Muito tempo depois de sobreviver aos nazistas, eles usam a IA para não deixar o mundo esquecer


Museu da Herança Judaica, em Nova York, implementa novos métodos tecnológicos para preservar a memória das vítimas do Holocausto e garantir que as gerações futuras possam ter uma visão completa do que aconteceu durante a 2ª Guerra Mundial

Por Joseph Berger

NOVA YORK - O Museu da Herança Judaica, no Baixo Manhattan, assim como outras instituições que relembram o Holocausto, há muito tempo conta com a ajuda de sobreviventes para oferecer relatos em primeira mão sobre as crueldades impostas pelos nazistas e os vários caminhos que as pessoas tomaram para resistir.

Mas com a diminuição do número de sobreviventes – quase todos estão na faixa dos 80 ou 90 anos – o museu tem trabalhado para encontrar formas mais eficazes de explicar às gerações futuras como uma sociedade civilizada pode facilmente cair em uma barbárie quase incompreensível e possibilitar um massacre em massa sistemático.

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Prisioneiros do campo de concentração de Auschwitz, na Polônia, em 1945 / Foto: Arquivo  

“O mais importante para mim é o que os netos de seus netos vão saber”, disse Jack Kliger, presidente e CEO do museu, filho de sobreviventes.

Ao se preparar para o que Kliger chama de “um mundo pós-sobreviventes”, o museu poderia simplesmente oferecer vídeos gravados de pessoas contando suas experiências dolorosas. Mas os responsáveis pela instituição temiam que essa abordagem corresse o risco de apresentar um sentido fragmentado e enganoso do que aconteceu; que alguém que, por exemplo, visse o testemunho de um prisioneiro de um campo de concentração pudesse pensar que todos os sobreviventes do Holocausto passaram a Segunda Guerra Mundial em campos de concentração.

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Em vez disso, em um esforço para retratar uma gama mais ampla de experiências e contextos, o museu decidiu usar uma tecnologia equipada para essa tarefa: a inteligência artificial.

Quando a nova instalação alimentada por IA for concluída nos próximos meses, os visitantes poderão fazer perguntas por voz ou texto e um algoritmo encontrará os videoclipes pré-gravados mais relevantes entre os testemunhos de dez sobreviventes selecionados pelo museu.

Se um visitante perguntar: “Como era a vida nos campos de concentração?”, ele poderá assistir a um vídeo de Alice Ginsburg, uma das várias sobreviventes que se voluntariaram para detalhar suas experiências para a posteridade. Quando tinha 13 anos de idade na Checoslováquia, Ginsburg, hoje com 93 anos, foi deportada para Auschwitz-Birkenau com a família e nunca mais viu a mãe e a irmã. Depois de vários meses, ela foi transferida para um campo de trabalhos forçados para produzir munição para a máquina de guerra nazista e sobreviveu a uma “marcha da morte” de 160 quilômetros, vendo companheiros de prisão doentes e desnutridos caírem mortos ao longo do caminho.

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Outros sobreviventes não chegaram a ser mandados para campos de concentração, embora tenham perdido inúmeros parentes e sofrido outras atrocidades. Toby Levy, 90 anos, passou dois anos escondida no celeiro de uma polonesa que era cliente da loja de tecidos de seu pai. Mark Schonwetter, 90 anos, se lembra de quando, ainda criança, morou com a mãe e a irmã dentro de um gueto judeu cercado por arame farpado. Eles viviam com duas porções diárias de sopa rala e pão velho, sem banheiros que funcionassem nem água para se lavarem. Depois de escaparem, eles passaram três anos se escondendo em florestas durante os meses quentes e em montes de feno e armazéns de fazenda nos meses frios.

Uma pergunta como “Você passava fome?” pode gerar respostas sucessivas de vários sobreviventes contando suas dificuldades.

Alice Ginsburg, 93, é entrevistada no Museu da Herança Judaica, em Nova York (Danielle Amy/The New York Times) Foto: Danielle Amy/NYT
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Um dos especialistas que está conduzindo o projeto, Mike Jones, diretor de tecnologias de automação das Bibliotecas da Universidade do Sul da Califórnia (USC), disse que o algoritmo foi ajustado para fazer a correspondência entre determinadas palavras das perguntas – como “risco” e “perigo” – e as respostas mais adequadas. Dado o poder da IA, espera-se que as correspondências melhorem à medida que a máquina “aprender” com acertos e erros anteriores.

