Anocracia: uma palavra que define o Brasil atual


Barbara Walter analisa governos na corda bamba em novo livro

Por Sérgio Augusto
Atualização:

Em 2014, não ia ter Copa. Teve. Vira e mexe, somos ameaçados com alguma outra coisa além do fantasma do comunismo. A eleição presidencial de hoje, por exemplo, não andou por um fio? Em seu lugar, a essa altura, já teria havido um golpe.

No entanto, até agora, nada de golpe, apenas reiteradas ameaças com nova roupagem, como aquela notícia falsa de que as Forças Armadas poderiam fechar seções eleitorais no dia da votação.

No mais, quem fanfarronou o putsch bananeiro ainda come poeira nas pesquisas de intenção de voto no momento em que digito estas palavras. Que bravata ainda falta se concretizar?

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Uma guerra civil. Para dar um jeito de vez no País, conforme prometeu o então deputado do baixo clero Jair Bolsonaro, na mesma patacoada em que jurou matar “uns 30 mil”, inclusive FHC. Pois é, o resto do mundo amedrontado com a possibilidade de uma guerra nuclear, e nós aqui a corvejar a ameaça de uma prosaica guerra civil, feita por um arruaceiro dotado de faixa presidencial e empenhado até a medula em armar seus prosélitos para o que der e vier, em criar, enfim, um exército paralelo de milicianos, treinados em bivaques genéricos, mais conhecidos como “clubes de tiro”.

Cena da invasão do Capitólio, em Washington, por grupos radicais  Foto: Reuters

Só toquei nesse assunto porque acabei de ler um livro cujo título diz tudo: Como as Guerras Civis Começam – e Como Impedi-las, traduzido pela editora Zahar. Sua autora, Barbara F. Walter, é acadêmica, consultora da ONU, publicou artigos no The Washington Post e estuda guerras civis no mundo inteiro há mais de 30 anos.

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Nosso belicoso presidente é mencionado em cinco de suas 316 páginas, o que é mais do que Putin, embora menos do que Trump e com quase a mesma frequência do turco Erdogan e do húngaro Orban, líderes da extrema-direita que, como é da espécie, salienta a autora, “colocam seus objetivos pessoais acima das necessidades de uma democracia saudável, conquistando apoio mediante a exploração de temores dos cidadãos relativos a emprego, imigração e segurança.” Faltou, no caso brasileiro, destacar o fator fanatismo religioso, vale dizer a empulhação neopentecostalista.

Centenas de guerras civis aconteceram nos últimos 75 anos e “muitas começaram de forma estranhamente parecida”, informa a autora, que coleta, confronta e atualiza dados, triplamente checados, de uma força-tarefa coordenada a partir de Uppsala, na Suécia, cujo objetivo é construir um modelo que possibilite prever onde a instabilidade política poderá gerar um conflito armado. De qualquer proporção: do fuzuê no Capitólio, em janeiro deste ano, a uma guerra civil.

Guerras civis não são mais como as do passado. Nada de tanques e barricadas nas ruas. A tecnologia também afetou radicalmente o confronto extremo de forças antagônicas. Disparos em massa de fake news causam mais estragos do que várias rajadas de metralhadoras.

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Das coisas que aprendi no ensaio, destaco uma palavra: anocracia. Neologismo criado em 1974 pelo professor Ted Robert Gurr, anocracias são aqueles regimes híbridos, ditos transicionais, nem autocracias absolutas, nem democracias plenas. O Bolsonaristão, por exemplo.

Como a probabilidade de instabilidade política ou de guerra civil é de duas a três vezes maior numa anocracia do que numa autocracia e numa democracia plena, ajude com seu voto a acabar com o Bolsonaristão enquanto é tempo.

Em 2014, não ia ter Copa. Teve. Vira e mexe, somos ameaçados com alguma outra coisa além do fantasma do comunismo. A eleição presidencial de hoje, por exemplo, não andou por um fio? Em seu lugar, a essa altura, já teria havido um golpe.

No entanto, até agora, nada de golpe, apenas reiteradas ameaças com nova roupagem, como aquela notícia falsa de que as Forças Armadas poderiam fechar seções eleitorais no dia da votação.

No mais, quem fanfarronou o putsch bananeiro ainda come poeira nas pesquisas de intenção de voto no momento em que digito estas palavras. Que bravata ainda falta se concretizar?

Uma guerra civil. Para dar um jeito de vez no País, conforme prometeu o então deputado do baixo clero Jair Bolsonaro, na mesma patacoada em que jurou matar “uns 30 mil”, inclusive FHC. Pois é, o resto do mundo amedrontado com a possibilidade de uma guerra nuclear, e nós aqui a corvejar a ameaça de uma prosaica guerra civil, feita por um arruaceiro dotado de faixa presidencial e empenhado até a medula em armar seus prosélitos para o que der e vier, em criar, enfim, um exército paralelo de milicianos, treinados em bivaques genéricos, mais conhecidos como “clubes de tiro”.

Cena da invasão do Capitólio, em Washington, por grupos radicais  Foto: Reuters

Só toquei nesse assunto porque acabei de ler um livro cujo título diz tudo: Como as Guerras Civis Começam – e Como Impedi-las, traduzido pela editora Zahar. Sua autora, Barbara F. Walter, é acadêmica, consultora da ONU, publicou artigos no The Washington Post e estuda guerras civis no mundo inteiro há mais de 30 anos.

