Beatriz Milhazes faz experiências artísticas em exposição em Nova York


Artista carioca deixa as figuras circulares para apostar nas diagonais

Por Robin Pogrebin

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Beatriz Milhazes tinha medo de diagonais. “Elas eram perturbadoras”, disse ela, “empurrando você para fora da tela”.

Nos últimos dois anos, no entanto, a artista brasileira radicada no Rio de Janeiro vem explorando essas linhas angulares em suas pinturas e descobriu que elas realmente davam aos seus círculos característicos uma qualidade tridimensional - transformando-os em globos, evocando o mundo natural e o planeta, que ela passou a apreciar cada vez mais durante a pandemia.

Os resultados estão agora à vista na Pace, no bairro de Chelsea, em Manhattan, a primeira exposição individual de Milhazes desde que ingressou na galeria em 2020 e sua primeira exposição em Nova York em quase uma década.

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“Eu me sinto como uma cientista. Trata-se de experimentar coisas novas e se desafiar”, disse Milhazes, 62 anos, em uma entrevista recente na galeria, onde suas pinturas acabaram de ser instaladas. “Eu precisava desse tipo de provocação - apresentar algo que você teme ser uma boa coisa a se fazer. E as diagonais são algo que sempre temi, o desequilíbrio que elas criam. É por isso que descobri que precisava enfrentá-lo.”

Beatriz Milhazes apresenta 'Mistura Sagrada', sua primeira exposição individual desde que ingressou na galeria Pace, em 2020, e sua primeira exposição em Nova York em quase uma década. Foto: Denise Andrade/Estadão

“É um momento tão importante para falarmos sobre o humano”, continuou ela. “Nós realmente precisamos de paz e amor. A espiritualidade, a sensibilidade, a poesia - todas essas possibilidades de renovar as coisas.”

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A exposição, Mistura Sagrada, inclui 10 pinturas em grande escala, bem como uma escultura móvel expansiva. Essas obras são imediatamente identificáveis pelas cores vibrantes e geometria cinestésica que há muito marcam a obra de Milhazes. Mas algo mais também está em ação.

“Uma energia circular giratória tomou conta de todo o cenário”, disse Marc Glimcher, presidente e CEO da Pace. “Eles são muito mais muralistas. Isso se Parece muito mais com a história do muralismo latino-americano.”

Glimcher disse que Milhazes tem sido uma figura central por direito próprio, fundindo a “rigorosa história modernista da arte brasileira com essa história pessoal e abraço de celebração”. “Ela criou uma nova linguagem”, acrescentou.

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Presença cálida e terrena, cabelos crespos e sorriso hesitante, Milhazes disse ter várias fontes de inspiração, em particular o que chama de seu “triângulo de referências”: Henri Matisse, Piet Mondrian e Tarsila do Amaral (1886-1973), que foi influenciada por Paris, bem como sua cidade natal, São Paulo.

O trabalho de Milhazes também traz à mente artistas brasileiros do século 20, como Lygia Clark e Ubi Bava, além da sueca Hilma af Klint.

“Ela está tentando estabilizar a selvageria da paisagem brasileira e fazer com que tenha uma espécie de ordem”, disse Richard Armstrong, diretor convidado do Guggenheim em Nova York. “Ela não é capaz de apresentar o Brasil em toda a sua glória flamejante; ela esfria, assim como Hilma af Klint aqueceu aquela sensibilidade nórdica.”

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Embora haja uma exuberância lúdica e explosiva em seu trabalho, Milhazes disse que todas as suas escolhas são altamente conscientes e deliberadas. Ela está usando uma precisão matemática. “Sou uma pessoa muito racional”, disse. “Desenvolvo uma espécie de sistema. Eu preciso da estrutura muito rígida.” Cada cor, forma ou imagem “que você vê na tela é baseada em uma decisão forte”, acrescentou. “Não existe por acaso.”

Trajetória

Nascida no Rio de Janeiro em 1960 e às vésperas da ditadura militar, Milhazes disse que sua mãe ensinava história da arte em uma universidade e seu pai era advogado. “Pessoas muito intelectuais”, comenta.

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Milhazes começou estudando jornalismo na Universidade Hélio Alonso. Mas não parecia certo, e sua mãe sugeriu que ela se transferisse para a Escola de Artes Visuais do Parque Lage.

“Quando entrei na escola de arte, foi como se tivesse recebido uma missão”, disse Milhazes. “Eu não tinha dúvidas de que era isso que eu queria para a minha vida.”