Os detalhes da instalação ainda não estão totalmente definidos, mas é provável que ela tenha um monitor de tela grande que exiba as respostas em vídeo e uma tela sensível ao toque para que os visitantes façam perguntas. A esperança, segundo o museu, é que as interações se assemelhem à intimidade e ao envolvimento das conversas de verdade.

A urgência que impulsiona esse esforço é um reflexo do número cada vez menor de sobreviventes, agora estimado em cerca de 245 mil em todo o mundo, com 30 mil deles na área metropolitana de Nova York. Os especialistas também sentem que, em meio ao aumento do antissemitismo, os relatos das testemunhas fornecem a evidência mais convincente do esforço nazista para exterminar os judeus da Europa, o que levou a 6 milhões de mortes, cerca de um terço da população judaica do mundo na época.

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“Quero que minha história sobreviva por muito tempo depois da minha morte”, disse Ginsburg em entrevista na semana passada. “Ainda faço palestras, mas depois de um tempo não conseguirei mais. Quero ensinar às pessoas nos próximos anos porque, depois de um tempo, isso será esquecido, assim como a Inquisição foi esquecida – ninguém mais fala disso. E a perseguição aos judeus é algo contínuo”.

Com o apoio de US$ 300 mil em doações, em grande parte da Myron and Alayne Meilman Family Foundation, o projeto está sendo moldado por especialistas em tecnologia da USC Shoah Foundation, além das bibliotecas da USC. A Shoah Foundation foi criada há trinta anos por Steven Spielberg e coletou depoimentos de mais de 57 mil sobreviventes e outras testemunhas em 75 países, de acordo com seu site. Profissionais da USC também forneceram expertise para quatro museus – em Dallas; Buenos Aires; São Petersburgo, Flórida; e Terre Haute, Indiana – que usam IA para responder a perguntas sobre o Holocausto em um programa chamado Dimensões do Testemunho.

Jones disse que as instalações atuais permitem que os visitantes façam perguntas a apenas um sobrevivente de cada vez. A exposição do Museu da Herança Judaica tem a intenção de permitir que os usuários se envolvam coletivamente com vários sobreviventes respondendo a uma única pergunta.

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Dada a quantidade de negacionistas do Holocausto espalhando desinformação na internet, os criadores tomam cuidado para evitar quaisquer floreios ou invenções. A instalação vai usar somente vídeos de sobreviventes de verdade, não bots gerados por IA, como o de Vincent van Gogh criado para uma exposição no Musée D’Orsay em Paris.

E embora suas respostas possam ser curtas e diretas, todos os sobreviventes tiveram a oportunidade de apresentar toda a gama de horrores que enfrentaram. No caso de Levy, há 114 vídeos de suas respostas a possíveis perguntas.

“Cada um de nós tem uma história diferente”, disse ela. “Cada um de nós é um milagre”.

Este artigo apareceu originalmente no New York Times./ TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

NOVA YORK - O Museu da Herança Judaica, no Baixo Manhattan, assim como outras instituições que relembram o Holocausto, há muito tempo conta com a ajuda de sobreviventes para oferecer relatos em primeira mão sobre as crueldades impostas pelos nazistas e os vários caminhos que as pessoas tomaram para resistir.

Mas com a diminuição do número de sobreviventes – quase todos estão na faixa dos 80 ou 90 anos – o museu tem trabalhado para encontrar formas mais eficazes de explicar às gerações futuras como uma sociedade civilizada pode facilmente cair em uma barbárie quase incompreensível e possibilitar um massacre em massa sistemático.

Prisioneiros do campo de concentração de Auschwitz, na Polônia, em 1945 / Foto: Arquivo  

“O mais importante para mim é o que os netos de seus netos vão saber”, disse Jack Kliger, presidente e CEO do museu, filho de sobreviventes.

