Arte é mágica? Mágica é arte? Mister M e Antonio Peticov se encontram para buscar respostas


De um lado o ilusionista que conquistou o País nos anos 1990, e do outro, um artista que marcou a vanguarda dos anos 60 e que pinta com ajuda de ilusões de ótica. ‘Estadão’ acompanhou conversa sobre trabalho e sentido da vida

Por Daniel Silveira

No dicionário, o verbete ‘arte’ pode ter inúmeros significados. O Michaelis diz, em sentido filosófico, que trata-se de um “complexo de regras e processos para a produção de um efeito estético determinado”. ‘Mágica’, outro termo de significados múltiplos, tem como uma de suas definições no Michaelis “uso de truques e técnicas que envolvem muita agilidade com as mãos para criar ilusão e deslumbramento no espectador; ilusionismo, magia, prestidigitação.” A discussão sobre o que é ou não arte e mágica pode aparecer em artigos, livros, filmes, teses...

E também, por que não, em um papo entre duas pessoas que passaram suas vidas fazendo outras pessoas se impressionarem com suas obras.

Artista plástico Antonio Peticov (camisa branca) recebe o mágico Mister M em sua casa. O ilusionista conheceu parte da obra do artista brasileiro e também bateu um papo sobre criação, vida, experiência de quase morte e trabalho. Foto: Daniel Teixeira/Estadão
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O Estadão participou de um encontro entre Antonio Peticov, um dos artistas visuais mais importantes da vanguarda brasileira desde os anos 1960, com peças que, em alguns casos, lembram jogos matemáticos, e o “mágico mascarado” Mister M, sucesso da televisão brasileira nos anos 1990.

Ambos estão com trabalhos em cartaz em São Paulo (ver o serviço no final deste texto). Os dois se encontraram na casa do artista visual, na capital paulista, quando Val Valentino (nome artístico do ilusionista) pôde conhecer parte da obra de Peticov. Eles bateram um papo regado a combucha de jabuticaba com amora, pão de queijo e sorvete de maracujá com capim-limão, uma mistura bem brasileira para refrescar o calor que fazia durante o encontro, na última segunda-feira, 13 - também conhecido como o dia mais quente do ano até agora.

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Papo descontraído sobre arte

Depois de conhecer a casa de Peticov, visitar seu ateliê, ver algumas de suas obras e de outros artistas, como uma coleção de brinquedos de quebra-cabeça, Mister M se mostrou curioso. “Seu trabalho é tão criativo”, exclamou para o artista plástico, emendando com uma pergunta: “você tem um processo criativo?”.

“Eu acordo e deixo acontecer”, brincou Peti, como os amigos mais próximos o chamam. Logo depois, o artista contou uma história sobre um encontro que teve com crianças de quatro e cinco anos de idade em que ele também foi perguntado sobre suas criações. “Eu leio muito para ter informação, e depois vem a intuição, em seguida perguntei se eles sabiam o que era intuição e uma menininha de quatro anos disse: ‘é quando você escuta seu coração’”, continuou um dos pioneiros do Tropicalismo.

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Mister M ficou conhecido no Brasil e no mundo por conta de um programa, apresentado durante o Fantástico, na TV Globo, em que desvendava segredos de truques de mágica famosos. Este repórter, que foi uma criança na década de 1990, que deve ter visto todos os episódios - morrendo de medo da máscara e da narração de Cid Moreira - ficou intrigado para saber se ele também tinha um processo criativo.

Vamos combinar que revelar truques é muito mais simples que criar novos e que montar um espetáculo de mágica que seja capaz de fascinar pessoas não parece ser uma tarefa das mais fáceis. Então, será que o Mister M também tem um método de criação?

Antonio Peticov (camisa branca) mostra sua coleção de brinquedos em quebra-cabeça, segundo ele, a maior do Brasil, com exemplos de brinquedos de todo o mundo.  Foto: Daniel Teixeira/Estadão
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“Não sabia que tinha, mas anos atrás, um psicólogo do Canadá veio me entrevistar porque adorava meus shows e o interesse dele era justamente sobre processo criativo”, contou Val. “Desde jovem, quando precisava criar algo, gostava de ter todos os meus livros de mágica e depois os coloco para fora, a mágica surge magicamente”, diz.

Val também contou que adora escutar música enquanto cria. Mas esse é apenas o primeiro passo de seu processo de criação artística. “Eu escrevo e rabisco por uns três dias, como um louco, sem dormir, sem pensar. Depois coloco tudo de lado e me afasto por três dias e vou fazer algo na natureza, como aparar e cortar a grama ou até mesmo limpar a casa, nada que esteja relacionado. E então vem, eu me sinto como se estivesse fazendo o download de algo no computador”, conta.

