Mostra no IMS traz fotografias de Evandro Teixeira sobre Pablo Neruda e ditaduras no Chile e Brasil


Exposição conta com cerca de 160 imagens que registram tanto a Passeata dos Cem Mil na Cinelândia como da morte e enterro do poeta chileno

Por Simonetta Persichetti

Conhecer a história recente do Brasil significa passar pelo fotojornalismo produzido desde os anos 1960. Significa também - entre os fundamentais fotojornalistas brasileiros - mergulhar nas imagens de Evandro Teixeira, um dos mais influentes fotógrafos do País que, em quase 70 anos de produção de imagens, registrou os maiores eventos brasileiros e internacionais.

Evandro nasceu na pequena cidade de Irajuba, na Bahia, em 1935. Começou sua vida profissional como estagiário no jornal Diário de Notícias, em Salvador, em 1954. Em 1957, mudou-se para o Rio de Janeiro e trabalhou no Diário da Noite até se mudar para o Jornal do Brasil em 1963.

Repressão policial na Candelária durante a missa de sétimo dia do estudante Edson Luís, assassinado durante protesto estudantil no restaurante Calabouço, Rio de Janeiro, no dia 4 de abril de 1968 Foto: Evandro Teixeira / Acervo IMS
continua após a publicidade

Durante 47 anos, foi repórter do importante diário, fundamental na inovação da fotografia e da importância da imagem para as reportagens. Curioso, irreverente e sempre presente, com um olhar preciso, são dele muitas imagens que descrevem anos difíceis da ditadura militar no Brasil. A tomada do Forte de Copacabana, a Passeata dos 100 mil, a perseguição de manifestantes, em todos momentos lá estava Evandro, cirúrgico na sua produção. Suas imagens sempre poéticas, apesar de tratar de temas muitas vezes duros, apresentam com acuidade sua visão precisa - e necessária - da importância do fotojornalismo para a criação de nossa memória histórica.

Passeata dos Cem Mil na Cinelândia, Rio de Janeiro, no dia 26 de junho de 1968 Foto: Evandro Teixeira / Acervo IMS

O Instituto Moreira Salles de São Paulo selecionou 160 fotografias para apresentar na exposição Evandro Teixeira, Chile, 1973, que abre na terça, 21. São imagens tiradas durante o capítulo traumático da história chilena e que dialogam com fotos, também presentes na exposição, que fez durante a ditadura no Brasil.

continua após a publicidade
Caça a um estudante durante a Sexta-feira Sangrenta, série de manifestações contra a ditadura realizadas no centro do Rio e duramente reprimidas pelo regime, Rio de Janeiro, no dia 21 de junho de 1968 Foto: Evandro Teixeira / Acervo IMS

Evandro buscou narrar esse período histórico da América Latina com um olhar crítico que fugia - ou tentava fugir - da censura imposta à imprensa. Ele sempre apontou, em suas imagens, o que estava acontecendo.

Correspondente do Jornal do Brasil, foi enviado para o Chile no dia seguinte ao golpe militar, ocorrido em 11 de setembro de 1973. Retido na fronteira da Argentina com o Chile, só conseguiu cruzá-la no dia 21 de setembro. Com maestria, conseguiu fotografar os presos pelo governo Pinochet, no Estádio Nacional. No livro Evandro Teixeira - Um Certo Olhar, de Silvana Costa Moreira, ele declara: “Os próprios militares nos levavam ao estádio porque queriam mostrar que os presos vinham sendo bem tratados”. Mas ele sabia que não era bem assim. É ainda Silvana Costa que narra: “De palco de partidas de futebol a campo de concentração de presos políticos, o Estádio Nacional de Santiago virou prisão no dia seguinte à tomada de poder”.

continua após a publicidade
Manifestantes presos no Estádio Nacional, Santiago, Chile, em 22 de setembro de 1973 Foto: Evandro Teixeira / Acervo IMS

Entre as imagens produzidas nesse período, o registro mais importante feito pelo fotógrafo, que ele mesmo considera um dos marcos de sua carreira, foi o da morte e enterro do poeta Pablo Neruda. Evandro soube pela esposa de um diplomata que o escritor estava hospitalizado em uma clínica em Santiago.

