Feira francesa de design Masion & Objet celebra casamento entre artesanato e tecnologia 


Farol de tendências do design global, mostra de 2022 recebe 37% a mais em visitantes estrangeiros, sedentos por novidades

Por Marcelo Gomes de Lima
Atualização:

O retorno de visitantes estrangeiros foi um dos aspectos mais comemorados na última edição da Maison & Objet, a mais representativa feira de design e decoração francesa, encerrada há duas semanas, no Centro de Exposições de Villepinte, em Paris. Com um visitante, em cada três deles, vindo de fora da França - um aumento de 36,7%, em relação à edição de setembro passado -, a mostra atraiu 51.656 pessoas de 136 nacionalidades, que puderam conhecer de perto os lançamentos de 1.811 marcas, provenientes de 53 países. 

Mesa exposta no segmento 'Whats New' da exposição Maison & Objet. Foto: Aethion

Números que, por si só, não deixam maiores dúvidas quanto ao desejo global de voltar a frequentar grandes eventos do gênero. E, por certo, não apenas para realizar negócios. Mas também para detectar, in loco, os atuais padrões de consumo e comportamento. “Em tempos incertos, as pessoas sentem a necessidade de algo diferente, de viajar, de vivenciar novas emoções e experiências”, arrisca o consultor de estilo Vincent Grégoire, membro permanente do Observatório Maison & Objet, para o qual cria mostras temáticas a cada temporada.

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“Em suma, penso que celebramos hoje o casamento entre o artesanato e a tecnologia. Ansiamos por cenários inesperados, de forte apelo sensorial. Por objetos donos de uma beleza sem fronteiras, mas socialmente responsáveis”, resume Grégoire, que, esse ano entregou ao teamLab a tarefa de conceber uma instalação que traduzisse o atual momento. E, como resultado, viu surgir uma floresta encantada de luzes, que fundia natureza e mundo digital; Microcosmos Ressonantes da Vida - Luzes Solidificadas Coloridas

Resiliência

Já entre os expositores, a realidade imediata não deixou de ser observada com a devida atenção. No caso, três marcas da Ucrânia deveriam se juntar à Maison & Objet. Uma delas foi forçada a cancelar. Mas outra, com o apoio do Ukrainian Ceramic And Craft, e curadoria das designers Anastasia Biletska e Sana Moreau, realizou em seu espaço uma espécie de manifesto, apresentando o trabalho da jovem geração de designers em atuação no país, mesmo diante da impossibilidade de garantir a importação dos produtos.

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As cerâmicas da designer ucraniana Danuta Krill na exposição Maison & Objet. Foto: Danuta Krill

“Cada objeto apresentado é um exemplo vivo. Por sorte, conseguimos trazer algumas peças para Paris pouco antes da guerra”, conta Sana, citando os móveis produzidos pelo estúdio Mapiko. Uma coleção ecologicamente correta, fruto da colaboração entre a designer Mariia Puliaieva e artesãos tradicionais, formada por uma poltrona, um banco, além de tapetes e almofadas. Todos em lã natural e, segundo a autora, proveniente de “ovelhas felizes”, que pastam tranquilamente nos Cárpatos, (região montanhosa da Ucrânia).

Feitas a partir de uma técnica quase extinta, que sobreviveu apenas em uma região do oeste da Ucrânia (Gavarechchyna), as cerâmicas pretas, ou “defumadas” produzidas pela designer Danuta Krill, em forno a lenha, foram outro dos destaques do espaço. “A fumaça penetra na argila, oxidando o material. Assim, a superfície é naturalmente pintada”, conta Anastasia Biletska. Segundo a curadora, como hoje poucos ainda praticam a técnica, a colaboração com os jovens designers é decisiva para assegurar sua preservação.

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Ausência de acabamentos - ou o mais próximo possível disso - matérias-primas originais e manutenção de técnicas artesanais de produção. Foram esses os critérios básicos, elencados pelos curadores Elizabeth Leriche, François Bernard, François Delclaux e, pela primeira vez, Julia Rouzaud, para selecionar as peças em exibição no segmento What’s New. Uma espécie de farol de tendências que a cada edição da Maison apresenta possíveis cenários para a casa contemporânea, com base em produtos em exposição na feira. 

