Cientistas na África do Sul dizem que identificaram um surto de raiva em focas, acreditando ser a primeira vez que o vírus se espalha em mamíferos marinhos.
Pelo menos 24 focas daquela região que foram encontradas mortas em vários locais na costa oeste e sul da África do Sul tinham raiva, disse a veterinária estadual, Lesley van Helden.
A raiva, que afeta mamíferos e pode ser transmitida para pessoas, é quase sempre fatal, uma vez que os sintomas aparecem. A raiva se espalha por meio da saliva, usualmente por mordidas mas também às vezes quando os animais se lambem e se limpam.
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O vírus há muito tempo é observado em animais selvagens como guaxinins, coiotes, raposas, chacais e cães domésticos. Mas nunca havia sido registrado se espalhando entre mamíferos marinhos, disseram Lesley e outros especialistas esta semana.
O único outro caso conhecido de raiva em um mamífero marinho foi em uma foca nas ilhas Svalbard da Noruega, no início dos anos 1980. Esse animal provavelmente foi infectado por uma raposa ártica contaminada, disseram os pesquisadores, e não havia evidência de raiva se espalhou entre as focas daquela região do norte da Europa.
Autoridades na África do Sul descobriram inicialmente a raiva em focas daquela região do Cabo em junho, após um cão ser mordido por uma foca em uma praia. O cão foi infectado com raiva, o que levou à realização de testes em amostras de cérebro de 135 carcaças de focas que pesquisadores já haviam coletado desde 2021. Cerca de 20 novas amostras também foram coletadas e mais resultados positivos vieram em testes subsequentes.
Cientistas estão tentando descobrir como a raiva foi transmitida para as focas, se a doença está se espalhando amplamente entre suas grandes colônias e o que pode ser feito para contê-la.
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“É tudo muito, muito novo”, disse Greg Hofmeyr, biólogo marinho que estuda focas na África do Sul. “Muita pesquisa é necessária. Há muitas incógnitas aqui.”
Há aproximadamente 2 milhões de focas migrando entre África do Sul, Namíbia e Angola ao longo da costa sul e oeste da África. A possibilidade mais provável, disse a veterinária, é de que a raiva foi transmitida primeiramente para as focas por chacais na Namíbia, onde esses animais caçam filhotes de foca na costa.
Os genes do vírus da raiva encontrados nas focas combinavam com a raiva em chacais-de-dorso-preto na Namíbia. Isso também mostrou que a doença estava sendo transmitida entre as focas, porque a maioria das sequências do vírus eram estreitamente relacionadas, ela disse.
“Basicamente estabeleceu-se na população de focas e está sendo mantido por elas mordendo umas às outras,” afirmou Lesley.
As focas vivem próximas a pessoas em lugares na África do Sul, especialmente em praias ao redor da Cidade do Cabo. O governo local emitiu avisos aos moradores, disse Gregg Oelofse, chefe de gestão costeira e ambiental da região.
Autoridades estavam perplexas pelos últimos três anos com relatórios de focas excessivamente agressivas e um aumento em ataques de focas em pessoas, algumas das quais foram mordidas. Nenhum caso humano de raiva foi registrado como resultado.
Oelofse disse que autoridades da cidade começaram a vacinar pequenas quantidades de focas em dois portos populares do Cabo, onde são consideradas uma atração.
Um dos testes positivos para raiva foi em uma carcaça de foca coletada em agosto de 2022, significando que a raiva estava na população de focas por pelo menos dois anos, disse Oelofse.
“Está aqui há mais tempo do que sabíamos sobre isso,” ele disse.
Especialistas dizem que ainda há muitas incógnitas.
É difícil prever dinâmicas de transmissão a longo prazo, disse o porta-voz dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, Dave Daigle. Ele notou casos anteriores de vírus da raiva acabando em novos hospedeiros e depois desaparecendo.
Em 2021 nos Estados Unidos, por exemplo, raposas-cinzentas estavam espalhando a variante do vírus da raiva de guaxinins por dois anos, e então a transmissão parou.
A agência de saúde pública dos EUA está observando a situação na África do Sul, mas ainda não viu “evidências claras de que isso vá ser um problema a longo prazo”, disse Daigle.
Outra incógnita é se a vacina será eficaz em focas. Nunca foi testada, mas os especialistas pensam que deveria funcionar.
Há também uma questão logística, disse van Helden: Como vacinar um número significativo de focas que vivem em grande parte no oceano e migram de volta e para a frente ao longo de uma costa que tem mais de 3.500 quilômetros (2.170 milhas) de comprimento. Animais terrestres podem ser vacinados por meio de iscas que liberam vacinas orais quando comidas, mas as focas geralmente só comem peixes vivos, ela observou.
Oficiais sul-africanos têm colaborado com especialistas internacionais.
O pesquisador de focas Hofmeyr disse que algumas outras espécies de focas entram em contato com as focas-pêlo-do-cabo e depois viajam para outras partes do mundo e isso era uma preocupação para uma maior disseminação.
“As chances disso acontecer são muito baixas, mas as implicações disso, se acontecer, são muito importantes”, disse ele. / ASSOCIATED PRESS
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