Arthur Luiz Piza abre mostras simultâneas com obras históricas


Mestre da gravura inaugura sua retrospectiva na Estação Pinacoteca e, dia 11, na Galeria Raquel Arnaud

Por Antonio Gonçalves Filho

Duas exposições simultâneas prestam tributo a um gigante da gravura contemporânea brasileira, o paulistano Arthur Luiz Piza, que, aos 87 anos, volta à cidade natal numa viagem proustiana que rememora sua carreira, tanto na Estação Pinacoteca, que abre neste sábado, 7, uma retrospectiva com 137 gravuras de seu acervo, como na Galeria Raquel Arnaud, que inaugura no dia 11, quarta-feira, para convidados, a mostra Piza 1947/2015. Uma complementa a outra. Também em ordem cronológica, a exposição na galeria, com curadoria de Ricardo Sardenberg, reúne pinturas, aquarelas, guaches, desenhos, relevos e esculturas que resumem a trajetória de um dos artistas mais respeitados aqui e na Europa.

Piza, que participou de várias bienais de São Paulo, desde a primeira, em 1951, sendo premiado na segunda edição, acabou se fixando em Paris nessa década. Mora até hoje na capital francesa, mas deixou como lembrança (ao Museu Lasar Segall) a prensa que utilizou para criar sua obra inicial. Na Estação Pinacoteca, que montou uma bela exposição em sua homenagem, Piza recebeu a reportagem do Caderno 2 ao lado de sua mulher, a ativa Clelia, que conheceu nos anos 1940, quando ambos frequentavam o ateliê do pintor Antonio Gomide (1895-1967). A exemplo do aluno, mestre Gomide também foi para a França (em 1920), mas voltou (em 1930). Piza, não.

Os motivos são vários, mas o principal, diz ele, é a relação que a França e outros países europeus têm com a gravura, bem diferente do Brasil, onde o mercado para obras em papel demorou a engrenar. Na França, onde executou suas primeiras matrizes em cobre, em 1952, Piza logo se tornou conhecido dos grandes editores, após passar pelo estúdio de Gotthard Johnny Friedlaender (1912-1992), que, em 1950, acabara de se naturalizar francês. Mestre de grandes gravadores como o belga René Carcan (1925-1993), Friedlaender marcou a produção dos alunos, como é possível notar nas obras dos anos 1950 de Piza e Carcan, os dois muito próximos ao lirismo de Paul Klee quando o brasileiro se distanciou da sua produção figurativa brasileira para trilhar um caminho mais abstrato.

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Poético. Nas delicadas gravuras de Piza, a bela presença material garantida pelo relevo Foto: Clayton de Souza|Estadão

Na França, de 1957 em diante, Piza abandonou as formas orgânicas que o aproximavam de Miró para fazer experiências radicais em busca do relevo na gravura. Em busca do volume, o artista decidiu entalhar as placas no lugar da simples incisão. Queria uma gravura “tátil”, como Van Gogh, sua primeira paixão pictórica, talvez desejasse que fossem suas telas. “Foi Van Gogh que me levou para a pintura”, confirma Piza. Ele vai mostrar suas primeiras telas, marcadas pela sintaxe surrealista, na Galeria Raquel Arnaud.

As primeiras gravuras em que as áreas côncavas da chapa viram convexas na impressão foram mostradas pela primeira vez em 1959, na Documenta de Kassel (e premiadas na 5.ª Bienal de São Paulo). Nessas composições em relevo parece embutido um projeto tridimensional, mas Piza diz que nunca pretendeu ser escultor. “Não seria capaz de fazer tão bem como o Sergio Camargo”, justifica. “A última escultura que fiz foi o ‘Tatu’ (cinco triângulos encaixados em polipropileno pintado, de 2008), mas tenho alguns projetos em papel”. São pequenos objetos que ele chama de “bijoux”, aludindo a trabalhos episódicos executados para empresas de design (objetos de porcelana para a tradicional Manufatura de Sèvres e peças de prata para a Christofle).

