Como uma brasileira se tornou a primeira artista a desenhar nas paredes do MoMA, em Nova York


Tadáskía inaugurou recentemente a mostra ‘Projects: Tadáskía’, em exibição até 14 de outubro; ela chamou a atenção ao participar da Bienal de São Paulo no ano passado

Por Ted Loos

NOVA YORK - O Museu de Arte Moderna não permite que qualquer pessoa desenhe em suas paredes. Na verdade, a artista brasileira Tadáskía é a primeira a deixar sua marca nas paredes da galeria do térreo do MoMA, onde a recém-inaugurada Projects: Tadáskía está em exibição até 14 de outubro.

A mostra estreou no momento de maior visibilidade para a artista de apenas 30 anos, que está com obras em exibição também na feira Art Basel esta semana.

Usando carvão e pastéis secos em todas as cores que se possa imaginar, Tadáskía passou cerca de duas semanas no MoMA criando um desenho de parede imersivo, cheio de figuras que lembram pássaros e formas curvas e rodopiantes em uma composição enérgica e inquieta com contornos pretos. Uma forma vermelha irregular, parecida com uma boca, ocupa o centro de uma das seções.

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Tadáskía exibe 'Projects: Tadáskía' no Museu de Arte Moderna (MoMa), em Nova York. Foto: George Etheredge/The New York Times

Tadáskía é uma artista trans negra com uma abordagem profundamente sentida e espiritual de seu trabalho. “Comecei com os olhos fechados e fiz uma oração, oferecendo os desenhos ao mundo”, disse ela, de pé na galeria, cercada por curadores e assistentes. Caixas de materiais parcialmente usados se empilhavam em um carrinho. Na entrevista, ela falou em inglês e em português do Brasil, com tradução de sua gerente de estúdio.

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Em vez de planejar, “fiz tudo livremente”, disse Tadáskía sobre sua composição de parede, que ela fez à mão, desenhando curvas que parecem ter sido criadas com um transferidor. Parte do desenho chega a mais de 6 metros de altura, e ela trabalhou nele de pé em um elevador hidráulico.

A instalação de Tadáskía no MoMA, uma colaboração com o Studio Museum in Harlem, é sua primeira apresentação individual nos Estados Unidos. No meio da peça se veem desenhos de uma outra obra da artista, adquirida recentemente pelo MoMA: ave preta mística mystical black bird (2022), um livro de 61 páginas sem encadernação que apresenta uma protagonista alada e um texto poético. A instalação também traz duas esculturas no chão da galeria.

A visita de Tadáskía a Nova York para fazer a peça marca sua primeira vez nos Estados Unidos. Ela cresceu no Rio de Janeiro e ainda vive lá, viajando com frequência para São Paulo. “É incrível ter essa oportunidade”, disse ela. “Me deixa muito emocionada.”

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No ano passado, depois de um ano sem representação de agentes, ela uniu forças com a Fortes D’Aloia & Gabriel, uma galeria com filiais em São Paulo e no Rio, que está exibindo suas obras esta semana na Art Basel, na Suíça. Os três dípticos em seu estande incluem a obra Lacraia tears (2024), feita com pastel seco, carvão e caneta.

Tadáskía também tem uma peça na Parcours, a seção da feira que coloca arte em espaços públicos de toda a cidade da Basileia. Sua obra the black trans ladies (2024) é composta por sete bandeiras que apresentam figuras abstratas e usam como fundo as cores da bandeira transgênero (azul claro, rosa e branco).

“Nunca tinha trabalhado com bandeiras”, disse Tadáskía. “Elas dão uma conexão mais política.”

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O tema trans explícito na obra da Parcours está ligado à sua instalação no MoMA. “Para mim, ser trans tem a ver com ser humano, e o desenho humaniza a condição de ser trans”, disse ela. “Uma coisa vira outra coisa, transformação e ambiguidade.”

A instalação de Tadáskía no MoMA é sua primeira apresentação individual nos Estados Unidos. Foto: George Etheredge/The New York Times

Os pássaros em seu desenho na parede – que parecem estar subindo ou descendo, dependendo da perspectiva – foram parcialmente inspirados por uma experiência que ela teve aos 18 anos, em uma conferência para estudantes bolsistas, quando ela estava prestes a entrar na faculdade. Ela aprendeu sobre o Sankofa, um pássaro mítico usado pelo povo Akan, de Gana.

