A longa jornada de pai para filho


Enquanto filma 'A Cadeira do Pai', ele prepara sua estreia em Hollywood

Por Flavia Guerra

Wagner Moura, como gosta de dizer, tem só 34 anos, mas já é um ator rodadinho. Formado em jornalismo, começou nos palcos nos anos 1990 e "incrivelmente passou a ganhar mais dinheiro como ator do que como jornalista". Ganhou notoriedade com A Máquina, de João Falcão, em 2006. Desde então, fez TV, 18 filmes, estrelou o fenômeno Tropa de Elite, tornou-se produtor (de Tropa 2), prepara-se para produzir outro longa, Serra Pelada, de Heitor Dhalia. Está em cartaz no cinema com VIPs, de Toniko Melo, aguarda a estreia de O Homem do Futuro, de Claudio Torres, e roda atualmente A Cadeira do Pai, de Luciano Moura. Para completar, em julho fará um vilão e atuará ao lado de Matt Damon e Jodie Foster em seu primeiro filme estrangeiro, Elysium, de Neill Blomkamp (Distrito 9).Com um currículo extenso, o que falta a este baiano que mora no Rio? Talvez finalmente fazer seu primeiro filme adulto. "Não confundir adulto com pornô", brincou o ator em conversa com o Estado em seu trailer, no intervalo de filmagem de A Cadeira do Pai. "Este é meu primeiro "drama-thriller-road movie" e, ao mesmo tempo, meu principal papel como pai."Na trama, ele é o médico Theo, que cresceu com um pai ausente (Lima Duarte), até se tornar um controlador: não consegue se entender com o filho adolescente Pedro (Brás Antunes) e ainda passa por uma separação complicada. Tudo vai mal até que o filho ganha uma cadeira, que pertenceu ao pai de Theo. Nessa hora, ele perde a razão e quebra a cadeira. O rapaz foge de casa. E Theo parte em uma jornada em busca do filho. Enquanto se preparava para a cena em que rouba um celular para tentar ligar para o filho, Wagner respondeu às seguintes perguntas: Você disse que queria assistir a um trecho já filmado de A Cadeira do Pai. Costuma se assistir?Em geral, não. Mas este filme é peculiar. Até um certo ponto, trata de família, da separação dos pais, da relação de Theo com o filho. Depois que o garoto some, vira um road movie. Quando mudou o tom, quis ver para saber como estava indo. Qual é o primeiro tom?O de um cara que está acostumado a controlar tudo. Mas o buraco do Theo é não ter um pai. E tudo que ele criou para ter estabilidade emocional rui quando a mulher pede o divórcio e o filho some. Ele, que nunca prestou muita atenção no garoto, passa a conhecê-lo melhor ao longo da jornada. Não vemos o menino, só seus rastros. O menino vai encontrando seu caminho. E Theo descobre que o filho foi encontrar o avô. Ele se transforma ao longo da viagem, das porradas que toma. Fazer um papel assim tem relação com a sua maturidade?Tem. Há coisas que ficam para trás a fim de poder andar para frente. De certa forma, deixo a figura do Capitão Nascimento e me torno um pai. Aliás, já era pai em Tropa. Aos 20 e poucos anos, interpretei um personagem que era pai, no Caminhando nas Nuvens, do Vicente Amorim. Mas hoje sou pai de fato. Sei o que o Theo passa. Esta viagem o draga de tal forma que ele nunca mais será o mesmo. E ainda encontrei na Mariana Lima uma atriz que compreende o tema. Ela é mãe, tem dois filhos. Há um entendimento mútuo da vida de cada um. É menos um exercício de imaginação porque vivemos isso. A gente não deixa de ser maluco porque virou pai. Só passa a ter uma criança para cuidar. É um filme adulto?A gente brinca que falar assim parece que é filme pornô. É adulto por tratar de "emoções adultas." Há um nível de relação entre os personagens, principalmente o Theo e a Branca (Mariana Lima), que têm uma profundidade imensa. Geralmente, o roteiro nos dá algo, cavucamos e achamos coisas insuspeitadas ali. Neste caso, o roteiro já vem embasado. Luciano (Moura) e Elena (Soarez), os roteiristas, são um casal. Têm muita propriedade para falar