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Piza nunca se preocupou com essa distinção entre artista e artesão. Para ele, são sinônimos. Ter o domínio técnico de seu ofício é essencial, o que logo aprenderam todos os latinos que se aventuraram em Paris na época em que o artista se fixou na capital. Para sobreviver sem depender de galeristas, Piza decidiu que a gravura era um meio mais democrático de difundir a sua arte com ajuda de editores. Exilados em Paris, artistas de origem humilde como o argentino Julio Le Parc uniram-se ao brasileiro para criar o Espaço Latino-Americano, que atraiu outros nomes importantes como o uruguaio Arden Quin (1913-2010) e o argentino Luis Tomasello (1915-2014). O grupo representava uma congregação de ativistas políticos – quase todos vinham de países dominados por ditaduras. Amigo do autor argentino Julio Cortázar (1914-1984), Piza é igualmente um escritor, embora não goste de falar de sua poesia – que busca a forma sintética do haiku japonês, que, não por acaso, tem como elemento de base o corte e a justaposição (a exemplo da gravura de Piza). “Naquela época, anos 1960 e 1970, não sobrava muito tempo para discutir literatura”, diz Clelia, que está casada com Piza há 66 anos. “Mas a gravura, por ser múltiplo, tinha também um aspecto político, por facilitar o acesso à arte”, conclui. O casal prepara agora o catálogo raisonné de Piza, que vai ter mais de 3 mil obras (350 gravuras).

Poético. Nas delicadas gravuras de Piza, a bela presença material garantida pelo relevo Foto: Clayton de Souza|Estadão

RETROSPECTIVA PIZA Estação Pinacoteca. Largo Gal. Osório, 66, tel. 3335-4990. Sábado, 7, abertura, às 11h. 3ª a dom., 10h/18h. R$ 6. Até 12/2/2016.PIZA - 1947/2015 Galeria Raquel Arnaud. R. Fidalga, 125, tel. 3083-6322. Abertura 11/11, às 19h (convidados). 2ª a 6ª, 10h/19h; sáb., 12h/16h. Até 19/12.

Duas exposições simultâneas prestam tributo a um gigante da gravura contemporânea brasileira, o paulistano Arthur Luiz Piza, que, aos 87 anos, volta à cidade natal numa viagem proustiana que rememora sua carreira, tanto na Estação Pinacoteca, que abre neste sábado, 7, uma retrospectiva com 137 gravuras de seu acervo, como na Galeria Raquel Arnaud, que inaugura no dia 11, quarta-feira, para convidados, a mostra Piza 1947/2015. Uma complementa a outra. Também em ordem cronológica, a exposição na galeria, com curadoria de Ricardo Sardenberg, reúne pinturas, aquarelas, guaches, desenhos, relevos e esculturas que resumem a trajetória de um dos artistas mais respeitados aqui e na Europa.

Piza, que participou de várias bienais de São Paulo, desde a primeira, em 1951, sendo premiado na segunda edição, acabou se fixando em Paris nessa década. Mora até hoje na capital francesa, mas deixou como lembrança (ao Museu Lasar Segall) a prensa que utilizou para criar sua obra inicial. Na Estação Pinacoteca, que montou uma bela exposição em sua homenagem, Piza recebeu a reportagem do Caderno 2 ao lado de sua mulher, a ativa Clelia, que conheceu nos anos 1940, quando ambos frequentavam o ateliê do pintor Antonio Gomide (1895-1967). A exemplo do aluno, mestre Gomide também foi para a França (em 1920), mas voltou (em 1930). Piza, não.

Os motivos são vários, mas o principal, diz ele, é a relação que a França e outros países europeus têm com a gravura, bem diferente do Brasil, onde o mercado para obras em papel demorou a engrenar. Na França, onde executou suas primeiras matrizes em cobre, em 1952, Piza logo se tornou conhecido dos grandes editores, após passar pelo estúdio de Gotthard Johnny Friedlaender (1912-1992), que, em 1950, acabara de se naturalizar francês. Mestre de grandes gravadores como o belga René Carcan (1925-1993), Friedlaender marcou a produção dos alunos, como é possível notar nas obras dos anos 1950 de Piza e Carcan, os dois muito próximos ao lirismo de Paul Klee quando o brasileiro se distanciou da sua produção figurativa brasileira para trilhar um caminho mais abstrato.

