Heinz Mack, do Grupo Zero, ganha mostra em SP


O escultor e pintor alemão expõe 33 obras na Galeria Roesler, em sua primeira individual na cidade, aos 90 anos

Por Antonio Gonçalves Filho

Não é exatamente a primeira vez que o público brasileiro vê obras do pintor e escultor alemão Heinz Mack. Antes da exposição Paragold, sua primeira individual em São Paulo, ele esteve presente em coletivas na Pinacoteca (Grupo Zero, 2013/14) e na própria galeria Nara Roesler (2012), onde sua retrospectiva permanece aberta até dia 30 de outubro. Trata-se de uma mostra importante, e não só porque Mack foi o criador de um grupo histórico de vanguarda, o Zero, fundado por ele e Otto Piene em 1957 – o terceiro integrante, Günther Uecker, juntou-se à dupla em 1961. Otto Piene morreu em 2014, em Berlim. Günther Uecker completou 91 anos em março, um a mais que Mack, que continua ativo e exibe 33 obras de vários períodos na galeria, do Grupo Zero à mais recente produção.

Quando se fala em arte alemã contemporânea, três nomes surgem automaticamente no cenário: Joseph Beuys (1921-1986), Anselm Kiefer e Heinz Mack. Por sua importância histórica, os preços das obras de Mack são altos para os padrões do mercado brasileiro (de 100 mil a 700 mil euros), mas não para o europeu. Há na mostra brasileira alguns trabalhos produzidos na época do Zero e que ainda conservam algo das experiências formais desenvolvidas por Mack e Otto Piene em Düsseldorf, onde ambos estudaram na Academia de Belas Artes.

Cubo de bronze aberto, criação de 2001 de Heinz Mack Foto: Galeria Nara Roesler
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A grande maioria das peças, porém, guarda pouco contato com obras dessa época. Nelas, o ouro domina, mas não como na tradição pictórica europeia (em especial a religiosa, que o usou como signo de individuação para destacar figuras sagradas). Mack usa o ouro como fonte de luz, inspirado no amigo Yves Klein (1928-1962), fundador do ‘nouveau réalisme’ com Restany. Klein patenteou seu azul intenso como ‘Yves Blue’, além de, numa performance, ter atirado ao Sena folhas de ouro pelo pagamento de suas obras “invisíveis”.

'Montanha Dourada', peça que evoca a luz sobre a natureza Foto: Galeria Nara Roesler

Klein morreu com 34 anos, mas Heinz Mack chegou aos 90 (em março) em pleno vigor e com mais cabelos que todos os Beatles juntos. E lúcido. Ao explicar seu apego à imaterialidade ao curador de sua mostra em São Paulo, o historiador de arte francês Matthieu Poirier, Mack evocou o nome de Yves Klein não só por ter sido seu amigo, mas por desenvolver na mesma época (por volta de 1958) pinturas monocromáticas. A 'série negra' de Mack prenunciou, segundo Poirier, os 'outrenoirs' de Soulages (pinturas negras baseadas na reflexão da luz sobre a superfície). Como o alemão sempre foi de gestos radicais, resolveu romper com tudo e começar do zero, deixando no passado uma tradição de 500 anos de pintura europeia para “desmaterializar a matéria”. Foi assim que surgiu o Zero.

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O grupo acabou em 1966, mas as obras em alumínio que estão na mostra são, segundo o curador, “a evolução direta de seus monocromos”. Gravados manualmente com um estilete e uma régua, essas obras têm uma conexão íntima com a arte cinética, embora Mack diga que não vê os trabalhos como relevos metálicos, “mas como uma estrutura vibrante e pulsante feita de luz”. O historiador Dieter Honish, que assina o catálogo completo de suas esculturas, vai e volta na história da arte para traçar relações entre essa busca obsessiva pela luz e as pesquisas cromáticas dos impressionistas e pós-impressionistas. Com uma diferença: Honish diz que Mack não retrata a luz, “mas a força a se revelar”. Em síntese: ele leva a matéria a se transformar em veículo da ação vibratória da luz.

