O Lago dos Cisnes? pede ajustes


Mas a instigante releitura do clássico por Sandro Borelli é um desafio necessário

Por Crítica Helena Katz

A nova coreografia de Sandro Borelli para o Balé da Cidade de São Paulo expõe uma questão mais geral, que extrapola os limites dessa obra e diz respeito a ajustes entre criatura e criador em dança. Ela parte de um dos mais populares balés de todos os tempos, O Lago dos Cisnes e, segundo o estudioso de teatro Sebastião Milaré, propõe um pântano de homens. De fato, é novamente o embate vida/dor, sempre presente na trajetória artística de Borelli, que parece ambientar a lenta degradação da qual a ferrugem, em várias tonalidades, é tomada como metáfora. Nesse lago/pântano, os corpos pouco ficam de pé. Arrastam-se, buscam-se como apoios, e estão quase o tempo todo isolados dentro dos agrupamentos que vão surgindo. Os excelentes duetos funcionam como focos que dilatam as gestualidades que entretecem a coreografia. A instigante proposta de Borelli suscita reflexões sobre o que é, de fato, necessário para se criar dança. De um lado, está a possibilidade de os bailarinos realizarem o projeto artístico e, do outro, a justeza do projeto. Ao colocar no chão uma companhia habituada com a lógica da verticalidade, seria necessário um tempo mais longo de ensaio para que corpos tão treinados a dançar sustentando a coluna ereta conseguissem naturalizar a sutileza do peso de quem se arrasta para não ser tragado pela força da gravidade. Quanto à coreografia, justamente por acontecer quase o tempo inteiro no chão, talvez pudesse ter eleita uma outra lógica para a sua composição. Em alguns momentos, a interrogação que Sandro Borelli colocou no título do seu Lago dos Cisnes? para indicar seus objetivos se faz visível, mas em outros, nos quais os desenhos dos gestos ganham proeminência, parece que a coreografia foi simplesmente deitada, mas não surgiu do chão. Além da interrogação, houve um desmembramento do título e da música de Tchaikovsky. O lago tornou-se o eixo em torno do qual a obra se organizou, e a partitura original a ser entremeada com interferências sonoras de Gustavo Domingues. Elas são excelentes mas, infelizmente, não encontraram ainda a sua melhor articulação com a música de Tchaikovsky, bem tocada pela Orquestra Experimental de Repertório, regida pelo maestro Jamil Maluf. Os momentos em que surgem e os momentos em que desaparecem parecem gratuitos, como se qualquer outra trilha sonora pudesse ocupar a mesma função. Há que destacar e apoiar ter sido esta a escolha da diretora Mônica Mion para encerrar as comemorações dos 40 anos do Balé da Cidade de São Paulo. O fato de a companhia dançar uma produção a partir de uma referência tão emblemática quanto O Lago dos Cisnes como que pontua a importante posição artística que essa companhia pública vem consolidando. Além de apoiar e investir em coreógrafos brasileiros, colaborando para a consolidação e difusão da dança que se produz no nosso País (o que sinaliza também a compreensão da sua responsabilidade enquanto companhia mantida com dinheiro público), demonstra um entendimento de que as obras históricas se prestam às surpresas da sua releitura. Ao assumir o enfrentamento desse tipo de risco, o Balé da Cidade confirma que uma companhia oficial deve responder às necessidades específicas do seu entorno, e que essa é a direção a inspirar a consolidação do seu perfil, abandonando os modelos colonizados que guiam a maior parte desse tipo de companhia. O convite feito a Sandro Borelli, que já havia contribuído com seis outras montagens para o Balé da Cidade, educa o seu público nessa direção. O primeiro O Lago dos Cisnes, estreado em 1877, na Rússia, não deu certo e foram necessários 18 anos para que chegasse à versão que o consagrou como um quase sinônimo de balé. Para que O Lago dos Cisnes? recém-estreado chegue à sua melhor forma, não será necessário tanto tempo, mas o contato entre criador e criatura não deve ser interrompido.