Corpo do poeta Pablo Neruda é velado por sua viúva Matilde Urrutia, na Clínica Santa Maria, em Santiago, Chile, 24 de setembro de 1973 Foto: Evandro Teixeira / Acervo IMS
continua após a publicidade

Foi até o local, mas não conseguiu registrar o poeta, que havia morrido naquela noite, 23 de setembro. Na manhã seguinte voltou lá, já ciente da sua morte, e conseguiu acesso ao interior do edifício por uma entrada lateral, chegando ao local onde o corpo de Neruda estava, em uma maca no corredor, sendo velado por sua viúva, Matilde Urrutia. Evandro se aproximou, relembrando que tinham um amigo em comum, Jorge Amado.

Matilde permitiu então que Evandro fotografasse o poeta já falecido na clínica. Ele também acompanhou toda a cerimônia do seu funeral e enterro, que contou com grande participação popular e se tornou o primeiro grande ato contra o governo de Pinochet.

Condução do corpo do poeta Pablo Neruda até La Chascona, pelos seus amigos Manoel Solimano, Hernán Loyola e Nemesio Antúnez, arquiteto, pintor e gravurista, e funcionários da funerária, em Santiago, Chile, no dia 24 de setembro de 1973 Foto: Evandro Teixeira / Acervo IMS
continua após a publicidade

Em entrevista para o site do IMS, o fotógrafo relembra o episódio: “Estou lá, rondando o hospital, e de repente abre uma porta lateral, olho, tiro a Leica, sempre deixo preparada para dois metros, o que der, deu. Entro, Neruda está na maca, dona Matilde, sua mulher, sentada com o irmão dela.”

O fotógrafo Evandro Teixeira, cujas imagens estão em exibição no IMS Foto: Andre Arruda

O curador da mostra, Sergio Burgi, comenta a importância dessas imagens: “É uma documentação excepcional e em grande parte ainda inédita, oriunda da obstinação e audácia de um fotojornalista que conseguiu penetrar incógnito no hospital onde se encontrava o corpo do poeta que admirava e conhecera no Brasil”.

continua após a publicidade

Segundo Burgi, grande parte das fotografias que são divulgadas pela imprensa constrói a história do futuro. “Assim, a obra de Evandro Teixeira é expressão plena deste compromisso do fotojornalismo com o testemunho direto da realidade e com a liberdade de expressão e criação, essenciais tanto em nosso passado recente como ainda hoje.”

Conhecer a história recente do Brasil significa passar pelo fotojornalismo produzido desde os anos 1960. Significa também - entre os fundamentais fotojornalistas brasileiros - mergulhar nas imagens de Evandro Teixeira, um dos mais influentes fotógrafos do País que, em quase 70 anos de produção de imagens, registrou os maiores eventos brasileiros e internacionais.

Evandro nasceu na pequena cidade de Irajuba, na Bahia, em 1935. Começou sua vida profissional como estagiário no jornal Diário de Notícias, em Salvador, em 1954. Em 1957, mudou-se para o Rio de Janeiro e trabalhou no Diário da Noite até se mudar para o Jornal do Brasil em 1963.

Repressão policial na Candelária durante a missa de sétimo dia do estudante Edson Luís, assassinado durante protesto estudantil no restaurante Calabouço, Rio de Janeiro, no dia 4 de abril de 1968 Foto: Evandro Teixeira / Acervo IMS

Durante 47 anos, foi repórter do importante diário, fundamental na inovação da fotografia e da importância da imagem para as reportagens. Curioso, irreverente e sempre presente, com um olhar preciso, são dele muitas imagens que descrevem anos difíceis da ditadura militar no Brasil. A tomada do Forte de Copacabana, a Passeata dos 100 mil, a perseguição de manifestantes, em todos momentos lá estava Evandro, cirúrgico na sua produção. Suas imagens sempre poéticas, apesar de tratar de temas muitas vezes duros, apresentam com acuidade sua visão precisa - e necessária - da importância do fotojornalismo para a criação de nossa memória histórica.