de relacionamento. É um filme muito bonito. Você vive um momento ótimo.Tenho escolhido o que quero fazer. Não só porque há demanda do nosso cinema. Há muita coisa diferente sendo feita. Graças à publicidade, mantenho minha vida. E, por ter feito filmes de sucesso, posso escolher meus papeis.E quer ser produtor também.Tenho muito orgulho de ter feito o Tropa 2 por sua qualidade e pela peça nova que o Zé Padilha botou no tabuleiro do cinema brasileiro, de ser "autodistribuído", que é uma solução possível para filmes grandes. O modelo dos grandes estúdios é injusto para o produtor. No Brasil, produtor capta o dinheiro todo, já as majors, graças à lei brasileira, conseguem via isenção fiscal. O fato do Tropa ter colocado esta peça no jogo força também uma nova forma do mercado se acomodar. Sei que o Padilha não vai parar por aí. Não só como diretor, mas como produtor. O Zé não pensa só para ele - quer juntar a O2, a Conspiração, quer mudar o paradigma da indústria cinematográfica nacional. É uma vontade legítima e muito bonita. Você também vai produzir Serra Pelada, do Heitor Dhalia?Sim. Adorei participar do Tropa 2. E agora vou produzir com Heitor e Tatiana Quintella. Nos EUA, por exemplo, os atores também têm suas produtoras, o que pode acontecer aqui também. Não era sua pretensão, mas você abriu esta nova seara.Minha referência de ator de vanguarda no cinema brasileiro sempre foi o Selton Mello. Ele buscou caminhos novos. Observo o que o Selton está fazendo e ele sempre está à frente. Foi produtor do Cheiro do Ralo (com Heitor Dhalia). Vive também da publicidade e não tem contrato com a Globo, que é o tradicional para um ator ter uma vida confortável. Ele sempre foi um farol para minha geração.E tem vontade de dirigir?Sim. Há um projeto com o Rodrigo Teixeira, que comprou os direitos de um livro e quer que eu dirija, mas preciso de tempo. Você não se limita a só atuar.Não só quero ser produtor, diretor, mas sei o que cada um está fazendo. Se me perguntar, sei dizer o que cada pessoa deste set faz. Certamente, não serei diretor de carreira, mas como já fiz muito cinema, pergunto: por que não? Acho que vou fazer direitinho. Há pouco, você comentou que só faria um filme em Hollywood se o papel tivesse a ver com sua trajetória de latino-americano. E agora estrela Elysium.Porque tem a ver. Não posso falar muito sobre o filme, mas adianto que serei um vilão, que se passará no futuro e que, claro, vou atuar em inglês, mas meu sotaque vai se manter e tem a ver com a trama. É uma ficção científica e, ao mesmo tempo, muito político. Entendo por que Neill (Blomkamp) gosta de Tropa: seu filme anterior, District 9, é uma metáfora da exclusão social e do apartheid na África do Sul. Elysium é assim também. Será um blockbuster, mas terá algo a dizer. Está ansioso? Com medo?Estou. Qualquer filme dá medo. Mas este, meu primeiro no exterior, em outra língua, dá mais medo. O Javier Bardem disse uma vez: "Quando atuo em inglês, há um escritório na minha cabeça, tem gente passando fax, telefonando, trabalhando para que aquilo funcione direito. Quando atuo em espanhol, o escritório está vazio". Há a barreira da língua, mas gosto de vencer desafios. Se fosse para neutralizar meu sotaque, seria impossível. Já é difícil atuar em outra língua. Imagina tirar totalmente o sotaque. Nunca morei fora do Brasil. Meu inglês é brasileiro. Não tenho nenhuma vontade de me mudar para Hollywood e ser mais um ator latino lá. Quando começa a filmar?Em julho, no Canadá e no México. Talvez a distância e a falta que vou sentir dos meus filhos e da minha mulher será a pior coisa. Mas é bom sair da zona de conforto. Estou contente. A tendência é que o cinema mundial, e o brasileiro, cresçam cada vez mais. Temos de parar com a caretice de achar que nosso mercado é ruim e fazer todo tipo de filme.

