Mostra traz 500 obras gráficas de Millôr Fernandes publicadas na imprensa


Instituto Moreira Salles exibe no Rio originais do desenhista, tradutor e escritor morto em 2012

Por Roberta Pennafort

RIO - Em 1999, em entrevista ao Caderno 2, Millôr Fernandes (1923-2012) zombou dos colecionistas e dos fixados no passado: “Acho que ninguém deveria cuidar de coisa alguma e que deveríamos todos esquecer de tudo e começar tudo de novo a cada dia. Eu não sei onde eles guardam tanto papel velho, tanta palavra gravada, tanta fita de testemunhos inúteis. Se tudo desaparecer, não fará a menor diferença na economia do cosmo. (...) Tenho guardado todos os meus originais, os que são feitos com continuidade, como Cruzeiro, Veja, etc. por sorte. Alguém começou a fazer isso pra mim e outros ‘alguéns’ continuaram. Tudo encadernado, ano a ano.”

Era o humorista falando: em sete décadas de atividades, ele mesmo reuniu meticulosamente sua produção impressa, com cópia de segurança, inclusive. O engenho múltiplo de Millôr – jornalista, desenhista, tradutor, escritor, dramaturgo – fez com que sua obra gráfica não passasse à posteridade com o mesmo realce de seus escritos. Mais conhecido do público não iniciado por seus aforismos, ele realizou apenas quatro exposições de desenhos, que ilustraram quase todas as publicações mais importantes do século 20: Cruzeiro, Veja, IstoÉ, Pasquim, Jornal do Brasil, O Dia, Folha de S. Paulo e o Estado.

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Millôr: obra gráfica, exposição que o Instituto Moreira Salles do Rio abre ao público neste domingo, 17, tem esse caráter: apresentar o Millôr homem de imprensa. É a primeira retrospectiva robusta que se concentra em seus desenhos. São 500 originais que os curadores, o cartunista Cássio Loredano, Julia Kovensky, coordenadora de iconografia do IMS, e Paulo Roberto Pires, editor da revista de ensaios do instituto, a Serrote, selecionaram entre os 7.000 que foram cedidos em comodato ao IMS pelo família após o esvaziamento da cobertura de Millôr, em Ipanema.

O ponto de partida da mostra é a “Pif Paf”, página dupla que ele manteve em O Cruzeiro de 1945 a 1963. “Ele escrevia, desenhava e formatava. Foi o grande laboratório”, acredita Loredano, para quem a exposição vai mostrar que o escritor sem estilo, como Millôr se definia, era também um desenhista sem estilo.

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A sala “Millôr por Millôr” concentra os desenhos sobre ele – esse era um de seus assuntos preferidos. Assim como a condição humana, as mulheres, o casamento, a morte. Seus interesses eram abrangentes. Do arquivo pessoal, também sob guarda do IMS, constam pastas com temas como camarões (do crustáceo ao país africano) e calvície (mal do qual sofreu por boa parte da longa vida), além de personalidades. Neste momento de cenário político conturbado, é interessante observar o modo como o jornalista, de “independência incondicional”, se posicionava.

Há piada com generais da ditadura, retratados como pavões, agentes do estado policialesco (“a justiça farda, mas não talha”, diz Igor, “o poodle sentencioso”, diante dos cidadãos acossados pelos cassetetes), os momentos de desespero na economia. Os governos Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva são satirizados da mesma forma: num autorretrato, ele aparece respondendo a repórteres. “Senhor Millôr, queremos uma síntese do governo FHC/Lula” é a pergunta. Cabisbaixo, ele responde: “Posso fazer uma síntese?”

O visitante testemunha um humor mordaz, mas que não tira sangue. “Fiquem tranquilos os poderosos que têm medo de nós: nenhum humorista atira pra matar”, escreveu.

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O escritor, desenhista e tradutorMillôr Fernandes em retrato de 2005 Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO

MILLÔR FERNANDES, ESCRITOR, DESENHISTA, TRADUTOR

“Intelectual do Méier”, nascido Milton Fernandes no bairro do subúrbio carioca em 1923, foi autodidata em todas as suas atividades. Tornou-se, ainda jovem, um nome de destaque no jornalismo brasileiro, tendo começado como “faz-tudo”. Retratou a realidade do País em importantes veículos de imprensa. Publicou mais de 50 livros, fez poemas, peças de teatro e roteiros para cinema. Morreu no Rio, em 2012.

