Grupo de artistas se reúne e faz exposição que é ode à amizade


Mostra propõe atmosfera intimista ao revelar poesia das coisas e arte do encontro

Por Matheus Lopes Quirino

Os óleos de Helena Carvalhosa são os primeiros trabalhos que a vista alcança na exposição 'Sempre às Quartas'. Aos 85 anos,sua pintura retrata a vida íntima das coisas. Os objetos ordinários revelam graça e placidez, como um vaso de plantas que repousa sobre um aparador. “Eu observo muito minhas telas, a beleza da pintura também está na contemplação”, conta Carvalhosa ao Estadão, durante um passeio pela mostra. A calmaria que os tons proporcionam ao observador parte de uma escolha cromática equilibrada,de pinceladas grossas que expõem as cores saturadas de objetos sólidos,familiares. Remete ao aconchego da casa, e mais: ao interior dos próprios objetos, como se a história não terminasse ali enquanto o tempo passa. As coisas, mais que seus próprios donos, ficam. Como diria o escritor Victor Heringer, “as coisas têm alguma memória”. E é desse jogo entre memória e representação que vem o repertório da artista, ligada às artes visuais desde criança, tendo passado por escolas como a Brasil e, mais tarde, a Faap.

Alguns integrantes do grupo 'Às Quartas': Soraya Dias, Helena Carvalhosa, Suzana Barboza e Edu Silva Foto: Alex Silva/Estadão

No entanto, Helena Carvalhosa prescinde de escolas artísticas. A experimentação fala mais alto. Em outras exposições, ela fez séries com objetos, fotografias e instalações, entre eles um enorme coração de papel machê.

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As paisagens de interior de Helena Carvalhosa têm uma atmosfera morandiana Foto: Alex Silva/Estadão

Ao observar suas peças intimistas, é possível associá-las às naturezas-mortas criadas pelo pintor italiano Giorgio Morandi (1890-1964), que registrou a beleza do mundo em meio a cataclismas e carnavais. “Em relação a Morandi, eu acho meu trabalho mais informal”, observa. Do grupo, o mais novo, Edu Silva, 45, mostra uma série de figuras que compõem o Autorretrato 40, em que questiona a mestiçagem a partir de um grupo de pequenos retângulos encorpados em papelão ondulado marrom. Seu autorretrato é brutal, até mesmo porque papelão e gesso são materiais rústicos de construção. Na composição da obra, Silva trabalha com esmero as camadas entre o polímero, papel e a tinta, como se as cicatrizes que brotam desse conjunto contassem a história do nosso racismo estrutural.

O trabalho de Edu Silva fala sobre as camadas do racismo estrutural, tão presente no Brasil Foto: Alex Silva/Estadão
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Quem também volta às dores centenárias é o médico Sergio Spalter, criador de personagens sinistros, que não entraram na exposição. “Chamou-me a atenção a maneira como ele trabalha com as cores nas paisagens”, conta o curador Sérgio Sister, que escolheu a veia paisagística de Spalter, os contrastes entre escuros que soam perturbadores na paisagem costeira, como se as tempestades à beira-mar definissem um estado de espírito soturno como suas figuras que evocam o Leste Europeu.

As paisagens de Sérgio Spalter trazem um jogo de escuros Foto: Alex Silva/Estadão

A dor é ressignificada nas obras de Roberta Mestieri, que vive hoje em Berlim, de onde conversou com a reportagem por vídeo chamada. São pinturas de rasgos e feras, em tons de rosa e azul. “Cada um do grupo segue um caminho, é interessante ver como cada poética leva a um lugar diferente”, analisa Sister.

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Roberta Mestieri atravessou um mundo em ruídos para atingir a paz Foto: Alex Silva/Estadão

A paz, no entanto, mesmo nos trabalhos mais agitados, é o produto final, como se vê na série de canecas esmaltadas de Soraya Dias, fruto de uma lição de casa: “Dissolver o visível, materializar o visível”. A provocação parece acompanhar as composições morandianas que podem ser vistas também em Carvalhosa; o uso generoso da cor é um legado do pintor Paulo Pasta, professor da trupe, que começou os encontros na Lanchonete da Cidade.

A série feita por Soraya Dias partiu de um exercício do professor, Paulo Pasta Foto:
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Sexta exposição do grupo Às Quartas, a primeira com curadoria de Sérgio Sister, é uma ode à amizade. A união dos trabalhos é um experimento interessante, pois, por incrível que pareça, as figuras zoomórficas de Luciana Saad se avizinham amistosamente das paisagens mutantes de Ana Francisca, que guardam o legado metafísico do italiano De Chirico (1888-1978).