Ao se preparar para o que Kliger chama de “um mundo pós-sobreviventes”, o museu poderia simplesmente oferecer vídeos gravados de pessoas contando suas experiências dolorosas. Mas os responsáveis pela instituição temiam que essa abordagem corresse o risco de apresentar um sentido fragmentado e enganoso do que aconteceu; que alguém que, por exemplo, visse o testemunho de um prisioneiro de um campo de concentração pudesse pensar que todos os sobreviventes do Holocausto passaram a Segunda Guerra Mundial em campos de concentração.

Em vez disso, em um esforço para retratar uma gama mais ampla de experiências e contextos, o museu decidiu usar uma tecnologia equipada para essa tarefa: a inteligência artificial.

Quando a nova instalação alimentada por IA for concluída nos próximos meses, os visitantes poderão fazer perguntas por voz ou texto e um algoritmo encontrará os videoclipes pré-gravados mais relevantes entre os testemunhos de dez sobreviventes selecionados pelo museu.

Se um visitante perguntar: “Como era a vida nos campos de concentração?”, ele poderá assistir a um vídeo de Alice Ginsburg, uma das várias sobreviventes que se voluntariaram para detalhar suas experiências para a posteridade. Quando tinha 13 anos de idade na Checoslováquia, Ginsburg, hoje com 93 anos, foi deportada para Auschwitz-Birkenau com a família e nunca mais viu a mãe e a irmã. Depois de vários meses, ela foi transferida para um campo de trabalhos forçados para produzir munição para a máquina de guerra nazista e sobreviveu a uma “marcha da morte” de 160 quilômetros, vendo companheiros de prisão doentes e desnutridos caírem mortos ao longo do caminho.

Outros sobreviventes não chegaram a ser mandados para campos de concentração, embora tenham perdido inúmeros parentes e sofrido outras atrocidades. Toby Levy, 90 anos, passou dois anos escondida no celeiro de uma polonesa que era cliente da loja de tecidos de seu pai. Mark Schonwetter, 90 anos, se lembra de quando, ainda criança, morou com a mãe e a irmã dentro de um gueto judeu cercado por arame farpado. Eles viviam com duas porções diárias de sopa rala e pão velho, sem banheiros que funcionassem nem água para se lavarem. Depois de escaparem, eles passaram três anos se escondendo em florestas durante os meses quentes e em montes de feno e armazéns de fazenda nos meses frios.

Uma pergunta como “Você passava fome?” pode gerar respostas sucessivas de vários sobreviventes contando suas dificuldades.

Alice Ginsburg, 93, é entrevistada no Museu da Herança Judaica, em Nova York (Danielle Amy/The New York Times) Foto: Danielle Amy/NYT

Um dos especialistas que está conduzindo o projeto, Mike Jones, diretor de tecnologias de automação das Bibliotecas da Universidade do Sul da Califórnia (USC), disse que o algoritmo foi ajustado para fazer a correspondência entre determinadas palavras das perguntas – como “risco” e “perigo” – e as respostas mais adequadas. Dado o poder da IA, espera-se que as correspondências melhorem à medida que a máquina “aprender” com acertos e erros anteriores.

Os detalhes da instalação ainda não estão totalmente definidos, mas é provável que ela tenha um monitor de tela grande que exiba as respostas em vídeo e uma tela sensível ao toque para que os visitantes façam perguntas. A esperança, segundo o museu, é que as interações se assemelhem à intimidade e ao envolvimento das conversas de verdade.

A urgência que impulsiona esse esforço é um reflexo do número cada vez menor de sobreviventes, agora estimado em cerca de 245 mil em todo o mundo, com 30 mil deles na área metropolitana de Nova York. Os especialistas também sentem que, em meio ao aumento do antissemitismo, os relatos das testemunhas fornecem a evidência mais convincente do esforço nazista para exterminar os judeus da Europa, o que levou a 6 milhões de mortes, cerca de um terço da população judaica do mundo na época.

“Quero que minha história sobreviva por muito tempo depois da minha morte”, disse Ginsburg em entrevista na semana passada. “Ainda faço palestras, mas depois de um tempo não conseguirei mais. Quero ensinar às pessoas nos próximos anos porque, depois de um tempo, isso será esquecido, assim como a Inquisição foi esquecida – ninguém mais fala disso. E a perseguição aos judeus é algo contínuo”.

