Nicholas Nixon expõe suas fotos dos desvalidos


Fotógrafo americano, conhecido por suas imagens das irmãs Brown, série iniciada em 1975, abre mostra em SP

Por Antonio Gonçalves Filho

Em agosto de 1974, o fotógrafo norte-americano Nicholas Nixon, hoje com 74 anos, fotografou as irmãs Brown pela primeira vez, durante uma reunião familiar. Não gostou do resultado. Em julho de 1975, tentou novamente: ficou satisfeito. Vem repetindo, desde então, o mesmo ritual, registrando a mesma foto com as quatro irmãs – uma delas sua esposa, Beverly Brown (Bebe). 

A partir do dia 22, o público brasileiro terá a oportunidade de conhecer essa e outras séries do fotógrafo na exposição do Instituto Tomie Ohtake organizada pelo curador-chefe de fotografia da Fundação Mapfre, Carlos Gollonet. Além da série das irmãs, ele selecionou autorretratos, uma outra série dedicada a asilos e paisagens. Sobre a mostra, Nixon falou ao Estadão, exprimindo seu orgulho de expor em São Paulo e sua admiração por fotógrafos brasileiros como Cláudia Andujar.

Embora não se considere um fotógrafo político como seu modelo Walker Evans (1903-1975), que retratou a condição dos agricultores norte-americanos durante a Grande Depressão dos anos 1930, também Nixon tem ajudado pessoas em condições desfavoráveis com suas fotos – em 1988, ele realizou uma série chocante da agonia das vítimas que contraíram o vírus da aids, numa época em que o estigma pesava sobre elas, em particular a comunidade gay. Seu olhar se dirigiu igualmente aos velhos e à população negra de baixa renda. Detalhe: todas essas fotos foram feitas com uma câmera de grande formato 8 x 10, que permite uma ampla variação da distância focal e uma nitidez que leva o espectador a ver o objeto fotografado nos mínimos detalhes. Walker Evans usava uma delas.

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Garotos da Taunton Avenue, Hyde Park, em Massachusetts, em 1979 Foto: Coleções Mapfre;/Nicholas Nixon

Foi isso que fez Nixon optar pela histórica 8 x 10. “Vi uma série que Evans fez em 1932 e decidi que esse seria meu caminho, embora não me considere um fotógrafo engajado.” No entanto, assume que seu interesse pelos deserdados, “puramente humanista”, pode, sim, ser considerado um trabalho político – como o dos pacientes com aids. “Nesse sentido, fotógrafos como Cláudia Andujar ou a mexicana Graciela Iturbide foram minhas grandes referências, pois sempre pensei nas culturas latinas como guardiãs de um conhecimento antigo que não chegou à cultura americana e que passa pela humildade e, talvez, por um certo sentido de magia.”

A série das irmãs Brown é um bom exemplo da primeira palavra. O tempo é comprimido e, de repente, a imagem daquele quarteto de mulheres jovens e lindas dá lugar a quatro mulheres maduras que trazem as marcas da idade e do peso existencial. É uma série hipnótica, em que o espectador se vê refletido em Heather, Mimi, Bebe e Laurie Brown, sempre retratadas nessa ordem, da esquerda para a direita. Nixon diz que a ideia foi sua: “A consistência do formato, a ordem e a clareza do propósito representam muito para mim, o que me fez decidir pela mesma posição em todos esses anos”.

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A mulher do fotógrafo, Beverly Brown, ou Bebe, em sua banheira, em 1980 Foto: Coleções Mapfre/Nicholas Nixon

À medida que os anos passaram, as irmãs ficaram mais próximas. A afetividade entre elas parece ter crescido. Pode ter sido uma estratégia do fotógrafo – quanto mais perto uma da outra, maior e melhor seus rostos surgem diante da câmera –, mas o fato é que a velhice comumente aproxima os irmãos, talvez pela dependência mútua e um certo entendimento do mundo. Bebe, a mulher de Nixon, é assistente social e trabalha com pacientes com câncer. Um pouco parecida na juventude com a atriz Liv Ullman, a mulher do cineasta Ingmar Bergman, ela é a que mais marcas de sofrimento traz no rosto. Nixon esteve muito doente há alguns anos e fotografou idosos morrendo em asilos. Ele e Bebe, portanto, sabem o que a proximidade da morte significa.