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Tradicionalmente, o pássaro é representado girando para trás e pode se referir à importância de se conhecer o próprio passado. Ela também se lembra de ter visto a imagem do Sankofa incorporada às grades de janelas na periferia do Rio.

“Um pássaro preto místico pode voar para dimensões ocultas”, disse Tadáskía, acrescentando que, para ela, isso significa “libertação, mas não uma libertação pessoal – uma libertação compartilhada”.

As raízes africanas do Sankofa são significativas para Tadáskía por causa do que ela chamou de origem afro-indígena de sua mãe, que ela disse ser também a fonte de sua intensa paleta de cores (além do apreço por Picasso e Matisse, acrescentou ela).

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“Na minha infância, eu estava sempre desenhando”, disse ela. Ela também era fã de desenhos animados. Aos 11 anos, ela contraiu uma infecção bacteriana que paralisou parte de seu rosto. No hospital, uma enfermeira lhe deu As fábulas de La Fontaine, um livro do século 17 que despertou seu interesse pela leitura e pela escrita.

Os animais falantes das fábulas ficaram com ela, embora ela tenha dito que se diferencia de La Fontaine em um aspecto importante: “Todas as fábulas têm uma moral no final”, disse ela, “mas meu trabalho não é sobre certo e errado”.

Tadáskía está com obras em exibição também na feira Art Basel. Foto: George Etheredge/The New York Times

Tadáskía chamou a atenção do mundo da arte quando participou da Bienal de São Paulo de 2023, Coreografias do Impossível. Seu projeto era semelhante ao do MoMA, só que menor, e trazia o mesmo livro de desenhos que o MoMA adquiriu. Trabalhando sozinha, Tadáskía levou duas semanas para fazer a parte do desenho de parede daquela instalação.

“Quando entrei na instalação, fiquei realmente inspirada”, disse Thelma Golden, diretora e curadora-chefe do Studio Museum in Harlem. “Tinha uma força visual incrível que me parecia familiar, mas que também me abriu para novas formas de ver e acreditar na arte.”

Golden acrescentou que o apelo era “a confiança e a força da criação de Tadáskía”.

Golden organizou a exposição com Ana Torok, curadora assistente de desenhos e gravuras do MoMA, e Kiki Teshome, assistente de curadoria do Studio Museum. O projeto de Tadáskía é o quinto de uma série de colaborações entre os dois museus desde 2019. O Studio Museum está fechado para a construção de suas novas instalações.

Tadáskía chamou a atenção quando participou da Bienal de São Paulo de 2023. Foto: George Etheredge/The New York Times

Enquanto Tadáskía falava na galeria do MoMA, os assistentes pintavam de branco todas as marcas deixadas nas esculturas do chão – pequenas plataformas com desenhos em tons pastéis na parte inferior, plantas que lembram grama de praia afixadas em cima e tigelas de líquido colocadas sobre elas.

Tanto para as esculturas quanto para os desenhos na parede, Tadáskía desenhou ela mesma os contornos a carvão, com os cinco assistentes ajudando a preencher as cores. Eles foram incentivados a sugerir tons de acordo com a paleta pessoal da artista.

“Foi muito mais rápido assim”, disse ela. “Sozinha, teria levado dois meses, não duas semanas.”

A sucessão de oito horas de trabalho todos os dias era cansativa. “Tenho que estar realmente descansada para fazer isso”, disse Tadáskía.

Não que isso a tenha afastado da vida na cidade grande. “Quero morar aqui”, disse ela sobre Nova York. “Talvez no Brooklyn.” / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

NOVA YORK - O Museu de Arte Moderna não permite que qualquer pessoa desenhe em suas paredes. Na verdade, a artista brasileira Tadáskía é a primeira a deixar sua marca nas paredes da galeria do térreo do MoMA, onde a recém-inaugurada Projects: Tadáskía está em exibição até 14 de outubro.

A mostra estreou no momento de maior visibilidade para a artista de apenas 30 anos, que está com obras em exibição também na feira Art Basel esta semana.

Usando carvão e pastéis secos em todas as cores que se possa imaginar, Tadáskía passou cerca de duas semanas no MoMA criando um desenho de parede imersivo, cheio de figuras que lembram pássaros e formas curvas e rodopiantes em uma composição enérgica e inquieta com contornos pretos. Uma forma vermelha irregular, parecida com uma boca, ocupa o centro de uma das seções.

