A livre associação do nome Fernando Gabeira ao liberou geral tem fundamento numa lógica capaz de explicar a crise de liquidez pela lei seca. Todo mundo sabe que uma coisa não tem nada a ver com a outra, mas não há simpatizante das bandeiras avançadas do candidato do PV à Prefeitura do Rio que não tenha sentido um frio na espinha quando deu de cara com os jornais de terça-feira passada. Lá estava ele, enrolado à la tomara-que-caia naquela toalhinha vermelha que lhe caiu feito um tubinho escarlate, exposto nas bancas com a mesma naturalidade com que posou de ex-guerrilheiro de tanga na Ipanema festiva do final dos anos 1970. Nem precisava o publicitário Lula Vieira, que cuida da imagem de Gabeira na atual campanha, vir a público explicar que ele não faz essas coisas com intenção de chocar. O receio de quem justamente sempre achou um barato esse seu jeitão diferente de ser é que, numa dessas, o nobre deputado precise de mais 30 anos para exorcizar os fantasmas que, parece, já não desperta em conservadores e tementes de toda sorte de crença. A novidade neste senhor de 67 anos é a aceitação mais ampla de suas idéias ousadas, a despeito dos costumes meio afrescalhados de todo homem moderno. Mas a suspeita de identificação com o demônio sobrevive no inconsciente coletivo do eleitor médio brasileiro: "Você vai mesmo acabar com o feriado de Nossa Senhora de Aparecida?" - precisa ainda tirar esse tipo de dúvida no corpo-a-corpo em regiões carentes do município. Daí a ver o diabo saindo do banho na tal foto da toalha vermelha, convenhamos, é um pulo. Eis o temor dos gabeiristas militantes, cariocas que apostam o que lhes sobrou de fichas nessas eleições municipais. Afinal, da geração de esquerda que entrou na vida parlamentar decidida a mudar a cara da política, Fernando Gabeira talvez seja o único que continua com a mesma cara. Já o corpinho... Deixa pra lá! Se o atual colapso global fosse um velho seriado de TV, Henrique Meirelles faria papel de Bat Masterson, figura legendária do Velho Oeste americano - perdoem os mais jovens pela digressão de época. Protagonista das ações anticrise no Brasil, o presidente do Banco Central tem a mesma fleuma de jogador frio e talentoso, aliada à indumentária almofadinha de homem vaidoso. Masterson fazia, também, muito sucesso com as mulheres, mas isso não vem ao caso. Meirelles desembarcou na sexta-feira em Washington para um acerto de contas com o FMI. Se fechar os olhos agora mesmo e me concentrar na cena, consigo vê-lo surgir no vaivém da porta de entrada do saloon, ao som de: Bat Meirelles "No Velho Oeste ele nasceu E entre bravos se criou Seu nome em lenda se tornou Bat Masterson, Bat Masterson" O pessoal lá de Anápolis, no velho oeste brasileiro, deve estar orgulhoso desse filho da terra que dá as cartas do Brasil no pôquer do mercado financeiro Dissidência O escritor peruano Mario Vargas Llosa chamou o estilista John Galliano, o cineasta Woody Allen e a primeira-dama Carla Bruni de parceiros da "civilização de espetáculo". Não votaria, decerto, em Fernando Gabeira para prefeito de Lima. Basta! Como se não bastassem os EUA, o chanceler Celso Amorim disse que o Brasil precisa ter um pouco de paciência com o Equador. Vai acabar sobrando, como sempre, para o Paraguai. Haja nervos Como se não bastasse o Nobel de Literatura, imagina o dinheirão que Paulo Coelho perdeu na bolsa esta semana. O pessoal do Ministério da Cultura precisa, pois, dar um desconto à irritação do escritor nos últimos dias. Em condições normais de pressão emocional, o mago nem se daria conta da ausência do sucessor de Gilberto Gil na festa que vai comemorar os 100 milhões de livros vendidos pelo mago, quarta-feira próxima, na Feira de Frankfurt. Com todo respeito ao ministro Juca Ferreira.
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