O presidente do Benim, Patrice Talon, inaugurou no sábado, 19, com traços de emoção e orgulho, em Cotonu, uma exposição que apresenta os 26 tesouros reais restituídos pela França 129 anos depois de sua expropriação pelas tropas coloniais.
As restituições, realizadas em novembro do ano passado, permitiram "acabar com um tabu", disse Talon.
"Já não se trata de saber se são possíveis, porque nós conseguimos fazê-las", acrescentou, adiantando que seu governo pedirá a devolução de outras obras roubadas da antiga potência colonial.
As obras devolvidas serão expostas pela primeira vez ao público a partir deste domingo, 20, até o dia 22 de maio, em um espaço de 2 mil m² desenhado para acolher exposições no palácio presidencial.
A restituição é a primeira efetuada entre coleções públicas da França e um país africano. As negociações duraram dois anos. As tropas francesas se apoderaram dessas peças em 1892, no palácio de Abomey, capital do reino de Daomé, no centro-sul do território onde fica atualmente o Benim, dividido então entre vários reinos.
Essas obras "saíram de um reino e voltam a uma república. Queremos que sejam o fermento da unidade nacional", declarou na sexta, 18, o ministro da cultura de Benim, Jean-Michel Abimbola.
A primeira sala, com muros imensos pintados de preto, está reservada aos tronos dos soberanos de Daomé e em particular ao rei Ghezo (1797-1818), uma majestosa escultura de madeira de quase dois metros, com razões afro-brasileiras.
"Desde o início da instalação, não paro de contemplá-lo", disse à AFP Theo Atrokpo, um dos organizadores da exposição, que mal podia esperar "explicar a história" a seus compatriotas.
Os visitantes íam animados ao lugar, admirando a estátua metade homem, metade pássaro do rei Ghezo ou das portas do palácio real.
"É muito emocionante estar em frente ao trono do rei Ghezo. Não o imaginava tão grande, tão poderoso", afirma Laeila Adjovi, uma artista franco-beninesa com obras expostas no mesmo espaço.
De início, 34 artistas contemporâneos do Benim foram selecionados para participar do evento histórico.
Vitalidade contemporânea
Essa presença se explica pela vontade do governo de vincular "a história ao presente", demonstrando que o "gênio artístico de Benim perdurou", apesar da perda de parte do patrimônio.
As tapeçarias monumentais de Yves Apollinaire que ressaltam o vudu, assim como a instalação de cabelos, de Dimitri Fagbohoun, ou as pinturas monumentais e coloridas de Moufouli Bello mostram efetivamente a vitalidade da cena de arte contemporânea desse pequeno país no oeste da África.
A frança e outros países europeus seguem em posse de importantes obras roubadas durante os séculos de colonização.
Frente latinoamericana
Os países da América Latina exercem igualmente pressão para recuperar objetos pré-colombianos, mas, diferente do tesouro de Abomey, se encontram em coleções privadas.
México, Guatemala, Equador, Panamá, Peru e República Dominicana expressaram seu "enérgico repúdio" aos leilões de objetos pré-colombianos ocorridos na França neste mês, em uma nova iniciativa conjunta contra estas vendas que consideram "ilícitas". Motivado por outra venda ocorrida em 28 de janeiro, o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, criticou a França por não regular os leilões do patrimônio cultural de outros países.
"São imorais as vendas que ocorrem na França, é muito lamentável que o governo da França não tenha legislado sobre isso", disse o mandatário.
No início de novembro do ano passado, México, Guatemala, Peru, Colômbia e Honduras também haviam tentado barrar um leilão. A Guatemala conseguiu recentemente recuperar uma estrela maia, que seria leiloada há dois anos em Paris, por meio das gestões de França e da Unesco que convenceram a sua proprietária para devolvê-la de forma voluntária.