O grande formato da câmera de Nixon não permite “roubar” um instantâneo, o que significa uma limitação e, ao mesmo tempo, sela um acordo tácito entre fotógrafo e fotografado. Há, enfim, algo de solene nessa câmera. Há quase três anos, em março de 2018, a ausência desse acordo quase provocou um escândalo. Como professor, ele foi acusado de conduta imprópria e teve de deixar o Massachusetts College of Art and Design, onde dava aulas. Um mês depois, o Institute of Contemporary Art de Boston fechou uma exposição sua. O motivo: o jornal Boston Globe publicou que Nixon convidou alunas para posar nuas, acusando o fotógrafo de assédio sexual. “Havia uma discordância sobre meu método de ensino e essa matéria no Boston Globe dizia que eu usava linguagem inadequada durante as aulas e propunha tarefas de cunho sexual, passando para os leitores a ideia de que eu sou uma má pessoa.” Nixon nega as acusações e garante que ele mesmo pediu para que a exposição fosse fechada. “Não queria ficar no meio desse circo midiático”, conclui.

Em agosto de 1974, o fotógrafo norte-americano Nicholas Nixon, hoje com 74 anos, fotografou as irmãs Brown pela primeira vez, durante uma reunião familiar. Não gostou do resultado. Em julho de 1975, tentou novamente: ficou satisfeito. Vem repetindo, desde então, o mesmo ritual, registrando a mesma foto com as quatro irmãs – uma delas sua esposa, Beverly Brown (Bebe). 

A partir do dia 22, o público brasileiro terá a oportunidade de conhecer essa e outras séries do fotógrafo na exposição do Instituto Tomie Ohtake organizada pelo curador-chefe de fotografia da Fundação Mapfre, Carlos Gollonet. Além da série das irmãs, ele selecionou autorretratos, uma outra série dedicada a asilos e paisagens. Sobre a mostra, Nixon falou ao Estadão, exprimindo seu orgulho de expor em São Paulo e sua admiração por fotógrafos brasileiros como Cláudia Andujar.

Embora não se considere um fotógrafo político como seu modelo Walker Evans (1903-1975), que retratou a condição dos agricultores norte-americanos durante a Grande Depressão dos anos 1930, também Nixon tem ajudado pessoas em condições desfavoráveis com suas fotos – em 1988, ele realizou uma série chocante da agonia das vítimas que contraíram o vírus da aids, numa época em que o estigma pesava sobre elas, em particular a comunidade gay. Seu olhar se dirigiu igualmente aos velhos e à população negra de baixa renda. Detalhe: todas essas fotos foram feitas com uma câmera de grande formato 8 x 10, que permite uma ampla variação da distância focal e uma nitidez que leva o espectador a ver o objeto fotografado nos mínimos detalhes. Walker Evans usava uma delas.

Garotos da Taunton Avenue, Hyde Park, em Massachusetts, em 1979 Foto: Coleções Mapfre;/Nicholas Nixon

Foi isso que fez Nixon optar pela histórica 8 x 10. “Vi uma série que Evans fez em 1932 e decidi que esse seria meu caminho, embora não me considere um fotógrafo engajado.” No entanto, assume que seu interesse pelos deserdados, “puramente humanista”, pode, sim, ser considerado um trabalho político – como o dos pacientes com aids. “Nesse sentido, fotógrafos como Cláudia Andujar ou a mexicana Graciela Iturbide foram minhas grandes referências, pois sempre pensei nas culturas latinas como guardiãs de um conhecimento antigo que não chegou à cultura americana e que passa pela humildade e, talvez, por um certo sentido de magia.”

A série das irmãs Brown é um bom exemplo da primeira palavra. O tempo é comprimido e, de repente, a imagem daquele quarteto de mulheres jovens e lindas dá lugar a quatro mulheres maduras que trazem as marcas da idade e do peso existencial. É uma série hipnótica, em que o espectador se vê refletido em Heather, Mimi, Bebe e Laurie Brown, sempre retratadas nessa ordem, da esquerda para a direita. Nixon diz que a ideia foi sua: “A consistência do formato, a ordem e a clareza do propósito representam muito para mim, o que me fez decidir pela mesma posição em todos esses anos”.