'É um momento tão importante para falarmos sobre o humano', disse a artista. Foto: Victor Llorente/The New York Times
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Na década de 1990, ela desenvolveu uma técnica de colagem em que pinta em uma folha de plástico transparente e depois cola na tela e descola, imprimindo o desenho.

O curador e crítico brasileiro Paulo Herkenhoff trouxe americanos para visitar o estúdio de Milhazes, incluindo Armstrong, então curador do Carnegie Museum em Pittsburgh.

“Foi simplesmente surpreendente”, disse Armstrong. “A delicadeza de sua técnica, a vibração de sua cor - os quadros cantavam no momento em que eu os olhava, tinham uma vitalidade única.”

Sua primeira grande exposição em museu - na Ikon Gallery em Birmingham, Inglaterra, em 2001 - viajou para o Museu de Arte de Birmingham, no Alabama. O trabalho de Milhazes foi incluído na Bienal de São Paulo em 1998 e 2004. Em 2003, representou o Brasil na Bienal de Veneza e em 2009 teve uma retrospectiva na Fundação Cartier em Paris.

Ela teve projetos de arte pública em Nova York; em Manchester, na Inglaterra; e nas ilhas Inujima e Naoshima, no Japão.

Influências

A obra de Milhazes é muito influenciada por sua forte ligação com o Brasil - os jardins botânicos e a floresta da Tijuca; o carnaval do Rio; movimentos musicais como a Bossa Nova; o oceano.

“Muitas de suas colagens são feitas com material de origem que ela encontrou em favelas ao redor do Rio - embalagens velhas de doces, itens descartados da cultura de consumo local”, disse Adam Sheffer, um negociante que é amigo - e coleciona - a obra de Milhazes e que a trouxe para a Pace quando ele estava trabalhando na galeria. “Também sua técnica em que usa esses estênceis atritados permite que se tenha uma granulação.”

Tendo passado 16 anos na galeria James Cohan, Milhazes disse estar pronta para uma mudança “para continuar em movimento, senão você fica preso”.

“Havia algo muito tradicional em sua abordagem de fazer arte”, disse Cohan. “Celebrar a beleza e a cultura através da abstração quando o mundo estava se movendo em direção à política de identidade - ela era meio desafiadora em sua posição, e tenho grande respeito por isso.”

Com o seu novo corpo de trabalho, Milhazes disse que voltou à figuração, em particular às flores. “Eu queria introduzir novamente alguns elementos que eu estava perdendo”, disse ela. “As flores são um elemento que está comigo desde o meu início e evoluiu.”

“É sobre a natureza - cores, possibilidades, rituais de vida e morte”, continuou ela. “Eu queria pintar de novo. Quando você realmente olha para uma flor, você vê quantos detalhes e cores existem dentro dela. Eu queria ter essa prática novamente. Se eu puder trazer um pouco de vida às pessoas, estou satisfeita.”

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Beatriz Milhazes tinha medo de diagonais. “Elas eram perturbadoras”, disse ela, “empurrando você para fora da tela”.

Nos últimos dois anos, no entanto, a artista brasileira radicada no Rio de Janeiro vem explorando essas linhas angulares em suas pinturas e descobriu que elas realmente davam aos seus círculos característicos uma qualidade tridimensional - transformando-os em globos, evocando o mundo natural e o planeta, que ela passou a apreciar cada vez mais durante a pandemia.

Os resultados estão agora à vista na Pace, no bairro de Chelsea, em Manhattan, a primeira exposição individual de Milhazes desde que ingressou na galeria em 2020 e sua primeira exposição em Nova York em quase uma década.

“Eu me sinto como uma cientista. Trata-se de experimentar coisas novas e se desafiar”, disse Milhazes, 62 anos, em uma entrevista recente na galeria, onde suas pinturas acabaram de ser instaladas. “Eu precisava desse tipo de provocação - apresentar algo que você teme ser uma boa coisa a se fazer. E as diagonais são algo que sempre temi, o desequilíbrio que elas criam. É por isso que descobri que precisava enfrentá-lo.”

Beatriz Milhazes apresenta 'Mistura Sagrada', sua primeira exposição individual desde que ingressou na galeria Pace, em 2020, e sua primeira exposição em Nova York em quase uma década. Foto: Denise Andrade/Estadão

“É um momento tão importante para falarmos sobre o humano”, continuou ela. “Nós realmente precisamos de paz e amor. A espiritualidade, a sensibilidade, a poesia - todas essas possibilidades de renovar as coisas.”

