Londres pode rever mostra de arte do Brasil realizada em 1944


História começa agora a ser desencavada pelo chefe cultural da Embaixada Brasileira em Londres, Hayle Gadelha

Por João Villaverde

BRASÍLIA - Em plena Segunda Guerra Mundial (1939-1945), com o sangrento conflito entre os Aliados e os nazi-fascistas na Europa e no Japão, 70 artistas brasileiros se uniram em torno de um projeto ambicioso: realizar a primeira exposição de arte brasileira na Europa. A ideia era disseminar o trabalho feito no Brasil desde a Semana de Arte Moderna, realizada em 1922, e também registrar o apoio dos artistas brasileiros à frente dos Aliados, liderada por Estados Unidos, Inglaterra e a União Soviética. A incrível história que se seguiu à gestação dessa ideia, há muito esquecida, começa agora a ser desencavada pelo chefe cultural da Embaixada Brasileira em Londres, Hayle Gadelha.

O grupo, que era formado por mestres da arte moderna nacional como Cândido Portinari, Lasar Segall, Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral, Iberê Camargo e outros 65 artistas, selecionou 168 telas e buscou o governo brasileiro para viabilizar a exposição. Imediatamente, o ministro de Relações Exteriores, Osvaldo Aranha, abraçou a ideia e iniciou os contatos com o governo britânico. Ao mesmo tempo, o governo Getúlio Vargas decidiu enviar 25 mil soldados brasileiros à Europa, determinando então o afastamento definitivo do Brasil com a Alemanha de Adolf Hitler.

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A missão de Aranha e dos artistas brasileiros não foi fácil. Havia dois grandes problemas para serem superados. Primeiro, a pouca disposição dos ingleses e europeus de modo geral de recepcionar uma exposição de artistas brasileiros, até então pouco conhecidos. Depois, uma questão mais cruel: sob intenso bombardeio nazista desde 1939, a Inglaterra simplesmente não tinha muitos museus e galerias à disposição das obras de artes brasileiras.

Após mais de um ano de negociação, a decisão do governo e dos artistas brasileiros de reverter todos os ganhos com as vendas das obras, que foram doadas, para a Força Aérea Real britânica criou um fato político simbólico que, simplesmente, não pôde ser negados pelos ingleses. “Foi uma jogada de mestre do governo e dos artistas brasileiros, que estavam apostando na internacionalização do Brasil. A jogada possibilitou que a primeira exposição de arte brasileira ocorresse na Europa e em meio à Segunda Guerra Mundial”, disse Gadelha ao Estado.

A exposição brasileira ocorreria na até então relutante Academia Real de Artes, em Londres, em novembro de 1944, antes de iniciar um périplo por outras cinco cidades da Inglaterra. Em Londres, o evento contou inclusive com a presença da rainha Elizabeth, mãe da atual soberana do Reino Unido.

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Pouco receptivos aos brasileiros, os ingleses avaliaram na época que faltava aos artistas nacionais um “aprendizado” com mestres franceses e também ingleses. Como anotou o inglês Sir Sacheverell Sitwell, no catálogo original da exposição, “o sangue estrangeiro que migrou para o Brasil não é de primeira qualidade”, e que o País precisaria “receber um verdadeiro chef d’école de Paris ou Londres”.

Gadelha, que promove profunda pesquisa nos arquivos ingleses e também em documentos oficiais e jornais de época, informou que foram vendidas 70 telas, entre as 168 expostas. Uma peça de Djanira foi arrematada por apenas duas libras (ou quase R$ 350 a preços de hoje) e um Cícero Dias, por 3 libras. 

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Portinari e os encalhes. Sitwell, o crítico inglês, chegou a dizer que os afrescos de Portinari eram “difusos demais para prender a atenção”. Curiosamente, foi uma obra de Portinari que foi vendida pelo maior valor: 180 libras. O comprador foi um jovem diplomata brasileiro chamado Hugo Gouthier, que anos depois seria o responsável pela compra do Palácio Pamphili, atual sede da Embaixada Brasileira em Roma. Gouthier se aventurou e até mesmo escreveu uma carta a Portinari, na qual justificou sua oferta: “Para evitar que qualquer pessoa comprasse seu quadro, deixando-o segregado num quarto de apartamento”. 