Mister M disse que segue criando muitos números ainda, mas afirma que seu show no Brasil, em cartaz no Teatro Procópio Ferreira (Rua Augusta, 2.823), reúne truques clássicos de mágica, que conquistam as pessoas há anos. A apresentação que segue até o dia 15 de dezembro tem narração de Cid Moreira. Para os mais saudosistas, é uma boa oportunidade para relembrar o clima de tensão toda vez que a voz do jornalista entrava no ar para mostrar mais uma revelação do Mágico Mascarado.

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Ainda sobre trabalho, os dois falaram sobre os principais desafios de suas carreiras enquanto artistas. “Manter o segredo”, disse Mister M assertivamente, sendo completamente avesso ao que o fez uma estrela mundial. Apesar de ter sido hostilizado por alguns mágicos - poucos, segundo ele - o trabalho que realizou nos anos de programa de TV transformou a maneira como alguns países orientais passaram a enxergar a arte do ilusionismo. Na China, por exemplo, era proibido fazer mágica porque era visto como bruxaria, atualmente o país conta com escolas e cursos de ilusionismo.

Peticov também coloca no futuro, assim como Mister M, o centro de seu desafio, que segundo o artista plástico é o porvir. “Gosto muito de agradar a mim mesmo e quem trabalha tem que ter prazer com o que quer que seja, mas acredito que o maior desafio seja o que vem depois”, explica o artista.

Monte Fuji, uma das peças expostas na mostra atual e Antonio Peticov. Foto: Antonio Peticov/Reprodução
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Mais leveza

No fim das contas, ambos atravessam as divisões e definições sobre arte e mágica como se não existissem - as ignoram, como se o Michaelis tivesse... ‘puf’, desaparecido diante dos nossos olhos. Enquanto o papo avançava, os artistas se preocupam com assuntos mais urgentes, e continuaram a falar sobre suas vivências. Mister M contou sobre sua experiência de quase morte, em 2019, depois de cair, fraturar o tornozelo e ficar desacordado por cerca de três minutos.

“Quando morri, o lugar para onde fui era cinza e branco, havia uma pessoa falando comigo, mas eu só vi uma silhueta porque tinha uma luz muito brilhante atrás dela”, começa. “O mais importante de tudo foi a sensação de muita paz e amor, sem ódio, sem dor, sem tristeza, apenas amor.” O mágico estava com familiares em um passeio quando sofreu o acidente.

Peticov, então, continuou a conversa falando sobre um documentário a que assistiu sobre experiências como a que Mister M passou. “É uma experiência incrível”, continuou Mister M. “Eu estou pronto para ir, não quero, mas estou pronto”, brincou Peticov. Val concordou: “Eu também, eu não tenho medo, se for a hora, ok”.

Ambos falaram sobre como olhar para a vida dessa forma faz as coisas se tornarem mais simples. “Nada aqui é meu”, completou Peticov.

Mister M, também conhecido como Val Valentino, o Mágico Mascarado, está com show em São Paulo. Foto: Luís França/Divulgação

Vasto mundo

Os novos trabalhos de Peticov parecem falar sobre esse processo que ele vive. Quando o artista diz que está pronto para morrer ou que nada aqui é dele também deixa escapar a forma como ele se relaciona com o planeta. Sua mais recente exposição, em cartaz no Espaço Expositivo A Estufa, na Vila Madalena é uma forma de declarar esse amor pela Terra.

A mostra Montanhas Sagradas e Transcendências apresenta 17 telas em que o artista revisita algumas das mais belas e conhecidas montanhas do globo, com muitas cores mesclando dados científicos, lendas, lembranças de viagens, vivências e novas experiências. Mas por que montanhas? “Porque elas são fantásticas e eu amo a Terra”, diz o artista. Simples assim.

O trabalho surgiu como uma provocação do filho, Pedro Antonio, para que ele celebrasse a chegada de seus 77 anos. O plano era pintar apenas sete, que se tornaram 17. Entre as paisagens pintadas estão Everest, Mont Blanc, Monte Fuji e Corcovado.

As obras de Peticov também revelam sua pesquisa mais recente, a Transcendência. O artista explora elementos como o dia e a noite, clássicos arquétipos análogos ao consciente e ao inconsciente, o plano humano e o divino interagindo em uma sinergia. A mostra fica em cartaz até 15 de dezembro.