Passeata dos Cem Mil na Cinelândia, Rio de Janeiro, no dia 26 de junho de 1968 Foto: Evandro Teixeira / Acervo IMS

O Instituto Moreira Salles de São Paulo selecionou 160 fotografias para apresentar na exposição Evandro Teixeira, Chile, 1973, que abre na terça, 21. São imagens tiradas durante o capítulo traumático da história chilena e que dialogam com fotos, também presentes na exposição, que fez durante a ditadura no Brasil.

Caça a um estudante durante a Sexta-feira Sangrenta, série de manifestações contra a ditadura realizadas no centro do Rio e duramente reprimidas pelo regime, Rio de Janeiro, no dia 21 de junho de 1968 Foto: Evandro Teixeira / Acervo IMS

Evandro buscou narrar esse período histórico da América Latina com um olhar crítico que fugia - ou tentava fugir - da censura imposta à imprensa. Ele sempre apontou, em suas imagens, o que estava acontecendo.

Correspondente do Jornal do Brasil, foi enviado para o Chile no dia seguinte ao golpe militar, ocorrido em 11 de setembro de 1973. Retido na fronteira da Argentina com o Chile, só conseguiu cruzá-la no dia 21 de setembro. Com maestria, conseguiu fotografar os presos pelo governo Pinochet, no Estádio Nacional. No livro Evandro Teixeira - Um Certo Olhar, de Silvana Costa Moreira, ele declara: “Os próprios militares nos levavam ao estádio porque queriam mostrar que os presos vinham sendo bem tratados”. Mas ele sabia que não era bem assim. É ainda Silvana Costa que narra: “De palco de partidas de futebol a campo de concentração de presos políticos, o Estádio Nacional de Santiago virou prisão no dia seguinte à tomada de poder”.

Manifestantes presos no Estádio Nacional, Santiago, Chile, em 22 de setembro de 1973 Foto: Evandro Teixeira / Acervo IMS

Entre as imagens produzidas nesse período, o registro mais importante feito pelo fotógrafo, que ele mesmo considera um dos marcos de sua carreira, foi o da morte e enterro do poeta Pablo Neruda. Evandro soube pela esposa de um diplomata que o escritor estava hospitalizado em uma clínica em Santiago.

Corpo do poeta Pablo Neruda é velado por sua viúva Matilde Urrutia, na Clínica Santa Maria, em Santiago, Chile, 24 de setembro de 1973 Foto: Evandro Teixeira / Acervo IMS

Foi até o local, mas não conseguiu registrar o poeta, que havia morrido naquela noite, 23 de setembro. Na manhã seguinte voltou lá, já ciente da sua morte, e conseguiu acesso ao interior do edifício por uma entrada lateral, chegando ao local onde o corpo de Neruda estava, em uma maca no corredor, sendo velado por sua viúva, Matilde Urrutia. Evandro se aproximou, relembrando que tinham um amigo em comum, Jorge Amado.

Matilde permitiu então que Evandro fotografasse o poeta já falecido na clínica. Ele também acompanhou toda a cerimônia do seu funeral e enterro, que contou com grande participação popular e se tornou o primeiro grande ato contra o governo de Pinochet.

Condução do corpo do poeta Pablo Neruda até La Chascona, pelos seus amigos Manoel Solimano, Hernán Loyola e Nemesio Antúnez, arquiteto, pintor e gravurista, e funcionários da funerária, em Santiago, Chile, no dia 24 de setembro de 1973 Foto: Evandro Teixeira / Acervo IMS

Em entrevista para o site do IMS, o fotógrafo relembra o episódio: “Estou lá, rondando o hospital, e de repente abre uma porta lateral, olho, tiro a Leica, sempre deixo preparada para dois metros, o que der, deu. Entro, Neruda está na maca, dona Matilde, sua mulher, sentada com o irmão dela.”