Entre os “encalhes” estavam ninguém menos do que Di Cavalcanti e Tarsila do Amaral, que anos mais tarde seriam reverenciados em toda a Europa, mas que em 1944 não conseguiram sensibilizar os ingleses.

Quando a exposição foi encerrada oito meses depois, em julho de 1945, a Alemanha já tinha se rendido após a ocupação de Berlim pelas tropas soviéticas. A guerra na Europa tinha acabado, em maio, mas continuava entre os Estados Unidos e o Japão, que estava prestes a ser atacado com duas bombas nucleares americanas. Os planos de Gadelha hoje, 70 anos depois, são de recriar a exposição original. “Já tenho informações sobre o paradeiro de 50 das 168 obras originais. Quero encontrar todas e negociar uma exposição no mesmo local”, disse ele.

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Até a exposição de arte na Inglaterra, o Brasil era pouco conhecido fora da América Latina, à exceção da arquitetura moderna, que já tinha começado a despertar o interesse de mestres como Le Corbusier. As instalações de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer para o pavilhão brasileiro na Feira Mundial de Nova York, entre 1939 e 1940, causaram alvoroço e lançaram luzes sobre a nova arquitetura que nascia aqui. Em 1939, também, foi inaugurado no Rio o edifício da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), um projeto de vanguarda dos irmãos Roberto. Ao mesmo tempo, estava em construção a sede do Ministério da Educação, também no Rio, que hoje é chamado de Palácio Capanema, num projeto de Costa e Niemeyer. “A arquitetura brasileira já começava a ser reconhecida na Europa, mas os artistas modernos ainda sofriam preconceito”, acrescentou Gadelha.

BRASÍLIA - Em plena Segunda Guerra Mundial (1939-1945), com o sangrento conflito entre os Aliados e os nazi-fascistas na Europa e no Japão, 70 artistas brasileiros se uniram em torno de um projeto ambicioso: realizar a primeira exposição de arte brasileira na Europa. A ideia era disseminar o trabalho feito no Brasil desde a Semana de Arte Moderna, realizada em 1922, e também registrar o apoio dos artistas brasileiros à frente dos Aliados, liderada por Estados Unidos, Inglaterra e a União Soviética. A incrível história que se seguiu à gestação dessa ideia, há muito esquecida, começa agora a ser desencavada pelo chefe cultural da Embaixada Brasileira em Londres, Hayle Gadelha.

O grupo, que era formado por mestres da arte moderna nacional como Cândido Portinari, Lasar Segall, Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral, Iberê Camargo e outros 65 artistas, selecionou 168 telas e buscou o governo brasileiro para viabilizar a exposição. Imediatamente, o ministro de Relações Exteriores, Osvaldo Aranha, abraçou a ideia e iniciou os contatos com o governo britânico. Ao mesmo tempo, o governo Getúlio Vargas decidiu enviar 25 mil soldados brasileiros à Europa, determinando então o afastamento definitivo do Brasil com a Alemanha de Adolf Hitler.

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A missão de Aranha e dos artistas brasileiros não foi fácil. Havia dois grandes problemas para serem superados. Primeiro, a pouca disposição dos ingleses e europeus de modo geral de recepcionar uma exposição de artistas brasileiros, até então pouco conhecidos. Depois, uma questão mais cruel: sob intenso bombardeio nazista desde 1939, a Inglaterra simplesmente não tinha muitos museus e galerias à disposição das obras de artes brasileiras.

Após mais de um ano de negociação, a decisão do governo e dos artistas brasileiros de reverter todos os ganhos com as vendas das obras, que foram doadas, para a Força Aérea Real britânica criou um fato político simbólico que, simplesmente, não pôde ser negados pelos ingleses. “Foi uma jogada de mestre do governo e dos artistas brasileiros, que estavam apostando na internacionalização do Brasil. A jogada possibilitou que a primeira exposição de arte brasileira ocorresse na Europa e em meio à Segunda Guerra Mundial”, disse Gadelha ao Estado.