Talentos

Já o Japão foi o país convidado em Rising Talents, mostra paralela que a cada ano leva a Paris jovens talentos de alguma parte do mundo. E, mais uma vez, a extrema atenção à superfície dos objetos foi o aspecto mais evidenciado na produção apresentada. Como, por exemplo, no trabalho de Satomi Minoshima, designer sempre interessada pela questão, autora de uma série de contêineres, de bolsas a sacos flexíveis, que exploram a beleza e diversidade da pele humana. 

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Outro de seus projetos, a linha Couro Inflável, também concebida na encruzilhada entre o natural e o sintético, caminha na mesma direção. São assentos domésticos, resultantes de suas pesquisas sobre o látex submetido à impressão em tela, reproduzindo a textura do couro natural. Peças que podem ser empilhadas, mas que, na prática, só ganham sua forma graças ao ar em seu interior, “Por meio do meu trabalho procuro fornecer informações táteis que o simples olhar não consegue captar”, comenta Satomi Minoshima.

O designer japonês Yuma Kano e suas criações que celebram a ferrugem na exposição Maison & Objet. Foto: Ronald Smits

À primeira vista, a palavra ferrugem denota dano, ruína, destruição. Ela pode corroer um avião por completo, parar o motor de um carro ou até derrubar uma ponte, uma vez espalhada por dentro de sua estrutura de concreto armado. Mas no caso do designer japonês Yuma Kano, outro dos profissionais convidados, para quem o conceito do material e o processo de produção são tão, ou mais, importantes do que a própria forma dos objetos, ela pode, simplesmente, produzir beleza. 

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“Meu trabalho lança mão de elementos como luz, chuva, terra e água do mar não para que a ferrugem seja eliminada, mas para que, de fato, ela apareça nas placas de metal. Somente então eu realizo o acabamento”, explica ele. Na prática, “cultivando” a ferrugem em placas de metal, Kano se vê, metaforicamente, atuando como um agricultor, realizando sua “colheita” a partir de padrões de oxidação mais ou menos acentuados. 

“Depois, tudo se resume a envelopar as placas por meio da resina acrílica, enobrecendo o trabalho da natureza e está pronto”, conclui ele. 

O retorno de visitantes estrangeiros foi um dos aspectos mais comemorados na última edição da Maison & Objet, a mais representativa feira de design e decoração francesa, encerrada há duas semanas, no Centro de Exposições de Villepinte, em Paris. Com um visitante, em cada três deles, vindo de fora da França - um aumento de 36,7%, em relação à edição de setembro passado -, a mostra atraiu 51.656 pessoas de 136 nacionalidades, que puderam conhecer de perto os lançamentos de 1.811 marcas, provenientes de 53 países. 

Mesa exposta no segmento 'Whats New' da exposição Maison & Objet. Foto: Aethion

Números que, por si só, não deixam maiores dúvidas quanto ao desejo global de voltar a frequentar grandes eventos do gênero. E, por certo, não apenas para realizar negócios. Mas também para detectar, in loco, os atuais padrões de consumo e comportamento. “Em tempos incertos, as pessoas sentem a necessidade de algo diferente, de viajar, de vivenciar novas emoções e experiências”, arrisca o consultor de estilo Vincent Grégoire, membro permanente do Observatório Maison & Objet, para o qual cria mostras temáticas a cada temporada.

“Em suma, penso que celebramos hoje o casamento entre o artesanato e a tecnologia. Ansiamos por cenários inesperados, de forte apelo sensorial. Por objetos donos de uma beleza sem fronteiras, mas socialmente responsáveis”, resume Grégoire, que, esse ano entregou ao teamLab a tarefa de conceber uma instalação que traduzisse o atual momento. E, como resultado, viu surgir uma floresta encantada de luzes, que fundia natureza e mundo digital; Microcosmos Ressonantes da Vida - Luzes Solidificadas Coloridas

Resiliência

Já entre os expositores, a realidade imediata não deixou de ser observada com a devida atenção. No caso, três marcas da Ucrânia deveriam se juntar à Maison & Objet. Uma delas foi forçada a cancelar. Mas outra, com o apoio do Ukrainian Ceramic And Craft, e curadoria das designers Anastasia Biletska e Sana Moreau, realizou em seu espaço uma espécie de manifesto, apresentando o trabalho da jovem geração de designers em atuação no país, mesmo diante da impossibilidade de garantir a importação dos produtos.