Tadáskía exibe 'Projects: Tadáskía' no Museu de Arte Moderna (MoMa), em Nova York. Foto: George Etheredge/The New York Times

Tadáskía é uma artista trans negra com uma abordagem profundamente sentida e espiritual de seu trabalho. “Comecei com os olhos fechados e fiz uma oração, oferecendo os desenhos ao mundo”, disse ela, de pé na galeria, cercada por curadores e assistentes. Caixas de materiais parcialmente usados se empilhavam em um carrinho. Na entrevista, ela falou em inglês e em português do Brasil, com tradução de sua gerente de estúdio.

Em vez de planejar, “fiz tudo livremente”, disse Tadáskía sobre sua composição de parede, que ela fez à mão, desenhando curvas que parecem ter sido criadas com um transferidor. Parte do desenho chega a mais de 6 metros de altura, e ela trabalhou nele de pé em um elevador hidráulico.

A instalação de Tadáskía no MoMA, uma colaboração com o Studio Museum in Harlem, é sua primeira apresentação individual nos Estados Unidos. No meio da peça se veem desenhos de uma outra obra da artista, adquirida recentemente pelo MoMA: ave preta mística mystical black bird (2022), um livro de 61 páginas sem encadernação que apresenta uma protagonista alada e um texto poético. A instalação também traz duas esculturas no chão da galeria.

A visita de Tadáskía a Nova York para fazer a peça marca sua primeira vez nos Estados Unidos. Ela cresceu no Rio de Janeiro e ainda vive lá, viajando com frequência para São Paulo. “É incrível ter essa oportunidade”, disse ela. “Me deixa muito emocionada.”

No ano passado, depois de um ano sem representação de agentes, ela uniu forças com a Fortes D’Aloia & Gabriel, uma galeria com filiais em São Paulo e no Rio, que está exibindo suas obras esta semana na Art Basel, na Suíça. Os três dípticos em seu estande incluem a obra Lacraia tears (2024), feita com pastel seco, carvão e caneta.

Tadáskía também tem uma peça na Parcours, a seção da feira que coloca arte em espaços públicos de toda a cidade da Basileia. Sua obra the black trans ladies (2024) é composta por sete bandeiras que apresentam figuras abstratas e usam como fundo as cores da bandeira transgênero (azul claro, rosa e branco).

“Nunca tinha trabalhado com bandeiras”, disse Tadáskía. “Elas dão uma conexão mais política.”

O tema trans explícito na obra da Parcours está ligado à sua instalação no MoMA. “Para mim, ser trans tem a ver com ser humano, e o desenho humaniza a condição de ser trans”, disse ela. “Uma coisa vira outra coisa, transformação e ambiguidade.”

A instalação de Tadáskía no MoMA é sua primeira apresentação individual nos Estados Unidos. Foto: George Etheredge/The New York Times

Os pássaros em seu desenho na parede – que parecem estar subindo ou descendo, dependendo da perspectiva – foram parcialmente inspirados por uma experiência que ela teve aos 18 anos, em uma conferência para estudantes bolsistas, quando ela estava prestes a entrar na faculdade. Ela aprendeu sobre o Sankofa, um pássaro mítico usado pelo povo Akan, de Gana.

Tradicionalmente, o pássaro é representado girando para trás e pode se referir à importância de se conhecer o próprio passado. Ela também se lembra de ter visto a imagem do Sankofa incorporada às grades de janelas na periferia do Rio.

“Um pássaro preto místico pode voar para dimensões ocultas”, disse Tadáskía, acrescentando que, para ela, isso significa “libertação, mas não uma libertação pessoal – uma libertação compartilhada”.

As raízes africanas do Sankofa são significativas para Tadáskía por causa do que ela chamou de origem afro-indígena de sua mãe, que ela disse ser também a fonte de sua intensa paleta de cores (além do apreço por Picasso e Matisse, acrescentou ela).

“Na minha infância, eu estava sempre desenhando”, disse ela. Ela também era fã de desenhos animados. Aos 11 anos, ela contraiu uma infecção bacteriana que paralisou parte de seu rosto. No hospital, uma enfermeira lhe deu As fábulas de La Fontaine, um livro do século 17 que despertou seu interesse pela leitura e pela escrita.

Os animais falantes das fábulas ficaram com ela, embora ela tenha dito que se diferencia de La Fontaine em um aspecto importante: “Todas as fábulas têm uma moral no final”, disse ela, “mas meu trabalho não é sobre certo e errado”.

