Forte presença brasileira em Lima


Mostra peruana começa hoje com cinco longas-metragens da atual safra nacional disputando os principais prêmios

Por Luiz Zanin Oricchio

Quatro longas-metragens de ficção e um documental representam o Brasil no Festival de Cinema de Lima, Peru, que se inicia hoje e vai até o dia 15. Dos filmes de ficção, três são bem conhecidos do público, e um praticamente inédito, Ainda Orangotangos, de Gustavo Spolidoro. Dos outros, Tropa de Elite, grande sucesso e vencedor do Urso de Ouro em Berlim, faz-se acompanhar de Mutum, de Sandra Kogut, e Cão Sem Dono, de Beto Brant. O único documentário é uma rara unanimidade nacional: Jogo de Cena, de Eduardo Coutinho. O Brasil compete com filmes de vários países latino-americanos como Argentina, Chile, Colômbia, Cuba, México, Venezuela, Uruguai e o próprio Peru. Além das mostras competitivas, há as seções informativas, com um elenco de filmes que visa a dar ao público panorama tão amplo como possível do atual cinema latino-americano. O gigantismo do festival lembra o do seu provável modelo - o Festival del Nuevo Cine Latino-Americano, de Havana, o mais tradicional em seu gênero. Como acontece na mostra cubana, também na limenha se elege um país a ser homenageado, e o desta 12 ª edição é a Alemanha. Na mostra germânica, 14 filmes recentes, entre eles Do Outro Lado, de Fatih Akin, que já estreou no circuito comercial brasileiro, e uma versão integral do gigantesco Berlim Alexanderplatz, que Rainer Werner Fassbinder adaptou do romance homônimo de Alfred Döblin e tem 16 horas de duração. Mas o homenageado principal é mesmo da terra, embora viva há muitos anos na Europa - trata-se do escritor Mario Vargas Llosa, que também assume a presidência do júri de ficção. Llosa é uma glória nacional e viajou antes ao Peru. Participou da Feira Literária de Lima e autografou o livro Las Guerras de Este Mundo, uma série de ensaios sobre a sua obra, que ele qualificou como um "monumento à amizade". Os textos analíticos sobre sua trajetória literária são assinados por escritores como Alonso Cueto, Antonio Tabucchi, José Oviedo e a brasileira Nélida Piñon. Vargas Llosa, autor de um clássico da literatura latino-americana como Conversa na Catedral, é pessoa muito ligada ao cinema. Ele próprio dirigiu um filme, baseado em seu romance satírico Pantaleão e as Visitadoras, em 1975. O curioso é que 25 anos depois o mesmo texto foi refilmado por um conterrâneo, Francisco Lombardi. Esse filme concorreu no Festival de Gramado em 2000 e provocou uma verdadeira tempestade hormonal na platéia masculina em virtude da presença (na tela) da atriz colombiana Angel Cepeda. Naquele ano ela foi a ausência mais sentida na serra gaúcha, mas já confirmou presença em Lima. Da qualidade dos filmes de um festival, só se pode falar com segurança depois que ele se encerra. Mas, a julgar pela delegação brasileira, o nível será alto. Cão Sem Dono e Mutum são dois dos melhores exemplos de cinema de autor recente no País. Tropa de Elite é o filme nacional mais polêmico dos últimos tempos e o mais premiado. Jogo de Cena é um caso único em sua proposta de abolição de fronteiras entre o ficcional e o documental. E a escolha de um deles é prova de ousadia. Nesse longa, ainda não lançado no circuito comercial, o diretor Gustavo Spolidoro faz um exercício de virtuosismo cinematográfico ao realizar tudo num único plano-seqüência. Quer dizer, numa única seqüência sem cortes. Não se trata de exibicionismo gratuito. Por meio do recurso, Spolidoro potencializa o que seria a exteriorização de um jogo de fantasias e paranóias no mínimo muito interessante. Vamos ver como reage a ele o público de outro país. Esse selo de qualidade, detectável na participação nacional, parece estar presente também na de outros países. Para se ter idéia, estarão em Lima vários filmes que participaram do Festival de Cannes deste ano como La Mujer Sin Cabeza, de Lucrecia Martel, Liverpool, de Lisandro Alonso, e Leonera, de Pablo Trapero - todos portenhos. Não será estranho se o Festival de Lima se resolver num tradicional Brasil x Argentina.