As cerâmicas da designer ucraniana Danuta Krill na exposição Maison & Objet. Foto: Danuta Krill

“Cada objeto apresentado é um exemplo vivo. Por sorte, conseguimos trazer algumas peças para Paris pouco antes da guerra”, conta Sana, citando os móveis produzidos pelo estúdio Mapiko. Uma coleção ecologicamente correta, fruto da colaboração entre a designer Mariia Puliaieva e artesãos tradicionais, formada por uma poltrona, um banco, além de tapetes e almofadas. Todos em lã natural e, segundo a autora, proveniente de “ovelhas felizes”, que pastam tranquilamente nos Cárpatos, (região montanhosa da Ucrânia).

Feitas a partir de uma técnica quase extinta, que sobreviveu apenas em uma região do oeste da Ucrânia (Gavarechchyna), as cerâmicas pretas, ou “defumadas” produzidas pela designer Danuta Krill, em forno a lenha, foram outro dos destaques do espaço. “A fumaça penetra na argila, oxidando o material. Assim, a superfície é naturalmente pintada”, conta Anastasia Biletska. Segundo a curadora, como hoje poucos ainda praticam a técnica, a colaboração com os jovens designers é decisiva para assegurar sua preservação.

Ausência de acabamentos - ou o mais próximo possível disso - matérias-primas originais e manutenção de técnicas artesanais de produção. Foram esses os critérios básicos, elencados pelos curadores Elizabeth Leriche, François Bernard, François Delclaux e, pela primeira vez, Julia Rouzaud, para selecionar as peças em exibição no segmento What’s New. Uma espécie de farol de tendências que a cada edição da Maison apresenta possíveis cenários para a casa contemporânea, com base em produtos em exposição na feira. 

Talentos

Já o Japão foi o país convidado em Rising Talents, mostra paralela que a cada ano leva a Paris jovens talentos de alguma parte do mundo. E, mais uma vez, a extrema atenção à superfície dos objetos foi o aspecto mais evidenciado na produção apresentada. Como, por exemplo, no trabalho de Satomi Minoshima, designer sempre interessada pela questão, autora de uma série de contêineres, de bolsas a sacos flexíveis, que exploram a beleza e diversidade da pele humana. 

Outro de seus projetos, a linha Couro Inflável, também concebida na encruzilhada entre o natural e o sintético, caminha na mesma direção. São assentos domésticos, resultantes de suas pesquisas sobre o látex submetido à impressão em tela, reproduzindo a textura do couro natural. Peças que podem ser empilhadas, mas que, na prática, só ganham sua forma graças ao ar em seu interior, “Por meio do meu trabalho procuro fornecer informações táteis que o simples olhar não consegue captar”, comenta Satomi Minoshima.

O designer japonês Yuma Kano e suas criações que celebram a ferrugem na exposição Maison & Objet. Foto: Ronald Smits

À primeira vista, a palavra ferrugem denota dano, ruína, destruição. Ela pode corroer um avião por completo, parar o motor de um carro ou até derrubar uma ponte, uma vez espalhada por dentro de sua estrutura de concreto armado. Mas no caso do designer japonês Yuma Kano, outro dos profissionais convidados, para quem o conceito do material e o processo de produção são tão, ou mais, importantes do que a própria forma dos objetos, ela pode, simplesmente, produzir beleza. 

“Meu trabalho lança mão de elementos como luz, chuva, terra e água do mar não para que a ferrugem seja eliminada, mas para que, de fato, ela apareça nas placas de metal. Somente então eu realizo o acabamento”, explica ele. Na prática, “cultivando” a ferrugem em placas de metal, Kano se vê, metaforicamente, atuando como um agricultor, realizando sua “colheita” a partir de padrões de oxidação mais ou menos acentuados. 