Com o apoio de US$ 300 mil em doações, em grande parte da Myron and Alayne Meilman Family Foundation, o projeto está sendo moldado por especialistas em tecnologia da USC Shoah Foundation, além das bibliotecas da USC. A Shoah Foundation foi criada há trinta anos por Steven Spielberg e coletou depoimentos de mais de 57 mil sobreviventes e outras testemunhas em 75 países, de acordo com seu site. Profissionais da USC também forneceram expertise para quatro museus – em Dallas; Buenos Aires; São Petersburgo, Flórida; e Terre Haute, Indiana – que usam IA para responder a perguntas sobre o Holocausto em um programa chamado Dimensões do Testemunho.

Jones disse que as instalações atuais permitem que os visitantes façam perguntas a apenas um sobrevivente de cada vez. A exposição do Museu da Herança Judaica tem a intenção de permitir que os usuários se envolvam coletivamente com vários sobreviventes respondendo a uma única pergunta.

Dada a quantidade de negacionistas do Holocausto espalhando desinformação na internet, os criadores tomam cuidado para evitar quaisquer floreios ou invenções. A instalação vai usar somente vídeos de sobreviventes de verdade, não bots gerados por IA, como o de Vincent van Gogh criado para uma exposição no Musée D’Orsay em Paris.

E embora suas respostas possam ser curtas e diretas, todos os sobreviventes tiveram a oportunidade de apresentar toda a gama de horrores que enfrentaram. No caso de Levy, há 114 vídeos de suas respostas a possíveis perguntas.

“Cada um de nós tem uma história diferente”, disse ela. “Cada um de nós é um milagre”.

Este artigo apareceu originalmente no New York Times./ TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

NOVA YORK - O Museu da Herança Judaica, no Baixo Manhattan, assim como outras instituições que relembram o Holocausto, há muito tempo conta com a ajuda de sobreviventes para oferecer relatos em primeira mão sobre as crueldades impostas pelos nazistas e os vários caminhos que as pessoas tomaram para resistir.

Mas com a diminuição do número de sobreviventes – quase todos estão na faixa dos 80 ou 90 anos – o museu tem trabalhado para encontrar formas mais eficazes de explicar às gerações futuras como uma sociedade civilizada pode facilmente cair em uma barbárie quase incompreensível e possibilitar um massacre em massa sistemático.

Prisioneiros do campo de concentração de Auschwitz, na Polônia, em 1945 / Foto: Arquivo  

“O mais importante para mim é o que os netos de seus netos vão saber”, disse Jack Kliger, presidente e CEO do museu, filho de sobreviventes.

Ao se preparar para o que Kliger chama de “um mundo pós-sobreviventes”, o museu poderia simplesmente oferecer vídeos gravados de pessoas contando suas experiências dolorosas. Mas os responsáveis pela instituição temiam que essa abordagem corresse o risco de apresentar um sentido fragmentado e enganoso do que aconteceu; que alguém que, por exemplo, visse o testemunho de um prisioneiro de um campo de concentração pudesse pensar que todos os sobreviventes do Holocausto passaram a Segunda Guerra Mundial em campos de concentração.

Em vez disso, em um esforço para retratar uma gama mais ampla de experiências e contextos, o museu decidiu usar uma tecnologia equipada para essa tarefa: a inteligência artificial.

Quando a nova instalação alimentada por IA for concluída nos próximos meses, os visitantes poderão fazer perguntas por voz ou texto e um algoritmo encontrará os videoclipes pré-gravados mais relevantes entre os testemunhos de dez sobreviventes selecionados pelo museu.

Se um visitante perguntar: “Como era a vida nos campos de concentração?”, ele poderá assistir a um vídeo de Alice Ginsburg, uma das várias sobreviventes que se voluntariaram para detalhar suas experiências para a posteridade. Quando tinha 13 anos de idade na Checoslováquia, Ginsburg, hoje com 93 anos, foi deportada para Auschwitz-Birkenau com a família e nunca mais viu a mãe e a irmã. Depois de vários meses, ela foi transferida para um campo de trabalhos forçados para produzir munição para a máquina de guerra nazista e sobreviveu a uma “marcha da morte” de 160 quilômetros, vendo companheiros de prisão doentes e desnutridos caírem mortos ao longo do caminho.