Ana Francisca propõe interação com o espectador por suas obras através de um jogo com acrílico Foto: Alex Silva/Estadão

A sensação de entrar em uma sala de aula com alunos espoletas remete às fortes emoções do passado, quando, em tese havia mais janelas para se contemplar o mundo exterior. Isto é, sem a demanda e pressão que o mundo virtual parece exercer para reter as atenções, onde vale tudo para satisfazer as audiências. 

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Luciana Saad ambienta figuras zoomóficas e fantásticas em suas paisagens Foto: Alex Silva/Estadão

“O mundo sempre foi frenético, difícil, a diferença é que hoje há mais solicitação”, compara Helena, enquanto conversa com Suzana Barboza, que expõe uma série de pinturas inspiradas em limões, seguindo o repertório de Volpi (1896-1988) e Cézanne (1839-1906). São poéticas e visões dissonantes, mas o que une o grupo é mesmo o prazer da pintura. 

Da observação de alguns limões, Suzana Barboza trabalhou, também, geometria Foto: Alex Silva/Estadão
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Quando: Até23/07  Sob agendamento  Galeria Estação  Rua Ferreira Araújo, 625 - Pinheiros

Os óleos de Helena Carvalhosa são os primeiros trabalhos que a vista alcança na exposição 'Sempre às Quartas'. Aos 85 anos,sua pintura retrata a vida íntima das coisas. Os objetos ordinários revelam graça e placidez, como um vaso de plantas que repousa sobre um aparador. “Eu observo muito minhas telas, a beleza da pintura também está na contemplação”, conta Carvalhosa ao Estadão, durante um passeio pela mostra. A calmaria que os tons proporcionam ao observador parte de uma escolha cromática equilibrada,de pinceladas grossas que expõem as cores saturadas de objetos sólidos,familiares. Remete ao aconchego da casa, e mais: ao interior dos próprios objetos, como se a história não terminasse ali enquanto o tempo passa. As coisas, mais que seus próprios donos, ficam. Como diria o escritor Victor Heringer, “as coisas têm alguma memória”. E é desse jogo entre memória e representação que vem o repertório da artista, ligada às artes visuais desde criança, tendo passado por escolas como a Brasil e, mais tarde, a Faap.

Alguns integrantes do grupo 'Às Quartas': Soraya Dias, Helena Carvalhosa, Suzana Barboza e Edu Silva Foto: Alex Silva/Estadão

No entanto, Helena Carvalhosa prescinde de escolas artísticas. A experimentação fala mais alto. Em outras exposições, ela fez séries com objetos, fotografias e instalações, entre eles um enorme coração de papel machê.

As paisagens de interior de Helena Carvalhosa têm uma atmosfera morandiana Foto: Alex Silva/Estadão

Ao observar suas peças intimistas, é possível associá-las às naturezas-mortas criadas pelo pintor italiano Giorgio Morandi (1890-1964), que registrou a beleza do mundo em meio a cataclismas e carnavais. “Em relação a Morandi, eu acho meu trabalho mais informal”, observa. Do grupo, o mais novo, Edu Silva, 45, mostra uma série de figuras que compõem o Autorretrato 40, em que questiona a mestiçagem a partir de um grupo de pequenos retângulos encorpados em papelão ondulado marrom. Seu autorretrato é brutal, até mesmo porque papelão e gesso são materiais rústicos de construção. Na composição da obra, Silva trabalha com esmero as camadas entre o polímero, papel e a tinta, como se as cicatrizes que brotam desse conjunto contassem a história do nosso racismo estrutural.

O trabalho de Edu Silva fala sobre as camadas do racismo estrutural, tão presente no Brasil Foto: Alex Silva/Estadão

Quem também volta às dores centenárias é o médico Sergio Spalter, criador de personagens sinistros, que não entraram na exposição. “Chamou-me a atenção a maneira como ele trabalha com as cores nas paisagens”, conta o curador Sérgio Sister, que escolheu a veia paisagística de Spalter, os contrastes entre escuros que soam perturbadores na paisagem costeira, como se as tempestades à beira-mar definissem um estado de espírito soturno como suas figuras que evocam o Leste Europeu.

As paisagens de Sérgio Spalter trazem um jogo de escuros Foto: Alex Silva/Estadão

A dor é ressignificada nas obras de Roberta Mestieri, que vive hoje em Berlim, de onde conversou com a reportagem por vídeo chamada. São pinturas de rasgos e feras, em tons de rosa e azul. “Cada um do grupo segue um caminho, é interessante ver como cada poética leva a um lugar diferente”, analisa Sister.