A exposição, Mistura Sagrada, inclui 10 pinturas em grande escala, bem como uma escultura móvel expansiva. Essas obras são imediatamente identificáveis pelas cores vibrantes e geometria cinestésica que há muito marcam a obra de Milhazes. Mas algo mais também está em ação.

“Uma energia circular giratória tomou conta de todo o cenário”, disse Marc Glimcher, presidente e CEO da Pace. “Eles são muito mais muralistas. Isso se Parece muito mais com a história do muralismo latino-americano.”

Glimcher disse que Milhazes tem sido uma figura central por direito próprio, fundindo a “rigorosa história modernista da arte brasileira com essa história pessoal e abraço de celebração”. “Ela criou uma nova linguagem”, acrescentou.

Presença cálida e terrena, cabelos crespos e sorriso hesitante, Milhazes disse ter várias fontes de inspiração, em particular o que chama de seu “triângulo de referências”: Henri Matisse, Piet Mondrian e Tarsila do Amaral (1886-1973), que foi influenciada por Paris, bem como sua cidade natal, São Paulo.

O trabalho de Milhazes também traz à mente artistas brasileiros do século 20, como Lygia Clark e Ubi Bava, além da sueca Hilma af Klint.

“Ela está tentando estabilizar a selvageria da paisagem brasileira e fazer com que tenha uma espécie de ordem”, disse Richard Armstrong, diretor convidado do Guggenheim em Nova York. “Ela não é capaz de apresentar o Brasil em toda a sua glória flamejante; ela esfria, assim como Hilma af Klint aqueceu aquela sensibilidade nórdica.”

Embora haja uma exuberância lúdica e explosiva em seu trabalho, Milhazes disse que todas as suas escolhas são altamente conscientes e deliberadas. Ela está usando uma precisão matemática. “Sou uma pessoa muito racional”, disse. “Desenvolvo uma espécie de sistema. Eu preciso da estrutura muito rígida.” Cada cor, forma ou imagem “que você vê na tela é baseada em uma decisão forte”, acrescentou. “Não existe por acaso.”

Trajetória

Nascida no Rio de Janeiro em 1960 e às vésperas da ditadura militar, Milhazes disse que sua mãe ensinava história da arte em uma universidade e seu pai era advogado. “Pessoas muito intelectuais”, comenta.

Milhazes começou estudando jornalismo na Universidade Hélio Alonso. Mas não parecia certo, e sua mãe sugeriu que ela se transferisse para a Escola de Artes Visuais do Parque Lage.

“Quando entrei na escola de arte, foi como se tivesse recebido uma missão”, disse Milhazes. “Eu não tinha dúvidas de que era isso que eu queria para a minha vida.”

'É um momento tão importante para falarmos sobre o humano', disse a artista. Foto: Victor Llorente/The New York Times

Na década de 1990, ela desenvolveu uma técnica de colagem em que pinta em uma folha de plástico transparente e depois cola na tela e descola, imprimindo o desenho.

O curador e crítico brasileiro Paulo Herkenhoff trouxe americanos para visitar o estúdio de Milhazes, incluindo Armstrong, então curador do Carnegie Museum em Pittsburgh.

“Foi simplesmente surpreendente”, disse Armstrong. “A delicadeza de sua técnica, a vibração de sua cor - os quadros cantavam no momento em que eu os olhava, tinham uma vitalidade única.”

Sua primeira grande exposição em museu - na Ikon Gallery em Birmingham, Inglaterra, em 2001 - viajou para o Museu de Arte de Birmingham, no Alabama. O trabalho de Milhazes foi incluído na Bienal de São Paulo em 1998 e 2004. Em 2003, representou o Brasil na Bienal de Veneza e em 2009 teve uma retrospectiva na Fundação Cartier em Paris.

Ela teve projetos de arte pública em Nova York; em Manchester, na Inglaterra; e nas ilhas Inujima e Naoshima, no Japão.

Influências

A obra de Milhazes é muito influenciada por sua forte ligação com o Brasil - os jardins botânicos e a floresta da Tijuca; o carnaval do Rio; movimentos musicais como a Bossa Nova; o oceano.

“Muitas de suas colagens são feitas com material de origem que ela encontrou em favelas ao redor do Rio - embalagens velhas de doces, itens descartados da cultura de consumo local”, disse Adam Sheffer, um negociante que é amigo - e coleciona - a obra de Milhazes e que a trouxe para a Pace quando ele estava trabalhando na galeria. “Também sua técnica em que usa esses estênceis atritados permite que se tenha uma granulação.”

