Entre os artistas do movimento neoconcreto brasileiro, certamente o escultor de origem austríaca Franz Weissmann (1911-2005) e seu aluno Amilcar de Castro (1920-2002) ocupam posições de maior destaque. Weissmann (1911-2005) foi pioneiro na linguagem abstrata no Brasil, integrou importantes grupos históricos de vanguarda (Frente) e participou da primeira edição da Bienal de São Paulo (1951), que deu o prêmio de escultura ao suíço Max Bill. A partir de hoje, 30, a Dan Galeria exibe uma mostra que cobre parte dessa trajetória. Inaugurando uma extensão de seu espaço paulistano em Votorantim, a Dan Galeria Interior, o marchand Peter Cohn leva para o novo espaço 20 grandes esculturas de Weissmann, mostrando ainda em sua matriz paulistana 37 pequenas maquetes criadas entre 1940 e 2003, escolhidas entre 1.000 diferentes protótipos deixados pelo escultor, muitos deles nunca expostos.
A mostra, Franz Weissmann – do Material ao Espiritual, tem como curadores Waltraud Weissmann, presidente do Instituto Franz Weissmann e filha do artista, e Fernando Ortega, diretor do Instituto Franz Weissmann. A Dan mantém há 20 anos uma relação estreita com o instituto, escolhendo Weissmann como primeiro artista para seu projeto no interior de São Paulo, novo espaço localizado no complexo Bandeiras Centro Empresarial, área de empreendimentos na cidade de Votorantim. Em expansão, a galeria deve abrir ainda outro espaço em São Paulo em 2022, comemorando seus 50 anos de existência.
O fato de Weissmann ter experimentado uma espécie de epifania ao ver a Unidade Tripartida de Max Bill, na Bienal de 1951, pode sugerir que o episódio tenha levado o escultor à abstração geométrica, mas o fato é que, antes da primeira edição da mostra, o escultor brasileiro já tinha executado uma primeira versão de seu histórico Cubo Vazado (1951), ícone absoluto da obra de Weissmann por várias razões. As versões posteriores atestam que a escultura como “vazio ativo” subvertia não só a aparência do sólido geométrico como introduzia no construtivismo brasileiro uma questão que, no passado, artistas como Naum Gabo e Antoine Pevsner tentaram propor, a do compartilhamento desse “vazio” como gerador de novas formas.
Amilcar de Castro ficou conhecido por suas esculturas de grandes dimensões em que o procedimento de criação das chapas de metal, chamado de “corte e dobra”, não admitia outra execução além de um único gesto, como se Amilcar estivesse desenhando no espaço. Foi uma lição que Amilcar aprendeu com mestre Weissmann, que, no entanto, assimilou a descontinuidade do gesto, admitindo que suas peças fossem soldadas ou aparafusadas. E mais: que incorporassem a cor como elemento estrutural. “As maquetes, nesse sentido, ajudam a entender o desenvolvimento da obra dele”, observa o marchand Flávio Cohn.
Da década de 1980 em diante, por exemplo, a cor passa a ter uma presença cada vez mais forte da escultura de Weissmann, renovando seu vocabulário formal – há maquetes de diferentes cores na exposição em São Paulo, que mostram a tentativa do escultor de ampliar, e até transcender, a herança construtiva, ao observar (e transformar) o árido espaço público das metrópoles em que essas obras seriam instaladas – caso, por exemplo, do Portal (1991-92) feito para o Centro Empresarial Itaú, no Jabaquara, uma estrutura de planos coloridos com 15 metros de altura que remete ao histórico cubo vazado de Franz Weissmann.