Tadáskía está com obras em exibição também na feira Art Basel. Foto: George Etheredge/The New York Times

Tadáskía chamou a atenção do mundo da arte quando participou da Bienal de São Paulo de 2023, Coreografias do Impossível. Seu projeto era semelhante ao do MoMA, só que menor, e trazia o mesmo livro de desenhos que o MoMA adquiriu. Trabalhando sozinha, Tadáskía levou duas semanas para fazer a parte do desenho de parede daquela instalação.

“Quando entrei na instalação, fiquei realmente inspirada”, disse Thelma Golden, diretora e curadora-chefe do Studio Museum in Harlem. “Tinha uma força visual incrível que me parecia familiar, mas que também me abriu para novas formas de ver e acreditar na arte.”

Golden acrescentou que o apelo era “a confiança e a força da criação de Tadáskía”.

Golden organizou a exposição com Ana Torok, curadora assistente de desenhos e gravuras do MoMA, e Kiki Teshome, assistente de curadoria do Studio Museum. O projeto de Tadáskía é o quinto de uma série de colaborações entre os dois museus desde 2019. O Studio Museum está fechado para a construção de suas novas instalações.

Tadáskía chamou a atenção quando participou da Bienal de São Paulo de 2023. Foto: George Etheredge/The New York Times

Enquanto Tadáskía falava na galeria do MoMA, os assistentes pintavam de branco todas as marcas deixadas nas esculturas do chão – pequenas plataformas com desenhos em tons pastéis na parte inferior, plantas que lembram grama de praia afixadas em cima e tigelas de líquido colocadas sobre elas.

Tanto para as esculturas quanto para os desenhos na parede, Tadáskía desenhou ela mesma os contornos a carvão, com os cinco assistentes ajudando a preencher as cores. Eles foram incentivados a sugerir tons de acordo com a paleta pessoal da artista.

“Foi muito mais rápido assim”, disse ela. “Sozinha, teria levado dois meses, não duas semanas.”

A sucessão de oito horas de trabalho todos os dias era cansativa. “Tenho que estar realmente descansada para fazer isso”, disse Tadáskía.

Não que isso a tenha afastado da vida na cidade grande. “Quero morar aqui”, disse ela sobre Nova York. “Talvez no Brooklyn.” / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

NOVA YORK - O Museu de Arte Moderna não permite que qualquer pessoa desenhe em suas paredes. Na verdade, a artista brasileira Tadáskía é a primeira a deixar sua marca nas paredes da galeria do térreo do MoMA, onde a recém-inaugurada Projects: Tadáskía está em exibição até 14 de outubro.

A mostra estreou no momento de maior visibilidade para a artista de apenas 30 anos, que está com obras em exibição também na feira Art Basel esta semana.

Usando carvão e pastéis secos em todas as cores que se possa imaginar, Tadáskía passou cerca de duas semanas no MoMA criando um desenho de parede imersivo, cheio de figuras que lembram pássaros e formas curvas e rodopiantes em uma composição enérgica e inquieta com contornos pretos. Uma forma vermelha irregular, parecida com uma boca, ocupa o centro de uma das seções.

Tadáskía exibe 'Projects: Tadáskía' no Museu de Arte Moderna (MoMa), em Nova York. Foto: George Etheredge/The New York Times

Tadáskía é uma artista trans negra com uma abordagem profundamente sentida e espiritual de seu trabalho. “Comecei com os olhos fechados e fiz uma oração, oferecendo os desenhos ao mundo”, disse ela, de pé na galeria, cercada por curadores e assistentes. Caixas de materiais parcialmente usados se empilhavam em um carrinho. Na entrevista, ela falou em inglês e em português do Brasil, com tradução de sua gerente de estúdio.

Em vez de planejar, “fiz tudo livremente”, disse Tadáskía sobre sua composição de parede, que ela fez à mão, desenhando curvas que parecem ter sido criadas com um transferidor. Parte do desenho chega a mais de 6 metros de altura, e ela trabalhou nele de pé em um elevador hidráulico.

A instalação de Tadáskía no MoMA, uma colaboração com o Studio Museum in Harlem, é sua primeira apresentação individual nos Estados Unidos. No meio da peça se veem desenhos de uma outra obra da artista, adquirida recentemente pelo MoMA: ave preta mística mystical black bird (2022), um livro de 61 páginas sem encadernação que apresenta uma protagonista alada e um texto poético. A instalação também traz duas esculturas no chão da galeria.