Serviços

Mister M Experience:

Teatro Procópio Ferreira (Rua Augusta, 2.823)

Até 15 de dezembro, quintas e sextas às 21h; sábado às 17h e 21h; e domingos às 18h

Valores: Premium: R$ 150 / Vip: R$ 120. Vendas: sympla.com.br

Montanhas Sagradas e Transcendência, de Antonio Peticov

Espaço Expositivo A Estufa (Rua Wizard, 53 - Vila Madalena)

Até 15 de dezembro, de segunda à sexta, das 11h às 17h. Sábados, das 11h às 13h

Artista plastico Antonio Peticov recebe o magico Mister M em sua casa  Foto: DANIEL TEIXEIRA / ESTADÃO
Artista plastico Antonio Peticov (camisa branca) recebe o magico Mister M em sua casa  Foto: DANIEL TEIXEIRA / ESTADÃO

No dicionário, o verbete ‘arte’ pode ter inúmeros significados. O Michaelis diz, em sentido filosófico, que trata-se de um “complexo de regras e processos para a produção de um efeito estético determinado”. ‘Mágica’, outro termo de significados múltiplos, tem como uma de suas definições no Michaelis “uso de truques e técnicas que envolvem muita agilidade com as mãos para criar ilusão e deslumbramento no espectador; ilusionismo, magia, prestidigitação.” A discussão sobre o que é ou não arte e mágica pode aparecer em artigos, livros, filmes, teses...

E também, por que não, em um papo entre duas pessoas que passaram suas vidas fazendo outras pessoas se impressionarem com suas obras.

Artista plástico Antonio Peticov (camisa branca) recebe o mágico Mister M em sua casa. O ilusionista conheceu parte da obra do artista brasileiro e também bateu um papo sobre criação, vida, experiência de quase morte e trabalho. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

O Estadão participou de um encontro entre Antonio Peticov, um dos artistas visuais mais importantes da vanguarda brasileira desde os anos 1960, com peças que, em alguns casos, lembram jogos matemáticos, e o “mágico mascarado” Mister M, sucesso da televisão brasileira nos anos 1990.

Ambos estão com trabalhos em cartaz em São Paulo (ver o serviço no final deste texto). Os dois se encontraram na casa do artista visual, na capital paulista, quando Val Valentino (nome artístico do ilusionista) pôde conhecer parte da obra de Peticov. Eles bateram um papo regado a combucha de jabuticaba com amora, pão de queijo e sorvete de maracujá com capim-limão, uma mistura bem brasileira para refrescar o calor que fazia durante o encontro, na última segunda-feira, 13 - também conhecido como o dia mais quente do ano até agora.

Papo descontraído sobre arte

Depois de conhecer a casa de Peticov, visitar seu ateliê, ver algumas de suas obras e de outros artistas, como uma coleção de brinquedos de quebra-cabeça, Mister M se mostrou curioso. “Seu trabalho é tão criativo”, exclamou para o artista plástico, emendando com uma pergunta: “você tem um processo criativo?”.

“Eu acordo e deixo acontecer”, brincou Peti, como os amigos mais próximos o chamam. Logo depois, o artista contou uma história sobre um encontro que teve com crianças de quatro e cinco anos de idade em que ele também foi perguntado sobre suas criações. “Eu leio muito para ter informação, e depois vem a intuição, em seguida perguntei se eles sabiam o que era intuição e uma menininha de quatro anos disse: ‘é quando você escuta seu coração’”, continuou um dos pioneiros do Tropicalismo.

Mister M ficou conhecido no Brasil e no mundo por conta de um programa, apresentado durante o Fantástico, na TV Globo, em que desvendava segredos de truques de mágica famosos. Este repórter, que foi uma criança na década de 1990, que deve ter visto todos os episódios - morrendo de medo da máscara e da narração de Cid Moreira - ficou intrigado para saber se ele também tinha um processo criativo.

Vamos combinar que revelar truques é muito mais simples que criar novos e que montar um espetáculo de mágica que seja capaz de fascinar pessoas não parece ser uma tarefa das mais fáceis. Então, será que o Mister M também tem um método de criação?

Antonio Peticov (camisa branca) mostra sua coleção de brinquedos em quebra-cabeça, segundo ele, a maior do Brasil, com exemplos de brinquedos de todo o mundo.  Foto: Daniel Teixeira/Estadão

“Não sabia que tinha, mas anos atrás, um psicólogo do Canadá veio me entrevistar porque adorava meus shows e o interesse dele era justamente sobre processo criativo”, contou Val. “Desde jovem, quando precisava criar algo, gostava de ter todos os meus livros de mágica e depois os coloco para fora, a mágica surge magicamente”, diz.

Val também contou que adora escutar música enquanto cria. Mas esse é apenas o primeiro passo de seu processo de criação artística. “Eu escrevo e rabisco por uns três dias, como um louco, sem dormir, sem pensar. Depois coloco tudo de lado e me afasto por três dias e vou fazer algo na natureza, como aparar e cortar a grama ou até mesmo limpar a casa, nada que esteja relacionado. E então vem, eu me sinto como se estivesse fazendo o download de algo no computador”, conta.

