Por que temos nossas melhores ideias no banho? A ciência explica


O “efeito chuveiro” na criatividade é o produto da divagação mental, onde os pensamentos estão em qualquer lugar, menos na tarefa em questão, diz pesquisador

Por Richard Sima

Em meio aos vapores e à espuma, um bom banho pode relaxar não só o corpo, mas também a mente, liberando fluxos de consciência, clareza e criatividade.

As pesquisas mostram que o que é conhecido como “efeito chuveiro” também pode ocorrer fora do chuveiro e que muitos de nossos melhores pensamentos não acontecem no trabalho ou na escola, mas sim enquanto vamos vivendo nossos dias, com ideias incubadas em segundo plano.

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Em um estudo de 2019, 98 escritores profissionais e 87 físicos registraram suas ideias mais criativas todos os dias, bem como o que estavam fazendo e pensando quando elas surgiram.

Ainda que a maioria das ideias tenha ocorrido no trabalho, 20% dos pensamentos mais significativos surgiram enquanto eles faziam outra coisa – como lavar louça ou tomar banho. Notavelmente, as ideias que os escritores e físicos tiveram fora do expediente foram autoavaliadas como tão criativas e importantes quanto as que surgiram no trabalho.

É uma descoberta impressionante, disse Jonathan Schooler, professor de psicologia e ciências do cérebro na Universidade da Califórnia em Santa Barbara e autor do estudo.

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“Quantas coisas você consegue fazer com o mesmo sucesso no chuveiro e na mesa de trabalho?”, disse ele.

Mas esses pensamentos espontâneos no chuveiro tinham outra vantagem: com frequência, eram experiências iluminadoras – como o eureka de Arquimedes na banheira – que superavam um impasse criativo.

O “efeito chuveiro” na criatividade é o produto da divagação mental, onde os pensamentos estão em qualquer lugar, menos na tarefa em questão.

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Historicamente, os pesquisadores se concentraram nos efeitos negativos da divagação, que pode prejudicar o desempenho e tem sido associada à infelicidade.

Mas a natureza da divagação é importante. A pesquisa de Schooler descobriu que as pessoas que divagavam sobre algo em que estavam interessadas eram mais felizes do que quando estavam cumprindo alguma tarefa.

“Mesmo que a divagação possa ser problemática, o que chamo de ‘maravilhamento mental’, que é uma espécie de divagação curiosa e divertida, pode ser realmente útil”, disse Schooler.

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Nossa capacidade de gerar novas ideias e pensamentos criativos provavelmente surge da “rede de modo padrão” (DMN, na sigla em inglês) do cérebro, uma constelação de regiões que ficam ativas quando nossos pensamentos se voltam para dentro, como quando a mente divaga.  Foto: MGH-UCLA Human Connectome Project/Divulgação

“Insights”

Seus benefícios parecem ser relativamente difundidos. Um estudo com mais de 1.100 entrevistados relatou que seus momentos de insight ocorreram durante divagações no chuveiro (30%), no trânsito (13%) ou durante exercícios físicos (11%).

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Existe um “ponto ideal” no nível de envolvimento da atividade e seu impacto no pensamento criativo: se for pouco envolvente, fica chato; se for envolvente demais, deixa pouca atenção para as ideias.

Um estudo de setembro do ano passado relatou que ter pensamentos espontâneos e de fluxo livre durante uma atividade moderadamente envolvente, mas não entediante, aumentava a criatividade.

Mais de 300 estudantes universitários receberam a tarefa de criar o maior número possível de novos usos para objetos comuns, como tijolos ou clipes de papel, em 90 segundos. Isso é conhecido como tarefa de usos alternativos, que testa a criatividade.

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Os estudantes então assistiram a um vídeo chato de dois homens pendurando roupas ou a um clipe mais envolvente da famosa cena do café de Harry & Sally Feitos um para o outro. Essas atividades davam tempo para que as ideias dos participantes se incubassem e suas mentes vagassem.

Quando os estudantes foram testados mais uma vez, suas divagações mentais levaram a ideias mais criativas, mas apenas para os que assistiram à cena moderadamente envolvente do filme.