Poético. Nas delicadas gravuras de Piza, a bela presença material garantida pelo relevo Foto: Clayton de Souza|Estadão

Na França, de 1957 em diante, Piza abandonou as formas orgânicas que o aproximavam de Miró para fazer experiências radicais em busca do relevo na gravura. Em busca do volume, o artista decidiu entalhar as placas no lugar da simples incisão. Queria uma gravura “tátil”, como Van Gogh, sua primeira paixão pictórica, talvez desejasse que fossem suas telas. “Foi Van Gogh que me levou para a pintura”, confirma Piza. Ele vai mostrar suas primeiras telas, marcadas pela sintaxe surrealista, na Galeria Raquel Arnaud.

As primeiras gravuras em que as áreas côncavas da chapa viram convexas na impressão foram mostradas pela primeira vez em 1959, na Documenta de Kassel (e premiadas na 5.ª Bienal de São Paulo). Nessas composições em relevo parece embutido um projeto tridimensional, mas Piza diz que nunca pretendeu ser escultor. “Não seria capaz de fazer tão bem como o Sergio Camargo”, justifica. “A última escultura que fiz foi o ‘Tatu’ (cinco triângulos encaixados em polipropileno pintado, de 2008), mas tenho alguns projetos em papel”. São pequenos objetos que ele chama de “bijoux”, aludindo a trabalhos episódicos executados para empresas de design (objetos de porcelana para a tradicional Manufatura de Sèvres e peças de prata para a Christofle).

Piza nunca se preocupou com essa distinção entre artista e artesão. Para ele, são sinônimos. Ter o domínio técnico de seu ofício é essencial, o que logo aprenderam todos os latinos que se aventuraram em Paris na época em que o artista se fixou na capital. Para sobreviver sem depender de galeristas, Piza decidiu que a gravura era um meio mais democrático de difundir a sua arte com ajuda de editores. Exilados em Paris, artistas de origem humilde como o argentino Julio Le Parc uniram-se ao brasileiro para criar o Espaço Latino-Americano, que atraiu outros nomes importantes como o uruguaio Arden Quin (1913-2010) e o argentino Luis Tomasello (1915-2014). O grupo representava uma congregação de ativistas políticos – quase todos vinham de países dominados por ditaduras. Amigo do autor argentino Julio Cortázar (1914-1984), Piza é igualmente um escritor, embora não goste de falar de sua poesia – que busca a forma sintética do haiku japonês, que, não por acaso, tem como elemento de base o corte e a justaposição (a exemplo da gravura de Piza). “Naquela época, anos 1960 e 1970, não sobrava muito tempo para discutir literatura”, diz Clelia, que está casada com Piza há 66 anos. “Mas a gravura, por ser múltiplo, tinha também um aspecto político, por facilitar o acesso à arte”, conclui. O casal prepara agora o catálogo raisonné de Piza, que vai ter mais de 3 mil obras (350 gravuras).

Poético. Nas delicadas gravuras de Piza, a bela presença material garantida pelo relevo Foto: Clayton de Souza|Estadão

RETROSPECTIVA PIZA Estação Pinacoteca. Largo Gal. Osório, 66, tel. 3335-4990. Sábado, 7, abertura, às 11h. 3ª a dom., 10h/18h. R$ 6. Até 12/2/2016.PIZA - 1947/2015 Galeria Raquel Arnaud. R. Fidalga, 125, tel. 3083-6322. Abertura 11/11, às 19h (convidados). 2ª a 6ª, 10h/19h; sáb., 12h/16h. Até 19/12.

Duas exposições simultâneas prestam tributo a um gigante da gravura contemporânea brasileira, o paulistano Arthur Luiz Piza, que, aos 87 anos, volta à cidade natal numa viagem proustiana que rememora sua carreira, tanto na Estação Pinacoteca, que abre neste sábado, 7, uma retrospectiva com 137 gravuras de seu acervo, como na Galeria Raquel Arnaud, que inaugura no dia 11, quarta-feira, para convidados, a mostra Piza 1947/2015. Uma complementa a outra. Também em ordem cronológica, a exposição na galeria, com curadoria de Ricardo Sardenberg, reúne pinturas, aquarelas, guaches, desenhos, relevos e esculturas que resumem a trajetória de um dos artistas mais respeitados aqui e na Europa.