 

 

continua após a publicidade

 

Wagner Moura, como gosta de dizer, tem só 34 anos, mas já é um ator rodadinho. Formado em jornalismo, começou nos palcos nos anos 1990 e "incrivelmente passou a ganhar mais dinheiro como ator do que como jornalista". Ganhou notoriedade com A Máquina, de João Falcão, em 2006. Desde então, fez TV, 18 filmes, estrelou o fenômeno Tropa de Elite, tornou-se produtor (de Tropa 2), prepara-se para produzir outro longa, Serra Pelada, de Heitor Dhalia. Está em cartaz no cinema com VIPs, de Toniko Melo, aguarda a estreia de O Homem do Futuro, de Claudio Torres, e roda atualmente A Cadeira do Pai, de Luciano Moura. Para completar, em julho fará um vilão e atuará ao lado de Matt Damon e Jodie Foster em seu primeiro filme estrangeiro, Elysium, de Neill Blomkamp (Distrito 9).Com um currículo extenso, o que falta a este baiano que mora no Rio? Talvez finalmente fazer seu primeiro filme adulto. "Não confundir adulto com pornô", brincou o ator em conversa com o Estado em seu trailer, no intervalo de filmagem de A Cadeira do Pai. "Este é meu primeiro "drama-thriller-road movie" e, ao mesmo tempo, meu principal papel como pai."Na trama, ele é o médico Theo, que cresceu com um pai ausente (Lima Duarte), até se tornar um controlador: não consegue se entender com o filho adolescente Pedro (Brás Antunes) e ainda passa por uma separação complicada. Tudo vai mal até que o filho ganha uma cadeira, que pertenceu ao pai de Theo. Nessa hora, ele perde a razão e quebra a cadeira. O rapaz foge de casa. E Theo parte em uma jornada em busca do filho. Enquanto se preparava para a cena em que rouba um celular para tentar ligar para o filho, Wagner respondeu às seguintes perguntas: Você disse que queria assistir a um trecho já filmado de A Cadeira do Pai. Costuma se assistir?Em geral, não. Mas este filme é peculiar. Até um certo ponto, trata de família, da separação dos pais, da relação de Theo com o filho. Depois que o garoto some, vira um road movie. Quando mudou o tom, quis ver para saber como estava indo. Qual é o primeiro tom?O de um cara que está acostumado a controlar tudo. Mas o buraco do Theo é não ter um pai. E tudo que ele criou para ter estabilidade emocional rui quando a mulher pede o divórcio e o filho some. Ele, que nunca prestou muita atenção no garoto, passa a conhecê-lo melhor ao longo da jornada. Não vemos o menino, só seus rastros. O menino vai encontrando seu caminho. E Theo descobre que o filho foi encontrar o avô. Ele se transforma ao longo da viagem, das porradas que toma. Fazer um papel assim tem relação com a sua maturidade?Tem. Há coisas que ficam para trás a fim de poder andar para frente. De certa forma, deixo a figura do Capitão Nascimento e me torno um pai. Aliás, já era pai em Tropa. Aos 20 e poucos anos, interpretei um personagem que era pai, no Caminhando nas Nuvens, do Vicente Amorim. Mas hoje sou pai de fato. Sei o que o Theo passa. Esta viagem o draga de tal forma que ele nunca mais será o mesmo. E ainda encontrei na Mariana Lima uma atriz que compreende o tema. Ela é mãe, tem dois filhos. Há um entendimento mútuo da vida de cada um. É menos um exercício de imaginação porque vivemos isso. A gente não deixa de ser maluco porque virou pai. Só passa a ter uma criança para cuidar. É um filme adulto?A gente brinca que falar assim parece que é filme pornô. É adulto por tratar de "emoções adultas." Há um nível de relação entre os personagens, principalmente o Theo e a Branca (Mariana Lima), que têm uma profundidade imensa. Geralmente, o roteiro nos dá algo, cavucamos e achamos coisas insuspeitadas ali. Neste caso, o roteiro já vem embasado. Luciano (Moura) e Elena (Soarez), os roteiristas, são um casal. Têm muita propriedade para falar de relacionamento. É um filme muito bonito. Você