Mister M disse que segue criando muitos números ainda, mas afirma que seu show no Brasil, em cartaz no Teatro Procópio Ferreira (Rua Augusta, 2.823), reúne truques clássicos de mágica, que conquistam as pessoas há anos. A apresentação que segue até o dia 15 de dezembro tem narração de Cid Moreira. Para os mais saudosistas, é uma boa oportunidade para relembrar o clima de tensão toda vez que a voz do jornalista entrava no ar para mostrar mais uma revelação do Mágico Mascarado.

Ainda sobre trabalho, os dois falaram sobre os principais desafios de suas carreiras enquanto artistas. “Manter o segredo”, disse Mister M assertivamente, sendo completamente avesso ao que o fez uma estrela mundial. Apesar de ter sido hostilizado por alguns mágicos - poucos, segundo ele - o trabalho que realizou nos anos de programa de TV transformou a maneira como alguns países orientais passaram a enxergar a arte do ilusionismo. Na China, por exemplo, era proibido fazer mágica porque era visto como bruxaria, atualmente o país conta com escolas e cursos de ilusionismo.

Peticov também coloca no futuro, assim como Mister M, o centro de seu desafio, que segundo o artista plástico é o porvir. “Gosto muito de agradar a mim mesmo e quem trabalha tem que ter prazer com o que quer que seja, mas acredito que o maior desafio seja o que vem depois”, explica o artista.

Monte Fuji, uma das peças expostas na mostra atual e Antonio Peticov. Foto: Antonio Peticov/Reprodução

Mais leveza

No fim das contas, ambos atravessam as divisões e definições sobre arte e mágica como se não existissem - as ignoram, como se o Michaelis tivesse... ‘puf’, desaparecido diante dos nossos olhos. Enquanto o papo avançava, os artistas se preocupam com assuntos mais urgentes, e continuaram a falar sobre suas vivências. Mister M contou sobre sua experiência de quase morte, em 2019, depois de cair, fraturar o tornozelo e ficar desacordado por cerca de três minutos.

“Quando morri, o lugar para onde fui era cinza e branco, havia uma pessoa falando comigo, mas eu só vi uma silhueta porque tinha uma luz muito brilhante atrás dela”, começa. “O mais importante de tudo foi a sensação de muita paz e amor, sem ódio, sem dor, sem tristeza, apenas amor.” O mágico estava com familiares em um passeio quando sofreu o acidente.

Peticov, então, continuou a conversa falando sobre um documentário a que assistiu sobre experiências como a que Mister M passou. “É uma experiência incrível”, continuou Mister M. “Eu estou pronto para ir, não quero, mas estou pronto”, brincou Peticov. Val concordou: “Eu também, eu não tenho medo, se for a hora, ok”.

Ambos falaram sobre como olhar para a vida dessa forma faz as coisas se tornarem mais simples. “Nada aqui é meu”, completou Peticov.

Mister M, também conhecido como Val Valentino, o Mágico Mascarado, está com show em São Paulo. Foto: Luís França/Divulgação

Vasto mundo

Os novos trabalhos de Peticov parecem falar sobre esse processo que ele vive. Quando o artista diz que está pronto para morrer ou que nada aqui é dele também deixa escapar a forma como ele se relaciona com o planeta. Sua mais recente exposição, em cartaz no Espaço Expositivo A Estufa, na Vila Madalena é uma forma de declarar esse amor pela Terra.

A mostra Montanhas Sagradas e Transcendências apresenta 17 telas em que o artista revisita algumas das mais belas e conhecidas montanhas do globo, com muitas cores mesclando dados científicos, lendas, lembranças de viagens, vivências e novas experiências. Mas por que montanhas? “Porque elas são fantásticas e eu amo a Terra”, diz o artista. Simples assim.

O trabalho surgiu como uma provocação do filho, Pedro Antonio, para que ele celebrasse a chegada de seus 77 anos. O plano era pintar apenas sete, que se tornaram 17. Entre as paisagens pintadas estão Everest, Mont Blanc, Monte Fuji e Corcovado.

As obras de Peticov também revelam sua pesquisa mais recente, a Transcendência. O artista explora elementos como o dia e a noite, clássicos arquétipos análogos ao consciente e ao inconsciente, o plano humano e o divino interagindo em uma sinergia. A mostra fica em cartaz até 15 de dezembro.