Piza, que participou de várias bienais de São Paulo, desde a primeira, em 1951, sendo premiado na segunda edição, acabou se fixando em Paris nessa década. Mora até hoje na capital francesa, mas deixou como lembrança (ao Museu Lasar Segall) a prensa que utilizou para criar sua obra inicial. Na Estação Pinacoteca, que montou uma bela exposição em sua homenagem, Piza recebeu a reportagem do Caderno 2 ao lado de sua mulher, a ativa Clelia, que conheceu nos anos 1940, quando ambos frequentavam o ateliê do pintor Antonio Gomide (1895-1967). A exemplo do aluno, mestre Gomide também foi para a França (em 1920), mas voltou (em 1930). Piza, não.

Os motivos são vários, mas o principal, diz ele, é a relação que a França e outros países europeus têm com a gravura, bem diferente do Brasil, onde o mercado para obras em papel demorou a engrenar. Na França, onde executou suas primeiras matrizes em cobre, em 1952, Piza logo se tornou conhecido dos grandes editores, após passar pelo estúdio de Gotthard Johnny Friedlaender (1912-1992), que, em 1950, acabara de se naturalizar francês. Mestre de grandes gravadores como o belga René Carcan (1925-1993), Friedlaender marcou a produção dos alunos, como é possível notar nas obras dos anos 1950 de Piza e Carcan, os dois muito próximos ao lirismo de Paul Klee quando o brasileiro se distanciou da sua produção figurativa brasileira para trilhar um caminho mais abstrato.

Poético. Nas delicadas gravuras de Piza, a bela presença material garantida pelo relevo Foto: Clayton de Souza|Estadão

Na França, de 1957 em diante, Piza abandonou as formas orgânicas que o aproximavam de Miró para fazer experiências radicais em busca do relevo na gravura. Em busca do volume, o artista decidiu entalhar as placas no lugar da simples incisão. Queria uma gravura “tátil”, como Van Gogh, sua primeira paixão pictórica, talvez desejasse que fossem suas telas. “Foi Van Gogh que me levou para a pintura”, confirma Piza. Ele vai mostrar suas primeiras telas, marcadas pela sintaxe surrealista, na Galeria Raquel Arnaud.

As primeiras gravuras em que as áreas côncavas da chapa viram convexas na impressão foram mostradas pela primeira vez em 1959, na Documenta de Kassel (e premiadas na 5.ª Bienal de São Paulo). Nessas composições em relevo parece embutido um projeto tridimensional, mas Piza diz que nunca pretendeu ser escultor. “Não seria capaz de fazer tão bem como o Sergio Camargo”, justifica. “A última escultura que fiz foi o ‘Tatu’ (cinco triângulos encaixados em polipropileno pintado, de 2008), mas tenho alguns projetos em papel”. São pequenos objetos que ele chama de “bijoux”, aludindo a trabalhos episódicos executados para empresas de design (objetos de porcelana para a tradicional Manufatura de Sèvres e peças de prata para a Christofle).

Piza nunca se preocupou com essa distinção entre artista e artesão. Para ele, são sinônimos. Ter o domínio técnico de seu ofício é essencial, o que logo aprenderam todos os latinos que se aventuraram em Paris na época em que o artista se fixou na capital. Para sobreviver sem depender de galeristas, Piza decidiu que a gravura era um meio mais democrático de difundir a sua arte com ajuda de editores. Exilados em Paris, artistas de origem humilde como o argentino Julio Le Parc uniram-se ao brasileiro para criar o Espaço Latino-Americano, que atraiu outros nomes importantes como o uruguaio Arden Quin (1913-2010) e o argentino Luis Tomasello (1915-2014). O grupo representava uma congregação de ativistas políticos – quase todos vinham de países dominados por ditaduras. Amigo do autor argentino Julio Cortázar (1914-1984), Piza é igualmente um escritor, embora não goste de falar de sua poesia – que busca a forma sintética do haiku japonês, que, não por acaso, tem como elemento de base o corte e a justaposição (a exemplo da gravura de Piza). “Naquela época, anos 1960 e 1970, não sobrava muito tempo para discutir literatura”, diz Clelia, que está casada com Piza há 66 anos. “Mas a gravura, por ser múltiplo, tinha também um aspecto político, por facilitar o acesso à arte”, conclui. O casal prepara agora o catálogo raisonné de Piza, que vai ter mais de 3 mil obras (350 gravuras).