Tendo passado 16 anos na galeria James Cohan, Milhazes disse estar pronta para uma mudança “para continuar em movimento, senão você fica preso”.

“Havia algo muito tradicional em sua abordagem de fazer arte”, disse Cohan. “Celebrar a beleza e a cultura através da abstração quando o mundo estava se movendo em direção à política de identidade - ela era meio desafiadora em sua posição, e tenho grande respeito por isso.”

Com o seu novo corpo de trabalho, Milhazes disse que voltou à figuração, em particular às flores. “Eu queria introduzir novamente alguns elementos que eu estava perdendo”, disse ela. “As flores são um elemento que está comigo desde o meu início e evoluiu.”

“É sobre a natureza - cores, possibilidades, rituais de vida e morte”, continuou ela. “Eu queria pintar de novo. Quando você realmente olha para uma flor, você vê quantos detalhes e cores existem dentro dela. Eu queria ter essa prática novamente. Se eu puder trazer um pouco de vida às pessoas, estou satisfeita.”

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Beatriz Milhazes tinha medo de diagonais. “Elas eram perturbadoras”, disse ela, “empurrando você para fora da tela”.

Nos últimos dois anos, no entanto, a artista brasileira radicada no Rio de Janeiro vem explorando essas linhas angulares em suas pinturas e descobriu que elas realmente davam aos seus círculos característicos uma qualidade tridimensional - transformando-os em globos, evocando o mundo natural e o planeta, que ela passou a apreciar cada vez mais durante a pandemia.

Os resultados estão agora à vista na Pace, no bairro de Chelsea, em Manhattan, a primeira exposição individual de Milhazes desde que ingressou na galeria em 2020 e sua primeira exposição em Nova York em quase uma década.

“Eu me sinto como uma cientista. Trata-se de experimentar coisas novas e se desafiar”, disse Milhazes, 62 anos, em uma entrevista recente na galeria, onde suas pinturas acabaram de ser instaladas. “Eu precisava desse tipo de provocação - apresentar algo que você teme ser uma boa coisa a se fazer. E as diagonais são algo que sempre temi, o desequilíbrio que elas criam. É por isso que descobri que precisava enfrentá-lo.”

Beatriz Milhazes apresenta 'Mistura Sagrada', sua primeira exposição individual desde que ingressou na galeria Pace, em 2020, e sua primeira exposição em Nova York em quase uma década. Foto: Denise Andrade/Estadão

“É um momento tão importante para falarmos sobre o humano”, continuou ela. “Nós realmente precisamos de paz e amor. A espiritualidade, a sensibilidade, a poesia - todas essas possibilidades de renovar as coisas.”

A exposição, Mistura Sagrada, inclui 10 pinturas em grande escala, bem como uma escultura móvel expansiva. Essas obras são imediatamente identificáveis pelas cores vibrantes e geometria cinestésica que há muito marcam a obra de Milhazes. Mas algo mais também está em ação.

“Uma energia circular giratória tomou conta de todo o cenário”, disse Marc Glimcher, presidente e CEO da Pace. “Eles são muito mais muralistas. Isso se Parece muito mais com a história do muralismo latino-americano.”

Glimcher disse que Milhazes tem sido uma figura central por direito próprio, fundindo a “rigorosa história modernista da arte brasileira com essa história pessoal e abraço de celebração”. “Ela criou uma nova linguagem”, acrescentou.

Presença cálida e terrena, cabelos crespos e sorriso hesitante, Milhazes disse ter várias fontes de inspiração, em particular o que chama de seu “triângulo de referências”: Henri Matisse, Piet Mondrian e Tarsila do Amaral (1886-1973), que foi influenciada por Paris, bem como sua cidade natal, São Paulo.

O trabalho de Milhazes também traz à mente artistas brasileiros do século 20, como Lygia Clark e Ubi Bava, além da sueca Hilma af Klint.

“Ela está tentando estabilizar a selvageria da paisagem brasileira e fazer com que tenha uma espécie de ordem”, disse Richard Armstrong, diretor convidado do Guggenheim em Nova York. “Ela não é capaz de apresentar o Brasil em toda a sua glória flamejante; ela esfria, assim como Hilma af Klint aqueceu aquela sensibilidade nórdica.”

Embora haja uma exuberância lúdica e explosiva em seu trabalho, Milhazes disse que todas as suas escolhas são altamente conscientes e deliberadas. Ela está usando uma precisão matemática. “Sou uma pessoa muito racional”, disse. “Desenvolvo uma espécie de sistema. Eu preciso da estrutura muito rígida.” Cada cor, forma ou imagem “que você vê na tela é baseada em uma decisão forte”, acrescentou. “Não existe por acaso.”

