Bernardo Bertolucci recupera-se de uma cirurgia de coluna que deixou seqüelas. Seus admiradores esperam que ele se recupere, e rápido. Bertolucci é da classe de 1941. Nasceu em Parma, filho de poeta. O ciclo concentra-se no Bertolucci da primeira fase, em detrimento daquele das megaproduções em inglês (O Último Imperador, O Céu Que nos Protege e O Pequeno Buda). Tudo bem em fazer a revisão do autor nos anos 60 e 70, mas é uma lástima que tenham ficado de fora Beleza Roubada e Os Sonhadores. O partido do curador Joel Pizzini foi recuperar o intercâmbio que havia entre os jovens autores do cinema brasileiro e do italiano nos anos 60. Bertolucci declarou certa vez ter sido influenciado por Glauber Rocha. Pode até ter sido, mas seu bê-á-bá começou com Pasolini, de quem foi assistente em Desajuste Social. Pasolini escreveu A Morte, que consagrou o jovem Bertolucci em Veneza, mas o universo é pasoliniano - os raggazzi di vita do subúrbio romano. Antes da Revolução é semi-autobiográfico na discussão do papel do intelectual (jovem). O filme reinventa Stendhal (A Cartuxa de Parma) e evoca um perfume viscontiano. Partner, cujo conceito dramático e visual parece disparatado, mostra um homem devorado por seu duplo, que parece agir por ele. Bertolucci, após o célebre Maio, discute a paralisia da classe intelectual. A Estratégia da Aranha bebe na fonte do herói e do traidor de Jorge Luis Borges e a duplicidade reaparece no suntuoso O Conformista, adaptado de Alberto Moravia. O primeiro tango de Bertolucci - entre Dominique Sanda e Stefania Sandrelli - a gente não esquece. O resto é história - Último Tango em Paris, Marlon Brando, a cena da manteiga. Bertolucci fez filmes de encomenda na RAI (O Caminho do Petróleo). Será interessante vê-lo biografado por Sandro Lai e discutindo para que serve o cinema. Em seu caso, para fazer pensar e maravilhar. Beleza Roubada conta a iniciação de uma mulher e faz o funeral da geração 68. Os Sonhadores reata o próprio Bertolucci com o revolucionário de Maio que ele nunca deixou de ser. Mesmo com essas ausências, vai ser um belo ciclo, de um grande diretor.