Poético. Nas delicadas gravuras de Piza, a bela presença material garantida pelo relevo Foto: Clayton de Souza|Estadão

RETROSPECTIVA PIZA Estação Pinacoteca. Largo Gal. Osório, 66, tel. 3335-4990. Sábado, 7, abertura, às 11h. 3ª a dom., 10h/18h. R$ 6. Até 12/2/2016.PIZA - 1947/2015 Galeria Raquel Arnaud. R. Fidalga, 125, tel. 3083-6322. Abertura 11/11, às 19h (convidados). 2ª a 6ª, 10h/19h; sáb., 12h/16h. Até 19/12.

Duas exposições simultâneas prestam tributo a um gigante da gravura contemporânea brasileira, o paulistano Arthur Luiz Piza, que, aos 87 anos, volta à cidade natal numa viagem proustiana que rememora sua carreira, tanto na Estação Pinacoteca, que abre neste sábado, 7, uma retrospectiva com 137 gravuras de seu acervo, como na Galeria Raquel Arnaud, que inaugura no dia 11, quarta-feira, para convidados, a mostra Piza 1947/2015. Uma complementa a outra. Também em ordem cronológica, a exposição na galeria, com curadoria de Ricardo Sardenberg, reúne pinturas, aquarelas, guaches, desenhos, relevos e esculturas que resumem a trajetória de um dos artistas mais respeitados aqui e na Europa.

Piza, que participou de várias bienais de São Paulo, desde a primeira, em 1951, sendo premiado na segunda edição, acabou se fixando em Paris nessa década. Mora até hoje na capital francesa, mas deixou como lembrança (ao Museu Lasar Segall) a prensa que utilizou para criar sua obra inicial. Na Estação Pinacoteca, que montou uma bela exposição em sua homenagem, Piza recebeu a reportagem do Caderno 2 ao lado de sua mulher, a ativa Clelia, que conheceu nos anos 1940, quando ambos frequentavam o ateliê do pintor Antonio Gomide (1895-1967). A exemplo do aluno, mestre Gomide também foi para a França (em 1920), mas voltou (em 1930). Piza, não.

Os motivos são vários, mas o principal, diz ele, é a relação que a França e outros países europeus têm com a gravura, bem diferente do Brasil, onde o mercado para obras em papel demorou a engrenar. Na França, onde executou suas primeiras matrizes em cobre, em 1952, Piza logo se tornou conhecido dos grandes editores, após passar pelo estúdio de Gotthard Johnny Friedlaender (1912-1992), que, em 1950, acabara de se naturalizar francês. Mestre de grandes gravadores como o belga René Carcan (1925-1993), Friedlaender marcou a produção dos alunos, como é possível notar nas obras dos anos 1950 de Piza e Carcan, os dois muito próximos ao lirismo de Paul Klee quando o brasileiro se distanciou da sua produção figurativa brasileira para trilhar um caminho mais abstrato.

Poético. Nas delicadas gravuras de Piza, a bela presença material garantida pelo relevo Foto: Clayton de Souza|Estadão

Na França, de 1957 em diante, Piza abandonou as formas orgânicas que o aproximavam de Miró para fazer experiências radicais em busca do relevo na gravura. Em busca do volume, o artista decidiu entalhar as placas no lugar da simples incisão. Queria uma gravura “tátil”, como Van Gogh, sua primeira paixão pictórica, talvez desejasse que fossem suas telas. “Foi Van Gogh que me levou para a pintura”, confirma Piza. Ele vai mostrar suas primeiras telas, marcadas pela sintaxe surrealista, na Galeria Raquel Arnaud.