RIO - Em 1999, em entrevista ao Caderno 2, Millôr Fernandes (1923-2012) zombou dos colecionistas e dos fixados no passado: “Acho que ninguém deveria cuidar de coisa alguma e que deveríamos todos esquecer de tudo e começar tudo de novo a cada dia. Eu não sei onde eles guardam tanto papel velho, tanta palavra gravada, tanta fita de testemunhos inúteis. Se tudo desaparecer, não fará a menor diferença na economia do cosmo. (...) Tenho guardado todos os meus originais, os que são feitos com continuidade, como Cruzeiro, Veja, etc. por sorte. Alguém começou a fazer isso pra mim e outros ‘alguéns’ continuaram. Tudo encadernado, ano a ano.”

Era o humorista falando: em sete décadas de atividades, ele mesmo reuniu meticulosamente sua produção impressa, com cópia de segurança, inclusive. O engenho múltiplo de Millôr – jornalista, desenhista, tradutor, escritor, dramaturgo – fez com que sua obra gráfica não passasse à posteridade com o mesmo realce de seus escritos. Mais conhecido do público não iniciado por seus aforismos, ele realizou apenas quatro exposições de desenhos, que ilustraram quase todas as publicações mais importantes do século 20: Cruzeiro, Veja, IstoÉ, Pasquim, Jornal do Brasil, O Dia, Folha de S. Paulo e o Estado.

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Millôr: obra gráfica, exposição que o Instituto Moreira Salles do Rio abre ao público neste domingo, 17, tem esse caráter: apresentar o Millôr homem de imprensa. É a primeira retrospectiva robusta que se concentra em seus desenhos. São 500 originais que os curadores, o cartunista Cássio Loredano, Julia Kovensky, coordenadora de iconografia do IMS, e Paulo Roberto Pires, editor da revista de ensaios do instituto, a Serrote, selecionaram entre os 7.000 que foram cedidos em comodato ao IMS pelo família após o esvaziamento da cobertura de Millôr, em Ipanema.

O ponto de partida da mostra é a “Pif Paf”, página dupla que ele manteve em O Cruzeiro de 1945 a 1963. “Ele escrevia, desenhava e formatava. Foi o grande laboratório”, acredita Loredano, para quem a exposição vai mostrar que o escritor sem estilo, como Millôr se definia, era também um desenhista sem estilo.

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A sala “Millôr por Millôr” concentra os desenhos sobre ele – esse era um de seus assuntos preferidos. Assim como a condição humana, as mulheres, o casamento, a morte. Seus interesses eram abrangentes. Do arquivo pessoal, também sob guarda do IMS, constam pastas com temas como camarões (do crustáceo ao país africano) e calvície (mal do qual sofreu por boa parte da longa vida), além de personalidades. Neste momento de cenário político conturbado, é interessante observar o modo como o jornalista, de “independência incondicional”, se posicionava.

Há piada com generais da ditadura, retratados como pavões, agentes do estado policialesco (“a justiça farda, mas não talha”, diz Igor, “o poodle sentencioso”, diante dos cidadãos acossados pelos cassetetes), os momentos de desespero na economia. Os governos Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva são satirizados da mesma forma: num autorretrato, ele aparece respondendo a repórteres. “Senhor Millôr, queremos uma síntese do governo FHC/Lula” é a pergunta. Cabisbaixo, ele responde: “Posso fazer uma síntese?”

O visitante testemunha um humor mordaz, mas que não tira sangue. “Fiquem tranquilos os poderosos que têm medo de nós: nenhum humorista atira pra matar”, escreveu.

O escritor, desenhista e tradutorMillôr Fernandes em retrato de 2005 Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO

MILLÔR FERNANDES, ESCRITOR, DESENHISTA, TRADUTOR

“Intelectual do Méier”, nascido Milton Fernandes no bairro do subúrbio carioca em 1923, foi autodidata em todas as suas atividades. Tornou-se, ainda jovem, um nome de destaque no jornalismo brasileiro, tendo começado como “faz-tudo”. Retratou a realidade do País em importantes veículos de imprensa. Publicou mais de 50 livros, fez poemas, peças de teatro e roteiros para cinema. Morreu no Rio, em 2012.