Outros sobreviventes não chegaram a ser mandados para campos de concentração, embora tenham perdido inúmeros parentes e sofrido outras atrocidades. Toby Levy, 90 anos, passou dois anos escondida no celeiro de uma polonesa que era cliente da loja de tecidos de seu pai. Mark Schonwetter, 90 anos, se lembra de quando, ainda criança, morou com a mãe e a irmã dentro de um gueto judeu cercado por arame farpado. Eles viviam com duas porções diárias de sopa rala e pão velho, sem banheiros que funcionassem nem água para se lavarem. Depois de escaparem, eles passaram três anos se escondendo em florestas durante os meses quentes e em montes de feno e armazéns de fazenda nos meses frios.

Uma pergunta como “Você passava fome?” pode gerar respostas sucessivas de vários sobreviventes contando suas dificuldades.

Alice Ginsburg, 93, é entrevistada no Museu da Herança Judaica, em Nova York (Danielle Amy/The New York Times) Foto: Danielle Amy/NYT

Um dos especialistas que está conduzindo o projeto, Mike Jones, diretor de tecnologias de automação das Bibliotecas da Universidade do Sul da Califórnia (USC), disse que o algoritmo foi ajustado para fazer a correspondência entre determinadas palavras das perguntas – como “risco” e “perigo” – e as respostas mais adequadas. Dado o poder da IA, espera-se que as correspondências melhorem à medida que a máquina “aprender” com acertos e erros anteriores.

Os detalhes da instalação ainda não estão totalmente definidos, mas é provável que ela tenha um monitor de tela grande que exiba as respostas em vídeo e uma tela sensível ao toque para que os visitantes façam perguntas. A esperança, segundo o museu, é que as interações se assemelhem à intimidade e ao envolvimento das conversas de verdade.

A urgência que impulsiona esse esforço é um reflexo do número cada vez menor de sobreviventes, agora estimado em cerca de 245 mil em todo o mundo, com 30 mil deles na área metropolitana de Nova York. Os especialistas também sentem que, em meio ao aumento do antissemitismo, os relatos das testemunhas fornecem a evidência mais convincente do esforço nazista para exterminar os judeus da Europa, o que levou a 6 milhões de mortes, cerca de um terço da população judaica do mundo na época.

“Quero que minha história sobreviva por muito tempo depois da minha morte”, disse Ginsburg em entrevista na semana passada. “Ainda faço palestras, mas depois de um tempo não conseguirei mais. Quero ensinar às pessoas nos próximos anos porque, depois de um tempo, isso será esquecido, assim como a Inquisição foi esquecida – ninguém mais fala disso. E a perseguição aos judeus é algo contínuo”.

Com o apoio de US$ 300 mil em doações, em grande parte da Myron and Alayne Meilman Family Foundation, o projeto está sendo moldado por especialistas em tecnologia da USC Shoah Foundation, além das bibliotecas da USC. A Shoah Foundation foi criada há trinta anos por Steven Spielberg e coletou depoimentos de mais de 57 mil sobreviventes e outras testemunhas em 75 países, de acordo com seu site. Profissionais da USC também forneceram expertise para quatro museus – em Dallas; Buenos Aires; São Petersburgo, Flórida; e Terre Haute, Indiana – que usam IA para responder a perguntas sobre o Holocausto em um programa chamado Dimensões do Testemunho.

Jones disse que as instalações atuais permitem que os visitantes façam perguntas a apenas um sobrevivente de cada vez. A exposição do Museu da Herança Judaica tem a intenção de permitir que os usuários se envolvam coletivamente com vários sobreviventes respondendo a uma única pergunta.

Dada a quantidade de negacionistas do Holocausto espalhando desinformação na internet, os criadores tomam cuidado para evitar quaisquer floreios ou invenções. A instalação vai usar somente vídeos de sobreviventes de verdade, não bots gerados por IA, como o de Vincent van Gogh criado para uma exposição no Musée D’Orsay em Paris.

E embora suas respostas possam ser curtas e diretas, todos os sobreviventes tiveram a oportunidade de apresentar toda a gama de horrores que enfrentaram. No caso de Levy, há 114 vídeos de suas respostas a possíveis perguntas.

“Cada um de nós tem uma história diferente”, disse ela. “Cada um de nós é um milagre”.

Este artigo apareceu originalmente no New York Times./ TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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