Trajetória

Nascida no Rio de Janeiro em 1960 e às vésperas da ditadura militar, Milhazes disse que sua mãe ensinava história da arte em uma universidade e seu pai era advogado. “Pessoas muito intelectuais”, comenta.

Milhazes começou estudando jornalismo na Universidade Hélio Alonso. Mas não parecia certo, e sua mãe sugeriu que ela se transferisse para a Escola de Artes Visuais do Parque Lage.

“Quando entrei na escola de arte, foi como se tivesse recebido uma missão”, disse Milhazes. “Eu não tinha dúvidas de que era isso que eu queria para a minha vida.”

'É um momento tão importante para falarmos sobre o humano', disse a artista. Foto: Victor Llorente/The New York Times

Na década de 1990, ela desenvolveu uma técnica de colagem em que pinta em uma folha de plástico transparente e depois cola na tela e descola, imprimindo o desenho.

O curador e crítico brasileiro Paulo Herkenhoff trouxe americanos para visitar o estúdio de Milhazes, incluindo Armstrong, então curador do Carnegie Museum em Pittsburgh.

“Foi simplesmente surpreendente”, disse Armstrong. “A delicadeza de sua técnica, a vibração de sua cor - os quadros cantavam no momento em que eu os olhava, tinham uma vitalidade única.”

Sua primeira grande exposição em museu - na Ikon Gallery em Birmingham, Inglaterra, em 2001 - viajou para o Museu de Arte de Birmingham, no Alabama. O trabalho de Milhazes foi incluído na Bienal de São Paulo em 1998 e 2004. Em 2003, representou o Brasil na Bienal de Veneza e em 2009 teve uma retrospectiva na Fundação Cartier em Paris.

Ela teve projetos de arte pública em Nova York; em Manchester, na Inglaterra; e nas ilhas Inujima e Naoshima, no Japão.

Influências

A obra de Milhazes é muito influenciada por sua forte ligação com o Brasil - os jardins botânicos e a floresta da Tijuca; o carnaval do Rio; movimentos musicais como a Bossa Nova; o oceano.

“Muitas de suas colagens são feitas com material de origem que ela encontrou em favelas ao redor do Rio - embalagens velhas de doces, itens descartados da cultura de consumo local”, disse Adam Sheffer, um negociante que é amigo - e coleciona - a obra de Milhazes e que a trouxe para a Pace quando ele estava trabalhando na galeria. “Também sua técnica em que usa esses estênceis atritados permite que se tenha uma granulação.”

Tendo passado 16 anos na galeria James Cohan, Milhazes disse estar pronta para uma mudança “para continuar em movimento, senão você fica preso”.

“Havia algo muito tradicional em sua abordagem de fazer arte”, disse Cohan. “Celebrar a beleza e a cultura através da abstração quando o mundo estava se movendo em direção à política de identidade - ela era meio desafiadora em sua posição, e tenho grande respeito por isso.”

Com o seu novo corpo de trabalho, Milhazes disse que voltou à figuração, em particular às flores. “Eu queria introduzir novamente alguns elementos que eu estava perdendo”, disse ela. “As flores são um elemento que está comigo desde o meu início e evoluiu.”

“É sobre a natureza - cores, possibilidades, rituais de vida e morte”, continuou ela. “Eu queria pintar de novo. Quando você realmente olha para uma flor, você vê quantos detalhes e cores existem dentro dela. Eu queria ter essa prática novamente. Se eu puder trazer um pouco de vida às pessoas, estou satisfeita.”

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Beatriz Milhazes tinha medo de diagonais. “Elas eram perturbadoras”, disse ela, “empurrando você para fora da tela”.

Nos últimos dois anos, no entanto, a artista brasileira radicada no Rio de Janeiro vem explorando essas linhas angulares em suas pinturas e descobriu que elas realmente davam aos seus círculos característicos uma qualidade tridimensional - transformando-os em globos, evocando o mundo natural e o planeta, que ela passou a apreciar cada vez mais durante a pandemia.

Os resultados estão agora à vista na Pace, no bairro de Chelsea, em Manhattan, a primeira exposição individual de Milhazes desde que ingressou na galeria em 2020 e sua primeira exposição em Nova York em quase uma década.