As primeiras gravuras em que as áreas côncavas da chapa viram convexas na impressão foram mostradas pela primeira vez em 1959, na Documenta de Kassel (e premiadas na 5.ª Bienal de São Paulo). Nessas composições em relevo parece embutido um projeto tridimensional, mas Piza diz que nunca pretendeu ser escultor. “Não seria capaz de fazer tão bem como o Sergio Camargo”, justifica. “A última escultura que fiz foi o ‘Tatu’ (cinco triângulos encaixados em polipropileno pintado, de 2008), mas tenho alguns projetos em papel”. São pequenos objetos que ele chama de “bijoux”, aludindo a trabalhos episódicos executados para empresas de design (objetos de porcelana para a tradicional Manufatura de Sèvres e peças de prata para a Christofle).

Piza nunca se preocupou com essa distinção entre artista e artesão. Para ele, são sinônimos. Ter o domínio técnico de seu ofício é essencial, o que logo aprenderam todos os latinos que se aventuraram em Paris na época em que o artista se fixou na capital. Para sobreviver sem depender de galeristas, Piza decidiu que a gravura era um meio mais democrático de difundir a sua arte com ajuda de editores. Exilados em Paris, artistas de origem humilde como o argentino Julio Le Parc uniram-se ao brasileiro para criar o Espaço Latino-Americano, que atraiu outros nomes importantes como o uruguaio Arden Quin (1913-2010) e o argentino Luis Tomasello (1915-2014). O grupo representava uma congregação de ativistas políticos – quase todos vinham de países dominados por ditaduras. Amigo do autor argentino Julio Cortázar (1914-1984), Piza é igualmente um escritor, embora não goste de falar de sua poesia – que busca a forma sintética do haiku japonês, que, não por acaso, tem como elemento de base o corte e a justaposição (a exemplo da gravura de Piza). “Naquela época, anos 1960 e 1970, não sobrava muito tempo para discutir literatura”, diz Clelia, que está casada com Piza há 66 anos. “Mas a gravura, por ser múltiplo, tinha também um aspecto político, por facilitar o acesso à arte”, conclui. O casal prepara agora o catálogo raisonné de Piza, que vai ter mais de 3 mil obras (350 gravuras).

Poético. Nas delicadas gravuras de Piza, a bela presença material garantida pelo relevo Foto: Clayton de Souza|Estadão

RETROSPECTIVA PIZA Estação Pinacoteca. Largo Gal. Osório, 66, tel. 3335-4990. Sábado, 7, abertura, às 11h. 3ª a dom., 10h/18h. R$ 6. Até 12/2/2016.PIZA - 1947/2015 Galeria Raquel Arnaud. R. Fidalga, 125, tel. 3083-6322. Abertura 11/11, às 19h (convidados). 2ª a 6ª, 10h/19h; sáb., 12h/16h. Até 19/12.

Duas exposições simultâneas prestam tributo a um gigante da gravura contemporânea brasileira, o paulistano Arthur Luiz Piza, que, aos 87 anos, volta à cidade natal numa viagem proustiana que rememora sua carreira, tanto na Estação Pinacoteca, que abre neste sábado, 7, uma retrospectiva com 137 gravuras de seu acervo, como na Galeria Raquel Arnaud, que inaugura no dia 11, quarta-feira, para convidados, a mostra Piza 1947/2015. Uma complementa a outra. Também em ordem cronológica, a exposição na galeria, com curadoria de Ricardo Sardenberg, reúne pinturas, aquarelas, guaches, desenhos, relevos e esculturas que resumem a trajetória de um dos artistas mais respeitados aqui e na Europa.

Piza, que participou de várias bienais de São Paulo, desde a primeira, em 1951, sendo premiado na segunda edição, acabou se fixando em Paris nessa década. Mora até hoje na capital francesa, mas deixou como lembrança (ao Museu Lasar Segall) a prensa que utilizou para criar sua obra inicial. Na Estação Pinacoteca, que montou uma bela exposição em sua homenagem, Piza recebeu a reportagem do Caderno 2 ao lado de sua mulher, a ativa Clelia, que conheceu nos anos 1940, quando ambos frequentavam o ateliê do pintor Antonio Gomide (1895-1967). A exemplo do aluno, mestre Gomide também foi para a França (em 1920), mas voltou (em 1930). Piza, não.

