Análise: Barbárie bolsonarista em Brasília destrói patrimônio artístico incalculável


Com telas de Di Cavalcanti e esculturas de Brecheret, obras vandalizadas nos palácios do Governo valem milhões

Por Antonio Gonçalves Filho
Atualização:

O ataque criminoso ao Palácio da Alvorada na tarde de domingo não deixou apenas cicatrizes na democracia, mas na cultura brasileira. Construído em 1957 e inaugurado em junho de 1958, foi o primeiro prédio de alvenaria em Brasília, a nova capital. A barbárie dos extremistas que promoveram a quebradeira no Palácio maculou o prédio e as obras de arte que contam a história do Brasil desde a era colonial ao advento da modernidade brasileira – na arquitetura, pintura e escultura, de raros mapas do Brasil do século 17 a esculturas de Brecheret, nosso primeiro escultor moderno, passando por obras de Di Cavalcanti, como Mulatas, dos anos 1950, a que mais sofreu, com seis golpes de instrumentos perfurantes, e uma das mais caras do acervo (avaliada em torno de R$ 8 milhões).

Muitas outras obras foram danificadas e roubadas durante os atos de vandalismo: urnas funerárias marajoaras foram atiradas ao chão e quebradas. Imagens de santos barrocos foram encontradas ao lado dos escombros, no chão. Poltronas Barcelona, criadas pelo arquiteto Mies van der Rohe em 1929, foram pisoteadas, tapetes raros foram danificados e a sala de almoço do presidente da República foi completamente destruída.

'Mulatas', de Di Cavalcanti, obra vandalizada por bolsonaristas no ataque criminoso  Foto: Rafael Vilela/The Washington Post
continua após a publicidade

Nela, originalmente, podiam ser vistas pinturas da Escola Flamenga do século 17 – assinadas por mestres como Cornelis de Heem e Jan von Huysum (avaliadas em mais de R$ 1 milhão cada) –, anjos barrocos mineiros e uma imagem de São João Evangelista do nível das esculturas de Aleijadinho. Entre as obras sacras do Planalto destacam-se, por exemplo, uma Sagrada Família do século 18 vinda da Espanha, uma Nossa Senhora da Conceição portuguesa do mesmo período e duas imagens, também do século 18, de Santa Teresa d’Ávila e Maria Madalena.

Embora ainda não contabilizados todos os prejuízos causados pela invasão do Palácio pelos golpistas, que receberão uma “punição exemplar”, segundo o ministro Alexandre de Moraes, é possível afirmar que muitas obras do acervo alcançam o patamar das Mulatas de Di Cavalcanti, inclusive peças do mesmo pintor, figura icônica do modernismo brasileiro por ter participado da Semana de Arte Moderna de 1922. É o caso, por exemplo, de Músicos, obra que retrata um trio de instrumentistas populares (um violonista, um flautista e um tocador de cavaquinho) ao lado de três mulatas, obra encomendada para o palácio pelo próprio Oscar Niemeyer ( e hoje avaliada em mais de R$ 6 milhões).

continua após a publicidade

É possível afirmar sem erro que tudo o que o Palácio de Alvorada tem (ou tinha) em sua coleção, é um resumo da arte brasileira desde os tempos coloniais até os grandes modernos brasileiros (Brecheret, Volpi, Bonadei, Djanira, Milton Dacosta, Maria Leontina, Maria Martins, Portinari). Nossa história foi destruída por bárbaros, que não pouparam nem as históricas poltronas assinadas por Le Corbusier, os tapetes, as telas e objetos de valor inestimável.

O Palácio passou por um restauro em 2008, inclusive o piso de jacarandá. Com o passar dos anos e o desrespeito pelas obras que lá estava por ex-presidentes, muitas obras foram recolhidas à reserva técnica ou simplesmente abandonadas em qualquer canto (caso de santos barrocos, retirado pelo ex-presidente e uma tela de Djanira, Orixás, que ele mandou retirar do palácio por ser evangélico).