A exposição brasileira ocorreria na até então relutante Academia Real de Artes, em Londres, em novembro de 1944, antes de iniciar um périplo por outras cinco cidades da Inglaterra. Em Londres, o evento contou inclusive com a presença da rainha Elizabeth, mãe da atual soberana do Reino Unido.

Pouco receptivos aos brasileiros, os ingleses avaliaram na época que faltava aos artistas nacionais um “aprendizado” com mestres franceses e também ingleses. Como anotou o inglês Sir Sacheverell Sitwell, no catálogo original da exposição, “o sangue estrangeiro que migrou para o Brasil não é de primeira qualidade”, e que o País precisaria “receber um verdadeiro chef d’école de Paris ou Londres”.

Gadelha, que promove profunda pesquisa nos arquivos ingleses e também em documentos oficiais e jornais de época, informou que foram vendidas 70 telas, entre as 168 expostas. Uma peça de Djanira foi arrematada por apenas duas libras (ou quase R$ 350 a preços de hoje) e um Cícero Dias, por 3 libras. 

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Portinari e os encalhes. Sitwell, o crítico inglês, chegou a dizer que os afrescos de Portinari eram “difusos demais para prender a atenção”. Curiosamente, foi uma obra de Portinari que foi vendida pelo maior valor: 180 libras. O comprador foi um jovem diplomata brasileiro chamado Hugo Gouthier, que anos depois seria o responsável pela compra do Palácio Pamphili, atual sede da Embaixada Brasileira em Roma. Gouthier se aventurou e até mesmo escreveu uma carta a Portinari, na qual justificou sua oferta: “Para evitar que qualquer pessoa comprasse seu quadro, deixando-o segregado num quarto de apartamento”. 

Entre os “encalhes” estavam ninguém menos do que Di Cavalcanti e Tarsila do Amaral, que anos mais tarde seriam reverenciados em toda a Europa, mas que em 1944 não conseguiram sensibilizar os ingleses.

Quando a exposição foi encerrada oito meses depois, em julho de 1945, a Alemanha já tinha se rendido após a ocupação de Berlim pelas tropas soviéticas. A guerra na Europa tinha acabado, em maio, mas continuava entre os Estados Unidos e o Japão, que estava prestes a ser atacado com duas bombas nucleares americanas. Os planos de Gadelha hoje, 70 anos depois, são de recriar a exposição original. “Já tenho informações sobre o paradeiro de 50 das 168 obras originais. Quero encontrar todas e negociar uma exposição no mesmo local”, disse ele.

Até a exposição de arte na Inglaterra, o Brasil era pouco conhecido fora da América Latina, à exceção da arquitetura moderna, que já tinha começado a despertar o interesse de mestres como Le Corbusier. As instalações de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer para o pavilhão brasileiro na Feira Mundial de Nova York, entre 1939 e 1940, causaram alvoroço e lançaram luzes sobre a nova arquitetura que nascia aqui. Em 1939, também, foi inaugurado no Rio o edifício da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), um projeto de vanguarda dos irmãos Roberto. Ao mesmo tempo, estava em construção a sede do Ministério da Educação, também no Rio, que hoje é chamado de Palácio Capanema, num projeto de Costa e Niemeyer. “A arquitetura brasileira já começava a ser reconhecida na Europa, mas os artistas modernos ainda sofriam preconceito”, acrescentou Gadelha.

BRASÍLIA - Em plena Segunda Guerra Mundial (1939-1945), com o sangrento conflito entre os Aliados e os nazi-fascistas na Europa e no Japão, 70 artistas brasileiros se uniram em torno de um projeto ambicioso: realizar a primeira exposição de arte brasileira na Europa. A ideia era disseminar o trabalho feito no Brasil desde a Semana de Arte Moderna, realizada em 1922, e também registrar o apoio dos artistas brasileiros à frente dos Aliados, liderada por Estados Unidos, Inglaterra e a União Soviética. A incrível história que se seguiu à gestação dessa ideia, há muito esquecida, começa agora a ser desencavada pelo chefe cultural da Embaixada Brasileira em Londres, Hayle Gadelha.