O fotógrafo Evandro Teixeira, cujas imagens estão em exibição no IMS Foto: Andre Arruda

O curador da mostra, Sergio Burgi, comenta a importância dessas imagens: “É uma documentação excepcional e em grande parte ainda inédita, oriunda da obstinação e audácia de um fotojornalista que conseguiu penetrar incógnito no hospital onde se encontrava o corpo do poeta que admirava e conhecera no Brasil”.

Segundo Burgi, grande parte das fotografias que são divulgadas pela imprensa constrói a história do futuro. “Assim, a obra de Evandro Teixeira é expressão plena deste compromisso do fotojornalismo com o testemunho direto da realidade e com a liberdade de expressão e criação, essenciais tanto em nosso passado recente como ainda hoje.”

Conhecer a história recente do Brasil significa passar pelo fotojornalismo produzido desde os anos 1960. Significa também - entre os fundamentais fotojornalistas brasileiros - mergulhar nas imagens de Evandro Teixeira, um dos mais influentes fotógrafos do País que, em quase 70 anos de produção de imagens, registrou os maiores eventos brasileiros e internacionais.

Evandro nasceu na pequena cidade de Irajuba, na Bahia, em 1935. Começou sua vida profissional como estagiário no jornal Diário de Notícias, em Salvador, em 1954. Em 1957, mudou-se para o Rio de Janeiro e trabalhou no Diário da Noite até se mudar para o Jornal do Brasil em 1963.

Repressão policial na Candelária durante a missa de sétimo dia do estudante Edson Luís, assassinado durante protesto estudantil no restaurante Calabouço, Rio de Janeiro, no dia 4 de abril de 1968 Foto: Evandro Teixeira / Acervo IMS

Durante 47 anos, foi repórter do importante diário, fundamental na inovação da fotografia e da importância da imagem para as reportagens. Curioso, irreverente e sempre presente, com um olhar preciso, são dele muitas imagens que descrevem anos difíceis da ditadura militar no Brasil. A tomada do Forte de Copacabana, a Passeata dos 100 mil, a perseguição de manifestantes, em todos momentos lá estava Evandro, cirúrgico na sua produção. Suas imagens sempre poéticas, apesar de tratar de temas muitas vezes duros, apresentam com acuidade sua visão precisa - e necessária - da importância do fotojornalismo para a criação de nossa memória histórica.

Passeata dos Cem Mil na Cinelândia, Rio de Janeiro, no dia 26 de junho de 1968 Foto: Evandro Teixeira / Acervo IMS

O Instituto Moreira Salles de São Paulo selecionou 160 fotografias para apresentar na exposição Evandro Teixeira, Chile, 1973, que abre na terça, 21. São imagens tiradas durante o capítulo traumático da história chilena e que dialogam com fotos, também presentes na exposição, que fez durante a ditadura no Brasil.

Caça a um estudante durante a Sexta-feira Sangrenta, série de manifestações contra a ditadura realizadas no centro do Rio e duramente reprimidas pelo regime, Rio de Janeiro, no dia 21 de junho de 1968 Foto: Evandro Teixeira / Acervo IMS

Evandro buscou narrar esse período histórico da América Latina com um olhar crítico que fugia - ou tentava fugir - da censura imposta à imprensa. Ele sempre apontou, em suas imagens, o que estava acontecendo.