“Depois, tudo se resume a envelopar as placas por meio da resina acrílica, enobrecendo o trabalho da natureza e está pronto”, conclui ele. 

O retorno de visitantes estrangeiros foi um dos aspectos mais comemorados na última edição da Maison & Objet, a mais representativa feira de design e decoração francesa, encerrada há duas semanas, no Centro de Exposições de Villepinte, em Paris. Com um visitante, em cada três deles, vindo de fora da França - um aumento de 36,7%, em relação à edição de setembro passado -, a mostra atraiu 51.656 pessoas de 136 nacionalidades, que puderam conhecer de perto os lançamentos de 1.811 marcas, provenientes de 53 países. 

Mesa exposta no segmento 'Whats New' da exposição Maison & Objet. Foto: Aethion

Números que, por si só, não deixam maiores dúvidas quanto ao desejo global de voltar a frequentar grandes eventos do gênero. E, por certo, não apenas para realizar negócios. Mas também para detectar, in loco, os atuais padrões de consumo e comportamento. “Em tempos incertos, as pessoas sentem a necessidade de algo diferente, de viajar, de vivenciar novas emoções e experiências”, arrisca o consultor de estilo Vincent Grégoire, membro permanente do Observatório Maison & Objet, para o qual cria mostras temáticas a cada temporada.

“Em suma, penso que celebramos hoje o casamento entre o artesanato e a tecnologia. Ansiamos por cenários inesperados, de forte apelo sensorial. Por objetos donos de uma beleza sem fronteiras, mas socialmente responsáveis”, resume Grégoire, que, esse ano entregou ao teamLab a tarefa de conceber uma instalação que traduzisse o atual momento. E, como resultado, viu surgir uma floresta encantada de luzes, que fundia natureza e mundo digital; Microcosmos Ressonantes da Vida - Luzes Solidificadas Coloridas

Resiliência

Já entre os expositores, a realidade imediata não deixou de ser observada com a devida atenção. No caso, três marcas da Ucrânia deveriam se juntar à Maison & Objet. Uma delas foi forçada a cancelar. Mas outra, com o apoio do Ukrainian Ceramic And Craft, e curadoria das designers Anastasia Biletska e Sana Moreau, realizou em seu espaço uma espécie de manifesto, apresentando o trabalho da jovem geração de designers em atuação no país, mesmo diante da impossibilidade de garantir a importação dos produtos.

As cerâmicas da designer ucraniana Danuta Krill na exposição Maison & Objet. Foto: Danuta Krill

“Cada objeto apresentado é um exemplo vivo. Por sorte, conseguimos trazer algumas peças para Paris pouco antes da guerra”, conta Sana, citando os móveis produzidos pelo estúdio Mapiko. Uma coleção ecologicamente correta, fruto da colaboração entre a designer Mariia Puliaieva e artesãos tradicionais, formada por uma poltrona, um banco, além de tapetes e almofadas. Todos em lã natural e, segundo a autora, proveniente de “ovelhas felizes”, que pastam tranquilamente nos Cárpatos, (região montanhosa da Ucrânia).

Feitas a partir de uma técnica quase extinta, que sobreviveu apenas em uma região do oeste da Ucrânia (Gavarechchyna), as cerâmicas pretas, ou “defumadas” produzidas pela designer Danuta Krill, em forno a lenha, foram outro dos destaques do espaço. “A fumaça penetra na argila, oxidando o material. Assim, a superfície é naturalmente pintada”, conta Anastasia Biletska. Segundo a curadora, como hoje poucos ainda praticam a técnica, a colaboração com os jovens designers é decisiva para assegurar sua preservação.

Ausência de acabamentos - ou o mais próximo possível disso - matérias-primas originais e manutenção de técnicas artesanais de produção. Foram esses os critérios básicos, elencados pelos curadores Elizabeth Leriche, François Bernard, François Delclaux e, pela primeira vez, Julia Rouzaud, para selecionar as peças em exibição no segmento What’s New. Uma espécie de farol de tendências que a cada edição da Maison apresenta possíveis cenários para a casa contemporânea, com base em produtos em exposição na feira. 