Na volta à pintura, cores basadas na pequisa do poeta Goethe Foto: Galeria Nara Roesler

Essa busca pela luz, como observou Dieter Honish, começou na pintura – para a qual Mack retornaria (há na mostra uma tela de grandes dimensões feita em 2019). Ver Matisse no pós-guerra, em Paris, foi uma epifania. O alemão conta ao curador, num vídeo que pode ser visto na galeria, que os museus franceses eram um oásis numa Europa destruída pela guerra. No entanto, incomodava ao pintor o ilusionismo tridimensional da pintura europeia tradicional – e ele rompeu com ela ao abandonar tanto a perspectiva como a composição quando criou o grupo Zero. “Eu queria transcender, superar a matéria”, justifica o artista.

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O uso do ouro, segundo o curador da mostra, não se fez como opção cromática, mas como “antimatéria”. Mack fala em “aparições”, dando a entender que esse trabalho exige uma chave fenomenológica para melhor ser apreciado. Quanto à pintura, o curador diz que, nos últimos 20 anos, “Mack se dedica a ela sem relevo material”, adotando uma policromia viva, rara em seus trabalhos anteriores. Os mais novos têm algo a ver com os estudos de Goethe sobre o espectro da luz. Não é uma pintura “plana”, de superfície, esclarece o curador Poirier. É uma pintura que aspira à beleza antiga e luta contra a devastação e a falta de luz no mundo – no vídeo com a conversa gravada entre Mack e Poirier, ele cita nominalmente o Brasil e seus crimes ecológicos. Temos muito a aprender com ele.

PARAGOLD. EXPOSIÇÃO HEINZ MACK. GALERIA NARA ROESLER (AV. EUROPA, 655, JARDIM EUROPA, TEL. 2039-5454). 2ª/6ª, 10H/17H30. SÁBADOS, 11H/14H30. GRÁTIS. AGENDAMENTO DE VISITAS PELO SITE DA GALERIA. OBRIGATÓRIO O USO DE MÁSCARA NO INTERIOR DO PRÉDIO. ATÉ 30/10

Não é exatamente a primeira vez que o público brasileiro vê obras do pintor e escultor alemão Heinz Mack. Antes da exposição Paragold, sua primeira individual em São Paulo, ele esteve presente em coletivas na Pinacoteca (Grupo Zero, 2013/14) e na própria galeria Nara Roesler (2012), onde sua retrospectiva permanece aberta até dia 30 de outubro. Trata-se de uma mostra importante, e não só porque Mack foi o criador de um grupo histórico de vanguarda, o Zero, fundado por ele e Otto Piene em 1957 – o terceiro integrante, Günther Uecker, juntou-se à dupla em 1961. Otto Piene morreu em 2014, em Berlim. Günther Uecker completou 91 anos em março, um a mais que Mack, que continua ativo e exibe 33 obras de vários períodos na galeria, do Grupo Zero à mais recente produção.

Quando se fala em arte alemã contemporânea, três nomes surgem automaticamente no cenário: Joseph Beuys (1921-1986), Anselm Kiefer e Heinz Mack. Por sua importância histórica, os preços das obras de Mack são altos para os padrões do mercado brasileiro (de 100 mil a 700 mil euros), mas não para o europeu. Há na mostra brasileira alguns trabalhos produzidos na época do Zero e que ainda conservam algo das experiências formais desenvolvidas por Mack e Otto Piene em Düsseldorf, onde ambos estudaram na Academia de Belas Artes.

Cubo de bronze aberto, criação de 2001 de Heinz Mack Foto: Galeria Nara Roesler

A grande maioria das peças, porém, guarda pouco contato com obras dessa época. Nelas, o ouro domina, mas não como na tradição pictórica europeia (em especial a religiosa, que o usou como signo de individuação para destacar figuras sagradas). Mack usa o ouro como fonte de luz, inspirado no amigo Yves Klein (1928-1962), fundador do ‘nouveau réalisme’ com Restany. Klein patenteou seu azul intenso como ‘Yves Blue’, além de, numa performance, ter atirado ao Sena folhas de ouro pelo pagamento de suas obras “invisíveis”.

