com um pano de couro úmido e pasta de dente – técnica que ela aprendeu com seu orientador de doutorado, Alexander Schmidt, que aprendeu alguns de seus métodos com um dentista. Sob um poderoso microscópio, Eva-Maria Sadowski viu detalhes perfeitamente preservados da anatomia da flor, junto com partículas de pólen. Ela usou o pólen para ver se a planta havia sido classificada na família correta 150 anos atrás.

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A pesquisadora raspou os grãos próximos à superfície do âmbar com um bisturi. “Só faço isso numa manhã muito tranquila no meu escritório, onde ninguém me perturba – você precisa de mãos firmes, sem tremores”, disse ela.

Depois de isolar e obter imagens dos grãos, sua coautora no estudo, Christa-Charlotte Hofmann, da Universidade de Viena, investigou o pólen, juntamente com características microscópicas da anatomia da flor. Essa investigação apontou para um grupo de gênero totalmente diferente do que havia sido atribuído em 1872: Symplocos, gênero de arbustos floridos e pequenas árvores não encontrados na Europa hoje, mas difundidos no leste da Ásia moderna.

Plantas em âmbar são uma raridade. Entre os espécimes de âmbar do Báltico, apenas 1% a 3% dos organismos capturados são botânicos. Foto: Kate Golembiewski/NYT
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Mudanças no planeta

A redesignação da flor gigante ajuda a aprofundar o que os cientistas sabem sobre a diversidade ecológica da floresta de âmbar do Báltico. Também esclarece como o clima da Terra mudou nos últimos 35 milhões de anos: a presença de Symplocos ajuda a mostrar que a Europa antiga era mais amena do que na maior parte da história humana.

“Esses minúsculos grãos são registros naturais de climas e ecossistemas passados que nos ajudam a medir quanto nosso planeta mudou no passado devido a causas naturais (não humanas)”, disse Regan Dunn, paleobotânico do La Brea Tar Pits and Museum, que não esteve envolvido na pesquisa. “Isso nos permite entender melhor quanto nossa espécie está impactando o planeta”.

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Embora os entusiastas da franquia Jurassic Park possam ficar desapontados ao saber que não há chance de se obter DNA da flor de âmbar, George Poinar Jr., cientista cujo trabalho inspirou os filmes, disse que provavelmente haverá mais avanços. Nos quase 50 anos em que ele estuda o âmbar, os avanços na microscopia deixaram claros detalhes antes ocultos de organismos antigos.

“Acho fascinante que as pessoas vejam a vida assim”, disse ele. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Eva-Maria Sadowski, pesquisadora de pós-doutorado no Museu de História Natural de Berlim, não tinha um plano específico quando decidiu pegar o maior fóssil de flor preservada em âmbar já descoberto.

“Fui sem nenhuma expectativa, só porque estava curiosa”, disse ela. Por que flor fóssil conservada em âmbar pode explicar clima da Europa há 35 milhões de anos?

Sua curiosidade puxou o fio de um caso de identidade equivocada de mais de 150 anos, resultando em uma imagem mais clara de como era a floresta de âmbar do Báltico, no norte da Europa, mais de 33 milhões de anos atrás.

A flor preservada floresceu a meio caminho entre a extinção dos últimos dinossauros não-pássaros e a evolução dos humanos, que a encontraram no século 19 em território que hoje faz parte da Rússia. Em 1872, os cientistas a classificaram como Stewartia kowalewskii, uma flor perene já extinta.

A identidade da flor de âmbar do Báltico não havia sido revisada até o artigo de Eva-Maria Sadowski aparecer na Scientific Reports no começo de janeiro.

Plantas em âmbar são uma raridade. Entre os espécimes de âmbar do Báltico, apenas 1% a 3% dos organismos capturados são botânicos. Isso talvez resulte de uma preferência dos coletores de âmbar pelos animais, mas também pode ser porque os animais acabam pisando em poças de resina pegajosa, ao passo que as plantas caem acidentalmente.

Embora sejam mais difíceis de encontrar, as plantas em âmbar fornecem aos paleobotânicos uma riqueza de informações, disse a pesquisadora. O âmbar, que se forma a partir da resina da árvore, preserva espécimes antigos em três dimensões, revelando “todas as características delicadas que você normalmente não encontra em outros tipos de fósseis”.