A mulher do fotógrafo, Beverly Brown, ou Bebe, em sua banheira, em 1980 Foto: Coleções Mapfre/Nicholas Nixon

À medida que os anos passaram, as irmãs ficaram mais próximas. A afetividade entre elas parece ter crescido. Pode ter sido uma estratégia do fotógrafo – quanto mais perto uma da outra, maior e melhor seus rostos surgem diante da câmera –, mas o fato é que a velhice comumente aproxima os irmãos, talvez pela dependência mútua e um certo entendimento do mundo. Bebe, a mulher de Nixon, é assistente social e trabalha com pacientes com câncer. Um pouco parecida na juventude com a atriz Liv Ullman, a mulher do cineasta Ingmar Bergman, ela é a que mais marcas de sofrimento traz no rosto. Nixon esteve muito doente há alguns anos e fotografou idosos morrendo em asilos. Ele e Bebe, portanto, sabem o que a proximidade da morte significa.

O grande formato da câmera de Nixon não permite “roubar” um instantâneo, o que significa uma limitação e, ao mesmo tempo, sela um acordo tácito entre fotógrafo e fotografado. Há, enfim, algo de solene nessa câmera. Há quase três anos, em março de 2018, a ausência desse acordo quase provocou um escândalo. Como professor, ele foi acusado de conduta imprópria e teve de deixar o Massachusetts College of Art and Design, onde dava aulas. Um mês depois, o Institute of Contemporary Art de Boston fechou uma exposição sua. O motivo: o jornal Boston Globe publicou que Nixon convidou alunas para posar nuas, acusando o fotógrafo de assédio sexual. “Havia uma discordância sobre meu método de ensino e essa matéria no Boston Globe dizia que eu usava linguagem inadequada durante as aulas e propunha tarefas de cunho sexual, passando para os leitores a ideia de que eu sou uma má pessoa.” Nixon nega as acusações e garante que ele mesmo pediu para que a exposição fosse fechada. “Não queria ficar no meio desse circo midiático”, conclui.

Em agosto de 1974, o fotógrafo norte-americano Nicholas Nixon, hoje com 74 anos, fotografou as irmãs Brown pela primeira vez, durante uma reunião familiar. Não gostou do resultado. Em julho de 1975, tentou novamente: ficou satisfeito. Vem repetindo, desde então, o mesmo ritual, registrando a mesma foto com as quatro irmãs – uma delas sua esposa, Beverly Brown (Bebe). 

A partir do dia 22, o público brasileiro terá a oportunidade de conhecer essa e outras séries do fotógrafo na exposição do Instituto Tomie Ohtake organizada pelo curador-chefe de fotografia da Fundação Mapfre, Carlos Gollonet. Além da série das irmãs, ele selecionou autorretratos, uma outra série dedicada a asilos e paisagens. Sobre a mostra, Nixon falou ao Estadão, exprimindo seu orgulho de expor em São Paulo e sua admiração por fotógrafos brasileiros como Cláudia Andujar.

Embora não se considere um fotógrafo político como seu modelo Walker Evans (1903-1975), que retratou a condição dos agricultores norte-americanos durante a Grande Depressão dos anos 1930, também Nixon tem ajudado pessoas em condições desfavoráveis com suas fotos – em 1988, ele realizou uma série chocante da agonia das vítimas que contraíram o vírus da aids, numa época em que o estigma pesava sobre elas, em particular a comunidade gay. Seu olhar se dirigiu igualmente aos velhos e à população negra de baixa renda. Detalhe: todas essas fotos foram feitas com uma câmera de grande formato 8 x 10, que permite uma ampla variação da distância focal e uma nitidez que leva o espectador a ver o objeto fotografado nos mínimos detalhes. Walker Evans usava uma delas.