O grupo, que era formado por mestres da arte moderna nacional como Cândido Portinari, Lasar Segall, Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral, Iberê Camargo e outros 65 artistas, selecionou 168 telas e buscou o governo brasileiro para viabilizar a exposição. Imediatamente, o ministro de Relações Exteriores, Osvaldo Aranha, abraçou a ideia e iniciou os contatos com o governo britânico. Ao mesmo tempo, o governo Getúlio Vargas decidiu enviar 25 mil soldados brasileiros à Europa, determinando então o afastamento definitivo do Brasil com a Alemanha de Adolf Hitler.

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A missão de Aranha e dos artistas brasileiros não foi fácil. Havia dois grandes problemas para serem superados. Primeiro, a pouca disposição dos ingleses e europeus de modo geral de recepcionar uma exposição de artistas brasileiros, até então pouco conhecidos. Depois, uma questão mais cruel: sob intenso bombardeio nazista desde 1939, a Inglaterra simplesmente não tinha muitos museus e galerias à disposição das obras de artes brasileiras.

Após mais de um ano de negociação, a decisão do governo e dos artistas brasileiros de reverter todos os ganhos com as vendas das obras, que foram doadas, para a Força Aérea Real britânica criou um fato político simbólico que, simplesmente, não pôde ser negados pelos ingleses. “Foi uma jogada de mestre do governo e dos artistas brasileiros, que estavam apostando na internacionalização do Brasil. A jogada possibilitou que a primeira exposição de arte brasileira ocorresse na Europa e em meio à Segunda Guerra Mundial”, disse Gadelha ao Estado.

A exposição brasileira ocorreria na até então relutante Academia Real de Artes, em Londres, em novembro de 1944, antes de iniciar um périplo por outras cinco cidades da Inglaterra. Em Londres, o evento contou inclusive com a presença da rainha Elizabeth, mãe da atual soberana do Reino Unido.

Pouco receptivos aos brasileiros, os ingleses avaliaram na época que faltava aos artistas nacionais um “aprendizado” com mestres franceses e também ingleses. Como anotou o inglês Sir Sacheverell Sitwell, no catálogo original da exposição, “o sangue estrangeiro que migrou para o Brasil não é de primeira qualidade”, e que o País precisaria “receber um verdadeiro chef d’école de Paris ou Londres”.

Gadelha, que promove profunda pesquisa nos arquivos ingleses e também em documentos oficiais e jornais de época, informou que foram vendidas 70 telas, entre as 168 expostas. Uma peça de Djanira foi arrematada por apenas duas libras (ou quase R$ 350 a preços de hoje) e um Cícero Dias, por 3 libras. 

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Portinari e os encalhes. Sitwell, o crítico inglês, chegou a dizer que os afrescos de Portinari eram “difusos demais para prender a atenção”. Curiosamente, foi uma obra de Portinari que foi vendida pelo maior valor: 180 libras. O comprador foi um jovem diplomata brasileiro chamado Hugo Gouthier, que anos depois seria o responsável pela compra do Palácio Pamphili, atual sede da Embaixada Brasileira em Roma. Gouthier se aventurou e até mesmo escreveu uma carta a Portinari, na qual justificou sua oferta: “Para evitar que qualquer pessoa comprasse seu quadro, deixando-o segregado num quarto de apartamento”. 

Entre os “encalhes” estavam ninguém menos do que Di Cavalcanti e Tarsila do Amaral, que anos mais tarde seriam reverenciados em toda a Europa, mas que em 1944 não conseguiram sensibilizar os ingleses.

Quando a exposição foi encerrada oito meses depois, em julho de 1945, a Alemanha já tinha se rendido após a ocupação de Berlim pelas tropas soviéticas. A guerra na Europa tinha acabado, em maio, mas continuava entre os Estados Unidos e o Japão, que estava prestes a ser atacado com duas bombas nucleares americanas. Os planos de Gadelha hoje, 70 anos depois, são de recriar a exposição original. “Já tenho informações sobre o paradeiro de 50 das 168 obras originais. Quero encontrar todas e negociar uma exposição no mesmo local”, disse ele.