Roberta Mestieri atravessou um mundo em ruídos para atingir a paz Foto: Alex Silva/Estadão

A paz, no entanto, mesmo nos trabalhos mais agitados, é o produto final, como se vê na série de canecas esmaltadas de Soraya Dias, fruto de uma lição de casa: “Dissolver o visível, materializar o visível”. A provocação parece acompanhar as composições morandianas que podem ser vistas também em Carvalhosa; o uso generoso da cor é um legado do pintor Paulo Pasta, professor da trupe, que começou os encontros na Lanchonete da Cidade.

A série feita por Soraya Dias partiu de um exercício do professor, Paulo Pasta Foto:

Sexta exposição do grupo Às Quartas, a primeira com curadoria de Sérgio Sister, é uma ode à amizade. A união dos trabalhos é um experimento interessante, pois, por incrível que pareça, as figuras zoomórficas de Luciana Saad se avizinham amistosamente das paisagens mutantes de Ana Francisca, que guardam o legado metafísico do italiano De Chirico (1888-1978).

Ana Francisca propõe interação com o espectador por suas obras através de um jogo com acrílico Foto: Alex Silva/Estadão

A sensação de entrar em uma sala de aula com alunos espoletas remete às fortes emoções do passado, quando, em tese havia mais janelas para se contemplar o mundo exterior. Isto é, sem a demanda e pressão que o mundo virtual parece exercer para reter as atenções, onde vale tudo para satisfazer as audiências. 

Luciana Saad ambienta figuras zoomóficas e fantásticas em suas paisagens Foto: Alex Silva/Estadão

“O mundo sempre foi frenético, difícil, a diferença é que hoje há mais solicitação”, compara Helena, enquanto conversa com Suzana Barboza, que expõe uma série de pinturas inspiradas em limões, seguindo o repertório de Volpi (1896-1988) e Cézanne (1839-1906). São poéticas e visões dissonantes, mas o que une o grupo é mesmo o prazer da pintura. 

Da observação de alguns limões, Suzana Barboza trabalhou, também, geometria Foto: Alex Silva/Estadão

Quando: Até23/07  Sob agendamento  Galeria Estação  Rua Ferreira Araújo, 625 - Pinheiros

Os óleos de Helena Carvalhosa são os primeiros trabalhos que a vista alcança na exposição 'Sempre às Quartas'. Aos 85 anos,sua pintura retrata a vida íntima das coisas. Os objetos ordinários revelam graça e placidez, como um vaso de plantas que repousa sobre um aparador. “Eu observo muito minhas telas, a beleza da pintura também está na contemplação”, conta Carvalhosa ao Estadão, durante um passeio pela mostra. A calmaria que os tons proporcionam ao observador parte de uma escolha cromática equilibrada,de pinceladas grossas que expõem as cores saturadas de objetos sólidos,familiares. Remete ao aconchego da casa, e mais: ao interior dos próprios objetos, como se a história não terminasse ali enquanto o tempo passa. As coisas, mais que seus próprios donos, ficam. Como diria o escritor Victor Heringer, “as coisas têm alguma memória”. E é desse jogo entre memória e representação que vem o repertório da artista, ligada às artes visuais desde criança, tendo passado por escolas como a Brasil e, mais tarde, a Faap.

Alguns integrantes do grupo 'Às Quartas': Soraya Dias, Helena Carvalhosa, Suzana Barboza e Edu Silva Foto: Alex Silva/Estadão

No entanto, Helena Carvalhosa prescinde de escolas artísticas. A experimentação fala mais alto. Em outras exposições, ela fez séries com objetos, fotografias e instalações, entre eles um enorme coração de papel machê.

As paisagens de interior de Helena Carvalhosa têm uma atmosfera morandiana Foto: Alex Silva/Estadão

Ao observar suas peças intimistas, é possível associá-las às naturezas-mortas criadas pelo pintor italiano Giorgio Morandi (1890-1964), que registrou a beleza do mundo em meio a cataclismas e carnavais. “Em relação a Morandi, eu acho meu trabalho mais informal”, observa. Do grupo, o mais novo, Edu Silva, 45, mostra uma série de figuras que compõem o Autorretrato 40, em que questiona a mestiçagem a partir de um grupo de pequenos retângulos encorpados em papelão ondulado marrom. Seu autorretrato é brutal, até mesmo porque papelão e gesso são materiais rústicos de construção. Na composição da obra, Silva trabalha com esmero as camadas entre o polímero, papel e a tinta, como se as cicatrizes que brotam desse conjunto contassem a história do nosso racismo estrutural.

