Lucy, o mais conhecido e mais antigo fóssil de um ancestral dos humanos, provavelmente morreu após cair de uma árvore, segundo um estudo publicado nesta segunda-feira, 29, na revista Nature.
De acordo com os autores, a descoberta não se limita a esclarecer o mais antigo caso de morte acidental, ocorrido há 3,1 milhões de anos. Ela traz pistas cientificamente importantes de que a espécie de Lucy também subia em árvores. Desde que foi desenterrada na Etiópia em 1974, Lucy - que pertencia à espécie dos bípedes terrestres Australopithecus afarensis - levanta discussões entre cientistas sobre se esses hominídeos viviam integralmente no chão, ou se eram parcialmente arbóreos, isto é, se passavam parte do tempo em árvores.
“É irônico que o fóssil que está no centro do debate sobre o arborealismo na evolução humana provavelmente tenha morrido por ferimentos sofridos depois de cair de uma árvore”, disse o autor principal do estudo, John Kappelman, da Universidade do Texas, em Austin (Estados Unidos).
Durante 10 dias, os cientistas examinaram, em um aparelho de tomografia computadorizada de raios X de alta resolução, todos os ossos de Lucy - um dos fósseis de hominídeos mais completos já encontrados -, obtendo mais de 35 mil imagens. Ao analisá-las, os cientistas perceberam que o úmero, um osso do braço, estava fraturado de uma maneira que normalmente não se vê em fósseis. “Essa fratura acontece quando a mão atinge o chão durante uma queda, com impacto em elementos do ombro, criando uma característica única”, disse.
Segundo ele, a fratura foi causada “pela queda de uma altura considerável, quando a vítima esticou o braço para tentar amparar o corpo.” Outras fraturas menores no tornozelo e na pélvis completam as evidências do acidente, segundo o cientista.
De acordo com o estudo, para atingir a velocidade necessária para um impacto que provocasse os ferimentos, Lucy, que tinha cerca de 1 metro de altura e 27 kg, deve ter caído de uma altura de pouco mais de 12 metros.