Na madrugada desta segunda-feira, o sul de Portugal foi acordado por um tremor de terra — um terremoto de magnitude 5,3 na escala de Richter (considerada moderada), de acordo com o Instituto Portugês do Mar e Atmosfera (IPMA). O evento começou às 5h11 no horário local, e teve o epicentro a cerca de 60 km a oeste de Sines, com 25 km de profundidade. O instituto chegou a registrar outras seis réplicas de pequena magnitude, que não foram sentidas pela população.
Apesar de não ter havido mortes ou grandes danos, o abalo sísmico assustou o país, uma vez que terremotos fazem parte do histórico de traumas da nação. Em 1755, um dos maiores terremotos da história aconteceu em Portugal, com escala 8,7, sendo considerado o maior da Europa. No século XVIII, o evento foi seguido de um tsunami, deixando 60 mil mortos, e Lisboa quase destruída.
O sismologista da USP Bruno Collaço explica que o grande terremoto de Lisboa revolucionou a história da sismologia. “Foi um grande acontecimento. A partir desse sismo é que se passou a pensar mais cientificamente sobre os terremotos. Antes, eles eram dados como coisas divinas.”
Em 1969, houve o terremoto mais forte de Portugal do século XX, com magnitude de 7,9 na escala Richter. Esse evento, apesar de grave, ocorreu muito longe da costa, o que resultou em menos mortos — foram 13 vítimas fatais do abalo sísmico que teve epicentro a 200 km de Sagres.
Apesar de não ser um dos países que mais sofrem com terremotos no mundo, Portugal levanta uma questão: por que eles acontecem, uma vez que o país não está situado em uma falha de placas tectônicas? “Terremotos que acontecem em Portugal, no Brasil, na Austrália, na costa leste dos Estados Unidos, etc... são todas regiões intraplaca, ou seja, no interior das placas. Entender esses eventos é vanguarda hoje na ciência da sismologia, porque eles são muito difíceis de explicar”, explica Collaço.
Terremotos são abalos sísmicos, ou seja, ocorrem quando as rochas de uma placa tectônica se quebram. Collaço explica que, apesar de Portugal estar perto da falha de Açores Gibraltar (entre a placa tectônica da Eurásia e a Africana), o abalo sísmico ocorreu dentro da placa da Eurásia.
“O movimento dessas placas faz com que as forças se espalhem por toda a crosta sobre Portugal e também sobre a plataforma oceânica, e de repente as rochas não conseguem suportar essas pressões e acabam rompendo”, explica o especialista.
Existem três tipos de contato entre placas tectônicas:
- os transcorrentes (quando as placas passam uma pela outra lateralmente);
- divergentes (quando se afastam, por exemplo, entre a placa Africana e Sul-Americana, em que o Brasil se encontra) e
- convergentes (quando as placas vão de encontro uma a outra, e se sobrepõem).
De acordo com Collaço, a placa da Eurásia, em que Portugal está, possui transcorrência e convergência. “Nessa região do Sul de Portugal, a maior parte da placa tectônica tem um contato transcorrente, mas em alguns pontos, principalmente mais perto do Sul de Portugal e do norte da África, tem alguns pontos que foram descobertas subducções (quando uma placa vai para baixo da outra)”. Esse movimento, segundo o especialista, contribui para a soma de forças que resultam em terremotos.
“A Eurásia, perto de Portugal, está em contato com a placa Africana e com a norte-americana, e essas placas estão subindo uma em relação à outra, e a placa da Eurásia está sendo esmagada”, afirma Collaço sobre o movimento das placas tectônicas.