Coreografias do Impossível é o tema da 35.ª edição da Bienal de São Paulo, que será aberta em 6 de setembro no Pavilhão no Parque Ibirapuera. O evento é organizao por quatro curadores – os brasileiros Hélio Menezes, ex-curador do Centro Cultural São Paulo (CCSP), e a pesquisadora Diane Lima, mais a artista portuguesa Grada Kilomba e o espanhol Manuel Borja-Villel, que esteve até janeiro à frente do Museu Reina Sofia, em Madri, no qual atuou durante anos para oxigenar o acervo da instituição, apostando em arte latino-americana.
Com grupo de trabalho criado há um ano, o quarteto busca fomentar manifestações criativas em diversas frentes, como performance, dança, arte conceitual, pintura etc. Para firmar esse compromisso com a pluralidade e a multidisciplinaridade, é lançado neste sábado Dançar É Inscrever no Tempo, um caderno que traz os processos e pesquisa sobre artistas e obras presentes na Bienal, como a dupla Pauline Boudry e Renate Lorenz, que montaram uma coreografia chamada Les Gayrillères, um dos destaques do caderno.
“Esta edição da Bienal nasce já a partir da ideia do aprendizado, estamos cá para aprender um com o outro, em busca de perguntas, não respostas. E, desde o início do grupo, temos a educação como prioridade na curadoria, essas publicações mesmo são uma parte dessa ação, que vai envolver professores, curadores e o público em geral”, ressaltou Grada Kilomba em entrevista ao Estadão.
“A ideia do grupo é trabalhar em conjunto para complementar o olhar”, pondera Menezes. Esse caráter reflete na composição dos artistas, divulgada em uma lista prévia na quinta, 27, com 43 nomes, entre 37 artistas, quatro duplas e dois coletivos, que somam 92% de pessoas declaradas negras, indígenas ou não brancas. Uma delas é a designer gráfica Nontsikelelo Mutiti, responsável pela identidade visual da Bienal, que também dá aulas na prestigiosa Universidade de Yale (EUA).
Além de pintores e escultores, a Bienal traz também as obras em vídeo, caso da artista brasileira Aline Motta, que expôs na sala de vídeo do Masp em 2022, e também da cineasta francesa Sarah Maldoror, pioneira em registrar a luta do Movimento Pela Libertação da Angola, vítima da covid-19 em 2020. “Há nomes, inclusive, que não estão mais aqui, mas sua obra fica, atravessa o tempo e traz o debate”, ressaltou Borja-Villel, como é o caso do pintor cubano Wilfredo Lam, morto em 1982.
“A coreografia também é uma ideia que pode ser levada a outros suportes, como a instalação por exemplo”, Diane Lima, que pretende explorar o termo ‘coreografia’ a partir das “realidades do cotidiano”. “Nesse sentido, é importante olhar para a arte que tenciona, reinventa, elabora e questiona o saber, tornando este saber um saber impossível”, completou Lima.
Uma das propostas do coletivo é aproximar o público da arte contemporânea, inclusive para que ele possa questioná-la. “É urgente o exercício de trabalhar com aquilo que não sabemos e questionar o desconhecido, criar uma coreografia onde novas questões possam surgir. Kilomba ressalta que, diferente de vários países da Europa, a Bienal de São Paulo é gratuita, então há muitas mais possibilidades para explorar a partir de um público diverso (e curioso) e fazer um convite mais direto a esse espectador, inclusive, que frequenta o parque. “É importante pensar um espaço para acolher o visitante e, para isso, queremos reescrever a arquitetura com a própria arquitetura já a partir da expografia”, adiantou Kilomba, que pretende aproveitar melhor o espaço do Pavilhão.
Confira os participantes:
- Aline Motta
- Ana Pi e Taata Kwa Nkisi Mutá Imê
- Anna Boghiguian
- Ayrson Heráclito e Tiganá Santana
- Bouchra Ouizguen
- Castiel Vitorino Brasileiro
- Daniel Lie
- Dayanita Singh
- Deborah Anzinger
- Manuel Chavajay
- Marilyn Boror Bor
- Mounira Al-Solh
- Nadal Walcott
- Nadir Bouhmouch e Soumeya Ait Ahmed
- Niño de Elche
- Nontsikelelo Mutiti
- Pauline Boudry e Renate Lorenz
- Philip Rizk
- Denilson Baniwa
- Duane Linklater
- Elda Cerrato
- Elizabeth Catlett
- Ellen Gallagher
- Frente 3 de Fevereiro
- Gabriel Gentil Tukano
- Geraldine Javier
- Igshaan Adams
- Inaicyra Falcão
- Julien Creuzet
- Leilah Weinraub
- Luiz de Abreu
- Rolando Castellón
- Rosana Paulino
- Sammy Baloji
- Santu Mofokeng
- Sarah Maldoror
- Stanley Brouwn
- Tadáskía
- Tejal Shah
- The Living and the Dead Ensemble
- Torkwase Dyson
- Trinh T. Minh-ha
- Wifredo Lam