“Eu me sinto como uma cientista. Trata-se de experimentar coisas novas e se desafiar”, disse Milhazes, 62 anos, em uma entrevista recente na galeria, onde suas pinturas acabaram de ser instaladas. “Eu precisava desse tipo de provocação - apresentar algo que você teme ser uma boa coisa a se fazer. E as diagonais são algo que sempre temi, o desequilíbrio que elas criam. É por isso que descobri que precisava enfrentá-lo.”

Beatriz Milhazes apresenta 'Mistura Sagrada', sua primeira exposição individual desde que ingressou na galeria Pace, em 2020, e sua primeira exposição em Nova York em quase uma década. Foto: Denise Andrade/Estadão

“É um momento tão importante para falarmos sobre o humano”, continuou ela. “Nós realmente precisamos de paz e amor. A espiritualidade, a sensibilidade, a poesia - todas essas possibilidades de renovar as coisas.”

A exposição, Mistura Sagrada, inclui 10 pinturas em grande escala, bem como uma escultura móvel expansiva. Essas obras são imediatamente identificáveis pelas cores vibrantes e geometria cinestésica que há muito marcam a obra de Milhazes. Mas algo mais também está em ação.

“Uma energia circular giratória tomou conta de todo o cenário”, disse Marc Glimcher, presidente e CEO da Pace. “Eles são muito mais muralistas. Isso se Parece muito mais com a história do muralismo latino-americano.”

Glimcher disse que Milhazes tem sido uma figura central por direito próprio, fundindo a “rigorosa história modernista da arte brasileira com essa história pessoal e abraço de celebração”. “Ela criou uma nova linguagem”, acrescentou.

Presença cálida e terrena, cabelos crespos e sorriso hesitante, Milhazes disse ter várias fontes de inspiração, em particular o que chama de seu “triângulo de referências”: Henri Matisse, Piet Mondrian e Tarsila do Amaral (1886-1973), que foi influenciada por Paris, bem como sua cidade natal, São Paulo.

O trabalho de Milhazes também traz à mente artistas brasileiros do século 20, como Lygia Clark e Ubi Bava, além da sueca Hilma af Klint.

“Ela está tentando estabilizar a selvageria da paisagem brasileira e fazer com que tenha uma espécie de ordem”, disse Richard Armstrong, diretor convidado do Guggenheim em Nova York. “Ela não é capaz de apresentar o Brasil em toda a sua glória flamejante; ela esfria, assim como Hilma af Klint aqueceu aquela sensibilidade nórdica.”

Embora haja uma exuberância lúdica e explosiva em seu trabalho, Milhazes disse que todas as suas escolhas são altamente conscientes e deliberadas. Ela está usando uma precisão matemática. “Sou uma pessoa muito racional”, disse. “Desenvolvo uma espécie de sistema. Eu preciso da estrutura muito rígida.” Cada cor, forma ou imagem “que você vê na tela é baseada em uma decisão forte”, acrescentou. “Não existe por acaso.”

Trajetória

Nascida no Rio de Janeiro em 1960 e às vésperas da ditadura militar, Milhazes disse que sua mãe ensinava história da arte em uma universidade e seu pai era advogado. “Pessoas muito intelectuais”, comenta.

Milhazes começou estudando jornalismo na Universidade Hélio Alonso. Mas não parecia certo, e sua mãe sugeriu que ela se transferisse para a Escola de Artes Visuais do Parque Lage.

“Quando entrei na escola de arte, foi como se tivesse recebido uma missão”, disse Milhazes. “Eu não tinha dúvidas de que era isso que eu queria para a minha vida.”

'É um momento tão importante para falarmos sobre o humano', disse a artista. Foto: Victor Llorente/The New York Times

Na década de 1990, ela desenvolveu uma técnica de colagem em que pinta em uma folha de plástico transparente e depois cola na tela e descola, imprimindo o desenho.

O curador e crítico brasileiro Paulo Herkenhoff trouxe americanos para visitar o estúdio de Milhazes, incluindo Armstrong, então curador do Carnegie Museum em Pittsburgh.

“Foi simplesmente surpreendente”, disse Armstrong. “A delicadeza de sua técnica, a vibração de sua cor - os quadros cantavam no momento em que eu os olhava, tinham uma vitalidade única.”

Sua primeira grande exposição em museu - na Ikon Gallery em Birmingham, Inglaterra, em 2001 - viajou para o Museu de Arte de Birmingham, no Alabama. O trabalho de Milhazes foi incluído na Bienal de São Paulo em 1998 e 2004. Em 2003, representou o Brasil na Bienal de Veneza e em 2009 teve uma retrospectiva na Fundação Cartier em Paris.