Até a exposição de arte na Inglaterra, o Brasil era pouco conhecido fora da América Latina, à exceção da arquitetura moderna, que já tinha começado a despertar o interesse de mestres como Le Corbusier. As instalações de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer para o pavilhão brasileiro na Feira Mundial de Nova York, entre 1939 e 1940, causaram alvoroço e lançaram luzes sobre a nova arquitetura que nascia aqui. Em 1939, também, foi inaugurado no Rio o edifício da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), um projeto de vanguarda dos irmãos Roberto. Ao mesmo tempo, estava em construção a sede do Ministério da Educação, também no Rio, que hoje é chamado de Palácio Capanema, num projeto de Costa e Niemeyer. “A arquitetura brasileira já começava a ser reconhecida na Europa, mas os artistas modernos ainda sofriam preconceito”, acrescentou Gadelha.

BRASÍLIA - Em plena Segunda Guerra Mundial (1939-1945), com o sangrento conflito entre os Aliados e os nazi-fascistas na Europa e no Japão, 70 artistas brasileiros se uniram em torno de um projeto ambicioso: realizar a primeira exposição de arte brasileira na Europa. A ideia era disseminar o trabalho feito no Brasil desde a Semana de Arte Moderna, realizada em 1922, e também registrar o apoio dos artistas brasileiros à frente dos Aliados, liderada por Estados Unidos, Inglaterra e a União Soviética. A incrível história que se seguiu à gestação dessa ideia, há muito esquecida, começa agora a ser desencavada pelo chefe cultural da Embaixada Brasileira em Londres, Hayle Gadelha.

O grupo, que era formado por mestres da arte moderna nacional como Cândido Portinari, Lasar Segall, Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral, Iberê Camargo e outros 65 artistas, selecionou 168 telas e buscou o governo brasileiro para viabilizar a exposição. Imediatamente, o ministro de Relações Exteriores, Osvaldo Aranha, abraçou a ideia e iniciou os contatos com o governo britânico. Ao mesmo tempo, o governo Getúlio Vargas decidiu enviar 25 mil soldados brasileiros à Europa, determinando então o afastamento definitivo do Brasil com a Alemanha de Adolf Hitler.

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A missão de Aranha e dos artistas brasileiros não foi fácil. Havia dois grandes problemas para serem superados. Primeiro, a pouca disposição dos ingleses e europeus de modo geral de recepcionar uma exposição de artistas brasileiros, até então pouco conhecidos. Depois, uma questão mais cruel: sob intenso bombardeio nazista desde 1939, a Inglaterra simplesmente não tinha muitos museus e galerias à disposição das obras de artes brasileiras.

Após mais de um ano de negociação, a decisão do governo e dos artistas brasileiros de reverter todos os ganhos com as vendas das obras, que foram doadas, para a Força Aérea Real britânica criou um fato político simbólico que, simplesmente, não pôde ser negados pelos ingleses. “Foi uma jogada de mestre do governo e dos artistas brasileiros, que estavam apostando na internacionalização do Brasil. A jogada possibilitou que a primeira exposição de arte brasileira ocorresse na Europa e em meio à Segunda Guerra Mundial”, disse Gadelha ao Estado.

A exposição brasileira ocorreria na até então relutante Academia Real de Artes, em Londres, em novembro de 1944, antes de iniciar um périplo por outras cinco cidades da Inglaterra. Em Londres, o evento contou inclusive com a presença da rainha Elizabeth, mãe da atual soberana do Reino Unido.

Pouco receptivos aos brasileiros, os ingleses avaliaram na época que faltava aos artistas nacionais um “aprendizado” com mestres franceses e também ingleses. Como anotou o inglês Sir Sacheverell Sitwell, no catálogo original da exposição, “o sangue estrangeiro que migrou para o Brasil não é de primeira qualidade”, e que o País precisaria “receber um verdadeiro chef d’école de Paris ou Londres”.