'Montanha Dourada', peça que evoca a luz sobre a natureza Foto: Galeria Nara Roesler

Klein morreu com 34 anos, mas Heinz Mack chegou aos 90 (em março) em pleno vigor e com mais cabelos que todos os Beatles juntos. E lúcido. Ao explicar seu apego à imaterialidade ao curador de sua mostra em São Paulo, o historiador de arte francês Matthieu Poirier, Mack evocou o nome de Yves Klein não só por ter sido seu amigo, mas por desenvolver na mesma época (por volta de 1958) pinturas monocromáticas. A 'série negra' de Mack prenunciou, segundo Poirier, os 'outrenoirs' de Soulages (pinturas negras baseadas na reflexão da luz sobre a superfície). Como o alemão sempre foi de gestos radicais, resolveu romper com tudo e começar do zero, deixando no passado uma tradição de 500 anos de pintura europeia para “desmaterializar a matéria”. Foi assim que surgiu o Zero.

O grupo acabou em 1966, mas as obras em alumínio que estão na mostra são, segundo o curador, “a evolução direta de seus monocromos”. Gravados manualmente com um estilete e uma régua, essas obras têm uma conexão íntima com a arte cinética, embora Mack diga que não vê os trabalhos como relevos metálicos, “mas como uma estrutura vibrante e pulsante feita de luz”. O historiador Dieter Honish, que assina o catálogo completo de suas esculturas, vai e volta na história da arte para traçar relações entre essa busca obsessiva pela luz e as pesquisas cromáticas dos impressionistas e pós-impressionistas. Com uma diferença: Honish diz que Mack não retrata a luz, “mas a força a se revelar”. Em síntese: ele leva a matéria a se transformar em veículo da ação vibratória da luz.

Na volta à pintura, cores basadas na pequisa do poeta Goethe Foto: Galeria Nara Roesler

Essa busca pela luz, como observou Dieter Honish, começou na pintura – para a qual Mack retornaria (há na mostra uma tela de grandes dimensões feita em 2019). Ver Matisse no pós-guerra, em Paris, foi uma epifania. O alemão conta ao curador, num vídeo que pode ser visto na galeria, que os museus franceses eram um oásis numa Europa destruída pela guerra. No entanto, incomodava ao pintor o ilusionismo tridimensional da pintura europeia tradicional – e ele rompeu com ela ao abandonar tanto a perspectiva como a composição quando criou o grupo Zero. “Eu queria transcender, superar a matéria”, justifica o artista.

O uso do ouro, segundo o curador da mostra, não se fez como opção cromática, mas como “antimatéria”. Mack fala em “aparições”, dando a entender que esse trabalho exige uma chave fenomenológica para melhor ser apreciado. Quanto à pintura, o curador diz que, nos últimos 20 anos, “Mack se dedica a ela sem relevo material”, adotando uma policromia viva, rara em seus trabalhos anteriores. Os mais novos têm algo a ver com os estudos de Goethe sobre o espectro da luz. Não é uma pintura “plana”, de superfície, esclarece o curador Poirier. É uma pintura que aspira à beleza antiga e luta contra a devastação e a falta de luz no mundo – no vídeo com a conversa gravada entre Mack e Poirier, ele cita nominalmente o Brasil e seus crimes ecológicos. Temos muito a aprender com ele.

PARAGOLD. EXPOSIÇÃO HEINZ MACK. GALERIA NARA ROESLER (AV. EUROPA, 655, JARDIM EUROPA, TEL. 2039-5454). 2ª/6ª, 10H/17H30. SÁBADOS, 11H/14H30. GRÁTIS. AGENDAMENTO DE VISITAS PELO SITE DA GALERIA. OBRIGATÓRIO O USO DE MÁSCARA NO INTERIOR DO PRÉDIO. ATÉ 30/10

Não é exatamente a primeira vez que o público brasileiro vê obras do pintor e escultor alemão Heinz Mack. Antes da exposição Paragold, sua primeira individual em São Paulo, ele esteve presente em coletivas na Pinacoteca (Grupo Zero, 2013/14) e na própria galeria Nara Roesler (2012), onde sua retrospectiva permanece aberta até dia 30 de outubro. Trata-se de uma mostra importante, e não só porque Mack foi o criador de um grupo histórico de vanguarda, o Zero, fundado por ele e Otto Piene em 1957 – o terceiro integrante, Günther Uecker, juntou-se à dupla em 1961. Otto Piene morreu em 2014, em Berlim. Günther Uecker completou 91 anos em março, um a mais que Mack, que continua ativo e exibe 33 obras de vários períodos na galeria, do Grupo Zero à mais recente produção.