Ela teve projetos de arte pública em Nova York; em Manchester, na Inglaterra; e nas ilhas Inujima e Naoshima, no Japão.

Influências

A obra de Milhazes é muito influenciada por sua forte ligação com o Brasil - os jardins botânicos e a floresta da Tijuca; o carnaval do Rio; movimentos musicais como a Bossa Nova; o oceano.

“Muitas de suas colagens são feitas com material de origem que ela encontrou em favelas ao redor do Rio - embalagens velhas de doces, itens descartados da cultura de consumo local”, disse Adam Sheffer, um negociante que é amigo - e coleciona - a obra de Milhazes e que a trouxe para a Pace quando ele estava trabalhando na galeria. “Também sua técnica em que usa esses estênceis atritados permite que se tenha uma granulação.”

Tendo passado 16 anos na galeria James Cohan, Milhazes disse estar pronta para uma mudança “para continuar em movimento, senão você fica preso”.

“Havia algo muito tradicional em sua abordagem de fazer arte”, disse Cohan. “Celebrar a beleza e a cultura através da abstração quando o mundo estava se movendo em direção à política de identidade - ela era meio desafiadora em sua posição, e tenho grande respeito por isso.”

Com o seu novo corpo de trabalho, Milhazes disse que voltou à figuração, em particular às flores. “Eu queria introduzir novamente alguns elementos que eu estava perdendo”, disse ela. “As flores são um elemento que está comigo desde o meu início e evoluiu.”

“É sobre a natureza - cores, possibilidades, rituais de vida e morte”, continuou ela. “Eu queria pintar de novo. Quando você realmente olha para uma flor, você vê quantos detalhes e cores existem dentro dela. Eu queria ter essa prática novamente. Se eu puder trazer um pouco de vida às pessoas, estou satisfeita.”

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Beatriz Milhazes tinha medo de diagonais. “Elas eram perturbadoras”, disse ela, “empurrando você para fora da tela”.

Nos últimos dois anos, no entanto, a artista brasileira radicada no Rio de Janeiro vem explorando essas linhas angulares em suas pinturas e descobriu que elas realmente davam aos seus círculos característicos uma qualidade tridimensional - transformando-os em globos, evocando o mundo natural e o planeta, que ela passou a apreciar cada vez mais durante a pandemia.

Os resultados estão agora à vista na Pace, no bairro de Chelsea, em Manhattan, a primeira exposição individual de Milhazes desde que ingressou na galeria em 2020 e sua primeira exposição em Nova York em quase uma década.

“Eu me sinto como uma cientista. Trata-se de experimentar coisas novas e se desafiar”, disse Milhazes, 62 anos, em uma entrevista recente na galeria, onde suas pinturas acabaram de ser instaladas. “Eu precisava desse tipo de provocação - apresentar algo que você teme ser uma boa coisa a se fazer. E as diagonais são algo que sempre temi, o desequilíbrio que elas criam. É por isso que descobri que precisava enfrentá-lo.”

Beatriz Milhazes apresenta 'Mistura Sagrada', sua primeira exposição individual desde que ingressou na galeria Pace, em 2020, e sua primeira exposição em Nova York em quase uma década. Foto: Denise Andrade/Estadão

“É um momento tão importante para falarmos sobre o humano”, continuou ela. “Nós realmente precisamos de paz e amor. A espiritualidade, a sensibilidade, a poesia - todas essas possibilidades de renovar as coisas.”

A exposição, Mistura Sagrada, inclui 10 pinturas em grande escala, bem como uma escultura móvel expansiva. Essas obras são imediatamente identificáveis pelas cores vibrantes e geometria cinestésica que há muito marcam a obra de Milhazes. Mas algo mais também está em ação.

“Uma energia circular giratória tomou conta de todo o cenário”, disse Marc Glimcher, presidente e CEO da Pace. “Eles são muito mais muralistas. Isso se Parece muito mais com a história do muralismo latino-americano.”

Glimcher disse que Milhazes tem sido uma figura central por direito próprio, fundindo a “rigorosa história modernista da arte brasileira com essa história pessoal e abraço de celebração”. “Ela criou uma nova linguagem”, acrescentou.

Presença cálida e terrena, cabelos crespos e sorriso hesitante, Milhazes disse ter várias fontes de inspiração, em particular o que chama de seu “triângulo de referências”: Henri Matisse, Piet Mondrian e Tarsila do Amaral (1886-1973), que foi influenciada por Paris, bem como sua cidade natal, São Paulo.