Serviços

Mister M Experience:

Teatro Procópio Ferreira (Rua Augusta, 2.823)

Até 15 de dezembro, quintas e sextas às 21h; sábado às 17h e 21h; e domingos às 18h

Valores: Premium: R$ 150 / Vip: R$ 120. Vendas: sympla.com.br

Montanhas Sagradas e Transcendência, de Antonio Peticov

Espaço Expositivo A Estufa (Rua Wizard, 53 - Vila Madalena)

Até 15 de dezembro, de segunda à sexta, das 11h às 17h. Sábados, das 11h às 13h

Artista plastico Antonio Peticov recebe o magico Mister M em sua casa  Foto: DANIEL TEIXEIRA / ESTADÃO
Artista plastico Antonio Peticov (camisa branca) recebe o magico Mister M em sua casa  Foto: DANIEL TEIXEIRA / ESTADÃO

No dicionário, o verbete ‘arte’ pode ter inúmeros significados. O Michaelis diz, em sentido filosófico, que trata-se de um “complexo de regras e processos para a produção de um efeito estético determinado”. ‘Mágica’, outro termo de significados múltiplos, tem como uma de suas definições no Michaelis “uso de truques e técnicas que envolvem muita agilidade com as mãos para criar ilusão e deslumbramento no espectador; ilusionismo, magia, prestidigitação.” A discussão sobre o que é ou não arte e mágica pode aparecer em artigos, livros, filmes, teses...

E também, por que não, em um papo entre duas pessoas que passaram suas vidas fazendo outras pessoas se impressionarem com suas obras.

Artista plástico Antonio Peticov (camisa branca) recebe o mágico Mister M em sua casa. O ilusionista conheceu parte da obra do artista brasileiro e também bateu um papo sobre criação, vida, experiência de quase morte e trabalho. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

O Estadão participou de um encontro entre Antonio Peticov, um dos artistas visuais mais importantes da vanguarda brasileira desde os anos 1960, com peças que, em alguns casos, lembram jogos matemáticos, e o “mágico mascarado” Mister M, sucesso da televisão brasileira nos anos 1990.

Ambos estão com trabalhos em cartaz em São Paulo (ver o serviço no final deste texto). Os dois se encontraram na casa do artista visual, na capital paulista, quando Val Valentino (nome artístico do ilusionista) pôde conhecer parte da obra de Peticov. Eles bateram um papo regado a combucha de jabuticaba com amora, pão de queijo e sorvete de maracujá com capim-limão, uma mistura bem brasileira para refrescar o calor que fazia durante o encontro, na última segunda-feira, 13 - também conhecido como o dia mais quente do ano até agora.

Papo descontraído sobre arte

Depois de conhecer a casa de Peticov, visitar seu ateliê, ver algumas de suas obras e de outros artistas, como uma coleção de brinquedos de quebra-cabeça, Mister M se mostrou curioso. “Seu trabalho é tão criativo”, exclamou para o artista plástico, emendando com uma pergunta: “você tem um processo criativo?”.

“Eu acordo e deixo acontecer”, brincou Peti, como os amigos mais próximos o chamam. Logo depois, o artista contou uma história sobre um encontro que teve com crianças de quatro e cinco anos de idade em que ele também foi perguntado sobre suas criações. “Eu leio muito para ter informação, e depois vem a intuição, em seguida perguntei se eles sabiam o que era intuição e uma menininha de quatro anos disse: ‘é quando você escuta seu coração’”, continuou um dos pioneiros do Tropicalismo.

Mister M ficou conhecido no Brasil e no mundo por conta de um programa, apresentado durante o Fantástico, na TV Globo, em que desvendava segredos de truques de mágica famosos. Este repórter, que foi uma criança na década de 1990, que deve ter visto todos os episódios - morrendo de medo da máscara e da narração de Cid Moreira - ficou intrigado para saber se ele também tinha um processo criativo.

Vamos combinar que revelar truques é muito mais simples que criar novos e que montar um espetáculo de mágica que seja capaz de fascinar pessoas não parece ser uma tarefa das mais fáceis. Então, será que o Mister M também tem um método de criação?

Antonio Peticov (camisa branca) mostra sua coleção de brinquedos em quebra-cabeça, segundo ele, a maior do Brasil, com exemplos de brinquedos de todo o mundo.  Foto: Daniel Teixeira/Estadão

“Não sabia que tinha, mas anos atrás, um psicólogo do Canadá veio me entrevistar porque adorava meus shows e o interesse dele era justamente sobre processo criativo”, contou Val. “Desde jovem, quando precisava criar algo, gostava de ter todos os meus livros de mágica e depois os coloco para fora, a mágica surge magicamente”, diz.

Val também contou que adora escutar música enquanto cria. Mas esse é apenas o primeiro passo de seu processo de criação artística. “Eu escrevo e rabisco por uns três dias, como um louco, sem dormir, sem pensar. Depois coloco tudo de lado e me afasto por três dias e vou fazer algo na natureza, como aparar e cortar a grama ou até mesmo limpar a casa, nada que esteja relacionado. E então vem, eu me sinto como se estivesse fazendo o download de algo no computador”, conta.

Mister M disse que segue criando muitos números ainda, mas afirma que seu show no Brasil, em cartaz no Teatro Procópio Ferreira (Rua Augusta, 2.823), reúne truques clássicos de mágica, que conquistam as pessoas há anos. A apresentação que segue até o dia 15 de dezembro tem narração de Cid Moreira. Para os mais saudosistas, é uma boa oportunidade para relembrar o clima de tensão toda vez que a voz do jornalista entrava no ar para mostrar mais uma revelação do Mágico Mascarado.