vive um momento ótimo.Tenho escolhido o que quero fazer. Não só porque há demanda do nosso cinema. Há muita coisa diferente sendo feita. Graças à publicidade, mantenho minha vida. E, por ter feito filmes de sucesso, posso escolher meus papeis.E quer ser produtor também.Tenho muito orgulho de ter feito o Tropa 2 por sua qualidade e pela peça nova que o Zé Padilha botou no tabuleiro do cinema brasileiro, de ser "autodistribuído", que é uma solução possível para filmes grandes. O modelo dos grandes estúdios é injusto para o produtor. No Brasil, produtor capta o dinheiro todo, já as majors, graças à lei brasileira, conseguem via isenção fiscal. O fato do Tropa ter colocado esta peça no jogo força também uma nova forma do mercado se acomodar. Sei que o Padilha não vai parar por aí. Não só como diretor, mas como produtor. O Zé não pensa só para ele - quer juntar a O2, a Conspiração, quer mudar o paradigma da indústria cinematográfica nacional. É uma vontade legítima e muito bonita. Você também vai produzir Serra Pelada, do Heitor Dhalia?Sim. Adorei participar do Tropa 2. E agora vou produzir com Heitor e Tatiana Quintella. Nos EUA, por exemplo, os atores também têm suas produtoras, o que pode acontecer aqui também. Não era sua pretensão, mas você abriu esta nova seara.Minha referência de ator de vanguarda no cinema brasileiro sempre foi o Selton Mello. Ele buscou caminhos novos. Observo o que o Selton está fazendo e ele sempre está à frente. Foi produtor do Cheiro do Ralo (com Heitor Dhalia). Vive também da publicidade e não tem contrato com a Globo, que é o tradicional para um ator ter uma vida confortável. Ele sempre foi um farol para minha geração.E tem vontade de dirigir?Sim. Há um projeto com o Rodrigo Teixeira, que comprou os direitos de um livro e quer que eu dirija, mas preciso de tempo. Você não se limita a só atuar.Não só quero ser produtor, diretor, mas sei o que cada um está fazendo. Se me perguntar, sei dizer o que cada pessoa deste set faz. Certamente, não serei diretor de carreira, mas como já fiz muito cinema, pergunto: por que não? Acho que vou fazer direitinho. Há pouco, você comentou que só faria um filme em Hollywood se o papel tivesse a ver com sua trajetória de latino-americano. E agora estrela Elysium.Porque tem a ver. Não posso falar muito sobre o filme, mas adianto que serei um vilão, que se passará no futuro e que, claro, vou atuar em inglês, mas meu sotaque vai se manter e tem a ver com a trama. É uma ficção científica e, ao mesmo tempo, muito político. Entendo por que Neill (Blomkamp) gosta de Tropa: seu filme anterior, District 9, é uma metáfora da exclusão social e do apartheid na África do Sul. Elysium é assim também. Será um blockbuster, mas terá algo a dizer. Está ansioso? Com medo?Estou. Qualquer filme dá medo. Mas este, meu primeiro no exterior, em outra língua, dá mais medo. O Javier Bardem disse uma vez: "Quando atuo em inglês, há um escritório na minha cabeça, tem gente passando fax, telefonando, trabalhando para que aquilo funcione direito. Quando atuo em espanhol, o escritório está vazio". Há a barreira da língua, mas gosto de vencer desafios. Se fosse para neutralizar meu sotaque, seria impossível. Já é difícil atuar em outra língua. Imagina tirar totalmente o sotaque. Nunca morei fora do Brasil. Meu inglês é brasileiro. Não tenho nenhuma vontade de me mudar para Hollywood e ser mais um ator latino lá. Quando começa a filmar?Em julho, no Canadá e no México. Talvez a distância e a falta que vou sentir dos meus filhos e da minha mulher será a pior coisa. Mas é bom sair da zona de conforto. Estou contente. A tendência é que o cinema mundial, e o brasileiro, cresçam cada vez mais. Temos de parar com a caretice de achar que nosso mercado é ruim e fazer todo tipo de filme.