Correspondente do Jornal do Brasil, foi enviado para o Chile no dia seguinte ao golpe militar, ocorrido em 11 de setembro de 1973. Retido na fronteira da Argentina com o Chile, só conseguiu cruzá-la no dia 21 de setembro. Com maestria, conseguiu fotografar os presos pelo governo Pinochet, no Estádio Nacional. No livro Evandro Teixeira - Um Certo Olhar, de Silvana Costa Moreira, ele declara: “Os próprios militares nos levavam ao estádio porque queriam mostrar que os presos vinham sendo bem tratados”. Mas ele sabia que não era bem assim. É ainda Silvana Costa que narra: “De palco de partidas de futebol a campo de concentração de presos políticos, o Estádio Nacional de Santiago virou prisão no dia seguinte à tomada de poder”.

Manifestantes presos no Estádio Nacional, Santiago, Chile, em 22 de setembro de 1973 Foto: Evandro Teixeira / Acervo IMS

Entre as imagens produzidas nesse período, o registro mais importante feito pelo fotógrafo, que ele mesmo considera um dos marcos de sua carreira, foi o da morte e enterro do poeta Pablo Neruda. Evandro soube pela esposa de um diplomata que o escritor estava hospitalizado em uma clínica em Santiago.

Corpo do poeta Pablo Neruda é velado por sua viúva Matilde Urrutia, na Clínica Santa Maria, em Santiago, Chile, 24 de setembro de 1973 Foto: Evandro Teixeira / Acervo IMS

Foi até o local, mas não conseguiu registrar o poeta, que havia morrido naquela noite, 23 de setembro. Na manhã seguinte voltou lá, já ciente da sua morte, e conseguiu acesso ao interior do edifício por uma entrada lateral, chegando ao local onde o corpo de Neruda estava, em uma maca no corredor, sendo velado por sua viúva, Matilde Urrutia. Evandro se aproximou, relembrando que tinham um amigo em comum, Jorge Amado.

Matilde permitiu então que Evandro fotografasse o poeta já falecido na clínica. Ele também acompanhou toda a cerimônia do seu funeral e enterro, que contou com grande participação popular e se tornou o primeiro grande ato contra o governo de Pinochet.

Condução do corpo do poeta Pablo Neruda até La Chascona, pelos seus amigos Manoel Solimano, Hernán Loyola e Nemesio Antúnez, arquiteto, pintor e gravurista, e funcionários da funerária, em Santiago, Chile, no dia 24 de setembro de 1973 Foto: Evandro Teixeira / Acervo IMS

Em entrevista para o site do IMS, o fotógrafo relembra o episódio: “Estou lá, rondando o hospital, e de repente abre uma porta lateral, olho, tiro a Leica, sempre deixo preparada para dois metros, o que der, deu. Entro, Neruda está na maca, dona Matilde, sua mulher, sentada com o irmão dela.”

O fotógrafo Evandro Teixeira, cujas imagens estão em exibição no IMS Foto: Andre Arruda

O curador da mostra, Sergio Burgi, comenta a importância dessas imagens: “É uma documentação excepcional e em grande parte ainda inédita, oriunda da obstinação e audácia de um fotojornalista que conseguiu penetrar incógnito no hospital onde se encontrava o corpo do poeta que admirava e conhecera no Brasil”.

Segundo Burgi, grande parte das fotografias que são divulgadas pela imprensa constrói a história do futuro. “Assim, a obra de Evandro Teixeira é expressão plena deste compromisso do fotojornalismo com o testemunho direto da realidade e com a liberdade de expressão e criação, essenciais tanto em nosso passado recente como ainda hoje.”

Conhecer a história recente do Brasil significa passar pelo fotojornalismo produzido desde os anos 1960. Significa também - entre os fundamentais fotojornalistas brasileiros - mergulhar nas imagens de Evandro Teixeira, um dos mais influentes fotógrafos do País que, em quase 70 anos de produção de imagens, registrou os maiores eventos brasileiros e internacionais.

Evandro nasceu na pequena cidade de Irajuba, na Bahia, em 1935. Começou sua vida profissional como estagiário no jornal Diário de Notícias, em Salvador, em 1954. Em 1957, mudou-se para o Rio de Janeiro e trabalhou no Diário da Noite até se mudar para o Jornal do Brasil em 1963.