Gadelha, que promove profunda pesquisa nos arquivos ingleses e também em documentos oficiais e jornais de época, informou que foram vendidas 70 telas, entre as 168 expostas. Uma peça de Djanira foi arrematada por apenas duas libras (ou quase R$ 350 a preços de hoje) e um Cícero Dias, por 3 libras. 

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Portinari e os encalhes. Sitwell, o crítico inglês, chegou a dizer que os afrescos de Portinari eram “difusos demais para prender a atenção”. Curiosamente, foi uma obra de Portinari que foi vendida pelo maior valor: 180 libras. O comprador foi um jovem diplomata brasileiro chamado Hugo Gouthier, que anos depois seria o responsável pela compra do Palácio Pamphili, atual sede da Embaixada Brasileira em Roma. Gouthier se aventurou e até mesmo escreveu uma carta a Portinari, na qual justificou sua oferta: “Para evitar que qualquer pessoa comprasse seu quadro, deixando-o segregado num quarto de apartamento”. 

Entre os “encalhes” estavam ninguém menos do que Di Cavalcanti e Tarsila do Amaral, que anos mais tarde seriam reverenciados em toda a Europa, mas que em 1944 não conseguiram sensibilizar os ingleses.

Quando a exposição foi encerrada oito meses depois, em julho de 1945, a Alemanha já tinha se rendido após a ocupação de Berlim pelas tropas soviéticas. A guerra na Europa tinha acabado, em maio, mas continuava entre os Estados Unidos e o Japão, que estava prestes a ser atacado com duas bombas nucleares americanas. Os planos de Gadelha hoje, 70 anos depois, são de recriar a exposição original. “Já tenho informações sobre o paradeiro de 50 das 168 obras originais. Quero encontrar todas e negociar uma exposição no mesmo local”, disse ele.

Até a exposição de arte na Inglaterra, o Brasil era pouco conhecido fora da América Latina, à exceção da arquitetura moderna, que já tinha começado a despertar o interesse de mestres como Le Corbusier. As instalações de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer para o pavilhão brasileiro na Feira Mundial de Nova York, entre 1939 e 1940, causaram alvoroço e lançaram luzes sobre a nova arquitetura que nascia aqui. Em 1939, também, foi inaugurado no Rio o edifício da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), um projeto de vanguarda dos irmãos Roberto. Ao mesmo tempo, estava em construção a sede do Ministério da Educação, também no Rio, que hoje é chamado de Palácio Capanema, num projeto de Costa e Niemeyer. “A arquitetura brasileira já começava a ser reconhecida na Europa, mas os artistas modernos ainda sofriam preconceito”, acrescentou Gadelha.

BRASÍLIA - Em plena Segunda Guerra Mundial (1939-1945), com o sangrento conflito entre os Aliados e os nazi-fascistas na Europa e no Japão, 70 artistas brasileiros se uniram em torno de um projeto ambicioso: realizar a primeira exposição de arte brasileira na Europa. A ideia era disseminar o trabalho feito no Brasil desde a Semana de Arte Moderna, realizada em 1922, e também registrar o apoio dos artistas brasileiros à frente dos Aliados, liderada por Estados Unidos, Inglaterra e a União Soviética. A incrível história que se seguiu à gestação dessa ideia, há muito esquecida, começa agora a ser desencavada pelo chefe cultural da Embaixada Brasileira em Londres, Hayle Gadelha.

O grupo, que era formado por mestres da arte moderna nacional como Cândido Portinari, Lasar Segall, Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral, Iberê Camargo e outros 65 artistas, selecionou 168 telas e buscou o governo brasileiro para viabilizar a exposição. Imediatamente, o ministro de Relações Exteriores, Osvaldo Aranha, abraçou a ideia e iniciou os contatos com o governo britânico. Ao mesmo tempo, o governo Getúlio Vargas decidiu enviar 25 mil soldados brasileiros à Europa, determinando então o afastamento definitivo do Brasil com a Alemanha de Adolf Hitler.

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A missão de Aranha e dos artistas brasileiros não foi fácil. Havia dois grandes problemas para serem superados. Primeiro, a pouca disposição dos ingleses e europeus de modo geral de recepcionar uma exposição de artistas brasileiros, até então pouco conhecidos. Depois, uma questão mais cruel: sob intenso bombardeio nazista desde 1939, a Inglaterra simplesmente não tinha muitos museus e galerias à disposição das obras de artes brasileiras.