Djanira tem outras obras no Planalto, como Escolhendo Café, e um estudo para um painel. Volpi tem algumas pinturas de dimensões médias na coleção, entre elas “Bandeiras e Mastros” e uma fachada que estava sobre uma cômoda papeleira do século 18. Hoje, obras como essa estão avaliadas em R$ 5 milhões, podendo alcançar até mais no mercado.

continua após a publicidade
Grupo deixa rastro de destruição, com cadeiras arrancadas, pichações e o brasão da república retirado  

Algumas das obras do acervo foram encomendadas pelo próprio Niemeyer, que planejou Brasília ao lado do urbanista Lúcio Costa. É o caso, por exemplo, de duas esculturas de Ceschiatti, As Iaras (na área externa do Planalto) e Outono e Inverno (exposta na parte interna). Algumas pequenas esculturas estão desaparecidas. Outras, grandes, como as de Brecheret (Saindo do Banho e Morena) atingem valores estratosféricos pela sua raridade – o escultor participou da Semana de Arte de 22. Maria Martins, nossa única escultora surrealista, está representada por, no mínimo, duas esculturas de grandes dimensões no acervo, uma delas fundamental em sua obra, que reflete sobre as religiões de matriz africana: Rito dos Ritmos (1958).

Portinari é outro grande pintor modernista, ao lado de Volpi, presente na coleção com telas como“Seringueiros e Jangada do Nordeste, as duas com valor superior a R$ 7 milhões. Um dos nomes representados internacionalmente (é dele o painel da ONU) que foi desrespeitado pela matula selvagem que assaltou Brasília na triste tarde de domingo.

O ataque criminoso ao Palácio da Alvorada na tarde de domingo não deixou apenas cicatrizes na democracia, mas na cultura brasileira. Construído em 1957 e inaugurado em junho de 1958, foi o primeiro prédio de alvenaria em Brasília, a nova capital. A barbárie dos extremistas que promoveram a quebradeira no Palácio maculou o prédio e as obras de arte que contam a história do Brasil desde a era colonial ao advento da modernidade brasileira – na arquitetura, pintura e escultura, de raros mapas do Brasil do século 17 a esculturas de Brecheret, nosso primeiro escultor moderno, passando por obras de Di Cavalcanti, como Mulatas, dos anos 1950, a que mais sofreu, com seis golpes de instrumentos perfurantes, e uma das mais caras do acervo (avaliada em torno de R$ 8 milhões).

Muitas outras obras foram danificadas e roubadas durante os atos de vandalismo: urnas funerárias marajoaras foram atiradas ao chão e quebradas. Imagens de santos barrocos foram encontradas ao lado dos escombros, no chão. Poltronas Barcelona, criadas pelo arquiteto Mies van der Rohe em 1929, foram pisoteadas, tapetes raros foram danificados e a sala de almoço do presidente da República foi completamente destruída.

'Mulatas', de Di Cavalcanti, obra vandalizada por bolsonaristas no ataque criminoso  Foto: Rafael Vilela/The Washington Post

Nela, originalmente, podiam ser vistas pinturas da Escola Flamenga do século 17 – assinadas por mestres como Cornelis de Heem e Jan von Huysum (avaliadas em mais de R$ 1 milhão cada) –, anjos barrocos mineiros e uma imagem de São João Evangelista do nível das esculturas de Aleijadinho. Entre as obras sacras do Planalto destacam-se, por exemplo, uma Sagrada Família do século 18 vinda da Espanha, uma Nossa Senhora da Conceição portuguesa do mesmo período e duas imagens, também do século 18, de Santa Teresa d’Ávila e Maria Madalena.

Embora ainda não contabilizados todos os prejuízos causados pela invasão do Palácio pelos golpistas, que receberão uma “punição exemplar”, segundo o ministro Alexandre de Moraes, é possível afirmar que muitas obras do acervo alcançam o patamar das Mulatas de Di Cavalcanti, inclusive peças do mesmo pintor, figura icônica do modernismo brasileiro por ter participado da Semana de Arte Moderna de 1922. É o caso, por exemplo, de Músicos, obra que retrata um trio de instrumentistas populares (um violonista, um flautista e um tocador de cavaquinho) ao lado de três mulatas, obra encomendada para o palácio pelo próprio Oscar Niemeyer ( e hoje avaliada em mais de R$ 6 milhões).

