''A violência não é uma finalidade, é um meio''


Premiado como melhor diretor, filipino Brillante Mendoza inspirou-se em um fato real para rodar Kinatay

Por Luiz Carlos Merten e CANNES

Brillante Mendoza faz um cinema que pode definir como difícil. O sexo explícito em Serbis, a violência em Kinatay - o retrato que ele faz das Filipinas coloca na tela um mundo muitas vezes assustador. Mas, no limite, o que impressiona talvez nem sejam os temas, mas a mise-en-scène, essa maneira de usar o tempo para incomodar o espectador. Mendoza foi recompensado pelo júri por sua direção ?brilhante?. Antes da premiação, ele havia conversado com a reportagem no jardim do Grand Hotel, em plena Croisette. Não sei o que incomoda mais em seu filme, se as cenas em que a prostituta é decepada ou a viagem de van até o local do crime. Aquilo é tempo real, não? Comecei no cinema filmando em tempo real e, embora Kinatay se passe num período mais longo, um dia e uma noite, é importante concentrar certos momentos, justamente para provocar a reação do espectador. Você ainda não sabe o que vai acontecer com esses personagens, mas o incômodo já o prepara para alguma coisa fora de série. Isso também é uma reação minha ao cinema e à TV que fazem sucesso em meu país. Nós, filipinos, consumimos muito as séries norte-americanas e as produções de Hollywood. Desenvolvi o meu método narrativo, que vai contra essa tendência. Mas, para chegar a ele, vi muitos filmes dos mestres estrangeiros e filipinos. Espero que o fato de estar em Cannes seja um estímulo para que outros diretores filipinos persigam a ?nossa? maneira de narrar. E o público, como reage? Serbis não foi lançado comercialmente. (Na coletiva, ele declarou que espera que o prêmio de direção favoreça ?Kinatay?). O que eu faço é buscar um público alternativo. Exibi Serbis em universidades, para estudantes. Vou fazer a mesma coisa com Kinatay. Encaro como minha responsabilidade, como diretor, a formação de um público mais participante e reflexivo. Seu filme baseia-se numa história real. Filipinas é um país assim tão violento? Pesquisava para um filme quando ouvi de um estudante de criminologia essa história que me pareceu tão terrível que não conseguia parar de pensar nela. Pessoas cujos membros foram trucidados, isso acontecia muito nos anos 60, mas ainda ocorre. O rapaz do filme é estudante, como o da minha pesquisa. Ele usa essa camiseta com os dizeres "A integridade, uma vez perdida, não tem retorno". É justamente sobre o que me interessa refletir. A violência não é um fim, é um meio. E não me agrada enfiar o nariz nela. Não tenho nenhum prazer nisso. Se tivesse, minha integridade já teria se esfumado.