RIO - Em 1999, em entrevista ao Caderno 2, Millôr Fernandes (1923-2012) zombou dos colecionistas e dos fixados no passado: “Acho que ninguém deveria cuidar de coisa alguma e que deveríamos todos esquecer de tudo e começar tudo de novo a cada dia. Eu não sei onde eles guardam tanto papel velho, tanta palavra gravada, tanta fita de testemunhos inúteis. Se tudo desaparecer, não fará a menor diferença na economia do cosmo. (...) Tenho guardado todos os meus originais, os que são feitos com continuidade, como Cruzeiro, Veja, etc. por sorte. Alguém começou a fazer isso pra mim e outros ‘alguéns’ continuaram. Tudo encadernado, ano a ano.”

Era o humorista falando: em sete décadas de atividades, ele mesmo reuniu meticulosamente sua produção impressa, com cópia de segurança, inclusive. O engenho múltiplo de Millôr – jornalista, desenhista, tradutor, escritor, dramaturgo – fez com que sua obra gráfica não passasse à posteridade com o mesmo realce de seus escritos. Mais conhecido do público não iniciado por seus aforismos, ele realizou apenas quatro exposições de desenhos, que ilustraram quase todas as publicações mais importantes do século 20: Cruzeiro, Veja, IstoÉ, Pasquim, Jornal do Brasil, O Dia, Folha de S. Paulo e o Estado.

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Millôr: obra gráfica, exposição que o Instituto Moreira Salles do Rio abre ao público neste domingo, 17, tem esse caráter: apresentar o Millôr homem de imprensa. É a primeira retrospectiva robusta que se concentra em seus desenhos. São 500 originais que os curadores, o cartunista Cássio Loredano, Julia Kovensky, coordenadora de iconografia do IMS, e Paulo Roberto Pires, editor da revista de ensaios do instituto, a Serrote, selecionaram entre os 7.000 que foram cedidos em comodato ao IMS pelo família após o esvaziamento da cobertura de Millôr, em Ipanema.

O ponto de partida da mostra é a “Pif Paf”, página dupla que ele manteve em O Cruzeiro de 1945 a 1963. “Ele escrevia, desenhava e formatava. Foi o grande laboratório”, acredita Loredano, para quem a exposição vai mostrar que o escritor sem estilo, como Millôr se definia, era também um desenhista sem estilo.

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A sala “Millôr por Millôr” concentra os desenhos sobre ele – esse era um de seus assuntos preferidos. Assim como a condição humana, as mulheres, o casamento, a morte. Seus interesses eram abrangentes. Do arquivo pessoal, também sob guarda do IMS, constam pastas com temas como camarões (do crustáceo ao país africano) e calvície (mal do qual sofreu por boa parte da longa vida), além de personalidades. Neste momento de cenário político conturbado, é interessante observar o modo como o jornalista, de “independência incondicional”, se posicionava.

Há piada com generais da ditadura, retratados como pavões, agentes do estado policialesco (“a justiça farda, mas não talha”, diz Igor, “o poodle sentencioso”, diante dos cidadãos acossados pelos cassetetes), os momentos de desespero na economia. Os governos Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva são satirizados da mesma forma: num autorretrato, ele aparece respondendo a repórteres. “Senhor Millôr, queremos uma síntese do governo FHC/Lula” é a pergunta. Cabisbaixo, ele responde: “Posso fazer uma síntese?”

O visitante testemunha um humor mordaz, mas que não tira sangue. “Fiquem tranquilos os poderosos que têm medo de nós: nenhum humorista atira pra matar”, escreveu.

O escritor, desenhista e tradutorMillôr Fernandes em retrato de 2005 Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO

MILLÔR FERNANDES, ESCRITOR, DESENHISTA, TRADUTOR

“Intelectual do Méier”, nascido Milton Fernandes no bairro do subúrbio carioca em 1923, foi autodidata em todas as suas atividades. Tornou-se, ainda jovem, um nome de destaque no jornalismo brasileiro, tendo começado como “faz-tudo”. Retratou a realidade do País em importantes veículos de imprensa. Publicou mais de 50 livros, fez poemas, peças de teatro e roteiros para cinema. Morreu no Rio, em 2012.