É possível afirmar sem erro que tudo o que o Palácio de Alvorada tem (ou tinha) em sua coleção, é um resumo da arte brasileira desde os tempos coloniais até os grandes modernos brasileiros (Brecheret, Volpi, Bonadei, Djanira, Milton Dacosta, Maria Leontina, Maria Martins, Portinari). Nossa história foi destruída por bárbaros, que não pouparam nem as históricas poltronas assinadas por Le Corbusier, os tapetes, as telas e objetos de valor inestimável.

O Palácio passou por um restauro em 2008, inclusive o piso de jacarandá. Com o passar dos anos e o desrespeito pelas obras que lá estava por ex-presidentes, muitas obras foram recolhidas à reserva técnica ou simplesmente abandonadas em qualquer canto (caso de santos barrocos, retirado pelo ex-presidente e uma tela de Djanira, Orixás, que ele mandou retirar do palácio por ser evangélico).

Djanira tem outras obras no Planalto, como Escolhendo Café, e um estudo para um painel. Volpi tem algumas pinturas de dimensões médias na coleção, entre elas “Bandeiras e Mastros” e uma fachada que estava sobre uma cômoda papeleira do século 18. Hoje, obras como essa estão avaliadas em R$ 5 milhões, podendo alcançar até mais no mercado.

Grupo deixa rastro de destruição, com cadeiras arrancadas, pichações e o brasão da república retirado  

Algumas das obras do acervo foram encomendadas pelo próprio Niemeyer, que planejou Brasília ao lado do urbanista Lúcio Costa. É o caso, por exemplo, de duas esculturas de Ceschiatti, As Iaras (na área externa do Planalto) e Outono e Inverno (exposta na parte interna). Algumas pequenas esculturas estão desaparecidas. Outras, grandes, como as de Brecheret (Saindo do Banho e Morena) atingem valores estratosféricos pela sua raridade – o escultor participou da Semana de Arte de 22. Maria Martins, nossa única escultora surrealista, está representada por, no mínimo, duas esculturas de grandes dimensões no acervo, uma delas fundamental em sua obra, que reflete sobre as religiões de matriz africana: Rito dos Ritmos (1958).

Portinari é outro grande pintor modernista, ao lado de Volpi, presente na coleção com telas como“Seringueiros e Jangada do Nordeste, as duas com valor superior a R$ 7 milhões. Um dos nomes representados internacionalmente (é dele o painel da ONU) que foi desrespeitado pela matula selvagem que assaltou Brasília na triste tarde de domingo.

O ataque criminoso ao Palácio da Alvorada na tarde de domingo não deixou apenas cicatrizes na democracia, mas na cultura brasileira. Construído em 1957 e inaugurado em junho de 1958, foi o primeiro prédio de alvenaria em Brasília, a nova capital. A barbárie dos extremistas que promoveram a quebradeira no Palácio maculou o prédio e as obras de arte que contam a história do Brasil desde a era colonial ao advento da modernidade brasileira – na arquitetura, pintura e escultura, de raros mapas do Brasil do século 17 a esculturas de Brecheret, nosso primeiro escultor moderno, passando por obras de Di Cavalcanti, como Mulatas, dos anos 1950, a que mais sofreu, com seis golpes de instrumentos perfurantes, e uma das mais caras do acervo (avaliada em torno de R$ 8 milhões).

Muitas outras obras foram danificadas e roubadas durante os atos de vandalismo: urnas funerárias marajoaras foram atiradas ao chão e quebradas. Imagens de santos barrocos foram encontradas ao lado dos escombros, no chão. Poltronas Barcelona, criadas pelo arquiteto Mies van der Rohe em 1929, foram pisoteadas, tapetes raros foram danificados e a sala de almoço do presidente da República foi completamente destruída.