Repressão policial na Candelária durante a missa de sétimo dia do estudante Edson Luís, assassinado durante protesto estudantil no restaurante Calabouço, Rio de Janeiro, no dia 4 de abril de 1968 Foto: Evandro Teixeira / Acervo IMS

Durante 47 anos, foi repórter do importante diário, fundamental na inovação da fotografia e da importância da imagem para as reportagens. Curioso, irreverente e sempre presente, com um olhar preciso, são dele muitas imagens que descrevem anos difíceis da ditadura militar no Brasil. A tomada do Forte de Copacabana, a Passeata dos 100 mil, a perseguição de manifestantes, em todos momentos lá estava Evandro, cirúrgico na sua produção. Suas imagens sempre poéticas, apesar de tratar de temas muitas vezes duros, apresentam com acuidade sua visão precisa - e necessária - da importância do fotojornalismo para a criação de nossa memória histórica.

Passeata dos Cem Mil na Cinelândia, Rio de Janeiro, no dia 26 de junho de 1968 Foto: Evandro Teixeira / Acervo IMS

O Instituto Moreira Salles de São Paulo selecionou 160 fotografias para apresentar na exposição Evandro Teixeira, Chile, 1973, que abre na terça, 21. São imagens tiradas durante o capítulo traumático da história chilena e que dialogam com fotos, também presentes na exposição, que fez durante a ditadura no Brasil.

Caça a um estudante durante a Sexta-feira Sangrenta, série de manifestações contra a ditadura realizadas no centro do Rio e duramente reprimidas pelo regime, Rio de Janeiro, no dia 21 de junho de 1968 Foto: Evandro Teixeira / Acervo IMS

Evandro buscou narrar esse período histórico da América Latina com um olhar crítico que fugia - ou tentava fugir - da censura imposta à imprensa. Ele sempre apontou, em suas imagens, o que estava acontecendo.

Correspondente do Jornal do Brasil, foi enviado para o Chile no dia seguinte ao golpe militar, ocorrido em 11 de setembro de 1973. Retido na fronteira da Argentina com o Chile, só conseguiu cruzá-la no dia 21 de setembro. Com maestria, conseguiu fotografar os presos pelo governo Pinochet, no Estádio Nacional. No livro Evandro Teixeira - Um Certo Olhar, de Silvana Costa Moreira, ele declara: “Os próprios militares nos levavam ao estádio porque queriam mostrar que os presos vinham sendo bem tratados”. Mas ele sabia que não era bem assim. É ainda Silvana Costa que narra: “De palco de partidas de futebol a campo de concentração de presos políticos, o Estádio Nacional de Santiago virou prisão no dia seguinte à tomada de poder”.

Manifestantes presos no Estádio Nacional, Santiago, Chile, em 22 de setembro de 1973 Foto: Evandro Teixeira / Acervo IMS

Entre as imagens produzidas nesse período, o registro mais importante feito pelo fotógrafo, que ele mesmo considera um dos marcos de sua carreira, foi o da morte e enterro do poeta Pablo Neruda. Evandro soube pela esposa de um diplomata que o escritor estava hospitalizado em uma clínica em Santiago.

Corpo do poeta Pablo Neruda é velado por sua viúva Matilde Urrutia, na Clínica Santa Maria, em Santiago, Chile, 24 de setembro de 1973 Foto: Evandro Teixeira / Acervo IMS

Foi até o local, mas não conseguiu registrar o poeta, que havia morrido naquela noite, 23 de setembro. Na manhã seguinte voltou lá, já ciente da sua morte, e conseguiu acesso ao interior do edifício por uma entrada lateral, chegando ao local onde o corpo de Neruda estava, em uma maca no corredor, sendo velado por sua viúva, Matilde Urrutia. Evandro se aproximou, relembrando que tinham um amigo em comum, Jorge Amado.