Quatro longas-metragens de ficção e um documental representam o Brasil no Festival de Cinema de Lima, Peru, que se inicia hoje e vai até o dia 15. Dos filmes de ficção, três são bem conhecidos do público, e um praticamente inédito, Ainda Orangotangos, de Gustavo Spolidoro. Dos outros, Tropa de Elite, grande sucesso e vencedor do Urso de Ouro em Berlim, faz-se acompanhar de Mutum, de Sandra Kogut, e Cão Sem Dono, de Beto Brant. O único documentário é uma rara unanimidade nacional: Jogo de Cena, de Eduardo Coutinho. O Brasil compete com filmes de vários países latino-americanos como Argentina, Chile, Colômbia, Cuba, México, Venezuela, Uruguai e o próprio Peru. Além das mostras competitivas, há as seções informativas, com um elenco de filmes que visa a dar ao público panorama tão amplo como possível do atual cinema latino-americano. O gigantismo do festival lembra o do seu provável modelo - o Festival del Nuevo Cine Latino-Americano, de Havana, o mais tradicional em seu gênero. Como acontece na mostra cubana, também na limenha se elege um país a ser homenageado, e o desta 12 ª edição é a Alemanha. Na mostra germânica, 14 filmes recentes, entre eles Do Outro Lado, de Fatih Akin, que já estreou no circuito comercial brasileiro, e uma versão integral do gigantesco Berlim Alexanderplatz, que Rainer Werner Fassbinder adaptou do romance homônimo de Alfred Döblin e tem 16 horas de duração. Mas o homenageado principal é mesmo da terra, embora viva há muitos anos na Europa - trata-se do escritor Mario Vargas Llosa, que também assume a presidência do júri de ficção. Llosa é uma glória nacional e viajou antes ao Peru. Participou da Feira Literária de Lima e autografou o livro Las Guerras de Este Mundo, uma série de ensaios sobre a sua obra, que ele qualificou como um "monumento à amizade". Os textos analíticos sobre sua trajetória literária são assinados por escritores como Alonso Cueto, Antonio Tabucchi, José Oviedo e a brasileira Nélida Piñon. Vargas Llosa, autor de um clássico da literatura latino-americana como Conversa na Catedral, é pessoa muito ligada ao cinema. Ele próprio dirigiu um filme, baseado em seu romance satírico Pantaleão e as Visitadoras, em 1975. O curioso é que 25 anos depois o mesmo texto foi refilmado por um conterrâneo, Francisco Lombardi. Esse filme concorreu no Festival de Gramado em 2000 e provocou uma verdadeira tempestade hormonal na platéia masculina em virtude da presença (na tela) da atriz colombiana Angel Cepeda. Naquele ano ela foi a ausência mais sentida na serra gaúcha, mas já confirmou presença em Lima. Da qualidade dos filmes de um festival, só se pode falar com segurança depois que ele se encerra. Mas, a julgar pela delegação brasileira, o nível será alto. Cão Sem Dono e Mutum são dois dos melhores exemplos de cinema de autor recente no País. Tropa de Elite é o filme nacional mais polêmico dos últimos tempos e o mais premiado. Jogo de Cena é um caso único em sua proposta de abolição de fronteiras entre o ficcional e o documental. E a escolha de um deles é prova de ousadia. Nesse longa, ainda não lançado no circuito comercial, o diretor Gustavo Spolidoro faz um exercício de virtuosismo cinematográfico ao realizar tudo num único plano-seqüência. Quer dizer, numa única seqüência sem cortes. Não se trata de exibicionismo gratuito. Por meio do recurso, Spolidoro potencializa o que seria a exteriorização de um jogo de fantasias e paranóias no mínimo muito interessante. Vamos ver como reage a ele o público de outro país. Esse selo de qualidade, detectável na participação nacional, parece estar presente também na de outros países. Para se ter idéia, estarão em Lima vários filmes que participaram do Festival de Cannes deste ano como La Mujer Sin Cabeza, de Lucrecia Martel, Liverpool, de Lisandro Alonso, e Leonera, de Pablo Trapero - todos portenhos. Não será estranho se o Festival de Lima se resolver num tradicional Brasil x Argentina.