A visita de Tadáskía a Nova York para fazer a peça marca sua primeira vez nos Estados Unidos. Ela cresceu no Rio de Janeiro e ainda vive lá, viajando com frequência para São Paulo. “É incrível ter essa oportunidade”, disse ela. “Me deixa muito emocionada.”

No ano passado, depois de um ano sem representação de agentes, ela uniu forças com a Fortes D’Aloia & Gabriel, uma galeria com filiais em São Paulo e no Rio, que está exibindo suas obras esta semana na Art Basel, na Suíça. Os três dípticos em seu estande incluem a obra Lacraia tears (2024), feita com pastel seco, carvão e caneta.

Tadáskía também tem uma peça na Parcours, a seção da feira que coloca arte em espaços públicos de toda a cidade da Basileia. Sua obra the black trans ladies (2024) é composta por sete bandeiras que apresentam figuras abstratas e usam como fundo as cores da bandeira transgênero (azul claro, rosa e branco).

“Nunca tinha trabalhado com bandeiras”, disse Tadáskía. “Elas dão uma conexão mais política.”

O tema trans explícito na obra da Parcours está ligado à sua instalação no MoMA. “Para mim, ser trans tem a ver com ser humano, e o desenho humaniza a condição de ser trans”, disse ela. “Uma coisa vira outra coisa, transformação e ambiguidade.”

A instalação de Tadáskía no MoMA é sua primeira apresentação individual nos Estados Unidos. Foto: George Etheredge/The New York Times

Os pássaros em seu desenho na parede – que parecem estar subindo ou descendo, dependendo da perspectiva – foram parcialmente inspirados por uma experiência que ela teve aos 18 anos, em uma conferência para estudantes bolsistas, quando ela estava prestes a entrar na faculdade. Ela aprendeu sobre o Sankofa, um pássaro mítico usado pelo povo Akan, de Gana.

Tradicionalmente, o pássaro é representado girando para trás e pode se referir à importância de se conhecer o próprio passado. Ela também se lembra de ter visto a imagem do Sankofa incorporada às grades de janelas na periferia do Rio.

“Um pássaro preto místico pode voar para dimensões ocultas”, disse Tadáskía, acrescentando que, para ela, isso significa “libertação, mas não uma libertação pessoal – uma libertação compartilhada”.

As raízes africanas do Sankofa são significativas para Tadáskía por causa do que ela chamou de origem afro-indígena de sua mãe, que ela disse ser também a fonte de sua intensa paleta de cores (além do apreço por Picasso e Matisse, acrescentou ela).

“Na minha infância, eu estava sempre desenhando”, disse ela. Ela também era fã de desenhos animados. Aos 11 anos, ela contraiu uma infecção bacteriana que paralisou parte de seu rosto. No hospital, uma enfermeira lhe deu As fábulas de La Fontaine, um livro do século 17 que despertou seu interesse pela leitura e pela escrita.

Os animais falantes das fábulas ficaram com ela, embora ela tenha dito que se diferencia de La Fontaine em um aspecto importante: “Todas as fábulas têm uma moral no final”, disse ela, “mas meu trabalho não é sobre certo e errado”.

Tadáskía está com obras em exibição também na feira Art Basel. Foto: George Etheredge/The New York Times

Tadáskía chamou a atenção do mundo da arte quando participou da Bienal de São Paulo de 2023, Coreografias do Impossível. Seu projeto era semelhante ao do MoMA, só que menor, e trazia o mesmo livro de desenhos que o MoMA adquiriu. Trabalhando sozinha, Tadáskía levou duas semanas para fazer a parte do desenho de parede daquela instalação.

“Quando entrei na instalação, fiquei realmente inspirada”, disse Thelma Golden, diretora e curadora-chefe do Studio Museum in Harlem. “Tinha uma força visual incrível que me parecia familiar, mas que também me abriu para novas formas de ver e acreditar na arte.”

Golden acrescentou que o apelo era “a confiança e a força da criação de Tadáskía”.

Golden organizou a exposição com Ana Torok, curadora assistente de desenhos e gravuras do MoMA, e Kiki Teshome, assistente de curadoria do Studio Museum. O projeto de Tadáskía é o quinto de uma série de colaborações entre os dois museus desde 2019. O Studio Museum está fechado para a construção de suas novas instalações.