 

 

 

Wagner Moura, como gosta de dizer, tem só 34 anos, mas já é um ator rodadinho. Formado em jornalismo, começou nos palcos nos anos 1990 e "incrivelmente passou a ganhar mais dinheiro como ator do que como jornalista". Ganhou notoriedade com A Máquina, de João Falcão, em 2006. Desde então, fez TV, 18 filmes, estrelou o fenômeno Tropa de Elite, tornou-se produtor (de Tropa 2), prepara-se para produzir outro longa, Serra Pelada, de Heitor Dhalia. Está em cartaz no cinema com VIPs, de Toniko Melo, aguarda a estreia de O Homem do Futuro, de Claudio Torres, e roda atualmente A Cadeira do Pai, de Luciano Moura. Para completar, em julho fará um vilão e atuará ao lado de Matt Damon e Jodie Foster em seu primeiro filme estrangeiro, Elysium, de Neill Blomkamp (Distrito 9).Com um currículo extenso, o que falta a este baiano que mora no Rio? Talvez finalmente fazer seu primeiro filme adulto. "Não confundir adulto com pornô", brincou o ator em conversa com o Estado em seu trailer, no intervalo de filmagem de A Cadeira do Pai. "Este é meu primeiro "drama-thriller-road movie" e, ao mesmo tempo, meu principal papel como pai."Na trama, ele é o médico Theo, que cresceu com um pai ausente (Lima Duarte), até se tornar um controlador: não consegue se entender com o filho adolescente Pedro (Brás Antunes) e ainda passa por uma separação complicada. Tudo vai mal até que o filho ganha uma cadeira, que pertenceu ao pai de Theo. Nessa hora, ele perde a razão e quebra a cadeira. O rapaz foge de casa. E Theo parte em uma jornada em busca do filho. Enquanto se preparava para a cena em que rouba um celular para tentar ligar para o filho, Wagner respondeu às seguintes perguntas: Você disse que queria assistir a um trecho já filmado de A Cadeira do Pai. Costuma se assistir?Em geral, não. Mas este filme é peculiar. Até um certo ponto, trata de família, da separação dos pais, da relação de Theo com o filho. Depois que o garoto some, vira um road movie. Quando mudou o tom, quis ver para saber como estava indo. Qual é o primeiro tom?O de um cara que está acostumado a controlar tudo. Mas o buraco do Theo é não ter um pai. E tudo que ele criou para ter estabilidade emocional rui quando a mulher pede o divórcio e o filho some. Ele, que nunca prestou muita atenção no garoto, passa a conhecê-lo melhor ao longo da jornada. Não vemos o menino, só seus rastros. O menino vai encontrando seu caminho. E Theo descobre que o filho foi encontrar o avô. Ele se transforma ao longo da viagem, das porradas que toma. Fazer um papel assim tem relação com a sua maturidade?Tem. Há coisas que ficam para trás a fim de poder andar para frente. De certa forma, deixo a figura do Capitão Nascimento e me torno um pai. Aliás, já era pai em Tropa. Aos 20 e poucos anos, interpretei um personagem que era pai, no Caminhando nas Nuvens, do Vicente Amorim. Mas hoje sou pai de fato. Sei o que o Theo passa. Esta viagem o draga de tal forma que ele nunca mais será o mesmo. E ainda encontrei na Mariana Lima uma atriz que compreende o tema. Ela é mãe, tem dois filhos. Há um entendimento mútuo da vida de cada um. É menos um exercício de imaginação porque vivemos isso. A gente não deixa de ser maluco porque virou pai. Só passa a ter uma criança para cuidar. É um filme adulto?A gente brinca que falar assim parece que é filme pornô. É adulto por tratar de "emoções adultas." Há um nível de relação entre os personagens, principalmente o Theo e a Branca (Mariana Lima), que têm uma profundidade imensa. Geralmente, o roteiro nos dá algo, cavucamos e achamos coisas insuspeitadas ali. Neste caso, o roteiro já vem embasado. Luciano (Moura) e Elena (Soarez), os roteiristas, são um casal. Têm muita propriedade para falar de relacionamento. É um filme muito bonito. Você vive um