AFP — A famosa fotógrafa Annie Leibovitz nos convida a não sermos “tímidos” com o surgimento da inteligência artificial (IA) e a “aprender a usar” estas novas ferramentas a serviço da arte. “Isso não me preocupa nem um pouco”, afirmou Leibovitz em entrevista à AFP.
Na quarta-feira, 20 de fevereiro, Annie Leibovitz foi nomeada associada estrangeira da Academia Francesa de Belas Artes. Este é “sinceramente um dos grandes momentos da minha vida”, declarou em um discurso em inglês pontuado por alguns silêncios, enquanto eram mostradas suas icônicas fotos.
“Temos à nossa disposição uma nova paleta de ferramentas para chegar a novas formas de apresentação. Não devemos ser tímidos. A cada avanço tecnológico surgem hesitações, preocupações. Basta dar o passo e aprender a utilizá-las. A fotografia em si não é real. É arte”, argumentou durante a entrevista à AFP.
“Sou uma retratista, gosto de coisas conceituais, Photoshop, todas as ferramentas disponíveis”.
Mas “no jornalismo existe um código. Não se pode brincar com o que se vê. Embora haja um ponto de vista, quando decidem onde vão tirar a foto, em qual enquadramento”, afirmou a fotógrafa, de 74 anos, que já clicou celebridades como a rainha Elizabeth II, Barack Obama, Serena Williams e Kim Kardashian.
Suas imagens instantâneas de momentos históricos, como o helicóptero de Richard Nixon decolando da Casa Branca em 1972, deram a volta ao mundo. A imagem de John Lennon nu abraçando Yoko Ono também traz sua assinatura.
Sua carreira começou em 1970 na revista Rolling Stone. Desde o início da década de 1980, Leibovitz expandiu seu repertório com trabalhos para Vanity Fair, Vogue e projetos independentes.
Seu último trabalho Wonderland, publicado em 2021, analisa cinco décadas de fotografias da moda.
‘Uma grande honra’
Na quarta-feira, durante o seu encontro no Palácio do Instituto da França, a diretora editorial da revista Vogue, Anna Wintour, entregou a ela sua espada de acadêmica. “Annie, agora é imortal”, declarou emocionada Wintour, atrás de enormes óculos de sol.
“É uma grande honra, mas é uma honra ainda maior para a fotografia”, disse Leibovitz à AFP, afirmando que “a Academia chegou tarde à fotografia”. “É uma arte nova para ela, recebeu um fotógrafo pela primeira vez em 2004″, contou.
“Gosto de estar atrás das câmeras, não na frente. Mas chega um momento em que você percebe que é preciso superar uma etapa e estar presente para a próxima geração de artistas e fotógrafos. Depois de mais de 50 anos de carreira na fotografia, eu acho que cabe”, disse ela.
A margem do Sena, onde está localizado o Instituto da França, traz lembranças à fotógrafa veterana.
“Quando eu estudava fotografia, o [fotógrafo francês Henri] Cartier-Bresson era um dos meus heróis. Então estar aqui, a poucos passos da Ponte Nova que ele tanto gostava de fotografar, significa algo para mim”, confidenciou.
Enquanto a artista americana vivia em Paris com a escritora Susan Sontag, sua companheira desde o final dos anos 1980 até sua morte em 2004, “passávamos [em frente ao Instituto da França] o tempo todo. Eu não sabia o que era este prédio. Provavelmente, Susan sabia”, explicou.