Os motivos são vários, mas o principal, diz ele, é a relação que a França e outros países europeus têm com a gravura, bem diferente do Brasil, onde o mercado para obras em papel demorou a engrenar. Na França, onde executou suas primeiras matrizes em cobre, em 1952, Piza logo se tornou conhecido dos grandes editores, após passar pelo estúdio de Gotthard Johnny Friedlaender (1912-1992), que, em 1950, acabara de se naturalizar francês. Mestre de grandes gravadores como o belga René Carcan (1925-1993), Friedlaender marcou a produção dos alunos, como é possível notar nas obras dos anos 1950 de Piza e Carcan, os dois muito próximos ao lirismo de Paul Klee quando o brasileiro se distanciou da sua produção figurativa brasileira para trilhar um caminho mais abstrato.

Poético. Nas delicadas gravuras de Piza, a bela presença material garantida pelo relevo Foto: Clayton de Souza|Estadão

Na França, de 1957 em diante, Piza abandonou as formas orgânicas que o aproximavam de Miró para fazer experiências radicais em busca do relevo na gravura. Em busca do volume, o artista decidiu entalhar as placas no lugar da simples incisão. Queria uma gravura “tátil”, como Van Gogh, sua primeira paixão pictórica, talvez desejasse que fossem suas telas. “Foi Van Gogh que me levou para a pintura”, confirma Piza. Ele vai mostrar suas primeiras telas, marcadas pela sintaxe surrealista, na Galeria Raquel Arnaud.

As primeiras gravuras em que as áreas côncavas da chapa viram convexas na impressão foram mostradas pela primeira vez em 1959, na Documenta de Kassel (e premiadas na 5.ª Bienal de São Paulo). Nessas composições em relevo parece embutido um projeto tridimensional, mas Piza diz que nunca pretendeu ser escultor. “Não seria capaz de fazer tão bem como o Sergio Camargo”, justifica. “A última escultura que fiz foi o ‘Tatu’ (cinco triângulos encaixados em polipropileno pintado, de 2008), mas tenho alguns projetos em papel”. São pequenos objetos que ele chama de “bijoux”, aludindo a trabalhos episódicos executados para empresas de design (objetos de porcelana para a tradicional Manufatura de Sèvres e peças de prata para a Christofle).

Piza nunca se preocupou com essa distinção entre artista e artesão. Para ele, são sinônimos. Ter o domínio técnico de seu ofício é essencial, o que logo aprenderam todos os latinos que se aventuraram em Paris na época em que o artista se fixou na capital. Para sobreviver sem depender de galeristas, Piza decidiu que a gravura era um meio mais democrático de difundir a sua arte com ajuda de editores. Exilados em Paris, artistas de origem humilde como o argentino Julio Le Parc uniram-se ao brasileiro para criar o Espaço Latino-Americano, que atraiu outros nomes importantes como o uruguaio Arden Quin (1913-2010) e o argentino Luis Tomasello (1915-2014). O grupo representava uma congregação de ativistas políticos – quase todos vinham de países dominados por ditaduras. Amigo do autor argentino Julio Cortázar (1914-1984), Piza é igualmente um escritor, embora não goste de falar de sua poesia – que busca a forma sintética do haiku japonês, que, não por acaso, tem como elemento de base o corte e a justaposição (a exemplo da gravura de Piza). “Naquela época, anos 1960 e 1970, não sobrava muito tempo para discutir literatura”, diz Clelia, que está casada com Piza há 66 anos. “Mas a gravura, por ser múltiplo, tinha também um aspecto político, por facilitar o acesso à arte”, conclui. O casal prepara agora o catálogo raisonné de Piza, que vai ter mais de 3 mil obras (350 gravuras).

Poético. Nas delicadas gravuras de Piza, a bela presença material garantida pelo relevo Foto: Clayton de Souza|Estadão

RETROSPECTIVA PIZA Estação Pinacoteca. Largo Gal. Osório, 66, tel. 3335-4990. Sábado, 7, abertura, às 11h. 3ª a dom., 10h/18h. R$ 6. Até 12/2/2016.PIZA - 1947/2015 Galeria Raquel Arnaud. R. Fidalga, 125, tel. 3083-6322. Abertura 11/11, às 19h (convidados). 2ª a 6ª, 10h/19h; sáb., 12h/16h. Até 19/12.

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