Se você ainda não entrou no Facebook, ou FB, para os iniciados, sugiro dar uma olhada. Fica na internet. É só dar uma busca no Google. Sofre com um certo preconceito no Brasil, onde é visto, por vezes, como uma versão americana ou americanizada do Orkut, nada mais. Tanto um como ou outro são chamados de sites de relacionamento. Trocam-se mensagens entre amigos e conhecidos virtuais. Os dois são americanos na origem. É que o Orkut chegou primeiro e foi logo dominado por jovens brasileiros. O Orkut é nosso, hoje. O idioma oficial é o português em sua versão digital e pós-futurista (na qual a reforma, digamos, ortográfica foi feita faz tempo e com entusiasmo). Isso é bacana por um lado e merece um estudo, mas teve o efeito inesperado de assustar os gringos, que bateram em retirada, tornando o Orkut, que é do Google, o menos internacional dos sites de relacionamento. Ou assim me parece, ao menos. O Facebook mantém seu caráter mundial. Não enxergo ali fronteiras. Estão lá parentes americanos meus e amigos e colegas do mundo todo, de idades as mais diferentes. Escreve-se em diversos idiomas, com certa predominância do inglês, que faz o papel de língua franca. Obama participa, por exemplo. Minha prima Paula, aquela que é livreira em São Francisco, também. E muitos amigos brasileiros. Tentei convencer o professor Antônio Pedro Tota a se filiar. Mas ele declinou. Sua relação com o mundo virtual é marcada pela desconfiança. Meu pai, que vive na Califórnia e gosta de uma tecnologia nova, entrou no FB, onde descobriu ramos surpreendentes da família Shirts, espalhados pelos Estados Unidos. Os Shirts de hoje descendem de pioneiros mórmons, daqueles que atravessaram a pé os Estados Unidos no século 19, fugindo da perseguição religiosa. Ao que tudo indica, a família, parte dela, ao menos, cultiva ainda a excentricidade como traço predominante. Cada figura! Um deles se apresenta com capacete e óculos de aviador da década de 1920. Deve ter uns 50 anos de idade. Utiliza os recursos eletrônicos do FB para oferecer drinques virtuais exóticos, como o "bomba de saquê", aos parentes, com insistência. Outro discute o Velho Testamento com relatos da sua mais recente pontuação em jogos eletrônicos. Um dos componentes mais divertidos do Facebook são os quizzes, ou testes de personalidade. Existem centenas. Funcionam assim: responde-se a uma série de perguntas sobre atitudes e preferências pessoais e depois se publicam os resultados para seus amigos comentarem (se quiserem). Num desses testes, "com qual celebridade você deveria se casar?", concluiu-se que o par mais indicado no meu caso seria a Angelina Jolie. O resultado me impressionou, confesso. Sempre suspeitei disso. Poderia existir um pouco de ciência nos quizzes do Facebook?, perguntei a mim mesmo. Comecei a pesquisar. Fiz todos os testes que me pareceram relevantes. Se eu fosse uma marca de tênis, seria All Star, ponderou o Facebook, daqueles de cano alto, preto, mais clássico. Até aí, nada mal. Tive muitos All Stars, tenho ainda. O diretor de cinema mais indicado para dirigir um filme sobre minha vida é Woody Allen. Veja bem, não sou eu a dizer isso. É o computador. Apenas respondi, e com franqueza, diga-se, às perguntas. Este resultado me deixou feliz. Significa que a versão em película da minha passagem pela Terra traria belas mulheres e piadas engraçadas. Se eu fosse um personagem do filme Vicky Cristina Barcelona, aliás, do mesmo Woody Allen, seria eu o Javier Bardem, aquele bonitão espanhol, artista plástico e bebedor de vinho, que namora a Penélope Cruz e a Scarlett Johansson. Há destinos piores, convenhamos.