Quando se fala em arte alemã contemporânea, três nomes surgem automaticamente no cenário: Joseph Beuys (1921-1986), Anselm Kiefer e Heinz Mack. Por sua importância histórica, os preços das obras de Mack são altos para os padrões do mercado brasileiro (de 100 mil a 700 mil euros), mas não para o europeu. Há na mostra brasileira alguns trabalhos produzidos na época do Zero e que ainda conservam algo das experiências formais desenvolvidas por Mack e Otto Piene em Düsseldorf, onde ambos estudaram na Academia de Belas Artes.

Cubo de bronze aberto, criação de 2001 de Heinz Mack Foto: Galeria Nara Roesler

A grande maioria das peças, porém, guarda pouco contato com obras dessa época. Nelas, o ouro domina, mas não como na tradição pictórica europeia (em especial a religiosa, que o usou como signo de individuação para destacar figuras sagradas). Mack usa o ouro como fonte de luz, inspirado no amigo Yves Klein (1928-1962), fundador do ‘nouveau réalisme’ com Restany. Klein patenteou seu azul intenso como ‘Yves Blue’, além de, numa performance, ter atirado ao Sena folhas de ouro pelo pagamento de suas obras “invisíveis”.

'Montanha Dourada', peça que evoca a luz sobre a natureza Foto: Galeria Nara Roesler

Klein morreu com 34 anos, mas Heinz Mack chegou aos 90 (em março) em pleno vigor e com mais cabelos que todos os Beatles juntos. E lúcido. Ao explicar seu apego à imaterialidade ao curador de sua mostra em São Paulo, o historiador de arte francês Matthieu Poirier, Mack evocou o nome de Yves Klein não só por ter sido seu amigo, mas por desenvolver na mesma época (por volta de 1958) pinturas monocromáticas. A 'série negra' de Mack prenunciou, segundo Poirier, os 'outrenoirs' de Soulages (pinturas negras baseadas na reflexão da luz sobre a superfície). Como o alemão sempre foi de gestos radicais, resolveu romper com tudo e começar do zero, deixando no passado uma tradição de 500 anos de pintura europeia para “desmaterializar a matéria”. Foi assim que surgiu o Zero.

O grupo acabou em 1966, mas as obras em alumínio que estão na mostra são, segundo o curador, “a evolução direta de seus monocromos”. Gravados manualmente com um estilete e uma régua, essas obras têm uma conexão íntima com a arte cinética, embora Mack diga que não vê os trabalhos como relevos metálicos, “mas como uma estrutura vibrante e pulsante feita de luz”. O historiador Dieter Honish, que assina o catálogo completo de suas esculturas, vai e volta na história da arte para traçar relações entre essa busca obsessiva pela luz e as pesquisas cromáticas dos impressionistas e pós-impressionistas. Com uma diferença: Honish diz que Mack não retrata a luz, “mas a força a se revelar”. Em síntese: ele leva a matéria a se transformar em veículo da ação vibratória da luz.

Na volta à pintura, cores basadas na pequisa do poeta Goethe Foto: Galeria Nara Roesler

Essa busca pela luz, como observou Dieter Honish, começou na pintura – para a qual Mack retornaria (há na mostra uma tela de grandes dimensões feita em 2019). Ver Matisse no pós-guerra, em Paris, foi uma epifania. O alemão conta ao curador, num vídeo que pode ser visto na galeria, que os museus franceses eram um oásis numa Europa destruída pela guerra. No entanto, incomodava ao pintor o ilusionismo tridimensional da pintura europeia tradicional – e ele rompeu com ela ao abandonar tanto a perspectiva como a composição quando criou o grupo Zero. “Eu queria transcender, superar a matéria”, justifica o artista.