Uma atividade como tomar banho ou caminhar (ou assistir a um vídeo de comédia romântica) “consome um pouco de atenção e influencia os pensamentos, mas não toma toda a atenção, o que impediria que você atentasse a essas ideias criativas que estão incubadas em segundo plano”, disse Zachary Irving, professor assistente de filosofia da ciência cognitiva na Universidade da Virgínia e autor do estudo.

Nossa capacidade de gerar novas ideias e pensamentos criativos provavelmente surge da “rede de modo padrão” (DMN, na sigla em inglês) do cérebro, uma constelação de regiões que ficam ativas quando nossos pensamentos se voltam para dentro, como quando a mente divaga.

O papel da DMN na criatividade era considerado correlacional, mas um estudo de janeiro de 2022 relatou a primeira evidência direta de que a rede de modo padrão está ligada ao pensamento criativo.

Na pesquisa, 13 pacientes foram submetidos a cirurgia cerebral para a remoção de tumores. Eles tinham de estar acordados para que os cirurgiões pudessem mapear o córtex com estimulação elétrica, que inibe uma área muito específica do cérebro por um curto período de tempo, disse Ben Shofty, neurocirurgião funcional e professor assistente da Universidade de Utah.

Os pacientes foram submetidos à tarefa de usos alternativos, listando usos incomuns para itens comuns. Quando os cirurgiões estimularam uma área do cérebro dentro da DMN, a capacidade do paciente de pensar em ideias criativas cessou temporariamente.

No início, uma paciente apresentou muitos usos criativos para um pneu – almofada, fonte de jardim, cortado em pedaços para fazer bijuterias. Mas, quando os pesquisadores inibiram eletricamente partes de sua DMN, ela teve dificuldade para pensar em novas maneiras de usar um lápis – “Você pode desenhar com ele, pode desenhar caricaturas, hmm, principalmente desenhar”.

A criatividade é “uma parte fundamental do que nos faz humanos. Nós a usamos o tempo todo”, disse Shofty. “Então, acho que entender esse mecanismo e como ele funciona é super importante para entendermos a nós mesmos e o que nos faz humanos.”

Como usar o efeito chuveiro para melhorar a criatividade:

- Faça pausas. Dê um passeio ou tome um banho. Isso não apenas alivia o estresse, mas também pode ajudar você a entrar em um modo diferente de pensar.

- Busque a mudança. Mudar o ambiente pode nos levar a novos insights porque submete nosso cérebro a novos estímulos. Mas tenha certeza de que seja algo moderadamente envolvente. “Ficamos vestidos a maior parte do dia, não com água caindo na cabeça”, disse Schooler. “Então a simples mudança na experiência pode dar aos banhos uma vantagem particular.”

- Persista. A criatividade, assim como um músculo, ficará melhor com a repetição, disse Shofty.

- Pense no que impulsiona você para um modo de pensamento criativo. Irving sugere pensar sobre o que sua mente está fazendo durante diferentes atividades para que você possa buscar experiências que levem sua mente a um estado mais criativo.

“Quando tomo banho, fico estressando com as mesmas coisas?”, disse ele. “Ou fico relaxando, com a mente divagando?” / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Em meio aos vapores e à espuma, um bom banho pode relaxar não só o corpo, mas também a mente, liberando fluxos de consciência, clareza e criatividade.

As pesquisas mostram que o que é conhecido como “efeito chuveiro” também pode ocorrer fora do chuveiro e que muitos de nossos melhores pensamentos não acontecem no trabalho ou na escola, mas sim enquanto vamos vivendo nossos dias, com ideias incubadas em segundo plano.

Em um estudo de 2019, 98 escritores profissionais e 87 físicos registraram suas ideias mais criativas todos os dias, bem como o que estavam fazendo e pensando quando elas surgiram.

Ainda que a maioria das ideias tenha ocorrido no trabalho, 20% dos pensamentos mais significativos surgiram enquanto eles faziam outra coisa – como lavar louça ou tomar banho. Notavelmente, as ideias que os escritores e físicos tiveram fora do expediente foram autoavaliadas como tão criativas e importantes quanto as que surgiram no trabalho.