O trabalho de Edu Silva fala sobre as camadas do racismo estrutural, tão presente no Brasil Foto: Alex Silva/Estadão

Quem também volta às dores centenárias é o médico Sergio Spalter, criador de personagens sinistros, que não entraram na exposição. “Chamou-me a atenção a maneira como ele trabalha com as cores nas paisagens”, conta o curador Sérgio Sister, que escolheu a veia paisagística de Spalter, os contrastes entre escuros que soam perturbadores na paisagem costeira, como se as tempestades à beira-mar definissem um estado de espírito soturno como suas figuras que evocam o Leste Europeu.

As paisagens de Sérgio Spalter trazem um jogo de escuros Foto: Alex Silva/Estadão

A dor é ressignificada nas obras de Roberta Mestieri, que vive hoje em Berlim, de onde conversou com a reportagem por vídeo chamada. São pinturas de rasgos e feras, em tons de rosa e azul. “Cada um do grupo segue um caminho, é interessante ver como cada poética leva a um lugar diferente”, analisa Sister.

Roberta Mestieri atravessou um mundo em ruídos para atingir a paz Foto: Alex Silva/Estadão

A paz, no entanto, mesmo nos trabalhos mais agitados, é o produto final, como se vê na série de canecas esmaltadas de Soraya Dias, fruto de uma lição de casa: “Dissolver o visível, materializar o visível”. A provocação parece acompanhar as composições morandianas que podem ser vistas também em Carvalhosa; o uso generoso da cor é um legado do pintor Paulo Pasta, professor da trupe, que começou os encontros na Lanchonete da Cidade.

A série feita por Soraya Dias partiu de um exercício do professor, Paulo Pasta Foto:

Sexta exposição do grupo Às Quartas, a primeira com curadoria de Sérgio Sister, é uma ode à amizade. A união dos trabalhos é um experimento interessante, pois, por incrível que pareça, as figuras zoomórficas de Luciana Saad se avizinham amistosamente das paisagens mutantes de Ana Francisca, que guardam o legado metafísico do italiano De Chirico (1888-1978).

Ana Francisca propõe interação com o espectador por suas obras através de um jogo com acrílico Foto: Alex Silva/Estadão

A sensação de entrar em uma sala de aula com alunos espoletas remete às fortes emoções do passado, quando, em tese havia mais janelas para se contemplar o mundo exterior. Isto é, sem a demanda e pressão que o mundo virtual parece exercer para reter as atenções, onde vale tudo para satisfazer as audiências. 

Luciana Saad ambienta figuras zoomóficas e fantásticas em suas paisagens Foto: Alex Silva/Estadão

“O mundo sempre foi frenético, difícil, a diferença é que hoje há mais solicitação”, compara Helena, enquanto conversa com Suzana Barboza, que expõe uma série de pinturas inspiradas em limões, seguindo o repertório de Volpi (1896-1988) e Cézanne (1839-1906). São poéticas e visões dissonantes, mas o que une o grupo é mesmo o prazer da pintura. 

Da observação de alguns limões, Suzana Barboza trabalhou, também, geometria Foto: Alex Silva/Estadão

Quando: Até23/07  Sob agendamento  Galeria Estação  Rua Ferreira Araújo, 625 - Pinheiros

Os óleos de Helena Carvalhosa são os primeiros trabalhos que a vista alcança na exposição 'Sempre às Quartas'. Aos 85 anos,sua pintura retrata a vida íntima das coisas. Os objetos ordinários revelam graça e placidez, como um vaso de plantas que repousa sobre um aparador. “Eu observo muito minhas telas, a beleza da pintura também está na contemplação”, conta Carvalhosa ao Estadão, durante um passeio pela mostra. A calmaria que os tons proporcionam ao observador parte de uma escolha cromática equilibrada,de pinceladas grossas que expõem as cores saturadas de objetos sólidos,familiares. Remete ao aconchego da casa, e mais: ao interior dos próprios objetos, como se a história não terminasse ali enquanto o tempo passa. As coisas, mais que seus próprios donos, ficam. Como diria o escritor Victor Heringer, “as coisas têm alguma memória”. E é desse jogo entre memória e representação que vem o repertório da artista, ligada às artes visuais desde criança, tendo passado por escolas como a Brasil e, mais tarde, a Faap.