Matilde permitiu então que Evandro fotografasse o poeta já falecido na clínica. Ele também acompanhou toda a cerimônia do seu funeral e enterro, que contou com grande participação popular e se tornou o primeiro grande ato contra o governo de Pinochet.

Condução do corpo do poeta Pablo Neruda até La Chascona, pelos seus amigos Manoel Solimano, Hernán Loyola e Nemesio Antúnez, arquiteto, pintor e gravurista, e funcionários da funerária, em Santiago, Chile, no dia 24 de setembro de 1973 Foto: Evandro Teixeira / Acervo IMS

Em entrevista para o site do IMS, o fotógrafo relembra o episódio: “Estou lá, rondando o hospital, e de repente abre uma porta lateral, olho, tiro a Leica, sempre deixo preparada para dois metros, o que der, deu. Entro, Neruda está na maca, dona Matilde, sua mulher, sentada com o irmão dela.”

O fotógrafo Evandro Teixeira, cujas imagens estão em exibição no IMS Foto: Andre Arruda

O curador da mostra, Sergio Burgi, comenta a importância dessas imagens: “É uma documentação excepcional e em grande parte ainda inédita, oriunda da obstinação e audácia de um fotojornalista que conseguiu penetrar incógnito no hospital onde se encontrava o corpo do poeta que admirava e conhecera no Brasil”.

Segundo Burgi, grande parte das fotografias que são divulgadas pela imprensa constrói a história do futuro. “Assim, a obra de Evandro Teixeira é expressão plena deste compromisso do fotojornalismo com o testemunho direto da realidade e com a liberdade de expressão e criação, essenciais tanto em nosso passado recente como ainda hoje.”

Conhecer a história recente do Brasil significa passar pelo fotojornalismo produzido desde os anos 1960. Significa também - entre os fundamentais fotojornalistas brasileiros - mergulhar nas imagens de Evandro Teixeira, um dos mais influentes fotógrafos do País que, em quase 70 anos de produção de imagens, registrou os maiores eventos brasileiros e internacionais.

Evandro nasceu na pequena cidade de Irajuba, na Bahia, em 1935. Começou sua vida profissional como estagiário no jornal Diário de Notícias, em Salvador, em 1954. Em 1957, mudou-se para o Rio de Janeiro e trabalhou no Diário da Noite até se mudar para o Jornal do Brasil em 1963.

Repressão policial na Candelária durante a missa de sétimo dia do estudante Edson Luís, assassinado durante protesto estudantil no restaurante Calabouço, Rio de Janeiro, no dia 4 de abril de 1968 Foto: Evandro Teixeira / Acervo IMS

Durante 47 anos, foi repórter do importante diário, fundamental na inovação da fotografia e da importância da imagem para as reportagens. Curioso, irreverente e sempre presente, com um olhar preciso, são dele muitas imagens que descrevem anos difíceis da ditadura militar no Brasil. A tomada do Forte de Copacabana, a Passeata dos 100 mil, a perseguição de manifestantes, em todos momentos lá estava Evandro, cirúrgico na sua produção. Suas imagens sempre poéticas, apesar de tratar de temas muitas vezes duros, apresentam com acuidade sua visão precisa - e necessária - da importância do fotojornalismo para a criação de nossa memória histórica.

Passeata dos Cem Mil na Cinelândia, Rio de Janeiro, no dia 26 de junho de 1968 Foto: Evandro Teixeira / Acervo IMS

O Instituto Moreira Salles de São Paulo selecionou 160 fotografias para apresentar na exposição Evandro Teixeira, Chile, 1973, que abre na terça, 21. São imagens tiradas durante o capítulo traumático da história chilena e que dialogam com fotos, também presentes na exposição, que fez durante a ditadura no Brasil.