Ainda sobre trabalho, os dois falaram sobre os principais desafios de suas carreiras enquanto artistas. “Manter o segredo”, disse Mister M assertivamente, sendo completamente avesso ao que o fez uma estrela mundial. Apesar de ter sido hostilizado por alguns mágicos - poucos, segundo ele - o trabalho que realizou nos anos de programa de TV transformou a maneira como alguns países orientais passaram a enxergar a arte do ilusionismo. Na China, por exemplo, era proibido fazer mágica porque era visto como bruxaria, atualmente o país conta com escolas e cursos de ilusionismo.

Peticov também coloca no futuro, assim como Mister M, o centro de seu desafio, que segundo o artista plástico é o porvir. “Gosto muito de agradar a mim mesmo e quem trabalha tem que ter prazer com o que quer que seja, mas acredito que o maior desafio seja o que vem depois”, explica o artista.

Monte Fuji, uma das peças expostas na mostra atual e Antonio Peticov. Foto: Antonio Peticov/Reprodução

Mais leveza

No fim das contas, ambos atravessam as divisões e definições sobre arte e mágica como se não existissem - as ignoram, como se o Michaelis tivesse... ‘puf’, desaparecido diante dos nossos olhos. Enquanto o papo avançava, os artistas se preocupam com assuntos mais urgentes, e continuaram a falar sobre suas vivências. Mister M contou sobre sua experiência de quase morte, em 2019, depois de cair, fraturar o tornozelo e ficar desacordado por cerca de três minutos.

“Quando morri, o lugar para onde fui era cinza e branco, havia uma pessoa falando comigo, mas eu só vi uma silhueta porque tinha uma luz muito brilhante atrás dela”, começa. “O mais importante de tudo foi a sensação de muita paz e amor, sem ódio, sem dor, sem tristeza, apenas amor.” O mágico estava com familiares em um passeio quando sofreu o acidente.

Peticov, então, continuou a conversa falando sobre um documentário a que assistiu sobre experiências como a que Mister M passou. “É uma experiência incrível”, continuou Mister M. “Eu estou pronto para ir, não quero, mas estou pronto”, brincou Peticov. Val concordou: “Eu também, eu não tenho medo, se for a hora, ok”.

Ambos falaram sobre como olhar para a vida dessa forma faz as coisas se tornarem mais simples. “Nada aqui é meu”, completou Peticov.

Mister M, também conhecido como Val Valentino, o Mágico Mascarado, está com show em São Paulo. Foto: Luís França/Divulgação

Vasto mundo

Os novos trabalhos de Peticov parecem falar sobre esse processo que ele vive. Quando o artista diz que está pronto para morrer ou que nada aqui é dele também deixa escapar a forma como ele se relaciona com o planeta. Sua mais recente exposição, em cartaz no Espaço Expositivo A Estufa, na Vila Madalena é uma forma de declarar esse amor pela Terra.

A mostra Montanhas Sagradas e Transcendências apresenta 17 telas em que o artista revisita algumas das mais belas e conhecidas montanhas do globo, com muitas cores mesclando dados científicos, lendas, lembranças de viagens, vivências e novas experiências. Mas por que montanhas? “Porque elas são fantásticas e eu amo a Terra”, diz o artista. Simples assim.

O trabalho surgiu como uma provocação do filho, Pedro Antonio, para que ele celebrasse a chegada de seus 77 anos. O plano era pintar apenas sete, que se tornaram 17. Entre as paisagens pintadas estão Everest, Mont Blanc, Monte Fuji e Corcovado.

As obras de Peticov também revelam sua pesquisa mais recente, a Transcendência. O artista explora elementos como o dia e a noite, clássicos arquétipos análogos ao consciente e ao inconsciente, o plano humano e o divino interagindo em uma sinergia. A mostra fica em cartaz até 15 de dezembro.

Serviços

Mister M Experience:

Teatro Procópio Ferreira (Rua Augusta, 2.823)

Até 15 de dezembro, quintas e sextas às 21h; sábado às 17h e 21h; e domingos às 18h

Valores: Premium: R$ 150 / Vip: R$ 120. Vendas: sympla.com.br

Montanhas Sagradas e Transcendência, de Antonio Peticov

Espaço Expositivo A Estufa (Rua Wizard, 53 - Vila Madalena)

Até 15 de dezembro, de segunda à sexta, das 11h às 17h. Sábados, das 11h às 13h

Artista plastico Antonio Peticov recebe o magico Mister M em sua casa  Foto: DANIEL TEIXEIRA / ESTADÃO
Artista plastico Antonio Peticov (camisa branca) recebe o magico Mister M em sua casa  Foto: DANIEL TEIXEIRA / ESTADÃO

No dicionário, o verbete ‘arte’ pode ter inúmeros significados. O Michaelis diz, em sentido filosófico, que trata-se de um “complexo de regras e processos para a produção de um efeito estético determinado”. ‘Mágica’, outro termo de significados múltiplos, tem como uma de suas definições no Michaelis “uso de truques e técnicas que envolvem muita agilidade com as mãos para criar ilusão e deslumbramento no espectador; ilusionismo, magia, prestidigitação.” A discussão sobre o que é ou não arte e mágica pode aparecer em artigos, livros, filmes, teses...