Nosso belicoso presidente é mencionado em cinco de suas 316 páginas, o que é mais do que Putin, embora menos do que Trump e com quase a mesma frequência do turco Erdogan e do húngaro Orban, líderes da extrema-direita que, como é da espécie, salienta a autora, “colocam seus objetivos pessoais acima das necessidades de uma democracia saudável, conquistando apoio mediante a exploração de temores dos cidadãos relativos a emprego, imigração e segurança.” Faltou, no caso brasileiro, destacar o fator fanatismo religioso, vale dizer a empulhação neopentecostalista.

Centenas de guerras civis aconteceram nos últimos 75 anos e “muitas começaram de forma estranhamente parecida”, informa a autora, que coleta, confronta e atualiza dados, triplamente checados, de uma força-tarefa coordenada a partir de Uppsala, na Suécia, cujo objetivo é construir um modelo que possibilite prever onde a instabilidade política poderá gerar um conflito armado. De qualquer proporção: do fuzuê no Capitólio, em janeiro deste ano, a uma guerra civil.

Guerras civis não são mais como as do passado. Nada de tanques e barricadas nas ruas. A tecnologia também afetou radicalmente o confronto extremo de forças antagônicas. Disparos em massa de fake news causam mais estragos do que várias rajadas de metralhadoras.

Das coisas que aprendi no ensaio, destaco uma palavra: anocracia. Neologismo criado em 1974 pelo professor Ted Robert Gurr, anocracias são aqueles regimes híbridos, ditos transicionais, nem autocracias absolutas, nem democracias plenas. O Bolsonaristão, por exemplo.

Como a probabilidade de instabilidade política ou de guerra civil é de duas a três vezes maior numa anocracia do que numa autocracia e numa democracia plena, ajude com seu voto a acabar com o Bolsonaristão enquanto é tempo.

Em 2014, não ia ter Copa. Teve. Vira e mexe, somos ameaçados com alguma outra coisa além do fantasma do comunismo. A eleição presidencial de hoje, por exemplo, não andou por um fio? Em seu lugar, a essa altura, já teria havido um golpe.

No entanto, até agora, nada de golpe, apenas reiteradas ameaças com nova roupagem, como aquela notícia falsa de que as Forças Armadas poderiam fechar seções eleitorais no dia da votação.

No mais, quem fanfarronou o putsch bananeiro ainda come poeira nas pesquisas de intenção de voto no momento em que digito estas palavras. Que bravata ainda falta se concretizar?

Uma guerra civil. Para dar um jeito de vez no País, conforme prometeu o então deputado do baixo clero Jair Bolsonaro, na mesma patacoada em que jurou matar “uns 30 mil”, inclusive FHC. Pois é, o resto do mundo amedrontado com a possibilidade de uma guerra nuclear, e nós aqui a corvejar a ameaça de uma prosaica guerra civil, feita por um arruaceiro dotado de faixa presidencial e empenhado até a medula em armar seus prosélitos para o que der e vier, em criar, enfim, um exército paralelo de milicianos, treinados em bivaques genéricos, mais conhecidos como “clubes de tiro”.

Cena da invasão do Capitólio, em Washington, por grupos radicais  Foto: Reuters

Só toquei nesse assunto porque acabei de ler um livro cujo título diz tudo: Como as Guerras Civis Começam – e Como Impedi-las, traduzido pela editora Zahar. Sua autora, Barbara F. Walter, é acadêmica, consultora da ONU, publicou artigos no The Washington Post e estuda guerras civis no mundo inteiro há mais de 30 anos.

Nosso belicoso presidente é mencionado em cinco de suas 316 páginas, o que é mais do que Putin, embora menos do que Trump e com quase a mesma frequência do turco Erdogan e do húngaro Orban, líderes da extrema-direita que, como é da espécie, salienta a autora, “colocam seus objetivos pessoais acima das necessidades de uma democracia saudável, conquistando apoio mediante a exploração de temores dos cidadãos relativos a emprego, imigração e segurança.” Faltou, no caso brasileiro, destacar o fator fanatismo religioso, vale dizer a empulhação neopentecostalista.

Centenas de guerras civis aconteceram nos últimos 75 anos e “muitas começaram de forma estranhamente parecida”, informa a autora, que coleta, confronta e atualiza dados, triplamente checados, de uma força-tarefa coordenada a partir de Uppsala, na Suécia, cujo objetivo é construir um modelo que possibilite prever onde a instabilidade política poderá gerar um conflito armado. De qualquer proporção: do fuzuê no Capitólio, em janeiro deste ano, a uma guerra civil.

Guerras civis não são mais como as do passado. Nada de tanques e barricadas nas ruas. A tecnologia também afetou radicalmente o confronto extremo de forças antagônicas. Disparos em massa de fake news causam mais estragos do que várias rajadas de metralhadoras.

Das coisas que aprendi no ensaio, destaco uma palavra: anocracia. Neologismo criado em 1974 pelo professor Ted Robert Gurr, anocracias são aqueles regimes híbridos, ditos transicionais, nem autocracias absolutas, nem democracias plenas. O Bolsonaristão, por exemplo.

Como a probabilidade de instabilidade política ou de guerra civil é de duas a três vezes maior numa anocracia do que numa autocracia e numa democracia plena, ajude com seu voto a acabar com o Bolsonaristão enquanto é tempo.

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