Quatro longas-metragens de ficção e um documental representam o Brasil no Festival de Cinema de Lima, Peru, que se inicia hoje e vai até o dia 15. Dos filmes de ficção, três são bem conhecidos do público, e um praticamente inédito, Ainda Orangotangos, de Gustavo Spolidoro. Dos outros, Tropa de Elite, grande sucesso e vencedor do Urso de Ouro em Berlim, faz-se acompanhar de Mutum, de Sandra Kogut, e Cão Sem Dono, de Beto Brant. O único documentário é uma rara unanimidade nacional: Jogo de Cena, de Eduardo Coutinho. O Brasil compete com filmes de vários países latino-americanos como Argentina, Chile, Colômbia, Cuba, México, Venezuela, Uruguai e o próprio Peru. Além das mostras competitivas, há as seções informativas, com um elenco de filmes que visa a dar ao público panorama tão amplo como possível do atual cinema latino-americano. O gigantismo do festival lembra o do seu provável modelo - o Festival del Nuevo Cine Latino-Americano, de Havana, o mais tradicional em seu gênero. Como acontece na mostra cubana, também na limenha se elege um país a ser homenageado, e o desta 12 ª edição é a Alemanha. Na mostra germânica, 14 filmes recentes, entre eles Do Outro Lado, de Fatih Akin, que já estreou no circuito comercial brasileiro, e uma versão integral do gigantesco Berlim Alexanderplatz, que Rainer Werner Fassbinder adaptou do romance homônimo de Alfred Döblin e tem 16 horas de duração. Mas o homenageado principal é mesmo da terra, embora viva há muitos anos na Europa - trata-se do escritor Mario Vargas Llosa, que também assume a presidência do júri de ficção. Llosa é uma glória nacional e viajou antes ao Peru. Participou da Feira Literária de Lima e autografou o livro Las Guerras de Este Mundo, uma série de ensaios sobre a sua obra, que ele qualificou como um "monumento à amizade". Os textos analíticos sobre sua trajetória literária são assinados por escritores como Alonso Cueto, Antonio Tabucchi, José Oviedo e a brasileira Nélida Piñon. Vargas Llosa, autor de um clássico da literatura latino-americana como Conversa na Catedral, é pessoa muito ligada ao cinema. Ele próprio dirigiu um filme, baseado em seu romance satírico Pantaleão e as Visitadoras, em 1975. O curioso é que 25 anos depois o mesmo texto foi refilmado por um conterrâneo, Francisco Lombardi. Esse filme concorreu no Festival de Gramado em 2000 e provocou uma verdadeira tempestade hormonal na platéia masculina em virtude da presença (na tela) da atriz colombiana Angel Cepeda. Naquele ano ela foi a ausência mais sentida na serra gaúcha, mas já confirmou presença em Lima. Da qualidade dos filmes de um festival, só se pode falar com segurança depois que ele se encerra. Mas, a julgar pela delegação brasileira, o nível será alto. Cão Sem Dono e Mutum são dois dos melhores exemplos de cinema de autor recente no País. Tropa de Elite é o filme nacional mais polêmico dos últimos tempos e o mais premiado. Jogo de Cena é um caso único em sua proposta de abolição de fronteiras entre o ficcional e o documental. E a escolha de um deles é prova de ousadia. Nesse longa, ainda não lançado no circuito comercial, o diretor Gustavo Spolidoro faz um exercício de virtuosismo cinematográfico ao realizar tudo num único plano-seqüência. Quer dizer, numa única seqüência sem cortes. Não se trata de exibicionismo gratuito. Por meio do recurso, Spolidoro potencializa o que seria a exteriorização de um jogo de fantasias e paranóias no mínimo muito interessante. Vamos ver como reage a ele o público de outro país. Esse selo de qualidade, detectável na participação nacional, parece estar presente também na de outros países. Para se ter idéia, estarão em Lima vários filmes que participaram do Festival de Cannes deste ano como La Mujer Sin Cabeza, de Lucrecia Martel, Liverpool, de Lisandro Alonso, e Leonera, de Pablo Trapero - todos portenhos. Não será estranho se o Festival de Lima se resolver num tradicional Brasil x Argentina.

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