Tadáskía chamou a atenção quando participou da Bienal de São Paulo de 2023. Foto: George Etheredge/The New York Times

Enquanto Tadáskía falava na galeria do MoMA, os assistentes pintavam de branco todas as marcas deixadas nas esculturas do chão – pequenas plataformas com desenhos em tons pastéis na parte inferior, plantas que lembram grama de praia afixadas em cima e tigelas de líquido colocadas sobre elas.

Tanto para as esculturas quanto para os desenhos na parede, Tadáskía desenhou ela mesma os contornos a carvão, com os cinco assistentes ajudando a preencher as cores. Eles foram incentivados a sugerir tons de acordo com a paleta pessoal da artista.

“Foi muito mais rápido assim”, disse ela. “Sozinha, teria levado dois meses, não duas semanas.”

A sucessão de oito horas de trabalho todos os dias era cansativa. “Tenho que estar realmente descansada para fazer isso”, disse Tadáskía.

Não que isso a tenha afastado da vida na cidade grande. “Quero morar aqui”, disse ela sobre Nova York. “Talvez no Brooklyn.” / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

NOVA YORK - O Museu de Arte Moderna não permite que qualquer pessoa desenhe em suas paredes. Na verdade, a artista brasileira Tadáskía é a primeira a deixar sua marca nas paredes da galeria do térreo do MoMA, onde a recém-inaugurada Projects: Tadáskía está em exibição até 14 de outubro.

A mostra estreou no momento de maior visibilidade para a artista de apenas 30 anos, que está com obras em exibição também na feira Art Basel esta semana.

Usando carvão e pastéis secos em todas as cores que se possa imaginar, Tadáskía passou cerca de duas semanas no MoMA criando um desenho de parede imersivo, cheio de figuras que lembram pássaros e formas curvas e rodopiantes em uma composição enérgica e inquieta com contornos pretos. Uma forma vermelha irregular, parecida com uma boca, ocupa o centro de uma das seções.

Tadáskía exibe 'Projects: Tadáskía' no Museu de Arte Moderna (MoMa), em Nova York. Foto: George Etheredge/The New York Times

Tadáskía é uma artista trans negra com uma abordagem profundamente sentida e espiritual de seu trabalho. “Comecei com os olhos fechados e fiz uma oração, oferecendo os desenhos ao mundo”, disse ela, de pé na galeria, cercada por curadores e assistentes. Caixas de materiais parcialmente usados se empilhavam em um carrinho. Na entrevista, ela falou em inglês e em português do Brasil, com tradução de sua gerente de estúdio.

Em vez de planejar, “fiz tudo livremente”, disse Tadáskía sobre sua composição de parede, que ela fez à mão, desenhando curvas que parecem ter sido criadas com um transferidor. Parte do desenho chega a mais de 6 metros de altura, e ela trabalhou nele de pé em um elevador hidráulico.

A instalação de Tadáskía no MoMA, uma colaboração com o Studio Museum in Harlem, é sua primeira apresentação individual nos Estados Unidos. No meio da peça se veem desenhos de uma outra obra da artista, adquirida recentemente pelo MoMA: ave preta mística mystical black bird (2022), um livro de 61 páginas sem encadernação que apresenta uma protagonista alada e um texto poético. A instalação também traz duas esculturas no chão da galeria.

A visita de Tadáskía a Nova York para fazer a peça marca sua primeira vez nos Estados Unidos. Ela cresceu no Rio de Janeiro e ainda vive lá, viajando com frequência para São Paulo. “É incrível ter essa oportunidade”, disse ela. “Me deixa muito emocionada.”

No ano passado, depois de um ano sem representação de agentes, ela uniu forças com a Fortes D’Aloia & Gabriel, uma galeria com filiais em São Paulo e no Rio, que está exibindo suas obras esta semana na Art Basel, na Suíça. Os três dípticos em seu estande incluem a obra Lacraia tears (2024), feita com pastel seco, carvão e caneta.

Tadáskía também tem uma peça na Parcours, a seção da feira que coloca arte em espaços públicos de toda a cidade da Basileia. Sua obra the black trans ladies (2024) é composta por sete bandeiras que apresentam figuras abstratas e usam como fundo as cores da bandeira transgênero (azul claro, rosa e branco).

