O neurocientista Alysson Muotri, da Universidade da Califórnia, em San Diego, nos Estados Unidos, quer ser o primeiro brasileiro a desenvolver um experimento científico na Estação Espacial Internacional (ISS na sigla em inglês).
Na semana passada, Muotri levou a ideia ao Palácio do Planalto, onde a apresentou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e à ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos. Ele precisa agora do aval da Agência Espacial Americana (Nasa) para fazer suas experiências no espaço.
Muotri é professor dos departamentos de Pediatria e Medicina Celular da Universidade da Califórnia, em San Diego. O cientista dirige o programa de célula-tronco e foi um dos primeiros pesquisadores brasileiros e cultivar a células-tronco embrionárias em laboratório.
Muotri é pai de uma criança autista e essa condição é uma das principais linhas de pesquisa do cientista. Cultivando células neuronais, ele busca uma cura para o autismo. Muotri é reconhecido internacionalmente pelo desenvolvimento de minicérebros, organoides feitos com células-tronco pluripotentes induzidas em laboratório que são usados para entender o desenvolvimento cerebral, doenças neurológicas e testar medicamentos.
Em 2019, numa parceria entre a Universidade da Califórnia e a Nasa, os minicérebros de Muotri foram enviados à ISS. A experiência revelou que, em apenas um mês no espaço, as células neuronais envelheceram o equivalente a dez anos por conta a microgravidade.
Agora, o cientista quer ir pessoalmente à ISS para trabalhar com os organoides, se tornando o primeiro astronauta cientista brasileiro. O plano do cientista é ir à estação em novembro do ano que vem. Segundo ele, detalhes sobre a viabilização do projeto não podem ser ainda divulgados.
“Queremos estabelecer uma colaboração entre o governo brasileiro e a Universidade da Califórnia, unindo os cientistas brasileiros da diáspora e os cientistas que trabalham no Brasil, com o objetivo maior de criar o primeiro programa brasileiro de astrobiologia”, contou em entrevista ao Estadão.
“Com isso, faremos nossa primeira missão ao espaço em 2024, que é uma data apertada, mas estamos correndo para que seja colocada em pauta o quanto antes.”
Segundo Muotri, o treinamento da Nasa para ir ao espaço dura seis meses e começa em setembro.
Em maio passado, Muotri fechou uma parceria com a Universidade Federal do Amazonas para testar substâncias da biodiversidade da Amazônia no tratamento de doenças neurológicas.
“A maior parte das pesquisas visa entender doença neurológicas, como Alzheimer, demência, autismo, e criar os melhores tratamentos para elas”, contou Muotri sobre o trabalho com os minicérebros.
Longo prazo
“Não é uma ciência milagrosa, não esperamos resultados imediatos, mas é um projeto de longo prazo, construído de forma cientificamente robusta, para entender como a microgravidade promove o envelhecimento dos cérebros. Com isso, teremos um modelo neural para estudar as doenças e testar medicamentos, inclusive os oriundos da biodiversidade brasileira.”
Depois de receber Muotri, a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, afirmou: “A velocidade das mudanças tecnológicas é muito grande e precisamos inserir o País nas cadeias mais dinâmicas. Este é um assunto estratégico para enfrentarmos uma das áreas mais desafiadoras, que é a neurociência”.
“Conversei hoje com o cientista brasileiro, pesquisador da Universidade da Califórnia, Alysson Muotri”, escreveu Lula em uma rede social, logo após o encontro. “Em novembro de 2024 ele deve se tornar o primeiro cientista brasileiro na Estação Espacial. Parabéns pelo seu trabalho, Alysson.”
O ministério informou que está acompanhando o projeto e o considera interessante, mas que não há apoio formalizado nem financiamento.
O Brasil enviou um astronauta ao espaço, em 2006, o ex-ministro de Ciência e Tecnologia do governo de Jair Bolsonaro Marcos Pontes. O Brasil participou dos esforços da construção da Estação Espacial e, por isso, conseguiu inserir Pontes no programa espacial da Nasa.
O tenente-coronel da Aeronáutica treinou durante dois anos para ser considerado apto a ir ao espaço. Com a interrupção dos voos espaciais da Nasa por conta da explosão do ônibus espacial Columbia, o Brasil ainda teve que pagar US$ 10 milhões para os russos transportarem Pontes numa nave Soyuz. Atualmente o País não é parceiro da ISS.