Brillante Mendoza faz um cinema que pode definir como difícil. O sexo explícito em Serbis, a violência em Kinatay - o retrato que ele faz das Filipinas coloca na tela um mundo muitas vezes assustador. Mas, no limite, o que impressiona talvez nem sejam os temas, mas a mise-en-scène, essa maneira de usar o tempo para incomodar o espectador. Mendoza foi recompensado pelo júri por sua direção ?brilhante?. Antes da premiação, ele havia conversado com a reportagem no jardim do Grand Hotel, em plena Croisette. Não sei o que incomoda mais em seu filme, se as cenas em que a prostituta é decepada ou a viagem de van até o local do crime. Aquilo é tempo real, não? Comecei no cinema filmando em tempo real e, embora Kinatay se passe num período mais longo, um dia e uma noite, é importante concentrar certos momentos, justamente para provocar a reação do espectador. Você ainda não sabe o que vai acontecer com esses personagens, mas o incômodo já o prepara para alguma coisa fora de série. Isso também é uma reação minha ao cinema e à TV que fazem sucesso em meu país. Nós, filipinos, consumimos muito as séries norte-americanas e as produções de Hollywood. Desenvolvi o meu método narrativo, que vai contra essa tendência. Mas, para chegar a ele, vi muitos filmes dos mestres estrangeiros e filipinos. Espero que o fato de estar em Cannes seja um estímulo para que outros diretores filipinos persigam a ?nossa? maneira de narrar. E o público, como reage? Serbis não foi lançado comercialmente. (Na coletiva, ele declarou que espera que o prêmio de direção favoreça ?Kinatay?). O que eu faço é buscar um público alternativo. Exibi Serbis em universidades, para estudantes. Vou fazer a mesma coisa com Kinatay. Encaro como minha responsabilidade, como diretor, a formação de um público mais participante e reflexivo. Seu filme baseia-se numa história real. Filipinas é um país assim tão violento? Pesquisava para um filme quando ouvi de um estudante de criminologia essa história que me pareceu tão terrível que não conseguia parar de pensar nela. Pessoas cujos membros foram trucidados, isso acontecia muito nos anos 60, mas ainda ocorre. O rapaz do filme é estudante, como o da minha pesquisa. Ele usa essa camiseta com os dizeres "A integridade, uma vez perdida, não tem retorno". É justamente sobre o que me interessa refletir. A violência não é um fim, é um meio. E não me agrada enfiar o nariz nela. Não tenho nenhum prazer nisso. Se tivesse, minha integridade já teria se esfumado.

Brillante Mendoza faz um cinema que pode definir como difícil. O sexo explícito em Serbis, a violência em Kinatay - o retrato que ele faz das Filipinas coloca na tela um mundo muitas vezes assustador. Mas, no limite, o que impressiona talvez nem sejam os temas, mas a mise-en-scène, essa maneira de usar o tempo para incomodar o espectador. Mendoza foi recompensado pelo júri por sua direção ?brilhante?. Antes da premiação, ele havia conversado com a reportagem no jardim do Grand Hotel, em plena Croisette. Não sei o que incomoda mais em seu filme, se as cenas em que a prostituta é decepada ou a viagem de van até o local do crime. Aquilo é tempo real, não? Comecei no cinema filmando em tempo real e, embora Kinatay se passe num período mais longo, um dia e uma noite, é importante concentrar certos momentos, justamente para provocar a reação do espectador. Você ainda não sabe o que vai acontecer com esses personagens, mas o incômodo já o prepara para alguma coisa fora de série. Isso também é uma reação minha ao cinema e à TV que fazem sucesso em meu país. Nós, filipinos, consumimos muito as séries norte-americanas e as produções de Hollywood. Desenvolvi o meu método narrativo, que vai contra essa tendência. Mas, para chegar a ele, vi muitos filmes dos mestres estrangeiros e filipinos. Espero que o fato de estar em Cannes seja um estímulo para que outros diretores filipinos persigam a ?nossa? maneira de narrar. E o público, como reage? Serbis não foi lançado comercialmente. (Na coletiva, ele declarou que espera que o prêmio de direção favoreça ?Kinatay?). O que eu faço é buscar um público alternativo. Exibi Serbis em universidades, para estudantes. Vou fazer a mesma coisa com Kinatay. Encaro como minha responsabilidade, como diretor, a formação de um público mais participante e reflexivo. Seu filme baseia-se numa história real. Filipinas é um país assim tão violento? Pesquisava para um filme quando ouvi de um estudante de criminologia essa história que me pareceu tão terrível que não conseguia parar de pensar nela. Pessoas cujos membros foram trucidados, isso acontecia muito nos anos 60, mas ainda ocorre. O rapaz do filme é estudante, como o da minha pesquisa. Ele usa essa camiseta com os dizeres "A integridade, uma vez perdida, não tem retorno". É justamente sobre o que me interessa refletir. A violência não é um fim, é um meio. E não me agrada enfiar o nariz nela. Não tenho nenhum prazer nisso. Se tivesse, minha integridade já teria se esfumado.

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