É uma descoberta impressionante, disse Jonathan Schooler, professor de psicologia e ciências do cérebro na Universidade da Califórnia em Santa Barbara e autor do estudo.

“Quantas coisas você consegue fazer com o mesmo sucesso no chuveiro e na mesa de trabalho?”, disse ele.

Mas esses pensamentos espontâneos no chuveiro tinham outra vantagem: com frequência, eram experiências iluminadoras – como o eureka de Arquimedes na banheira – que superavam um impasse criativo.

O “efeito chuveiro” na criatividade é o produto da divagação mental, onde os pensamentos estão em qualquer lugar, menos na tarefa em questão.

Historicamente, os pesquisadores se concentraram nos efeitos negativos da divagação, que pode prejudicar o desempenho e tem sido associada à infelicidade.

Mas a natureza da divagação é importante. A pesquisa de Schooler descobriu que as pessoas que divagavam sobre algo em que estavam interessadas eram mais felizes do que quando estavam cumprindo alguma tarefa.

“Mesmo que a divagação possa ser problemática, o que chamo de ‘maravilhamento mental’, que é uma espécie de divagação curiosa e divertida, pode ser realmente útil”, disse Schooler.

Nossa capacidade de gerar novas ideias e pensamentos criativos provavelmente surge da “rede de modo padrão” (DMN, na sigla em inglês) do cérebro, uma constelação de regiões que ficam ativas quando nossos pensamentos se voltam para dentro, como quando a mente divaga.  Foto: MGH-UCLA Human Connectome Project/Divulgação

“Insights”

Seus benefícios parecem ser relativamente difundidos. Um estudo com mais de 1.100 entrevistados relatou que seus momentos de insight ocorreram durante divagações no chuveiro (30%), no trânsito (13%) ou durante exercícios físicos (11%).

Existe um “ponto ideal” no nível de envolvimento da atividade e seu impacto no pensamento criativo: se for pouco envolvente, fica chato; se for envolvente demais, deixa pouca atenção para as ideias.

Um estudo de setembro do ano passado relatou que ter pensamentos espontâneos e de fluxo livre durante uma atividade moderadamente envolvente, mas não entediante, aumentava a criatividade.

Mais de 300 estudantes universitários receberam a tarefa de criar o maior número possível de novos usos para objetos comuns, como tijolos ou clipes de papel, em 90 segundos. Isso é conhecido como tarefa de usos alternativos, que testa a criatividade.

Os estudantes então assistiram a um vídeo chato de dois homens pendurando roupas ou a um clipe mais envolvente da famosa cena do café de Harry & Sally Feitos um para o outro. Essas atividades davam tempo para que as ideias dos participantes se incubassem e suas mentes vagassem.

Quando os estudantes foram testados mais uma vez, suas divagações mentais levaram a ideias mais criativas, mas apenas para os que assistiram à cena moderadamente envolvente do filme.

Uma atividade como tomar banho ou caminhar (ou assistir a um vídeo de comédia romântica) “consome um pouco de atenção e influencia os pensamentos, mas não toma toda a atenção, o que impediria que você atentasse a essas ideias criativas que estão incubadas em segundo plano”, disse Zachary Irving, professor assistente de filosofia da ciência cognitiva na Universidade da Virgínia e autor do estudo.

Nossa capacidade de gerar novas ideias e pensamentos criativos provavelmente surge da “rede de modo padrão” (DMN, na sigla em inglês) do cérebro, uma constelação de regiões que ficam ativas quando nossos pensamentos se voltam para dentro, como quando a mente divaga.

O papel da DMN na criatividade era considerado correlacional, mas um estudo de janeiro de 2022 relatou a primeira evidência direta de que a rede de modo padrão está ligada ao pensamento criativo.