E também, por que não, em um papo entre duas pessoas que passaram suas vidas fazendo outras pessoas se impressionarem com suas obras.

Artista plástico Antonio Peticov (camisa branca) recebe o mágico Mister M em sua casa. O ilusionista conheceu parte da obra do artista brasileiro e também bateu um papo sobre criação, vida, experiência de quase morte e trabalho. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

O Estadão participou de um encontro entre Antonio Peticov, um dos artistas visuais mais importantes da vanguarda brasileira desde os anos 1960, com peças que, em alguns casos, lembram jogos matemáticos, e o “mágico mascarado” Mister M, sucesso da televisão brasileira nos anos 1990.

Ambos estão com trabalhos em cartaz em São Paulo (ver o serviço no final deste texto). Os dois se encontraram na casa do artista visual, na capital paulista, quando Val Valentino (nome artístico do ilusionista) pôde conhecer parte da obra de Peticov. Eles bateram um papo regado a combucha de jabuticaba com amora, pão de queijo e sorvete de maracujá com capim-limão, uma mistura bem brasileira para refrescar o calor que fazia durante o encontro, na última segunda-feira, 13 - também conhecido como o dia mais quente do ano até agora.

Papo descontraído sobre arte

Depois de conhecer a casa de Peticov, visitar seu ateliê, ver algumas de suas obras e de outros artistas, como uma coleção de brinquedos de quebra-cabeça, Mister M se mostrou curioso. “Seu trabalho é tão criativo”, exclamou para o artista plástico, emendando com uma pergunta: “você tem um processo criativo?”.

“Eu acordo e deixo acontecer”, brincou Peti, como os amigos mais próximos o chamam. Logo depois, o artista contou uma história sobre um encontro que teve com crianças de quatro e cinco anos de idade em que ele também foi perguntado sobre suas criações. “Eu leio muito para ter informação, e depois vem a intuição, em seguida perguntei se eles sabiam o que era intuição e uma menininha de quatro anos disse: ‘é quando você escuta seu coração’”, continuou um dos pioneiros do Tropicalismo.

Mister M ficou conhecido no Brasil e no mundo por conta de um programa, apresentado durante o Fantástico, na TV Globo, em que desvendava segredos de truques de mágica famosos. Este repórter, que foi uma criança na década de 1990, que deve ter visto todos os episódios - morrendo de medo da máscara e da narração de Cid Moreira - ficou intrigado para saber se ele também tinha um processo criativo.

Vamos combinar que revelar truques é muito mais simples que criar novos e que montar um espetáculo de mágica que seja capaz de fascinar pessoas não parece ser uma tarefa das mais fáceis. Então, será que o Mister M também tem um método de criação?

Antonio Peticov (camisa branca) mostra sua coleção de brinquedos em quebra-cabeça, segundo ele, a maior do Brasil, com exemplos de brinquedos de todo o mundo.  Foto: Daniel Teixeira/Estadão

“Não sabia que tinha, mas anos atrás, um psicólogo do Canadá veio me entrevistar porque adorava meus shows e o interesse dele era justamente sobre processo criativo”, contou Val. “Desde jovem, quando precisava criar algo, gostava de ter todos os meus livros de mágica e depois os coloco para fora, a mágica surge magicamente”, diz.

Val também contou que adora escutar música enquanto cria. Mas esse é apenas o primeiro passo de seu processo de criação artística. “Eu escrevo e rabisco por uns três dias, como um louco, sem dormir, sem pensar. Depois coloco tudo de lado e me afasto por três dias e vou fazer algo na natureza, como aparar e cortar a grama ou até mesmo limpar a casa, nada que esteja relacionado. E então vem, eu me sinto como se estivesse fazendo o download de algo no computador”, conta.

Mister M disse que segue criando muitos números ainda, mas afirma que seu show no Brasil, em cartaz no Teatro Procópio Ferreira (Rua Augusta, 2.823), reúne truques clássicos de mágica, que conquistam as pessoas há anos. A apresentação que segue até o dia 15 de dezembro tem narração de Cid Moreira. Para os mais saudosistas, é uma boa oportunidade para relembrar o clima de tensão toda vez que a voz do jornalista entrava no ar para mostrar mais uma revelação do Mágico Mascarado.