“Nunca tinha trabalhado com bandeiras”, disse Tadáskía. “Elas dão uma conexão mais política.”

O tema trans explícito na obra da Parcours está ligado à sua instalação no MoMA. “Para mim, ser trans tem a ver com ser humano, e o desenho humaniza a condição de ser trans”, disse ela. “Uma coisa vira outra coisa, transformação e ambiguidade.”

A instalação de Tadáskía no MoMA é sua primeira apresentação individual nos Estados Unidos. Foto: George Etheredge/The New York Times

Os pássaros em seu desenho na parede – que parecem estar subindo ou descendo, dependendo da perspectiva – foram parcialmente inspirados por uma experiência que ela teve aos 18 anos, em uma conferência para estudantes bolsistas, quando ela estava prestes a entrar na faculdade. Ela aprendeu sobre o Sankofa, um pássaro mítico usado pelo povo Akan, de Gana.

Tradicionalmente, o pássaro é representado girando para trás e pode se referir à importância de se conhecer o próprio passado. Ela também se lembra de ter visto a imagem do Sankofa incorporada às grades de janelas na periferia do Rio.

“Um pássaro preto místico pode voar para dimensões ocultas”, disse Tadáskía, acrescentando que, para ela, isso significa “libertação, mas não uma libertação pessoal – uma libertação compartilhada”.

As raízes africanas do Sankofa são significativas para Tadáskía por causa do que ela chamou de origem afro-indígena de sua mãe, que ela disse ser também a fonte de sua intensa paleta de cores (além do apreço por Picasso e Matisse, acrescentou ela).

“Na minha infância, eu estava sempre desenhando”, disse ela. Ela também era fã de desenhos animados. Aos 11 anos, ela contraiu uma infecção bacteriana que paralisou parte de seu rosto. No hospital, uma enfermeira lhe deu As fábulas de La Fontaine, um livro do século 17 que despertou seu interesse pela leitura e pela escrita.

Os animais falantes das fábulas ficaram com ela, embora ela tenha dito que se diferencia de La Fontaine em um aspecto importante: “Todas as fábulas têm uma moral no final”, disse ela, “mas meu trabalho não é sobre certo e errado”.

Tadáskía está com obras em exibição também na feira Art Basel. Foto: George Etheredge/The New York Times

Tadáskía chamou a atenção do mundo da arte quando participou da Bienal de São Paulo de 2023, Coreografias do Impossível. Seu projeto era semelhante ao do MoMA, só que menor, e trazia o mesmo livro de desenhos que o MoMA adquiriu. Trabalhando sozinha, Tadáskía levou duas semanas para fazer a parte do desenho de parede daquela instalação.

“Quando entrei na instalação, fiquei realmente inspirada”, disse Thelma Golden, diretora e curadora-chefe do Studio Museum in Harlem. “Tinha uma força visual incrível que me parecia familiar, mas que também me abriu para novas formas de ver e acreditar na arte.”

Golden acrescentou que o apelo era “a confiança e a força da criação de Tadáskía”.

Golden organizou a exposição com Ana Torok, curadora assistente de desenhos e gravuras do MoMA, e Kiki Teshome, assistente de curadoria do Studio Museum. O projeto de Tadáskía é o quinto de uma série de colaborações entre os dois museus desde 2019. O Studio Museum está fechado para a construção de suas novas instalações.

Tadáskía chamou a atenção quando participou da Bienal de São Paulo de 2023. Foto: George Etheredge/The New York Times

Enquanto Tadáskía falava na galeria do MoMA, os assistentes pintavam de branco todas as marcas deixadas nas esculturas do chão – pequenas plataformas com desenhos em tons pastéis na parte inferior, plantas que lembram grama de praia afixadas em cima e tigelas de líquido colocadas sobre elas.

Tanto para as esculturas quanto para os desenhos na parede, Tadáskía desenhou ela mesma os contornos a carvão, com os cinco assistentes ajudando a preencher as cores. Eles foram incentivados a sugerir tons de acordo com a paleta pessoal da artista.

“Foi muito mais rápido assim”, disse ela. “Sozinha, teria levado dois meses, não duas semanas.”

A sucessão de oito horas de trabalho todos os dias era cansativa. “Tenho que estar realmente descansada para fazer isso”, disse Tadáskía.

Não que isso a tenha afastado da vida na cidade grande. “Quero morar aqui”, disse ela sobre Nova York. “Talvez no Brooklyn.” / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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