A flor que chamou a atenção de Eva-Maria Sadowski tinha 2,5 cm de largura – três vezes mais do que a segunda maior flor preservada em âmbar já descoberta. Um colega contou a ela sobre a flor “enorme” e ela se perguntou se ele estava exagerando. Não estava. Ela então decidiu ver o que 150 anos de avanços tecnológicos poderiam revelar sobre a Stewartia kowalewskii.

Depois de ter a flor fóssil em mãos, a pesquisadora poliu o bloco de âmbar com um pano de couro úmido e pasta de dente – técnica que ela aprendeu com seu orientador de doutorado, Alexander Schmidt, que aprendeu alguns de seus métodos com um dentista. Sob um poderoso microscópio, Eva-Maria Sadowski viu detalhes perfeitamente preservados da anatomia da flor, junto com partículas de pólen. Ela usou o pólen para ver se a planta havia sido classificada na família correta 150 anos atrás.

A pesquisadora raspou os grãos próximos à superfície do âmbar com um bisturi. “Só faço isso numa manhã muito tranquila no meu escritório, onde ninguém me perturba – você precisa de mãos firmes, sem tremores”, disse ela.

Depois de isolar e obter imagens dos grãos, sua coautora no estudo, Christa-Charlotte Hofmann, da Universidade de Viena, investigou o pólen, juntamente com características microscópicas da anatomia da flor. Essa investigação apontou para um grupo de gênero totalmente diferente do que havia sido atribuído em 1872: Symplocos, gênero de arbustos floridos e pequenas árvores não encontrados na Europa hoje, mas difundidos no leste da Ásia moderna.

Plantas em âmbar são uma raridade. Entre os espécimes de âmbar do Báltico, apenas 1% a 3% dos organismos capturados são botânicos. Foto: Kate Golembiewski/NYT

Mudanças no planeta

A redesignação da flor gigante ajuda a aprofundar o que os cientistas sabem sobre a diversidade ecológica da floresta de âmbar do Báltico. Também esclarece como o clima da Terra mudou nos últimos 35 milhões de anos: a presença de Symplocos ajuda a mostrar que a Europa antiga era mais amena do que na maior parte da história humana.

“Esses minúsculos grãos são registros naturais de climas e ecossistemas passados que nos ajudam a medir quanto nosso planeta mudou no passado devido a causas naturais (não humanas)”, disse Regan Dunn, paleobotânico do La Brea Tar Pits and Museum, que não esteve envolvido na pesquisa. “Isso nos permite entender melhor quanto nossa espécie está impactando o planeta”.

Embora os entusiastas da franquia Jurassic Park possam ficar desapontados ao saber que não há chance de se obter DNA da flor de âmbar, George Poinar Jr., cientista cujo trabalho inspirou os filmes, disse que provavelmente haverá mais avanços. Nos quase 50 anos em que ele estuda o âmbar, os avanços na microscopia deixaram claros detalhes antes ocultos de organismos antigos.

“Acho fascinante que as pessoas vejam a vida assim”, disse ele. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Eva-Maria Sadowski, pesquisadora de pós-doutorado no Museu de História Natural de Berlim, não tinha um plano específico quando decidiu pegar o maior fóssil de flor preservada em âmbar já descoberto.

“Fui sem nenhuma expectativa, só porque estava curiosa”, disse ela. Por que flor fóssil conservada em âmbar pode explicar clima da Europa há 35 milhões de anos?

Sua curiosidade puxou o fio de um caso de identidade equivocada de mais de 150 anos, resultando em uma imagem mais clara de como era a floresta de âmbar do Báltico, no norte da Europa, mais de 33 milhões de anos atrás.

A flor preservada floresceu a meio caminho entre a extinção dos últimos dinossauros não-pássaros e a evolução dos humanos, que a encontraram no século 19 em território que hoje faz parte da Rússia. Em 1872, os cientistas a classificaram como Stewartia kowalewskii, uma flor perene já extinta.

A identidade da flor de âmbar do Báltico não havia sido revisada até o artigo de Eva-Maria Sadowski aparecer na Scientific Reports no começo de janeiro.

Plantas em âmbar são uma raridade. Entre os espécimes de âmbar do Báltico, apenas 1% a 3% dos organismos capturados são botânicos. Isso talvez resulte de uma preferência dos coletores de âmbar pelos animais, mas também pode ser porque os animais acabam pisando em poças de resina pegajosa, ao passo que as plantas caem acidentalmente.