momento ótimo.Tenho escolhido o que quero fazer. Não só porque há demanda do nosso cinema. Há muita coisa diferente sendo feita. Graças à publicidade, mantenho minha vida. E, por ter feito filmes de sucesso, posso escolher meus papeis.E quer ser produtor também.Tenho muito orgulho de ter feito o Tropa 2 por sua qualidade e pela peça nova que o Zé Padilha botou no tabuleiro do cinema brasileiro, de ser "autodistribuído", que é uma solução possível para filmes grandes. O modelo dos grandes estúdios é injusto para o produtor. No Brasil, produtor capta o dinheiro todo, já as majors, graças à lei brasileira, conseguem via isenção fiscal. O fato do Tropa ter colocado esta peça no jogo força também uma nova forma do mercado se acomodar. Sei que o Padilha não vai parar por aí. Não só como diretor, mas como produtor. O Zé não pensa só para ele - quer juntar a O2, a Conspiração, quer mudar o paradigma da indústria cinematográfica nacional. É uma vontade legítima e muito bonita. Você também vai produzir Serra Pelada, do Heitor Dhalia?Sim. Adorei participar do Tropa 2. E agora vou produzir com Heitor e Tatiana Quintella. Nos EUA, por exemplo, os atores também têm suas produtoras, o que pode acontecer aqui também. Não era sua pretensão, mas você abriu esta nova seara.Minha referência de ator de vanguarda no cinema brasileiro sempre foi o Selton Mello. Ele buscou caminhos novos. Observo o que o Selton está fazendo e ele sempre está à frente. Foi produtor do Cheiro do Ralo (com Heitor Dhalia). Vive também da publicidade e não tem contrato com a Globo, que é o tradicional para um ator ter uma vida confortável. Ele sempre foi um farol para minha geração.E tem vontade de dirigir?Sim. Há um projeto com o Rodrigo Teixeira, que comprou os direitos de um livro e quer que eu dirija, mas preciso de tempo. Você não se limita a só atuar.Não só quero ser produtor, diretor, mas sei o que cada um está fazendo. Se me perguntar, sei dizer o que cada pessoa deste set faz. Certamente, não serei diretor de carreira, mas como já fiz muito cinema, pergunto: por que não? Acho que vou fazer direitinho. Há pouco, você comentou que só faria um filme em Hollywood se o papel tivesse a ver com sua trajetória de latino-americano. E agora estrela Elysium.Porque tem a ver. Não posso falar muito sobre o filme, mas adianto que serei um vilão, que se passará no futuro e que, claro, vou atuar em inglês, mas meu sotaque vai se manter e tem a ver com a trama. É uma ficção científica e, ao mesmo tempo, muito político. Entendo por que Neill (Blomkamp) gosta de Tropa: seu filme anterior, District 9, é uma metáfora da exclusão social e do apartheid na África do Sul. Elysium é assim também. Será um blockbuster, mas terá algo a dizer. Está ansioso? Com medo?Estou. Qualquer filme dá medo. Mas este, meu primeiro no exterior, em outra língua, dá mais medo. O Javier Bardem disse uma vez: "Quando atuo em inglês, há um escritório na minha cabeça, tem gente passando fax, telefonando, trabalhando para que aquilo funcione direito. Quando atuo em espanhol, o escritório está vazio". Há a barreira da língua, mas gosto de vencer desafios. Se fosse para neutralizar meu sotaque, seria impossível. Já é difícil atuar em outra língua. Imagina tirar totalmente o sotaque. Nunca morei fora do Brasil. Meu inglês é brasileiro. Não tenho nenhuma vontade de me mudar para Hollywood e ser mais um ator latino lá. Quando começa a filmar?Em julho, no Canadá e no México. Talvez a distância e a falta que vou sentir dos meus filhos e da minha mulher será a pior coisa. Mas é bom sair da zona de conforto. Estou contente. A tendência é que o cinema mundial, e o brasileiro, cresçam cada vez mais. Temos de parar com a caretice de achar que nosso mercado é ruim e fazer todo tipo de filme.