RIO - Em 1999, em entrevista ao Caderno 2, Millôr Fernandes (1923-2012) zombou dos colecionistas e dos fixados no passado: “Acho que ninguém deveria cuidar de coisa alguma e que deveríamos todos esquecer de tudo e começar tudo de novo a cada dia. Eu não sei onde eles guardam tanto papel velho, tanta palavra gravada, tanta fita de testemunhos inúteis. Se tudo desaparecer, não fará a menor diferença na economia do cosmo. (...) Tenho guardado todos os meus originais, os que são feitos com continuidade, como Cruzeiro, Veja, etc. por sorte. Alguém começou a fazer isso pra mim e outros ‘alguéns’ continuaram. Tudo encadernado, ano a ano.”

Era o humorista falando: em sete décadas de atividades, ele mesmo reuniu meticulosamente sua produção impressa, com cópia de segurança, inclusive. O engenho múltiplo de Millôr – jornalista, desenhista, tradutor, escritor, dramaturgo – fez com que sua obra gráfica não passasse à posteridade com o mesmo realce de seus escritos. Mais conhecido do público não iniciado por seus aforismos, ele realizou apenas quatro exposições de desenhos, que ilustraram quase todas as publicações mais importantes do século 20: Cruzeiro, Veja, IstoÉ, Pasquim, Jornal do Brasil, O Dia, Folha de S. Paulo e o Estado.

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Millôr: obra gráfica, exposição que o Instituto Moreira Salles do Rio abre ao público neste domingo, 17, tem esse caráter: apresentar o Millôr homem de imprensa. É a primeira retrospectiva robusta que se concentra em seus desenhos. São 500 originais que os curadores, o cartunista Cássio Loredano, Julia Kovensky, coordenadora de iconografia do IMS, e Paulo Roberto Pires, editor da revista de ensaios do instituto, a Serrote, selecionaram entre os 7.000 que foram cedidos em comodato ao IMS pelo família após o esvaziamento da cobertura de Millôr, em Ipanema.

O ponto de partida da mostra é a “Pif Paf”, página dupla que ele manteve em O Cruzeiro de 1945 a 1963. “Ele escrevia, desenhava e formatava. Foi o grande laboratório”, acredita Loredano, para quem a exposição vai mostrar que o escritor sem estilo, como Millôr se definia, era também um desenhista sem estilo.

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A sala “Millôr por Millôr” concentra os desenhos sobre ele – esse era um de seus assuntos preferidos. Assim como a condição humana, as mulheres, o casamento, a morte. Seus interesses eram abrangentes. Do arquivo pessoal, também sob guarda do IMS, constam pastas com temas como camarões (do crustáceo ao país africano) e calvície (mal do qual sofreu por boa parte da longa vida), além de personalidades. Neste momento de cenário político conturbado, é interessante observar o modo como o jornalista, de “independência incondicional”, se posicionava.

Há piada com generais da ditadura, retratados como pavões, agentes do estado policialesco (“a justiça farda, mas não talha”, diz Igor, “o poodle sentencioso”, diante dos cidadãos acossados pelos cassetetes), os momentos de desespero na economia. Os governos Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva são satirizados da mesma forma: num autorretrato, ele aparece respondendo a repórteres. “Senhor Millôr, queremos uma síntese do governo FHC/Lula” é a pergunta. Cabisbaixo, ele responde: “Posso fazer uma síntese?”

O visitante testemunha um humor mordaz, mas que não tira sangue. “Fiquem tranquilos os poderosos que têm medo de nós: nenhum humorista atira pra matar”, escreveu.

O escritor, desenhista e tradutorMillôr Fernandes em retrato de 2005 Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO

MILLÔR FERNANDES, ESCRITOR, DESENHISTA, TRADUTOR

“Intelectual do Méier”, nascido Milton Fernandes no bairro do subúrbio carioca em 1923, foi autodidata em todas as suas atividades. Tornou-se, ainda jovem, um nome de destaque no jornalismo brasileiro, tendo começado como “faz-tudo”. Retratou a realidade do País em importantes veículos de imprensa. Publicou mais de 50 livros, fez poemas, peças de teatro e roteiros para cinema. Morreu no Rio, em 2012.

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