Embora sejam mais difíceis de encontrar, as plantas em âmbar fornecem aos paleobotânicos uma riqueza de informações, disse a pesquisadora. O âmbar, que se forma a partir da resina da árvore, preserva espécimes antigos em três dimensões, revelando “todas as características delicadas que você normalmente não encontra em outros tipos de fósseis”.

A flor que chamou a atenção de Eva-Maria Sadowski tinha 2,5 cm de largura – três vezes mais do que a segunda maior flor preservada em âmbar já descoberta. Um colega contou a ela sobre a flor “enorme” e ela se perguntou se ele estava exagerando. Não estava. Ela então decidiu ver o que 150 anos de avanços tecnológicos poderiam revelar sobre a Stewartia kowalewskii.

Depois de ter a flor fóssil em mãos, a pesquisadora poliu o bloco de âmbar com um pano de couro úmido e pasta de dente – técnica que ela aprendeu com seu orientador de doutorado, Alexander Schmidt, que aprendeu alguns de seus métodos com um dentista. Sob um poderoso microscópio, Eva-Maria Sadowski viu detalhes perfeitamente preservados da anatomia da flor, junto com partículas de pólen. Ela usou o pólen para ver se a planta havia sido classificada na família correta 150 anos atrás.

A pesquisadora raspou os grãos próximos à superfície do âmbar com um bisturi. “Só faço isso numa manhã muito tranquila no meu escritório, onde ninguém me perturba – você precisa de mãos firmes, sem tremores”, disse ela.

Depois de isolar e obter imagens dos grãos, sua coautora no estudo, Christa-Charlotte Hofmann, da Universidade de Viena, investigou o pólen, juntamente com características microscópicas da anatomia da flor. Essa investigação apontou para um grupo de gênero totalmente diferente do que havia sido atribuído em 1872: Symplocos, gênero de arbustos floridos e pequenas árvores não encontrados na Europa hoje, mas difundidos no leste da Ásia moderna.

Plantas em âmbar são uma raridade. Entre os espécimes de âmbar do Báltico, apenas 1% a 3% dos organismos capturados são botânicos. Foto: Kate Golembiewski/NYT

Mudanças no planeta

A redesignação da flor gigante ajuda a aprofundar o que os cientistas sabem sobre a diversidade ecológica da floresta de âmbar do Báltico. Também esclarece como o clima da Terra mudou nos últimos 35 milhões de anos: a presença de Symplocos ajuda a mostrar que a Europa antiga era mais amena do que na maior parte da história humana.

“Esses minúsculos grãos são registros naturais de climas e ecossistemas passados que nos ajudam a medir quanto nosso planeta mudou no passado devido a causas naturais (não humanas)”, disse Regan Dunn, paleobotânico do La Brea Tar Pits and Museum, que não esteve envolvido na pesquisa. “Isso nos permite entender melhor quanto nossa espécie está impactando o planeta”.

Embora os entusiastas da franquia Jurassic Park possam ficar desapontados ao saber que não há chance de se obter DNA da flor de âmbar, George Poinar Jr., cientista cujo trabalho inspirou os filmes, disse que provavelmente haverá mais avanços. Nos quase 50 anos em que ele estuda o âmbar, os avanços na microscopia deixaram claros detalhes antes ocultos de organismos antigos.

“Acho fascinante que as pessoas vejam a vida assim”, disse ele. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Eva-Maria Sadowski, pesquisadora de pós-doutorado no Museu de História Natural de Berlim, não tinha um plano específico quando decidiu pegar o maior fóssil de flor preservada em âmbar já descoberto.

“Fui sem nenhuma expectativa, só porque estava curiosa”, disse ela. Por que flor fóssil conservada em âmbar pode explicar clima da Europa há 35 milhões de anos?

Sua curiosidade puxou o fio de um caso de identidade equivocada de mais de 150 anos, resultando em uma imagem mais clara de como era a floresta de âmbar do Báltico, no norte da Europa, mais de 33 milhões de anos atrás.

A flor preservada floresceu a meio caminho entre a extinção dos últimos dinossauros não-pássaros e a evolução dos humanos, que a encontraram no século 19 em território que hoje faz parte da Rússia. Em 1872, os cientistas a classificaram como Stewartia kowalewskii, uma flor perene já extinta.