Na pesquisa, 13 pacientes foram submetidos a cirurgia cerebral para a remoção de tumores. Eles tinham de estar acordados para que os cirurgiões pudessem mapear o córtex com estimulação elétrica, que inibe uma área muito específica do cérebro por um curto período de tempo, disse Ben Shofty, neurocirurgião funcional e professor assistente da Universidade de Utah.

Os pacientes foram submetidos à tarefa de usos alternativos, listando usos incomuns para itens comuns. Quando os cirurgiões estimularam uma área do cérebro dentro da DMN, a capacidade do paciente de pensar em ideias criativas cessou temporariamente.

No início, uma paciente apresentou muitos usos criativos para um pneu – almofada, fonte de jardim, cortado em pedaços para fazer bijuterias. Mas, quando os pesquisadores inibiram eletricamente partes de sua DMN, ela teve dificuldade para pensar em novas maneiras de usar um lápis – “Você pode desenhar com ele, pode desenhar caricaturas, hmm, principalmente desenhar”.

A criatividade é “uma parte fundamental do que nos faz humanos. Nós a usamos o tempo todo”, disse Shofty. “Então, acho que entender esse mecanismo e como ele funciona é super importante para entendermos a nós mesmos e o que nos faz humanos.”

Como usar o efeito chuveiro para melhorar a criatividade:

- Faça pausas. Dê um passeio ou tome um banho. Isso não apenas alivia o estresse, mas também pode ajudar você a entrar em um modo diferente de pensar.

- Busque a mudança. Mudar o ambiente pode nos levar a novos insights porque submete nosso cérebro a novos estímulos. Mas tenha certeza de que seja algo moderadamente envolvente. “Ficamos vestidos a maior parte do dia, não com água caindo na cabeça”, disse Schooler. “Então a simples mudança na experiência pode dar aos banhos uma vantagem particular.”

- Persista. A criatividade, assim como um músculo, ficará melhor com a repetição, disse Shofty.

- Pense no que impulsiona você para um modo de pensamento criativo. Irving sugere pensar sobre o que sua mente está fazendo durante diferentes atividades para que você possa buscar experiências que levem sua mente a um estado mais criativo.

“Quando tomo banho, fico estressando com as mesmas coisas?”, disse ele. “Ou fico relaxando, com a mente divagando?” / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Em meio aos vapores e à espuma, um bom banho pode relaxar não só o corpo, mas também a mente, liberando fluxos de consciência, clareza e criatividade.

As pesquisas mostram que o que é conhecido como “efeito chuveiro” também pode ocorrer fora do chuveiro e que muitos de nossos melhores pensamentos não acontecem no trabalho ou na escola, mas sim enquanto vamos vivendo nossos dias, com ideias incubadas em segundo plano.

Em um estudo de 2019, 98 escritores profissionais e 87 físicos registraram suas ideias mais criativas todos os dias, bem como o que estavam fazendo e pensando quando elas surgiram.

Ainda que a maioria das ideias tenha ocorrido no trabalho, 20% dos pensamentos mais significativos surgiram enquanto eles faziam outra coisa – como lavar louça ou tomar banho. Notavelmente, as ideias que os escritores e físicos tiveram fora do expediente foram autoavaliadas como tão criativas e importantes quanto as que surgiram no trabalho.

É uma descoberta impressionante, disse Jonathan Schooler, professor de psicologia e ciências do cérebro na Universidade da Califórnia em Santa Barbara e autor do estudo.

“Quantas coisas você consegue fazer com o mesmo sucesso no chuveiro e na mesa de trabalho?”, disse ele.

Mas esses pensamentos espontâneos no chuveiro tinham outra vantagem: com frequência, eram experiências iluminadoras – como o eureka de Arquimedes na banheira – que superavam um impasse criativo.

O “efeito chuveiro” na criatividade é o produto da divagação mental, onde os pensamentos estão em qualquer lugar, menos na tarefa em questão.

Historicamente, os pesquisadores se concentraram nos efeitos negativos da divagação, que pode prejudicar o desempenho e tem sido associada à infelicidade.

Mas a natureza da divagação é importante. A pesquisa de Schooler descobriu que as pessoas que divagavam sobre algo em que estavam interessadas eram mais felizes do que quando estavam cumprindo alguma tarefa.

