Já há um ano, o Farol Santander, centro cultural que ocupa o Edifício Altino Arantes, no Centro de São Paulo, tem recebido instalações artísticas imersivas. A mais nova é, quase que literalmente, coisa de cinema.
A exposição Além do Infinito reúne uma instalação de mesmo nome do arquiteto francês Serge Salat, inédita no Brasil, no 23º andar do prédio, e ainda uma sala idealizada pela artista brasileira Regina Silveira, intitulada Up There, no 22º piso. Ambas as instalações serão abertas ao público nesta terça-feira, 22.
A de Salat tem, de fato, uma relação próxima com o cinema. Uma das inspirações é a cena final de 2001 - Uma Odisseia no Espaço (1968), do diretor Stanley Kubrick. Já o resultado final, de acordo com o artista, inspira a cenografia de Interestelar (2014), de Christopher Nolan, na cena em que o protagonista, vivido por Matthew McConaughey, chega em Tesseract, uma espécie de buraco negro.
Segundo Salat, as inspirações, porém, são várias. “A instalação, na verdade, é sobre um espaço sagrado, uma viagem no tempo e no espaço para chegar no mundo divino”, afirma o artista e arquiteto ao Estado. Este “espaço sagrado”, retratado no trabalho, é idealizado com base no conceito japonês de tempo, na estética de teatro Nô, na pintura cristã renascentista, nos múltiplos universos da física quântica e ainda em referências da filosofia e literatura.
A instalação conta com cerca de 550 peças de espelho, espalhadas pelo chão, paredes e teto. A estrutura do prédio Altino Arantes desaparece, o visitante entra praticamente numa outra dimensão. Estruturas metálicas parecem escadas de ponta cabeça, que no reflexo no espelho do chão, no entanto, parecem estar embaixo dos pés. Jogos de luzes iluminam e escurecem os dois ambientes da sala. A cor que se vê a olho nu se difere do que se vê no reflexo. A inspiração para essas estruturas, especificamente, é o texto chinês I Ching, o chamado “livro das mutações”. Para completar o clima paradisíaco, uma música clássica toca na sala. “Sou uma pessoa ligada ao misticismo, mas não sou religioso”, explica o artista. “Mas japoneses, chineses, ocidentais, todos podem encontrar algumas noções de paraíso lá.”
A instalação foi feita pela primeira vez na China, em 2011, num ambiente único. Para a apresentação em São Paulo, teve que ser adaptada para o prédio histórico do Farol Santander. Salat acredita que sua obra é centrada na harmonia geométrica, por isso, no local, encontrou um grande desafio. “Era impossível encontrar uma harmonia, por causa da estrutura, que agora, no entanto, foi coberta pelos espelhos”, explica. “Mas foi uma oportunidade para criar novas dinâmicas, fizemos duas salas retangulares, separadas por uma estrutura de concreto do prédio.”
A instalação inédita de Regina Silveira, Up There, que em tradução livre significa algo como “lá no alto”, também se aproveitou do espaço do Edifício Altino Arantes. A obra se constitui numa grande animação em video mapping, que se projeta nas paredes da sala. Também dividido em dois ambientes, o espaço conta com três janelas, que também viraram locais de projeção.
Apesar de ter sido feito totalmente de forma independente, o trabalho de Silveira se aproxima de Salat ao retratar uma viagem para o espaço sideral. O vídeo, de aproximadamente três minutos, começa com imagens de vários corpos celestes. O visitante, então, sente como se estivesse caindo, e chega a uma atmosfera que lembra à da Terra, com um céu azul claro, diurno. A projeção volta a subir, e mais uma vez o visitante se encontra viajando pelo universo.
Ao todo, foram usados 15 projetores. Um sistema de som oferece, ainda, um acompanhamento sonoro ao trajeto. Segundo Silveira, a obra remete a outros trabalhos seus feitos anteriormente, como a instalação Observatório, feita na Pinacoteca do Estado, em 2006.
ALÉM DO INFINITO Farol Santander. R. João Brícola, 24. Tel. 3553-5627. 3ª a sáb., 9 às 20h. Dom., 9 às 19h. R$ 20. Até 5/5