A identidade da flor de âmbar do Báltico não havia sido revisada até o artigo de Eva-Maria Sadowski aparecer na Scientific Reports no começo de janeiro.

Plantas em âmbar são uma raridade. Entre os espécimes de âmbar do Báltico, apenas 1% a 3% dos organismos capturados são botânicos. Isso talvez resulte de uma preferência dos coletores de âmbar pelos animais, mas também pode ser porque os animais acabam pisando em poças de resina pegajosa, ao passo que as plantas caem acidentalmente.

Embora sejam mais difíceis de encontrar, as plantas em âmbar fornecem aos paleobotânicos uma riqueza de informações, disse a pesquisadora. O âmbar, que se forma a partir da resina da árvore, preserva espécimes antigos em três dimensões, revelando “todas as características delicadas que você normalmente não encontra em outros tipos de fósseis”.

A flor que chamou a atenção de Eva-Maria Sadowski tinha 2,5 cm de largura – três vezes mais do que a segunda maior flor preservada em âmbar já descoberta. Um colega contou a ela sobre a flor “enorme” e ela se perguntou se ele estava exagerando. Não estava. Ela então decidiu ver o que 150 anos de avanços tecnológicos poderiam revelar sobre a Stewartia kowalewskii.

Depois de ter a flor fóssil em mãos, a pesquisadora poliu o bloco de âmbar com um pano de couro úmido e pasta de dente – técnica que ela aprendeu com seu orientador de doutorado, Alexander Schmidt, que aprendeu alguns de seus métodos com um dentista. Sob um poderoso microscópio, Eva-Maria Sadowski viu detalhes perfeitamente preservados da anatomia da flor, junto com partículas de pólen. Ela usou o pólen para ver se a planta havia sido classificada na família correta 150 anos atrás.

A pesquisadora raspou os grãos próximos à superfície do âmbar com um bisturi. “Só faço isso numa manhã muito tranquila no meu escritório, onde ninguém me perturba – você precisa de mãos firmes, sem tremores”, disse ela.

Depois de isolar e obter imagens dos grãos, sua coautora no estudo, Christa-Charlotte Hofmann, da Universidade de Viena, investigou o pólen, juntamente com características microscópicas da anatomia da flor. Essa investigação apontou para um grupo de gênero totalmente diferente do que havia sido atribuído em 1872: Symplocos, gênero de arbustos floridos e pequenas árvores não encontrados na Europa hoje, mas difundidos no leste da Ásia moderna.

Plantas em âmbar são uma raridade. Entre os espécimes de âmbar do Báltico, apenas 1% a 3% dos organismos capturados são botânicos. Foto: Kate Golembiewski/NYT

Mudanças no planeta

A redesignação da flor gigante ajuda a aprofundar o que os cientistas sabem sobre a diversidade ecológica da floresta de âmbar do Báltico. Também esclarece como o clima da Terra mudou nos últimos 35 milhões de anos: a presença de Symplocos ajuda a mostrar que a Europa antiga era mais amena do que na maior parte da história humana.

“Esses minúsculos grãos são registros naturais de climas e ecossistemas passados que nos ajudam a medir quanto nosso planeta mudou no passado devido a causas naturais (não humanas)”, disse Regan Dunn, paleobotânico do La Brea Tar Pits and Museum, que não esteve envolvido na pesquisa. “Isso nos permite entender melhor quanto nossa espécie está impactando o planeta”.

Embora os entusiastas da franquia Jurassic Park possam ficar desapontados ao saber que não há chance de se obter DNA da flor de âmbar, George Poinar Jr., cientista cujo trabalho inspirou os filmes, disse que provavelmente haverá mais avanços. Nos quase 50 anos em que ele estuda o âmbar, os avanços na microscopia deixaram claros detalhes antes ocultos de organismos antigos.

“Acho fascinante que as pessoas vejam a vida assim”, disse ele. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Eva-Maria Sadowski, pesquisadora de pós-doutorado no Museu de História Natural de Berlim, não tinha um plano específico quando decidiu pegar o maior fóssil de flor preservada em âmbar já descoberto.

“Fui sem nenhuma expectativa, só porque estava curiosa”, disse ela. Por que flor fóssil conservada em âmbar pode explicar clima da Europa há 35 milhões de anos?