O uso do ouro, segundo o curador da mostra, não se fez como opção cromática, mas como “antimatéria”. Mack fala em “aparições”, dando a entender que esse trabalho exige uma chave fenomenológica para melhor ser apreciado. Quanto à pintura, o curador diz que, nos últimos 20 anos, “Mack se dedica a ela sem relevo material”, adotando uma policromia viva, rara em seus trabalhos anteriores. Os mais novos têm algo a ver com os estudos de Goethe sobre o espectro da luz. Não é uma pintura “plana”, de superfície, esclarece o curador Poirier. É uma pintura que aspira à beleza antiga e luta contra a devastação e a falta de luz no mundo – no vídeo com a conversa gravada entre Mack e Poirier, ele cita nominalmente o Brasil e seus crimes ecológicos. Temos muito a aprender com ele.

PARAGOLD. EXPOSIÇÃO HEINZ MACK. GALERIA NARA ROESLER (AV. EUROPA, 655, JARDIM EUROPA, TEL. 2039-5454). 2ª/6ª, 10H/17H30. SÁBADOS, 11H/14H30. GRÁTIS. AGENDAMENTO DE VISITAS PELO SITE DA GALERIA. OBRIGATÓRIO O USO DE MÁSCARA NO INTERIOR DO PRÉDIO. ATÉ 30/10

Não é exatamente a primeira vez que o público brasileiro vê obras do pintor e escultor alemão Heinz Mack. Antes da exposição Paragold, sua primeira individual em São Paulo, ele esteve presente em coletivas na Pinacoteca (Grupo Zero, 2013/14) e na própria galeria Nara Roesler (2012), onde sua retrospectiva permanece aberta até dia 30 de outubro. Trata-se de uma mostra importante, e não só porque Mack foi o criador de um grupo histórico de vanguarda, o Zero, fundado por ele e Otto Piene em 1957 – o terceiro integrante, Günther Uecker, juntou-se à dupla em 1961. Otto Piene morreu em 2014, em Berlim. Günther Uecker completou 91 anos em março, um a mais que Mack, que continua ativo e exibe 33 obras de vários períodos na galeria, do Grupo Zero à mais recente produção.

Quando se fala em arte alemã contemporânea, três nomes surgem automaticamente no cenário: Joseph Beuys (1921-1986), Anselm Kiefer e Heinz Mack. Por sua importância histórica, os preços das obras de Mack são altos para os padrões do mercado brasileiro (de 100 mil a 700 mil euros), mas não para o europeu. Há na mostra brasileira alguns trabalhos produzidos na época do Zero e que ainda conservam algo das experiências formais desenvolvidas por Mack e Otto Piene em Düsseldorf, onde ambos estudaram na Academia de Belas Artes.

Cubo de bronze aberto, criação de 2001 de Heinz Mack Foto: Galeria Nara Roesler

A grande maioria das peças, porém, guarda pouco contato com obras dessa época. Nelas, o ouro domina, mas não como na tradição pictórica europeia (em especial a religiosa, que o usou como signo de individuação para destacar figuras sagradas). Mack usa o ouro como fonte de luz, inspirado no amigo Yves Klein (1928-1962), fundador do ‘nouveau réalisme’ com Restany. Klein patenteou seu azul intenso como ‘Yves Blue’, além de, numa performance, ter atirado ao Sena folhas de ouro pelo pagamento de suas obras “invisíveis”.

'Montanha Dourada', peça que evoca a luz sobre a natureza Foto: Galeria Nara Roesler

Klein morreu com 34 anos, mas Heinz Mack chegou aos 90 (em março) em pleno vigor e com mais cabelos que todos os Beatles juntos. E lúcido. Ao explicar seu apego à imaterialidade ao curador de sua mostra em São Paulo, o historiador de arte francês Matthieu Poirier, Mack evocou o nome de Yves Klein não só por ter sido seu amigo, mas por desenvolver na mesma época (por volta de 1958) pinturas monocromáticas. A 'série negra' de Mack prenunciou, segundo Poirier, os 'outrenoirs' de Soulages (pinturas negras baseadas na reflexão da luz sobre a superfície). Como o alemão sempre foi de gestos radicais, resolveu romper com tudo e começar do zero, deixando no passado uma tradição de 500 anos de pintura europeia para “desmaterializar a matéria”. Foi assim que surgiu o Zero.