O trabalho de Milhazes também traz à mente artistas brasileiros do século 20, como Lygia Clark e Ubi Bava, além da sueca Hilma af Klint.

“Ela está tentando estabilizar a selvageria da paisagem brasileira e fazer com que tenha uma espécie de ordem”, disse Richard Armstrong, diretor convidado do Guggenheim em Nova York. “Ela não é capaz de apresentar o Brasil em toda a sua glória flamejante; ela esfria, assim como Hilma af Klint aqueceu aquela sensibilidade nórdica.”

Embora haja uma exuberância lúdica e explosiva em seu trabalho, Milhazes disse que todas as suas escolhas são altamente conscientes e deliberadas. Ela está usando uma precisão matemática. “Sou uma pessoa muito racional”, disse. “Desenvolvo uma espécie de sistema. Eu preciso da estrutura muito rígida.” Cada cor, forma ou imagem “que você vê na tela é baseada em uma decisão forte”, acrescentou. “Não existe por acaso.”

Trajetória

Nascida no Rio de Janeiro em 1960 e às vésperas da ditadura militar, Milhazes disse que sua mãe ensinava história da arte em uma universidade e seu pai era advogado. “Pessoas muito intelectuais”, comenta.

Milhazes começou estudando jornalismo na Universidade Hélio Alonso. Mas não parecia certo, e sua mãe sugeriu que ela se transferisse para a Escola de Artes Visuais do Parque Lage.

“Quando entrei na escola de arte, foi como se tivesse recebido uma missão”, disse Milhazes. “Eu não tinha dúvidas de que era isso que eu queria para a minha vida.”

'É um momento tão importante para falarmos sobre o humano', disse a artista. Foto: Victor Llorente/The New York Times

Na década de 1990, ela desenvolveu uma técnica de colagem em que pinta em uma folha de plástico transparente e depois cola na tela e descola, imprimindo o desenho.

O curador e crítico brasileiro Paulo Herkenhoff trouxe americanos para visitar o estúdio de Milhazes, incluindo Armstrong, então curador do Carnegie Museum em Pittsburgh.

“Foi simplesmente surpreendente”, disse Armstrong. “A delicadeza de sua técnica, a vibração de sua cor - os quadros cantavam no momento em que eu os olhava, tinham uma vitalidade única.”

Sua primeira grande exposição em museu - na Ikon Gallery em Birmingham, Inglaterra, em 2001 - viajou para o Museu de Arte de Birmingham, no Alabama. O trabalho de Milhazes foi incluído na Bienal de São Paulo em 1998 e 2004. Em 2003, representou o Brasil na Bienal de Veneza e em 2009 teve uma retrospectiva na Fundação Cartier em Paris.

Ela teve projetos de arte pública em Nova York; em Manchester, na Inglaterra; e nas ilhas Inujima e Naoshima, no Japão.

Influências

A obra de Milhazes é muito influenciada por sua forte ligação com o Brasil - os jardins botânicos e a floresta da Tijuca; o carnaval do Rio; movimentos musicais como a Bossa Nova; o oceano.

“Muitas de suas colagens são feitas com material de origem que ela encontrou em favelas ao redor do Rio - embalagens velhas de doces, itens descartados da cultura de consumo local”, disse Adam Sheffer, um negociante que é amigo - e coleciona - a obra de Milhazes e que a trouxe para a Pace quando ele estava trabalhando na galeria. “Também sua técnica em que usa esses estênceis atritados permite que se tenha uma granulação.”

Tendo passado 16 anos na galeria James Cohan, Milhazes disse estar pronta para uma mudança “para continuar em movimento, senão você fica preso”.

“Havia algo muito tradicional em sua abordagem de fazer arte”, disse Cohan. “Celebrar a beleza e a cultura através da abstração quando o mundo estava se movendo em direção à política de identidade - ela era meio desafiadora em sua posição, e tenho grande respeito por isso.”

Com o seu novo corpo de trabalho, Milhazes disse que voltou à figuração, em particular às flores. “Eu queria introduzir novamente alguns elementos que eu estava perdendo”, disse ela. “As flores são um elemento que está comigo desde o meu início e evoluiu.”

“É sobre a natureza - cores, possibilidades, rituais de vida e morte”, continuou ela. “Eu queria pintar de novo. Quando você realmente olha para uma flor, você vê quantos detalhes e cores existem dentro dela. Eu queria ter essa prática novamente. Se eu puder trazer um pouco de vida às pessoas, estou satisfeita.”

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