Garotos da Taunton Avenue, Hyde Park, em Massachusetts, em 1979 Foto: Coleções Mapfre;/Nicholas Nixon

Foi isso que fez Nixon optar pela histórica 8 x 10. “Vi uma série que Evans fez em 1932 e decidi que esse seria meu caminho, embora não me considere um fotógrafo engajado.” No entanto, assume que seu interesse pelos deserdados, “puramente humanista”, pode, sim, ser considerado um trabalho político – como o dos pacientes com aids. “Nesse sentido, fotógrafos como Cláudia Andujar ou a mexicana Graciela Iturbide foram minhas grandes referências, pois sempre pensei nas culturas latinas como guardiãs de um conhecimento antigo que não chegou à cultura americana e que passa pela humildade e, talvez, por um certo sentido de magia.”

A série das irmãs Brown é um bom exemplo da primeira palavra. O tempo é comprimido e, de repente, a imagem daquele quarteto de mulheres jovens e lindas dá lugar a quatro mulheres maduras que trazem as marcas da idade e do peso existencial. É uma série hipnótica, em que o espectador se vê refletido em Heather, Mimi, Bebe e Laurie Brown, sempre retratadas nessa ordem, da esquerda para a direita. Nixon diz que a ideia foi sua: “A consistência do formato, a ordem e a clareza do propósito representam muito para mim, o que me fez decidir pela mesma posição em todos esses anos”.

A mulher do fotógrafo, Beverly Brown, ou Bebe, em sua banheira, em 1980 Foto: Coleções Mapfre/Nicholas Nixon

À medida que os anos passaram, as irmãs ficaram mais próximas. A afetividade entre elas parece ter crescido. Pode ter sido uma estratégia do fotógrafo – quanto mais perto uma da outra, maior e melhor seus rostos surgem diante da câmera –, mas o fato é que a velhice comumente aproxima os irmãos, talvez pela dependência mútua e um certo entendimento do mundo. Bebe, a mulher de Nixon, é assistente social e trabalha com pacientes com câncer. Um pouco parecida na juventude com a atriz Liv Ullman, a mulher do cineasta Ingmar Bergman, ela é a que mais marcas de sofrimento traz no rosto. Nixon esteve muito doente há alguns anos e fotografou idosos morrendo em asilos. Ele e Bebe, portanto, sabem o que a proximidade da morte significa.

O grande formato da câmera de Nixon não permite “roubar” um instantâneo, o que significa uma limitação e, ao mesmo tempo, sela um acordo tácito entre fotógrafo e fotografado. Há, enfim, algo de solene nessa câmera. Há quase três anos, em março de 2018, a ausência desse acordo quase provocou um escândalo. Como professor, ele foi acusado de conduta imprópria e teve de deixar o Massachusetts College of Art and Design, onde dava aulas. Um mês depois, o Institute of Contemporary Art de Boston fechou uma exposição sua. O motivo: o jornal Boston Globe publicou que Nixon convidou alunas para posar nuas, acusando o fotógrafo de assédio sexual. “Havia uma discordância sobre meu método de ensino e essa matéria no Boston Globe dizia que eu usava linguagem inadequada durante as aulas e propunha tarefas de cunho sexual, passando para os leitores a ideia de que eu sou uma má pessoa.” Nixon nega as acusações e garante que ele mesmo pediu para que a exposição fosse fechada. “Não queria ficar no meio desse circo midiático”, conclui.

Em agosto de 1974, o fotógrafo norte-americano Nicholas Nixon, hoje com 74 anos, fotografou as irmãs Brown pela primeira vez, durante uma reunião familiar. Não gostou do resultado. Em julho de 1975, tentou novamente: ficou satisfeito. Vem repetindo, desde então, o mesmo ritual, registrando a mesma foto com as quatro irmãs – uma delas sua esposa, Beverly Brown (Bebe). 

A partir do dia 22, o público brasileiro terá a oportunidade de conhecer essa e outras séries do fotógrafo na exposição do Instituto Tomie Ohtake organizada pelo curador-chefe de fotografia da Fundação Mapfre, Carlos Gollonet. Além da série das irmãs, ele selecionou autorretratos, uma outra série dedicada a asilos e paisagens. Sobre a mostra, Nixon falou ao Estadão, exprimindo seu orgulho de expor em São Paulo e sua admiração por fotógrafos brasileiros como Cláudia Andujar.

