À primeira vista, ele poderia ser um estilista, ou melhor, o diretor criativo de uma marca de moda de luxo internacional. Os sapatos são brancos – da Repetto, grife francesa escolhida pelo intelectual midiático da década de 1970 Serge Gainsbourg; a camisa tem pregas de smoking, cobertas por um terno bem cortado e o icônico chapéu branco que finaliza a produção. Assim, o portenho Alan Faena chega ao terreno de 20 mil metros quadrados perto da Avenida Brigadeiro Faria Lima, em São Paulo, para o lançamento da sua mais nova empreitada.
Depois de, durante uma década, revitalizar o bairro de Puerto Madero, em Buenos Aires, transformando a área portuária degradada em um dos símbolos da capital argentina com seu complexo Faena, o visionário empreendedor levou seu sonho para Miami, onde também transformou uma área de passagem em Miami Beach em um dos pontos mais valorizados da cidade, criando um destino cultural para a região. Agora, Alan Faena volta seu olhar para São Paulo para onde, em parceria com a construtora e incorporadora Even e o grupo Malzoni, pretende em 4 anos trazer sua marca para uma região por onde circulam mais de 200 mil pessoas por dia.
Alan Faena recebeu o Estadão, na semana passada, no próprio terreno onde o projeto será implantado e o que normalmente, em lançamentos imobiliários, seria o local de um estande de vendas com a planta dos futuros apartamentos e o hotel; no caso de Faena, porém, ele mais se parecia com uma grandiosa festa.
À noite, Faena iria receber em pessoa, em uma “noite entre amigos”, em um jardim especialmente construído para a ocasião, feito pelo paisagista Alex Hanazaki em uma gigante tenda vermelha, com uma instalação de 300 m² e 6 metros de altura do artista Manuel Ameztoy, que flutuava sobre quatro mesas de 20 m², e com as famosas carnes do chef argentino Francis Mallmann.
Além disso, um apartamento de 370 m² decorado com obras de arte e o melhor do design nacional foi montado para que interessados pudessem sentir a “alma” Faena.
Com 19 anos, você abriu uma marca de moda e, desde então, fala sobre a moda como um movimento social de liberdade de expressão individual. Depois de tantos anos, como a moda influencia seus projetos?
Não consigo me ver como uma pessoa de moda ou de hotelaria. Me vejo como alguém criativo que ama se comunicar e criar emoções. E, quando você faz isso, não interessa para qual indústria você trabalha. A época em que tive uma marca de moda na Argentina foi a época em que a democracia estava nascendo no meu país e a moda era uma forma de mostrar a liberdade, mostrar tudo o que poderíamos ser. A coisa mais importante que podemos ter é a liberdade de escolha e era isso que eu tentava inspirar na época.
Sua capacidade de revitalizar espaços, respeitando a história desses lugares, mas também criando algo adequado ao futuro, fez de Puerto Madero, em Buenos Aires, e do Faena District, em Miami Beach, em Miami, símbolos de transformação.
Eu respeito a beleza, a poesia, a história do passado, a energia das pessoas que fizeram as construções do passado. Não tento criar algo frio, apagando o que foi feito, mas sim criar uma voz e um sentido que respeitam o que já foi construído. Fazemos parte desse passado quando começamos a reconstruir algo que estava calado, abandonado por décadas. Acredito que parte do projeto é trabalhar em conjunto com a cultura, as pessoas, a natureza – e, assim, provocar impacto positivamente no entorno que já estava presente e que tem força. No caso de São Paulo, será assim também. A cidade tem uma história incrível e queremos interagir com a comunidade. É uma cidade que tem minha admiração pela arte, pela cultura local, e esse projeto terá minha atenção em cada detalhe, para criarmos mais vida com nosso complexo de hotel, residencial e centro de arte.
Por que sempre trazer arte para seus projetos? Qual é, enfim, o significado da arte para você?
Arte é tudo o que pode realmente elevar seu espírito. Sempre estive em busca da arte, mesmo quando estava trabalhando com moda. Em São Paulo teremos, assim como em Buenos Aires e Miami, um Art Center com estrutura independente, dedicado à arte e à celebração da criatividade.
Como manter a identidade Faena em tantos lugares diferentes?
O toque Faena, nosso olhar e ponto de vista sempre estarão presentes em cada projeto. Temos uma voz que vem da minha origem e região, somos sul-americanos, é uma oportunidade e uma responsabilidade levar essa visão ao mundo.
Como a pandemia mudou a relação das pessoas com o lugar onde moram e onde se hospedam?
No Faena, sempre tivemos uma forma clara de pensar a hospitalidade, o luxo e o estilo de vida, que acredito seja o futuro desse setor, no qual as pessoas não querem só bons quartos e bons lençóis, elas querem experiências holísticas, 360º, querem uma presença que preencha sua vida de sentido durante suas viagens e estadas. No Faena, trabalhamos sempre para buscar o extraordinário em instalações, design, gastronomia, música e entretenimento.