 

 

 

Wagner Moura, como gosta de dizer, tem só 34 anos, mas já é um ator rodadinho. Formado em jornalismo, começou nos palcos nos anos 1990 e "incrivelmente passou a ganhar mais dinheiro como ator do que como jornalista". Ganhou notoriedade com A Máquina, de João Falcão, em 2006. Desde então, fez TV, 18 filmes, estrelou o fenômeno Tropa de Elite, tornou-se produtor (de Tropa 2), prepara-se para produzir outro longa, Serra Pelada, de Heitor Dhalia. Está em cartaz no cinema com VIPs, de Toniko Melo, aguarda a estreia de O Homem do Futuro, de Claudio Torres, e roda atualmente A Cadeira do Pai, de Luciano Moura. Para completar, em julho fará um vilão e atuará ao lado de Matt Damon e Jodie Foster em seu primeiro filme estrangeiro, Elysium, de Neill Blomkamp (Distrito 9).Com um currículo extenso, o que falta a este baiano que mora no Rio? Talvez finalmente fazer seu primeiro filme adulto. "Não confundir adulto com pornô", brincou o ator em conversa com o Estado em seu trailer, no intervalo de filmagem de A Cadeira do Pai. "Este é meu primeiro "drama-thriller-road movie" e, ao mesmo tempo, meu principal papel como pai."Na trama, ele é o médico Theo, que cresceu com um pai ausente (Lima Duarte), até se tornar um controlador: não consegue se entender com o filho adolescente Pedro (Brás Antunes) e ainda passa por uma separação complicada. Tudo vai mal até que o filho ganha uma cadeira, que pertenceu ao pai de Theo. Nessa hora, ele perde a razão e quebra a cadeira. O rapaz foge de casa. E Theo parte em uma jornada em busca do filho. Enquanto se preparava para a cena em que rouba um celular para tentar ligar para o filho, Wagner respondeu às seguintes perguntas: Você disse que queria assistir a um trecho já filmado de A Cadeira do Pai. Costuma se assistir?Em geral, não. Mas este filme é peculiar. Até um certo ponto, trata de família, da separação dos pais, da relação de Theo com o filho. Depois que o garoto some, vira um road movie. Quando mudou o tom, quis ver para saber como estava indo. Qual é o primeiro tom?O de um cara que está acostumado a controlar tudo. Mas o buraco do Theo é não ter um pai. E tudo que ele criou para ter estabilidade emocional rui quando a mulher pede o divórcio e o filho some. Ele, que nunca prestou muita atenção no garoto, passa a conhecê-lo melhor ao longo da jornada. Não vemos o menino, só seus rastros. O menino vai encontrando seu caminho. E Theo descobre que o filho foi encontrar o avô. Ele se transforma ao longo da viagem, das porradas que toma. Fazer um papel assim tem relação com a sua maturidade?Tem. Há coisas que ficam para trás a fim de poder andar para frente. De certa forma, deixo a figura do Capitão Nascimento e me torno um pai. Aliás, já era pai em Tropa. Aos 20 e poucos anos, interpretei um personagem que era pai, no Caminhando nas Nuvens, do Vicente Amorim. Mas hoje sou pai de fato. Sei o que o Theo passa. Esta viagem o draga de tal forma que ele nunca mais será o mesmo. E ainda encontrei na Mariana Lima uma atriz que compreende o tema. Ela é mãe, tem dois filhos. Há um entendimento mútuo da vida de cada um. É menos um exercício de imaginação porque vivemos isso. A gente não deixa de ser maluco porque virou pai. Só passa a ter uma criança para cuidar. É um filme adulto?A gente brinca que falar assim parece que é filme pornô. É adulto por tratar de "emoções adultas." Há um nível de relação entre os personagens, principalmente o Theo e a Branca (Mariana Lima), que têm uma profundidade imensa. Geralmente, o roteiro nos dá algo, cavucamos e achamos coisas insuspeitadas ali. Neste caso, o roteiro já vem embasado. Luciano (Moura) e Elena (Soarez), os roteiristas, são um casal. Têm muita propriedade para falar de relacionamento. É um filme muito bonito. Você vive um momento ótimo.Tenho escolhido o