'Mulatas', de Di Cavalcanti, obra vandalizada por bolsonaristas no ataque criminoso  Foto: Rafael Vilela/The Washington Post

Nela, originalmente, podiam ser vistas pinturas da Escola Flamenga do século 17 – assinadas por mestres como Cornelis de Heem e Jan von Huysum (avaliadas em mais de R$ 1 milhão cada) –, anjos barrocos mineiros e uma imagem de São João Evangelista do nível das esculturas de Aleijadinho. Entre as obras sacras do Planalto destacam-se, por exemplo, uma Sagrada Família do século 18 vinda da Espanha, uma Nossa Senhora da Conceição portuguesa do mesmo período e duas imagens, também do século 18, de Santa Teresa d’Ávila e Maria Madalena.

Embora ainda não contabilizados todos os prejuízos causados pela invasão do Palácio pelos golpistas, que receberão uma “punição exemplar”, segundo o ministro Alexandre de Moraes, é possível afirmar que muitas obras do acervo alcançam o patamar das Mulatas de Di Cavalcanti, inclusive peças do mesmo pintor, figura icônica do modernismo brasileiro por ter participado da Semana de Arte Moderna de 1922. É o caso, por exemplo, de Músicos, obra que retrata um trio de instrumentistas populares (um violonista, um flautista e um tocador de cavaquinho) ao lado de três mulatas, obra encomendada para o palácio pelo próprio Oscar Niemeyer ( e hoje avaliada em mais de R$ 6 milhões).

É possível afirmar sem erro que tudo o que o Palácio de Alvorada tem (ou tinha) em sua coleção, é um resumo da arte brasileira desde os tempos coloniais até os grandes modernos brasileiros (Brecheret, Volpi, Bonadei, Djanira, Milton Dacosta, Maria Leontina, Maria Martins, Portinari). Nossa história foi destruída por bárbaros, que não pouparam nem as históricas poltronas assinadas por Le Corbusier, os tapetes, as telas e objetos de valor inestimável.

O Palácio passou por um restauro em 2008, inclusive o piso de jacarandá. Com o passar dos anos e o desrespeito pelas obras que lá estava por ex-presidentes, muitas obras foram recolhidas à reserva técnica ou simplesmente abandonadas em qualquer canto (caso de santos barrocos, retirado pelo ex-presidente e uma tela de Djanira, Orixás, que ele mandou retirar do palácio por ser evangélico).

Djanira tem outras obras no Planalto, como Escolhendo Café, e um estudo para um painel. Volpi tem algumas pinturas de dimensões médias na coleção, entre elas “Bandeiras e Mastros” e uma fachada que estava sobre uma cômoda papeleira do século 18. Hoje, obras como essa estão avaliadas em R$ 5 milhões, podendo alcançar até mais no mercado.

Grupo deixa rastro de destruição, com cadeiras arrancadas, pichações e o brasão da república retirado  

Algumas das obras do acervo foram encomendadas pelo próprio Niemeyer, que planejou Brasília ao lado do urbanista Lúcio Costa. É o caso, por exemplo, de duas esculturas de Ceschiatti, As Iaras (na área externa do Planalto) e Outono e Inverno (exposta na parte interna). Algumas pequenas esculturas estão desaparecidas. Outras, grandes, como as de Brecheret (Saindo do Banho e Morena) atingem valores estratosféricos pela sua raridade – o escultor participou da Semana de Arte de 22. Maria Martins, nossa única escultora surrealista, está representada por, no mínimo, duas esculturas de grandes dimensões no acervo, uma delas fundamental em sua obra, que reflete sobre as religiões de matriz africana: Rito dos Ritmos (1958).

Portinari é outro grande pintor modernista, ao lado de Volpi, presente na coleção com telas como“Seringueiros e Jangada do Nordeste, as duas com valor superior a R$ 7 milhões. Um dos nomes representados internacionalmente (é dele o painel da ONU) que foi desrespeitado pela matula selvagem que assaltou Brasília na triste tarde de domingo.

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.