O grupo acabou em 1966, mas as obras em alumínio que estão na mostra são, segundo o curador, “a evolução direta de seus monocromos”. Gravados manualmente com um estilete e uma régua, essas obras têm uma conexão íntima com a arte cinética, embora Mack diga que não vê os trabalhos como relevos metálicos, “mas como uma estrutura vibrante e pulsante feita de luz”. O historiador Dieter Honish, que assina o catálogo completo de suas esculturas, vai e volta na história da arte para traçar relações entre essa busca obsessiva pela luz e as pesquisas cromáticas dos impressionistas e pós-impressionistas. Com uma diferença: Honish diz que Mack não retrata a luz, “mas a força a se revelar”. Em síntese: ele leva a matéria a se transformar em veículo da ação vibratória da luz.

Na volta à pintura, cores basadas na pequisa do poeta Goethe Foto: Galeria Nara Roesler

Essa busca pela luz, como observou Dieter Honish, começou na pintura – para a qual Mack retornaria (há na mostra uma tela de grandes dimensões feita em 2019). Ver Matisse no pós-guerra, em Paris, foi uma epifania. O alemão conta ao curador, num vídeo que pode ser visto na galeria, que os museus franceses eram um oásis numa Europa destruída pela guerra. No entanto, incomodava ao pintor o ilusionismo tridimensional da pintura europeia tradicional – e ele rompeu com ela ao abandonar tanto a perspectiva como a composição quando criou o grupo Zero. “Eu queria transcender, superar a matéria”, justifica o artista.

O uso do ouro, segundo o curador da mostra, não se fez como opção cromática, mas como “antimatéria”. Mack fala em “aparições”, dando a entender que esse trabalho exige uma chave fenomenológica para melhor ser apreciado. Quanto à pintura, o curador diz que, nos últimos 20 anos, “Mack se dedica a ela sem relevo material”, adotando uma policromia viva, rara em seus trabalhos anteriores. Os mais novos têm algo a ver com os estudos de Goethe sobre o espectro da luz. Não é uma pintura “plana”, de superfície, esclarece o curador Poirier. É uma pintura que aspira à beleza antiga e luta contra a devastação e a falta de luz no mundo – no vídeo com a conversa gravada entre Mack e Poirier, ele cita nominalmente o Brasil e seus crimes ecológicos. Temos muito a aprender com ele.

PARAGOLD. EXPOSIÇÃO HEINZ MACK. GALERIA NARA ROESLER (AV. EUROPA, 655, JARDIM EUROPA, TEL. 2039-5454). 2ª/6ª, 10H/17H30. SÁBADOS, 11H/14H30. GRÁTIS. AGENDAMENTO DE VISITAS PELO SITE DA GALERIA. OBRIGATÓRIO O USO DE MÁSCARA NO INTERIOR DO PRÉDIO. ATÉ 30/10

Não é exatamente a primeira vez que o público brasileiro vê obras do pintor e escultor alemão Heinz Mack. Antes da exposição Paragold, sua primeira individual em São Paulo, ele esteve presente em coletivas na Pinacoteca (Grupo Zero, 2013/14) e na própria galeria Nara Roesler (2012), onde sua retrospectiva permanece aberta até dia 30 de outubro. Trata-se de uma mostra importante, e não só porque Mack foi o criador de um grupo histórico de vanguarda, o Zero, fundado por ele e Otto Piene em 1957 – o terceiro integrante, Günther Uecker, juntou-se à dupla em 1961. Otto Piene morreu em 2014, em Berlim. Günther Uecker completou 91 anos em março, um a mais que Mack, que continua ativo e exibe 33 obras de vários períodos na galeria, do Grupo Zero à mais recente produção.

Quando se fala em arte alemã contemporânea, três nomes surgem automaticamente no cenário: Joseph Beuys (1921-1986), Anselm Kiefer e Heinz Mack. Por sua importância histórica, os preços das obras de Mack são altos para os padrões do mercado brasileiro (de 100 mil a 700 mil euros), mas não para o europeu. Há na mostra brasileira alguns trabalhos produzidos na época do Zero e que ainda conservam algo das experiências formais desenvolvidas por Mack e Otto Piene em Düsseldorf, onde ambos estudaram na Academia de Belas Artes.