Talentos

Já o Japão foi o país convidado em Rising Talents, mostra paralela que a cada ano leva a Paris jovens talentos de alguma parte do mundo. E, mais uma vez, a extrema atenção à superfície dos objetos foi o aspecto mais evidenciado na produção apresentada. Como, por exemplo, no trabalho de Satomi Minoshima, designer sempre interessada pela questão, autora de uma série de contêineres, de bolsas a sacos flexíveis, que exploram a beleza e diversidade da pele humana. 

Outro de seus projetos, a linha Couro Inflável, também concebida na encruzilhada entre o natural e o sintético, caminha na mesma direção. São assentos domésticos, resultantes de suas pesquisas sobre o látex submetido à impressão em tela, reproduzindo a textura do couro natural. Peças que podem ser empilhadas, mas que, na prática, só ganham sua forma graças ao ar em seu interior, “Por meio do meu trabalho procuro fornecer informações táteis que o simples olhar não consegue captar”, comenta Satomi Minoshima.

O designer japonês Yuma Kano e suas criações que celebram a ferrugem na exposição Maison & Objet. Foto: Ronald Smits

À primeira vista, a palavra ferrugem denota dano, ruína, destruição. Ela pode corroer um avião por completo, parar o motor de um carro ou até derrubar uma ponte, uma vez espalhada por dentro de sua estrutura de concreto armado. Mas no caso do designer japonês Yuma Kano, outro dos profissionais convidados, para quem o conceito do material e o processo de produção são tão, ou mais, importantes do que a própria forma dos objetos, ela pode, simplesmente, produzir beleza. 

“Meu trabalho lança mão de elementos como luz, chuva, terra e água do mar não para que a ferrugem seja eliminada, mas para que, de fato, ela apareça nas placas de metal. Somente então eu realizo o acabamento”, explica ele. Na prática, “cultivando” a ferrugem em placas de metal, Kano se vê, metaforicamente, atuando como um agricultor, realizando sua “colheita” a partir de padrões de oxidação mais ou menos acentuados. 

“Depois, tudo se resume a envelopar as placas por meio da resina acrílica, enobrecendo o trabalho da natureza e está pronto”, conclui ele. 

O retorno de visitantes estrangeiros foi um dos aspectos mais comemorados na última edição da Maison & Objet, a mais representativa feira de design e decoração francesa, encerrada há duas semanas, no Centro de Exposições de Villepinte, em Paris. Com um visitante, em cada três deles, vindo de fora da França - um aumento de 36,7%, em relação à edição de setembro passado -, a mostra atraiu 51.656 pessoas de 136 nacionalidades, que puderam conhecer de perto os lançamentos de 1.811 marcas, provenientes de 53 países. 

Mesa exposta no segmento 'Whats New' da exposição Maison & Objet. Foto: Aethion

Números que, por si só, não deixam maiores dúvidas quanto ao desejo global de voltar a frequentar grandes eventos do gênero. E, por certo, não apenas para realizar negócios. Mas também para detectar, in loco, os atuais padrões de consumo e comportamento. “Em tempos incertos, as pessoas sentem a necessidade de algo diferente, de viajar, de vivenciar novas emoções e experiências”, arrisca o consultor de estilo Vincent Grégoire, membro permanente do Observatório Maison & Objet, para o qual cria mostras temáticas a cada temporada.

“Em suma, penso que celebramos hoje o casamento entre o artesanato e a tecnologia. Ansiamos por cenários inesperados, de forte apelo sensorial. Por objetos donos de uma beleza sem fronteiras, mas socialmente responsáveis”, resume Grégoire, que, esse ano entregou ao teamLab a tarefa de conceber uma instalação que traduzisse o atual momento. E, como resultado, viu surgir uma floresta encantada de luzes, que fundia natureza e mundo digital; Microcosmos Ressonantes da Vida - Luzes Solidificadas Coloridas

Resiliência

Já entre os expositores, a realidade imediata não deixou de ser observada com a devida atenção. No caso, três marcas da Ucrânia deveriam se juntar à Maison & Objet. Uma delas foi forçada a cancelar. Mas outra, com o apoio do Ukrainian Ceramic And Craft, e curadoria das designers Anastasia Biletska e Sana Moreau, realizou em seu espaço uma espécie de manifesto, apresentando o trabalho da jovem geração de designers em atuação no país, mesmo diante da impossibilidade de garantir a importação dos produtos.