Alguns integrantes do grupo 'Às Quartas': Soraya Dias, Helena Carvalhosa, Suzana Barboza e Edu Silva Foto: Alex Silva/Estadão

No entanto, Helena Carvalhosa prescinde de escolas artísticas. A experimentação fala mais alto. Em outras exposições, ela fez séries com objetos, fotografias e instalações, entre eles um enorme coração de papel machê.

As paisagens de interior de Helena Carvalhosa têm uma atmosfera morandiana Foto: Alex Silva/Estadão

Ao observar suas peças intimistas, é possível associá-las às naturezas-mortas criadas pelo pintor italiano Giorgio Morandi (1890-1964), que registrou a beleza do mundo em meio a cataclismas e carnavais. “Em relação a Morandi, eu acho meu trabalho mais informal”, observa. Do grupo, o mais novo, Edu Silva, 45, mostra uma série de figuras que compõem o Autorretrato 40, em que questiona a mestiçagem a partir de um grupo de pequenos retângulos encorpados em papelão ondulado marrom. Seu autorretrato é brutal, até mesmo porque papelão e gesso são materiais rústicos de construção. Na composição da obra, Silva trabalha com esmero as camadas entre o polímero, papel e a tinta, como se as cicatrizes que brotam desse conjunto contassem a história do nosso racismo estrutural.

O trabalho de Edu Silva fala sobre as camadas do racismo estrutural, tão presente no Brasil Foto: Alex Silva/Estadão

Quem também volta às dores centenárias é o médico Sergio Spalter, criador de personagens sinistros, que não entraram na exposição. “Chamou-me a atenção a maneira como ele trabalha com as cores nas paisagens”, conta o curador Sérgio Sister, que escolheu a veia paisagística de Spalter, os contrastes entre escuros que soam perturbadores na paisagem costeira, como se as tempestades à beira-mar definissem um estado de espírito soturno como suas figuras que evocam o Leste Europeu.

As paisagens de Sérgio Spalter trazem um jogo de escuros Foto: Alex Silva/Estadão

A dor é ressignificada nas obras de Roberta Mestieri, que vive hoje em Berlim, de onde conversou com a reportagem por vídeo chamada. São pinturas de rasgos e feras, em tons de rosa e azul. “Cada um do grupo segue um caminho, é interessante ver como cada poética leva a um lugar diferente”, analisa Sister.

Roberta Mestieri atravessou um mundo em ruídos para atingir a paz Foto: Alex Silva/Estadão

A paz, no entanto, mesmo nos trabalhos mais agitados, é o produto final, como se vê na série de canecas esmaltadas de Soraya Dias, fruto de uma lição de casa: “Dissolver o visível, materializar o visível”. A provocação parece acompanhar as composições morandianas que podem ser vistas também em Carvalhosa; o uso generoso da cor é um legado do pintor Paulo Pasta, professor da trupe, que começou os encontros na Lanchonete da Cidade.

A série feita por Soraya Dias partiu de um exercício do professor, Paulo Pasta Foto:

Sexta exposição do grupo Às Quartas, a primeira com curadoria de Sérgio Sister, é uma ode à amizade. A união dos trabalhos é um experimento interessante, pois, por incrível que pareça, as figuras zoomórficas de Luciana Saad se avizinham amistosamente das paisagens mutantes de Ana Francisca, que guardam o legado metafísico do italiano De Chirico (1888-1978).

Ana Francisca propõe interação com o espectador por suas obras através de um jogo com acrílico Foto: Alex Silva/Estadão

A sensação de entrar em uma sala de aula com alunos espoletas remete às fortes emoções do passado, quando, em tese havia mais janelas para se contemplar o mundo exterior. Isto é, sem a demanda e pressão que o mundo virtual parece exercer para reter as atenções, onde vale tudo para satisfazer as audiências. 

Luciana Saad ambienta figuras zoomóficas e fantásticas em suas paisagens Foto: Alex Silva/Estadão

“O mundo sempre foi frenético, difícil, a diferença é que hoje há mais solicitação”, compara Helena, enquanto conversa com Suzana Barboza, que expõe uma série de pinturas inspiradas em limões, seguindo o repertório de Volpi (1896-1988) e Cézanne (1839-1906). São poéticas e visões dissonantes, mas o que une o grupo é mesmo o prazer da pintura. 

Da observação de alguns limões, Suzana Barboza trabalhou, também, geometria Foto: Alex Silva/Estadão

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