“Mesmo que a divagação possa ser problemática, o que chamo de ‘maravilhamento mental’, que é uma espécie de divagação curiosa e divertida, pode ser realmente útil”, disse Schooler.

Nossa capacidade de gerar novas ideias e pensamentos criativos provavelmente surge da “rede de modo padrão” (DMN, na sigla em inglês) do cérebro, uma constelação de regiões que ficam ativas quando nossos pensamentos se voltam para dentro, como quando a mente divaga.  Foto: MGH-UCLA Human Connectome Project/Divulgação

“Insights”

Seus benefícios parecem ser relativamente difundidos. Um estudo com mais de 1.100 entrevistados relatou que seus momentos de insight ocorreram durante divagações no chuveiro (30%), no trânsito (13%) ou durante exercícios físicos (11%).

Existe um “ponto ideal” no nível de envolvimento da atividade e seu impacto no pensamento criativo: se for pouco envolvente, fica chato; se for envolvente demais, deixa pouca atenção para as ideias.

Um estudo de setembro do ano passado relatou que ter pensamentos espontâneos e de fluxo livre durante uma atividade moderadamente envolvente, mas não entediante, aumentava a criatividade.

Mais de 300 estudantes universitários receberam a tarefa de criar o maior número possível de novos usos para objetos comuns, como tijolos ou clipes de papel, em 90 segundos. Isso é conhecido como tarefa de usos alternativos, que testa a criatividade.

Os estudantes então assistiram a um vídeo chato de dois homens pendurando roupas ou a um clipe mais envolvente da famosa cena do café de Harry & Sally Feitos um para o outro. Essas atividades davam tempo para que as ideias dos participantes se incubassem e suas mentes vagassem.

Quando os estudantes foram testados mais uma vez, suas divagações mentais levaram a ideias mais criativas, mas apenas para os que assistiram à cena moderadamente envolvente do filme.

Uma atividade como tomar banho ou caminhar (ou assistir a um vídeo de comédia romântica) “consome um pouco de atenção e influencia os pensamentos, mas não toma toda a atenção, o que impediria que você atentasse a essas ideias criativas que estão incubadas em segundo plano”, disse Zachary Irving, professor assistente de filosofia da ciência cognitiva na Universidade da Virgínia e autor do estudo.

Nossa capacidade de gerar novas ideias e pensamentos criativos provavelmente surge da “rede de modo padrão” (DMN, na sigla em inglês) do cérebro, uma constelação de regiões que ficam ativas quando nossos pensamentos se voltam para dentro, como quando a mente divaga.

O papel da DMN na criatividade era considerado correlacional, mas um estudo de janeiro de 2022 relatou a primeira evidência direta de que a rede de modo padrão está ligada ao pensamento criativo.

Na pesquisa, 13 pacientes foram submetidos a cirurgia cerebral para a remoção de tumores. Eles tinham de estar acordados para que os cirurgiões pudessem mapear o córtex com estimulação elétrica, que inibe uma área muito específica do cérebro por um curto período de tempo, disse Ben Shofty, neurocirurgião funcional e professor assistente da Universidade de Utah.

Os pacientes foram submetidos à tarefa de usos alternativos, listando usos incomuns para itens comuns. Quando os cirurgiões estimularam uma área do cérebro dentro da DMN, a capacidade do paciente de pensar em ideias criativas cessou temporariamente.

No início, uma paciente apresentou muitos usos criativos para um pneu – almofada, fonte de jardim, cortado em pedaços para fazer bijuterias. Mas, quando os pesquisadores inibiram eletricamente partes de sua DMN, ela teve dificuldade para pensar em novas maneiras de usar um lápis – “Você pode desenhar com ele, pode desenhar caricaturas, hmm, principalmente desenhar”.

A criatividade é “uma parte fundamental do que nos faz humanos. Nós a usamos o tempo todo”, disse Shofty. “Então, acho que entender esse mecanismo e como ele funciona é super importante para entendermos a nós mesmos e o que nos faz humanos.”