Embora não se considere um fotógrafo político como seu modelo Walker Evans (1903-1975), que retratou a condição dos agricultores norte-americanos durante a Grande Depressão dos anos 1930, também Nixon tem ajudado pessoas em condições desfavoráveis com suas fotos – em 1988, ele realizou uma série chocante da agonia das vítimas que contraíram o vírus da aids, numa época em que o estigma pesava sobre elas, em particular a comunidade gay. Seu olhar se dirigiu igualmente aos velhos e à população negra de baixa renda. Detalhe: todas essas fotos foram feitas com uma câmera de grande formato 8 x 10, que permite uma ampla variação da distância focal e uma nitidez que leva o espectador a ver o objeto fotografado nos mínimos detalhes. Walker Evans usava uma delas.

Garotos da Taunton Avenue, Hyde Park, em Massachusetts, em 1979 Foto: Coleções Mapfre;/Nicholas Nixon

Foi isso que fez Nixon optar pela histórica 8 x 10. “Vi uma série que Evans fez em 1932 e decidi que esse seria meu caminho, embora não me considere um fotógrafo engajado.” No entanto, assume que seu interesse pelos deserdados, “puramente humanista”, pode, sim, ser considerado um trabalho político – como o dos pacientes com aids. “Nesse sentido, fotógrafos como Cláudia Andujar ou a mexicana Graciela Iturbide foram minhas grandes referências, pois sempre pensei nas culturas latinas como guardiãs de um conhecimento antigo que não chegou à cultura americana e que passa pela humildade e, talvez, por um certo sentido de magia.”

A série das irmãs Brown é um bom exemplo da primeira palavra. O tempo é comprimido e, de repente, a imagem daquele quarteto de mulheres jovens e lindas dá lugar a quatro mulheres maduras que trazem as marcas da idade e do peso existencial. É uma série hipnótica, em que o espectador se vê refletido em Heather, Mimi, Bebe e Laurie Brown, sempre retratadas nessa ordem, da esquerda para a direita. Nixon diz que a ideia foi sua: “A consistência do formato, a ordem e a clareza do propósito representam muito para mim, o que me fez decidir pela mesma posição em todos esses anos”.

A mulher do fotógrafo, Beverly Brown, ou Bebe, em sua banheira, em 1980 Foto: Coleções Mapfre/Nicholas Nixon

À medida que os anos passaram, as irmãs ficaram mais próximas. A afetividade entre elas parece ter crescido. Pode ter sido uma estratégia do fotógrafo – quanto mais perto uma da outra, maior e melhor seus rostos surgem diante da câmera –, mas o fato é que a velhice comumente aproxima os irmãos, talvez pela dependência mútua e um certo entendimento do mundo. Bebe, a mulher de Nixon, é assistente social e trabalha com pacientes com câncer. Um pouco parecida na juventude com a atriz Liv Ullman, a mulher do cineasta Ingmar Bergman, ela é a que mais marcas de sofrimento traz no rosto. Nixon esteve muito doente há alguns anos e fotografou idosos morrendo em asilos. Ele e Bebe, portanto, sabem o que a proximidade da morte significa.

O grande formato da câmera de Nixon não permite “roubar” um instantâneo, o que significa uma limitação e, ao mesmo tempo, sela um acordo tácito entre fotógrafo e fotografado. Há, enfim, algo de solene nessa câmera. Há quase três anos, em março de 2018, a ausência desse acordo quase provocou um escândalo. Como professor, ele foi acusado de conduta imprópria e teve de deixar o Massachusetts College of Art and Design, onde dava aulas. Um mês depois, o Institute of Contemporary Art de Boston fechou uma exposição sua. O motivo: o jornal Boston Globe publicou que Nixon convidou alunas para posar nuas, acusando o fotógrafo de assédio sexual. “Havia uma discordância sobre meu método de ensino e essa matéria no Boston Globe dizia que eu usava linguagem inadequada durante as aulas e propunha tarefas de cunho sexual, passando para os leitores a ideia de que eu sou uma má pessoa.” Nixon nega as acusações e garante que ele mesmo pediu para que a exposição fosse fechada. “Não queria ficar no meio desse circo midiático”, conclui.

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