Caça a um estudante durante a Sexta-feira Sangrenta, série de manifestações contra a ditadura realizadas no centro do Rio e duramente reprimidas pelo regime, Rio de Janeiro, no dia 21 de junho de 1968 Foto: Evandro Teixeira / Acervo IMS

Evandro buscou narrar esse período histórico da América Latina com um olhar crítico que fugia - ou tentava fugir - da censura imposta à imprensa. Ele sempre apontou, em suas imagens, o que estava acontecendo.

Correspondente do Jornal do Brasil, foi enviado para o Chile no dia seguinte ao golpe militar, ocorrido em 11 de setembro de 1973. Retido na fronteira da Argentina com o Chile, só conseguiu cruzá-la no dia 21 de setembro. Com maestria, conseguiu fotografar os presos pelo governo Pinochet, no Estádio Nacional. No livro Evandro Teixeira - Um Certo Olhar, de Silvana Costa Moreira, ele declara: “Os próprios militares nos levavam ao estádio porque queriam mostrar que os presos vinham sendo bem tratados”. Mas ele sabia que não era bem assim. É ainda Silvana Costa que narra: “De palco de partidas de futebol a campo de concentração de presos políticos, o Estádio Nacional de Santiago virou prisão no dia seguinte à tomada de poder”.

Manifestantes presos no Estádio Nacional, Santiago, Chile, em 22 de setembro de 1973 Foto: Evandro Teixeira / Acervo IMS

Entre as imagens produzidas nesse período, o registro mais importante feito pelo fotógrafo, que ele mesmo considera um dos marcos de sua carreira, foi o da morte e enterro do poeta Pablo Neruda. Evandro soube pela esposa de um diplomata que o escritor estava hospitalizado em uma clínica em Santiago.

Corpo do poeta Pablo Neruda é velado por sua viúva Matilde Urrutia, na Clínica Santa Maria, em Santiago, Chile, 24 de setembro de 1973 Foto: Evandro Teixeira / Acervo IMS

Foi até o local, mas não conseguiu registrar o poeta, que havia morrido naquela noite, 23 de setembro. Na manhã seguinte voltou lá, já ciente da sua morte, e conseguiu acesso ao interior do edifício por uma entrada lateral, chegando ao local onde o corpo de Neruda estava, em uma maca no corredor, sendo velado por sua viúva, Matilde Urrutia. Evandro se aproximou, relembrando que tinham um amigo em comum, Jorge Amado.

Matilde permitiu então que Evandro fotografasse o poeta já falecido na clínica. Ele também acompanhou toda a cerimônia do seu funeral e enterro, que contou com grande participação popular e se tornou o primeiro grande ato contra o governo de Pinochet.

Condução do corpo do poeta Pablo Neruda até La Chascona, pelos seus amigos Manoel Solimano, Hernán Loyola e Nemesio Antúnez, arquiteto, pintor e gravurista, e funcionários da funerária, em Santiago, Chile, no dia 24 de setembro de 1973 Foto: Evandro Teixeira / Acervo IMS

Em entrevista para o site do IMS, o fotógrafo relembra o episódio: “Estou lá, rondando o hospital, e de repente abre uma porta lateral, olho, tiro a Leica, sempre deixo preparada para dois metros, o que der, deu. Entro, Neruda está na maca, dona Matilde, sua mulher, sentada com o irmão dela.”

O fotógrafo Evandro Teixeira, cujas imagens estão em exibição no IMS Foto: Andre Arruda

O curador da mostra, Sergio Burgi, comenta a importância dessas imagens: “É uma documentação excepcional e em grande parte ainda inédita, oriunda da obstinação e audácia de um fotojornalista que conseguiu penetrar incógnito no hospital onde se encontrava o corpo do poeta que admirava e conhecera no Brasil”.

Segundo Burgi, grande parte das fotografias que são divulgadas pela imprensa constrói a história do futuro. “Assim, a obra de Evandro Teixeira é expressão plena deste compromisso do fotojornalismo com o testemunho direto da realidade e com a liberdade de expressão e criação, essenciais tanto em nosso passado recente como ainda hoje.”

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.