Como usar o efeito chuveiro para melhorar a criatividade:

- Faça pausas. Dê um passeio ou tome um banho. Isso não apenas alivia o estresse, mas também pode ajudar você a entrar em um modo diferente de pensar.

- Busque a mudança. Mudar o ambiente pode nos levar a novos insights porque submete nosso cérebro a novos estímulos. Mas tenha certeza de que seja algo moderadamente envolvente. “Ficamos vestidos a maior parte do dia, não com água caindo na cabeça”, disse Schooler. “Então a simples mudança na experiência pode dar aos banhos uma vantagem particular.”

- Persista. A criatividade, assim como um músculo, ficará melhor com a repetição, disse Shofty.

- Pense no que impulsiona você para um modo de pensamento criativo. Irving sugere pensar sobre o que sua mente está fazendo durante diferentes atividades para que você possa buscar experiências que levem sua mente a um estado mais criativo.

“Quando tomo banho, fico estressando com as mesmas coisas?”, disse ele. “Ou fico relaxando, com a mente divagando?” / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Em meio aos vapores e à espuma, um bom banho pode relaxar não só o corpo, mas também a mente, liberando fluxos de consciência, clareza e criatividade.

As pesquisas mostram que o que é conhecido como “efeito chuveiro” também pode ocorrer fora do chuveiro e que muitos de nossos melhores pensamentos não acontecem no trabalho ou na escola, mas sim enquanto vamos vivendo nossos dias, com ideias incubadas em segundo plano.

Em um estudo de 2019, 98 escritores profissionais e 87 físicos registraram suas ideias mais criativas todos os dias, bem como o que estavam fazendo e pensando quando elas surgiram.

Ainda que a maioria das ideias tenha ocorrido no trabalho, 20% dos pensamentos mais significativos surgiram enquanto eles faziam outra coisa – como lavar louça ou tomar banho. Notavelmente, as ideias que os escritores e físicos tiveram fora do expediente foram autoavaliadas como tão criativas e importantes quanto as que surgiram no trabalho.

É uma descoberta impressionante, disse Jonathan Schooler, professor de psicologia e ciências do cérebro na Universidade da Califórnia em Santa Barbara e autor do estudo.

“Quantas coisas você consegue fazer com o mesmo sucesso no chuveiro e na mesa de trabalho?”, disse ele.

Mas esses pensamentos espontâneos no chuveiro tinham outra vantagem: com frequência, eram experiências iluminadoras – como o eureka de Arquimedes na banheira – que superavam um impasse criativo.

O “efeito chuveiro” na criatividade é o produto da divagação mental, onde os pensamentos estão em qualquer lugar, menos na tarefa em questão.

Historicamente, os pesquisadores se concentraram nos efeitos negativos da divagação, que pode prejudicar o desempenho e tem sido associada à infelicidade.

Mas a natureza da divagação é importante. A pesquisa de Schooler descobriu que as pessoas que divagavam sobre algo em que estavam interessadas eram mais felizes do que quando estavam cumprindo alguma tarefa.

“Mesmo que a divagação possa ser problemática, o que chamo de ‘maravilhamento mental’, que é uma espécie de divagação curiosa e divertida, pode ser realmente útil”, disse Schooler.

Nossa capacidade de gerar novas ideias e pensamentos criativos provavelmente surge da “rede de modo padrão” (DMN, na sigla em inglês) do cérebro, uma constelação de regiões que ficam ativas quando nossos pensamentos se voltam para dentro, como quando a mente divaga.  Foto: MGH-UCLA Human Connectome Project/Divulgação

“Insights”

Seus benefícios parecem ser relativamente difundidos. Um estudo com mais de 1.100 entrevistados relatou que seus momentos de insight ocorreram durante divagações no chuveiro (30%), no trânsito (13%) ou durante exercícios físicos (11%).

Existe um “ponto ideal” no nível de envolvimento da atividade e seu impacto no pensamento criativo: se for pouco envolvente, fica chato; se for envolvente demais, deixa pouca atenção para as ideias.