As cerâmicas da designer ucraniana Danuta Krill na exposição Maison & Objet. Foto: Danuta Krill

“Cada objeto apresentado é um exemplo vivo. Por sorte, conseguimos trazer algumas peças para Paris pouco antes da guerra”, conta Sana, citando os móveis produzidos pelo estúdio Mapiko. Uma coleção ecologicamente correta, fruto da colaboração entre a designer Mariia Puliaieva e artesãos tradicionais, formada por uma poltrona, um banco, além de tapetes e almofadas. Todos em lã natural e, segundo a autora, proveniente de “ovelhas felizes”, que pastam tranquilamente nos Cárpatos, (região montanhosa da Ucrânia).

Feitas a partir de uma técnica quase extinta, que sobreviveu apenas em uma região do oeste da Ucrânia (Gavarechchyna), as cerâmicas pretas, ou “defumadas” produzidas pela designer Danuta Krill, em forno a lenha, foram outro dos destaques do espaço. “A fumaça penetra na argila, oxidando o material. Assim, a superfície é naturalmente pintada”, conta Anastasia Biletska. Segundo a curadora, como hoje poucos ainda praticam a técnica, a colaboração com os jovens designers é decisiva para assegurar sua preservação.

Ausência de acabamentos - ou o mais próximo possível disso - matérias-primas originais e manutenção de técnicas artesanais de produção. Foram esses os critérios básicos, elencados pelos curadores Elizabeth Leriche, François Bernard, François Delclaux e, pela primeira vez, Julia Rouzaud, para selecionar as peças em exibição no segmento What’s New. Uma espécie de farol de tendências que a cada edição da Maison apresenta possíveis cenários para a casa contemporânea, com base em produtos em exposição na feira. 

Talentos

Já o Japão foi o país convidado em Rising Talents, mostra paralela que a cada ano leva a Paris jovens talentos de alguma parte do mundo. E, mais uma vez, a extrema atenção à superfície dos objetos foi o aspecto mais evidenciado na produção apresentada. Como, por exemplo, no trabalho de Satomi Minoshima, designer sempre interessada pela questão, autora de uma série de contêineres, de bolsas a sacos flexíveis, que exploram a beleza e diversidade da pele humana. 

Outro de seus projetos, a linha Couro Inflável, também concebida na encruzilhada entre o natural e o sintético, caminha na mesma direção. São assentos domésticos, resultantes de suas pesquisas sobre o látex submetido à impressão em tela, reproduzindo a textura do couro natural. Peças que podem ser empilhadas, mas que, na prática, só ganham sua forma graças ao ar em seu interior, “Por meio do meu trabalho procuro fornecer informações táteis que o simples olhar não consegue captar”, comenta Satomi Minoshima.

O designer japonês Yuma Kano e suas criações que celebram a ferrugem na exposição Maison & Objet. Foto: Ronald Smits

À primeira vista, a palavra ferrugem denota dano, ruína, destruição. Ela pode corroer um avião por completo, parar o motor de um carro ou até derrubar uma ponte, uma vez espalhada por dentro de sua estrutura de concreto armado. Mas no caso do designer japonês Yuma Kano, outro dos profissionais convidados, para quem o conceito do material e o processo de produção são tão, ou mais, importantes do que a própria forma dos objetos, ela pode, simplesmente, produzir beleza. 

“Meu trabalho lança mão de elementos como luz, chuva, terra e água do mar não para que a ferrugem seja eliminada, mas para que, de fato, ela apareça nas placas de metal. Somente então eu realizo o acabamento”, explica ele. Na prática, “cultivando” a ferrugem em placas de metal, Kano se vê, metaforicamente, atuando como um agricultor, realizando sua “colheita” a partir de padrões de oxidação mais ou menos acentuados. 

“Depois, tudo se resume a envelopar as placas por meio da resina acrílica, enobrecendo o trabalho da natureza e está pronto”, conclui ele. 

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