Sua curiosidade puxou o fio de um caso de identidade equivocada de mais de 150 anos, resultando em uma imagem mais clara de como era a floresta de âmbar do Báltico, no norte da Europa, mais de 33 milhões de anos atrás.

A flor preservada floresceu a meio caminho entre a extinção dos últimos dinossauros não-pássaros e a evolução dos humanos, que a encontraram no século 19 em território que hoje faz parte da Rússia. Em 1872, os cientistas a classificaram como Stewartia kowalewskii, uma flor perene já extinta.

A identidade da flor de âmbar do Báltico não havia sido revisada até o artigo de Eva-Maria Sadowski aparecer na Scientific Reports no começo de janeiro.

Plantas em âmbar são uma raridade. Entre os espécimes de âmbar do Báltico, apenas 1% a 3% dos organismos capturados são botânicos. Isso talvez resulte de uma preferência dos coletores de âmbar pelos animais, mas também pode ser porque os animais acabam pisando em poças de resina pegajosa, ao passo que as plantas caem acidentalmente.

Embora sejam mais difíceis de encontrar, as plantas em âmbar fornecem aos paleobotânicos uma riqueza de informações, disse a pesquisadora. O âmbar, que se forma a partir da resina da árvore, preserva espécimes antigos em três dimensões, revelando “todas as características delicadas que você normalmente não encontra em outros tipos de fósseis”.

A flor que chamou a atenção de Eva-Maria Sadowski tinha 2,5 cm de largura – três vezes mais do que a segunda maior flor preservada em âmbar já descoberta. Um colega contou a ela sobre a flor “enorme” e ela se perguntou se ele estava exagerando. Não estava. Ela então decidiu ver o que 150 anos de avanços tecnológicos poderiam revelar sobre a Stewartia kowalewskii.

Depois de ter a flor fóssil em mãos, a pesquisadora poliu o bloco de âmbar com um pano de couro úmido e pasta de dente – técnica que ela aprendeu com seu orientador de doutorado, Alexander Schmidt, que aprendeu alguns de seus métodos com um dentista. Sob um poderoso microscópio, Eva-Maria Sadowski viu detalhes perfeitamente preservados da anatomia da flor, junto com partículas de pólen. Ela usou o pólen para ver se a planta havia sido classificada na família correta 150 anos atrás.

A pesquisadora raspou os grãos próximos à superfície do âmbar com um bisturi. “Só faço isso numa manhã muito tranquila no meu escritório, onde ninguém me perturba – você precisa de mãos firmes, sem tremores”, disse ela.

Depois de isolar e obter imagens dos grãos, sua coautora no estudo, Christa-Charlotte Hofmann, da Universidade de Viena, investigou o pólen, juntamente com características microscópicas da anatomia da flor. Essa investigação apontou para um grupo de gênero totalmente diferente do que havia sido atribuído em 1872: Symplocos, gênero de arbustos floridos e pequenas árvores não encontrados na Europa hoje, mas difundidos no leste da Ásia moderna.

Plantas em âmbar são uma raridade. Entre os espécimes de âmbar do Báltico, apenas 1% a 3% dos organismos capturados são botânicos. Foto: Kate Golembiewski/NYT

Mudanças no planeta

A redesignação da flor gigante ajuda a aprofundar o que os cientistas sabem sobre a diversidade ecológica da floresta de âmbar do Báltico. Também esclarece como o clima da Terra mudou nos últimos 35 milhões de anos: a presença de Symplocos ajuda a mostrar que a Europa antiga era mais amena do que na maior parte da história humana.

“Esses minúsculos grãos são registros naturais de climas e ecossistemas passados que nos ajudam a medir quanto nosso planeta mudou no passado devido a causas naturais (não humanas)”, disse Regan Dunn, paleobotânico do La Brea Tar Pits and Museum, que não esteve envolvido na pesquisa. “Isso nos permite entender melhor quanto nossa espécie está impactando o planeta”.

Embora os entusiastas da franquia Jurassic Park possam ficar desapontados ao saber que não há chance de se obter DNA da flor de âmbar, George Poinar Jr., cientista cujo trabalho inspirou os filmes, disse que provavelmente haverá mais avanços. Nos quase 50 anos em que ele estuda o âmbar, os avanços na microscopia deixaram claros detalhes antes ocultos de organismos antigos.

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