Cubo de bronze aberto, criação de 2001 de Heinz Mack Foto: Galeria Nara Roesler

A grande maioria das peças, porém, guarda pouco contato com obras dessa época. Nelas, o ouro domina, mas não como na tradição pictórica europeia (em especial a religiosa, que o usou como signo de individuação para destacar figuras sagradas). Mack usa o ouro como fonte de luz, inspirado no amigo Yves Klein (1928-1962), fundador do ‘nouveau réalisme’ com Restany. Klein patenteou seu azul intenso como ‘Yves Blue’, além de, numa performance, ter atirado ao Sena folhas de ouro pelo pagamento de suas obras “invisíveis”.

'Montanha Dourada', peça que evoca a luz sobre a natureza Foto: Galeria Nara Roesler

Klein morreu com 34 anos, mas Heinz Mack chegou aos 90 (em março) em pleno vigor e com mais cabelos que todos os Beatles juntos. E lúcido. Ao explicar seu apego à imaterialidade ao curador de sua mostra em São Paulo, o historiador de arte francês Matthieu Poirier, Mack evocou o nome de Yves Klein não só por ter sido seu amigo, mas por desenvolver na mesma época (por volta de 1958) pinturas monocromáticas. A 'série negra' de Mack prenunciou, segundo Poirier, os 'outrenoirs' de Soulages (pinturas negras baseadas na reflexão da luz sobre a superfície). Como o alemão sempre foi de gestos radicais, resolveu romper com tudo e começar do zero, deixando no passado uma tradição de 500 anos de pintura europeia para “desmaterializar a matéria”. Foi assim que surgiu o Zero.

O grupo acabou em 1966, mas as obras em alumínio que estão na mostra são, segundo o curador, “a evolução direta de seus monocromos”. Gravados manualmente com um estilete e uma régua, essas obras têm uma conexão íntima com a arte cinética, embora Mack diga que não vê os trabalhos como relevos metálicos, “mas como uma estrutura vibrante e pulsante feita de luz”. O historiador Dieter Honish, que assina o catálogo completo de suas esculturas, vai e volta na história da arte para traçar relações entre essa busca obsessiva pela luz e as pesquisas cromáticas dos impressionistas e pós-impressionistas. Com uma diferença: Honish diz que Mack não retrata a luz, “mas a força a se revelar”. Em síntese: ele leva a matéria a se transformar em veículo da ação vibratória da luz.

Na volta à pintura, cores basadas na pequisa do poeta Goethe Foto: Galeria Nara Roesler

Essa busca pela luz, como observou Dieter Honish, começou na pintura – para a qual Mack retornaria (há na mostra uma tela de grandes dimensões feita em 2019). Ver Matisse no pós-guerra, em Paris, foi uma epifania. O alemão conta ao curador, num vídeo que pode ser visto na galeria, que os museus franceses eram um oásis numa Europa destruída pela guerra. No entanto, incomodava ao pintor o ilusionismo tridimensional da pintura europeia tradicional – e ele rompeu com ela ao abandonar tanto a perspectiva como a composição quando criou o grupo Zero. “Eu queria transcender, superar a matéria”, justifica o artista.

O uso do ouro, segundo o curador da mostra, não se fez como opção cromática, mas como “antimatéria”. Mack fala em “aparições”, dando a entender que esse trabalho exige uma chave fenomenológica para melhor ser apreciado. Quanto à pintura, o curador diz que, nos últimos 20 anos, “Mack se dedica a ela sem relevo material”, adotando uma policromia viva, rara em seus trabalhos anteriores. Os mais novos têm algo a ver com os estudos de Goethe sobre o espectro da luz. Não é uma pintura “plana”, de superfície, esclarece o curador Poirier. É uma pintura que aspira à beleza antiga e luta contra a devastação e a falta de luz no mundo – no vídeo com a conversa gravada entre Mack e Poirier, ele cita nominalmente o Brasil e seus crimes ecológicos. Temos muito a aprender com ele.

PARAGOLD. EXPOSIÇÃO HEINZ MACK. GALERIA NARA ROESLER (AV. EUROPA, 655, JARDIM EUROPA, TEL. 2039-5454). 2ª/6ª, 10H/17H30. SÁBADOS, 11H/14H30. GRÁTIS. AGENDAMENTO DE VISITAS PELO SITE DA GALERIA. OBRIGATÓRIO O USO DE MÁSCARA NO INTERIOR DO PRÉDIO. ATÉ 30/10

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