A pacata Brodowski, com 20 mil habitantes, na região de Ribeirão Preto, é conhecida por causa de seu filho ilustre, o pintor Cândido Portinari, que inspirou várias de suas importantes obras. E na arte, nos últimos dez anos, um grupo amador, formado por pessoas da comunidade que atuam em diversas profissões, sem apoio ou patrocínio, se uniu para produzir filmes, ao menos um por ano. Já são nove longas e dois curtas-metragens prontos. Neste ano, o grupo está rodando mais um longa e um curta. A TV Educativa local, que retransmite a TV Brasil, é a parceira nos projetos, e retransmite semanalmente os filmes produzidos. O idealizador de tudo é o ferroviário aposentado Caetano Jacob, de 70 anos, que fazia teatro amador no salão paroquial da cidade nos anos 1950. ''''Imaginei que poderíamos fazer filmes, conversei com a direção da TV Educativa daqui e deu certo'''', recorda-se Jacob, modesto, afastando-se dos holofotes e esquivando-se de elogios. Mas o grupo quer criar, em breve, uma ONG para buscar recursos e o nome será Associação Cultural Caetano Jacob. Por enquanto, o nome é Grupo de Atores Amadores de Brodowski, que produziu o primeiro filme, O Castigo, há dez anos, com 69 minutos de ficção sobre a filha de fazendeiro que se apaixona por um padre. A Jacob se juntou o bancário aposentado e cinéfilo José Flavio ''''Mith'''' Mantoani, um colecionador de filmes clássicos e de trilhas sonoras de filmes. Os dois fizeram a maioria dos roteiros e as direções dos filmes, primeiro em VHS e nos últimos quatro anos em digital. Ambos também atuam. Ou se divertem. Talvez seja ''''diversão'''' a palavra mais adequada, pois os atores amadores se reúnem nos finais de semana para gravar. ''''Quando não tem gravação, não tenho o que fazer'''', diz o pedreiro aposentado Armando Queluz, de 70 anos, que atuou em todos os projetos - foi delegado, cozinheiro, padre, maestro e será andarilho no longa Sementes do Mal, que terá estréia em agosto ou setembro. ''''Gosto e trago os meus netos para atuar, para pegarem a alça do sucesso'''', brinca Queluz. Outros atores amadores são José Carlos de Oliveira, um cinéfilo de Ribeirão Preto (o único forasteiro), a professora estadual de biologia Rosana Rossini Esteves (que, grávida, continua filmando), o motorista e pedreiro Luís Carlos Magalini, o policial militar Gilberto Reis, o consertador de geladeiras Clóvis Martins da Silva, e as universitárias Lívia da Costa Grandi e Bruna Schnorr. ''''Vejo isso como um sonho que todos tiveram, de atuar, e que estou realizando agora'''', diz Oliveira. ''''Acho bonito ver o amor que eles (os idealizadores) têm por isso, de não deixar morrer'''', explica Lívia. ''''É engraçado, interessante e gratificante'''', comenta Bruna. ''''É meu hobby e estamos elevando e divulgando o nome da cidade'''', avisa Silva. E o PM Reis, recentemente, saiu direto do trabalho para gravar. Até o secretário-executivo do Conselho Municipal de Turismo local, Roberto Morando Videira, é ator do grupo. Os diálogos dos roteiros são simples, misturam ação e humor, e as improvisações são permitidas em certos casos. Mas em tempos em que se busca muito dinheiro para filmar no Brasil, os brodowskianos não ficam parados, choramingando. ''''O objetivo é valorizar a cultura local e regional e a educação, mas também é um hobby'''', explica o diretor da TV Educativa, José Luís Perez, também operador de câmera, professor de física e até presidente da Câmara. Geralmente, três câmeras digitais são usadas nas gravações. Os moradores já se acostumaram e compram os DVDs a R$ 10 na única banca de jornal de Brodowski ou numa loja de roupas. O último filme, Aconteceu Naquele Dia, rendeu mais de 300 vendas. E os próprios atores, que nada ganham, ainda compram os DVDs. Outros cinco roteiros de Jacob já estão prontos, além de um de Mantoani, que tem como título provisório Eu Roubei Um Portinari, e Agora?. ''''Escrevi em 2006 e é baseado numa história real, ocorrida no Rio há muitos anos, de um quadro que foi encontrado depois num camelô'''', detalha Mantoani. Ele garante que não se inspirou no furto de 20 de dezembro de 2007, ocorrido no Masp, do quadro O Lavrador de Café, de Portinari. Para rodar a história, Mantoani e seu grupo esperam o aval do filho do pintor famoso que projetou o nome de Brodowski no mundo.
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