Ainda sobre trabalho, os dois falaram sobre os principais desafios de suas carreiras enquanto artistas. “Manter o segredo”, disse Mister M assertivamente, sendo completamente avesso ao que o fez uma estrela mundial. Apesar de ter sido hostilizado por alguns mágicos - poucos, segundo ele - o trabalho que realizou nos anos de programa de TV transformou a maneira como alguns países orientais passaram a enxergar a arte do ilusionismo. Na China, por exemplo, era proibido fazer mágica porque era visto como bruxaria, atualmente o país conta com escolas e cursos de ilusionismo.

Peticov também coloca no futuro, assim como Mister M, o centro de seu desafio, que segundo o artista plástico é o porvir. “Gosto muito de agradar a mim mesmo e quem trabalha tem que ter prazer com o que quer que seja, mas acredito que o maior desafio seja o que vem depois”, explica o artista.

Monte Fuji, uma das peças expostas na mostra atual e Antonio Peticov. Foto: Antonio Peticov/Reprodução

Mais leveza

No fim das contas, ambos atravessam as divisões e definições sobre arte e mágica como se não existissem - as ignoram, como se o Michaelis tivesse... ‘puf’, desaparecido diante dos nossos olhos. Enquanto o papo avançava, os artistas se preocupam com assuntos mais urgentes, e continuaram a falar sobre suas vivências. Mister M contou sobre sua experiência de quase morte, em 2019, depois de cair, fraturar o tornozelo e ficar desacordado por cerca de três minutos.

“Quando morri, o lugar para onde fui era cinza e branco, havia uma pessoa falando comigo, mas eu só vi uma silhueta porque tinha uma luz muito brilhante atrás dela”, começa. “O mais importante de tudo foi a sensação de muita paz e amor, sem ódio, sem dor, sem tristeza, apenas amor.” O mágico estava com familiares em um passeio quando sofreu o acidente.

Peticov, então, continuou a conversa falando sobre um documentário a que assistiu sobre experiências como a que Mister M passou. “É uma experiência incrível”, continuou Mister M. “Eu estou pronto para ir, não quero, mas estou pronto”, brincou Peticov. Val concordou: “Eu também, eu não tenho medo, se for a hora, ok”.

Ambos falaram sobre como olhar para a vida dessa forma faz as coisas se tornarem mais simples. “Nada aqui é meu”, completou Peticov.

Mister M, também conhecido como Val Valentino, o Mágico Mascarado, está com show em São Paulo. Foto: Luís França/Divulgação

Vasto mundo

Os novos trabalhos de Peticov parecem falar sobre esse processo que ele vive. Quando o artista diz que está pronto para morrer ou que nada aqui é dele também deixa escapar a forma como ele se relaciona com o planeta. Sua mais recente exposição, em cartaz no Espaço Expositivo A Estufa, na Vila Madalena é uma forma de declarar esse amor pela Terra.

A mostra Montanhas Sagradas e Transcendências apresenta 17 telas em que o artista revisita algumas das mais belas e conhecidas montanhas do globo, com muitas cores mesclando dados científicos, lendas, lembranças de viagens, vivências e novas experiências. Mas por que montanhas? “Porque elas são fantásticas e eu amo a Terra”, diz o artista. Simples assim.

O trabalho surgiu como uma provocação do filho, Pedro Antonio, para que ele celebrasse a chegada de seus 77 anos. O plano era pintar apenas sete, que se tornaram 17. Entre as paisagens pintadas estão Everest, Mont Blanc, Monte Fuji e Corcovado.

As obras de Peticov também revelam sua pesquisa mais recente, a Transcendência. O artista explora elementos como o dia e a noite, clássicos arquétipos análogos ao consciente e ao inconsciente, o plano humano e o divino interagindo em uma sinergia. A mostra fica em cartaz até 15 de dezembro.

Serviços

Mister M Experience:

Teatro Procópio Ferreira (Rua Augusta, 2.823)

Até 15 de dezembro, quintas e sextas às 21h; sábado às 17h e 21h; e domingos às 18h

Valores: Premium: R$ 150 / Vip: R$ 120. Vendas: sympla.com.br

Montanhas Sagradas e Transcendência, de Antonio Peticov

Espaço Expositivo A Estufa (Rua Wizard, 53 - Vila Madalena)

Até 15 de dezembro, de segunda à sexta, das 11h às 17h. Sábados, das 11h às 13h

Artista plastico Antonio Peticov recebe o magico Mister M em sua casa  Foto: DANIEL TEIXEIRA / ESTADÃO
Artista plastico Antonio Peticov (camisa branca) recebe o magico Mister M em sua casa  Foto: DANIEL TEIXEIRA / ESTADÃO

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