Após mais de um ano de negociação, a decisão do governo e dos artistas brasileiros de reverter todos os ganhos com as vendas das obras, que foram doadas, para a Força Aérea Real britânica criou um fato político simbólico que, simplesmente, não pôde ser negados pelos ingleses. “Foi uma jogada de mestre do governo e dos artistas brasileiros, que estavam apostando na internacionalização do Brasil. A jogada possibilitou que a primeira exposição de arte brasileira ocorresse na Europa e em meio à Segunda Guerra Mundial”, disse Gadelha ao Estado.

A exposição brasileira ocorreria na até então relutante Academia Real de Artes, em Londres, em novembro de 1944, antes de iniciar um périplo por outras cinco cidades da Inglaterra. Em Londres, o evento contou inclusive com a presença da rainha Elizabeth, mãe da atual soberana do Reino Unido.

Pouco receptivos aos brasileiros, os ingleses avaliaram na época que faltava aos artistas nacionais um “aprendizado” com mestres franceses e também ingleses. Como anotou o inglês Sir Sacheverell Sitwell, no catálogo original da exposição, “o sangue estrangeiro que migrou para o Brasil não é de primeira qualidade”, e que o País precisaria “receber um verdadeiro chef d’école de Paris ou Londres”.

Gadelha, que promove profunda pesquisa nos arquivos ingleses e também em documentos oficiais e jornais de época, informou que foram vendidas 70 telas, entre as 168 expostas. Uma peça de Djanira foi arrematada por apenas duas libras (ou quase R$ 350 a preços de hoje) e um Cícero Dias, por 3 libras. 

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Portinari e os encalhes. Sitwell, o crítico inglês, chegou a dizer que os afrescos de Portinari eram “difusos demais para prender a atenção”. Curiosamente, foi uma obra de Portinari que foi vendida pelo maior valor: 180 libras. O comprador foi um jovem diplomata brasileiro chamado Hugo Gouthier, que anos depois seria o responsável pela compra do Palácio Pamphili, atual sede da Embaixada Brasileira em Roma. Gouthier se aventurou e até mesmo escreveu uma carta a Portinari, na qual justificou sua oferta: “Para evitar que qualquer pessoa comprasse seu quadro, deixando-o segregado num quarto de apartamento”. 

Entre os “encalhes” estavam ninguém menos do que Di Cavalcanti e Tarsila do Amaral, que anos mais tarde seriam reverenciados em toda a Europa, mas que em 1944 não conseguiram sensibilizar os ingleses.

Quando a exposição foi encerrada oito meses depois, em julho de 1945, a Alemanha já tinha se rendido após a ocupação de Berlim pelas tropas soviéticas. A guerra na Europa tinha acabado, em maio, mas continuava entre os Estados Unidos e o Japão, que estava prestes a ser atacado com duas bombas nucleares americanas. Os planos de Gadelha hoje, 70 anos depois, são de recriar a exposição original. “Já tenho informações sobre o paradeiro de 50 das 168 obras originais. Quero encontrar todas e negociar uma exposição no mesmo local”, disse ele.

Até a exposição de arte na Inglaterra, o Brasil era pouco conhecido fora da América Latina, à exceção da arquitetura moderna, que já tinha começado a despertar o interesse de mestres como Le Corbusier. As instalações de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer para o pavilhão brasileiro na Feira Mundial de Nova York, entre 1939 e 1940, causaram alvoroço e lançaram luzes sobre a nova arquitetura que nascia aqui. Em 1939, também, foi inaugurado no Rio o edifício da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), um projeto de vanguarda dos irmãos Roberto. Ao mesmo tempo, estava em construção a sede do Ministério da Educação, também no Rio, que hoje é chamado de Palácio Capanema, num projeto de Costa e Niemeyer. “A arquitetura brasileira já começava a ser reconhecida na Europa, mas os artistas modernos ainda sofriam preconceito”, acrescentou Gadelha.

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