Um estudo de setembro do ano passado relatou que ter pensamentos espontâneos e de fluxo livre durante uma atividade moderadamente envolvente, mas não entediante, aumentava a criatividade.

Mais de 300 estudantes universitários receberam a tarefa de criar o maior número possível de novos usos para objetos comuns, como tijolos ou clipes de papel, em 90 segundos. Isso é conhecido como tarefa de usos alternativos, que testa a criatividade.

Os estudantes então assistiram a um vídeo chato de dois homens pendurando roupas ou a um clipe mais envolvente da famosa cena do café de Harry & Sally Feitos um para o outro. Essas atividades davam tempo para que as ideias dos participantes se incubassem e suas mentes vagassem.

Quando os estudantes foram testados mais uma vez, suas divagações mentais levaram a ideias mais criativas, mas apenas para os que assistiram à cena moderadamente envolvente do filme.

Uma atividade como tomar banho ou caminhar (ou assistir a um vídeo de comédia romântica) “consome um pouco de atenção e influencia os pensamentos, mas não toma toda a atenção, o que impediria que você atentasse a essas ideias criativas que estão incubadas em segundo plano”, disse Zachary Irving, professor assistente de filosofia da ciência cognitiva na Universidade da Virgínia e autor do estudo.

Nossa capacidade de gerar novas ideias e pensamentos criativos provavelmente surge da “rede de modo padrão” (DMN, na sigla em inglês) do cérebro, uma constelação de regiões que ficam ativas quando nossos pensamentos se voltam para dentro, como quando a mente divaga.

O papel da DMN na criatividade era considerado correlacional, mas um estudo de janeiro de 2022 relatou a primeira evidência direta de que a rede de modo padrão está ligada ao pensamento criativo.

Na pesquisa, 13 pacientes foram submetidos a cirurgia cerebral para a remoção de tumores. Eles tinham de estar acordados para que os cirurgiões pudessem mapear o córtex com estimulação elétrica, que inibe uma área muito específica do cérebro por um curto período de tempo, disse Ben Shofty, neurocirurgião funcional e professor assistente da Universidade de Utah.

Os pacientes foram submetidos à tarefa de usos alternativos, listando usos incomuns para itens comuns. Quando os cirurgiões estimularam uma área do cérebro dentro da DMN, a capacidade do paciente de pensar em ideias criativas cessou temporariamente.

No início, uma paciente apresentou muitos usos criativos para um pneu – almofada, fonte de jardim, cortado em pedaços para fazer bijuterias. Mas, quando os pesquisadores inibiram eletricamente partes de sua DMN, ela teve dificuldade para pensar em novas maneiras de usar um lápis – “Você pode desenhar com ele, pode desenhar caricaturas, hmm, principalmente desenhar”.

A criatividade é “uma parte fundamental do que nos faz humanos. Nós a usamos o tempo todo”, disse Shofty. “Então, acho que entender esse mecanismo e como ele funciona é super importante para entendermos a nós mesmos e o que nos faz humanos.”

Como usar o efeito chuveiro para melhorar a criatividade:

- Faça pausas. Dê um passeio ou tome um banho. Isso não apenas alivia o estresse, mas também pode ajudar você a entrar em um modo diferente de pensar.

- Busque a mudança. Mudar o ambiente pode nos levar a novos insights porque submete nosso cérebro a novos estímulos. Mas tenha certeza de que seja algo moderadamente envolvente. “Ficamos vestidos a maior parte do dia, não com água caindo na cabeça”, disse Schooler. “Então a simples mudança na experiência pode dar aos banhos uma vantagem particular.”

- Persista. A criatividade, assim como um músculo, ficará melhor com a repetição, disse Shofty.

- Pense no que impulsiona você para um modo de pensamento criativo. Irving sugere pensar sobre o que sua mente está fazendo durante diferentes atividades para que você possa buscar experiências que levem sua mente a um estado mais criativo.

“Quando tomo banho, fico estressando com as mesmas coisas?”, disse ele. “Ou fico relaxando, com a mente divagando?” / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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