que quero fazer. Não só porque há demanda do nosso cinema. Há muita coisa diferente sendo feita. Graças à publicidade, mantenho minha vida. E, por ter feito filmes de sucesso, posso escolher meus papeis.E quer ser produtor também.Tenho muito orgulho de ter feito o Tropa 2 por sua qualidade e pela peça nova que o Zé Padilha botou no tabuleiro do cinema brasileiro, de ser "autodistribuído", que é uma solução possível para filmes grandes. O modelo dos grandes estúdios é injusto para o produtor. No Brasil, produtor capta o dinheiro todo, já as majors, graças à lei brasileira, conseguem via isenção fiscal. O fato do Tropa ter colocado esta peça no jogo força também uma nova forma do mercado se acomodar. Sei que o Padilha não vai parar por aí. Não só como diretor, mas como produtor. O Zé não pensa só para ele - quer juntar a O2, a Conspiração, quer mudar o paradigma da indústria cinematográfica nacional. É uma vontade legítima e muito bonita. Você também vai produzir Serra Pelada, do Heitor Dhalia?Sim. Adorei participar do Tropa 2. E agora vou produzir com Heitor e Tatiana Quintella. Nos EUA, por exemplo, os atores também têm suas produtoras, o que pode acontecer aqui também. Não era sua pretensão, mas você abriu esta nova seara.Minha referência de ator de vanguarda no cinema brasileiro sempre foi o Selton Mello. Ele buscou caminhos novos. Observo o que o Selton está fazendo e ele sempre está à frente. Foi produtor do Cheiro do Ralo (com Heitor Dhalia). Vive também da publicidade e não tem contrato com a Globo, que é o tradicional para um ator ter uma vida confortável. Ele sempre foi um farol para minha geração.E tem vontade de dirigir?Sim. Há um projeto com o Rodrigo Teixeira, que comprou os direitos de um livro e quer que eu dirija, mas preciso de tempo. Você não se limita a só atuar.Não só quero ser produtor, diretor, mas sei o que cada um está fazendo. Se me perguntar, sei dizer o que cada pessoa deste set faz. Certamente, não serei diretor de carreira, mas como já fiz muito cinema, pergunto: por que não? Acho que vou fazer direitinho. Há pouco, você comentou que só faria um filme em Hollywood se o papel tivesse a ver com sua trajetória de latino-americano. E agora estrela Elysium.Porque tem a ver. Não posso falar muito sobre o filme, mas adianto que serei um vilão, que se passará no futuro e que, claro, vou atuar em inglês, mas meu sotaque vai se manter e tem a ver com a trama. É uma ficção científica e, ao mesmo tempo, muito político. Entendo por que Neill (Blomkamp) gosta de Tropa: seu filme anterior, District 9, é uma metáfora da exclusão social e do apartheid na África do Sul. Elysium é assim também. Será um blockbuster, mas terá algo a dizer. Está ansioso? Com medo?Estou. Qualquer filme dá medo. Mas este, meu primeiro no exterior, em outra língua, dá mais medo. O Javier Bardem disse uma vez: "Quando atuo em inglês, há um escritório na minha cabeça, tem gente passando fax, telefonando, trabalhando para que aquilo funcione direito. Quando atuo em espanhol, o escritório está vazio". Há a barreira da língua, mas gosto de vencer desafios. Se fosse para neutralizar meu sotaque, seria impossível. Já é difícil atuar em outra língua. Imagina tirar totalmente o sotaque. Nunca morei fora do Brasil. Meu inglês é brasileiro. Não tenho nenhuma vontade de me mudar para Hollywood e ser mais um ator latino lá. Quando começa a filmar?Em julho, no Canadá e no México. Talvez a distância e a falta que vou sentir dos meus filhos e da minha mulher será a pior coisa. Mas é bom sair da zona de conforto. Estou contente. A tendência é que o cinema mundial, e o brasileiro, cresçam cada vez mais. Temos de parar com a caretice de achar que nosso mercado é ruim e fazer todo tipo de filme.

 

 

 

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.