A nova coreografia de Sandro Borelli para o Balé da Cidade de São Paulo expõe uma questão mais geral, que extrapola os limites dessa obra e diz respeito a ajustes entre criatura e criador em dança. Ela parte de um dos mais populares balés de todos os tempos, O Lago dos Cisnes e, segundo o estudioso de teatro Sebastião Milaré, propõe um pântano de homens. De fato, é novamente o embate vida/dor, sempre presente na trajetória artística de Borelli, que parece ambientar a lenta degradação da qual a ferrugem, em várias tonalidades, é tomada como metáfora. Nesse lago/pântano, os corpos pouco ficam de pé. Arrastam-se, buscam-se como apoios, e estão quase o tempo todo isolados dentro dos agrupamentos que vão surgindo. Os excelentes duetos funcionam como focos que dilatam as gestualidades que entretecem a coreografia. A instigante proposta de Borelli suscita reflexões sobre o que é, de fato, necessário para se criar dança. De um lado, está a possibilidade de os bailarinos realizarem o projeto artístico e, do outro, a justeza do projeto. Ao colocar no chão uma companhia habituada com a lógica da verticalidade, seria necessário um tempo mais longo de ensaio para que corpos tão treinados a dançar sustentando a coluna ereta conseguissem naturalizar a sutileza do peso de quem se arrasta para não ser tragado pela força da gravidade. Quanto à coreografia, justamente por acontecer quase o tempo inteiro no chão, talvez pudesse ter eleita uma outra lógica para a sua composição. Em alguns momentos, a interrogação que Sandro Borelli colocou no título do seu Lago dos Cisnes? para indicar seus objetivos se faz visível, mas em outros, nos quais os desenhos dos gestos ganham proeminência, parece que a coreografia foi simplesmente deitada, mas não surgiu do chão. Além da interrogação, houve um desmembramento do título e da música de Tchaikovsky. O lago tornou-se o eixo em torno do qual a obra se organizou, e a partitura original a ser entremeada com interferências sonoras de Gustavo Domingues. Elas são excelentes mas, infelizmente, não encontraram ainda a sua melhor articulação com a música de Tchaikovsky, bem tocada pela Orquestra Experimental de Repertório, regida pelo maestro Jamil Maluf. Os momentos em que surgem e os momentos em que desaparecem parecem gratuitos, como se qualquer outra trilha sonora pudesse ocupar a mesma função. Há que destacar e apoiar ter sido esta a escolha da diretora Mônica Mion para encerrar as comemorações dos 40 anos do Balé da Cidade de São Paulo. O fato de a companhia dançar uma produção a partir de uma referência tão emblemática quanto O Lago dos Cisnes como que pontua a importante posição artística que essa companhia pública vem consolidando. Além de apoiar e investir em coreógrafos brasileiros, colaborando para a consolidação e difusão da dança que se produz no nosso País (o que sinaliza também a compreensão da sua responsabilidade enquanto companhia mantida com dinheiro público), demonstra um entendimento de que as obras históricas se prestam às surpresas da sua releitura. Ao assumir o enfrentamento desse tipo de risco, o Balé da Cidade confirma que uma companhia oficial deve responder às necessidades específicas do seu entorno, e que essa é a direção a inspirar a consolidação do seu perfil, abandonando os modelos colonizados que guiam a maior parte desse tipo de companhia. O convite feito a Sandro Borelli, que já havia contribuído com seis outras montagens para o Balé da Cidade, educa o seu público nessa direção. O primeiro O Lago dos Cisnes, estreado em 1877, na Rússia, não deu certo e foram necessários 18 anos para que chegasse à versão que o consagrou como um quase sinônimo de balé. Para que O Lago dos Cisnes? recém-estreado chegue à sua melhor forma, não será necessário tanto tempo, mas o contato entre criador e criatura não deve ser interrompido.

A nova coreografia de Sandro Borelli para o Balé da Cidade de São Paulo expõe uma questão mais geral, que extrapola os limites dessa obra e diz respeito a ajustes entre criatura e criador em dança. Ela parte de um dos mais populares balés de todos os tempos, O Lago dos Cisnes e, segundo o estudioso de teatro Sebastião Milaré, propõe um pântano de homens. De fato, é novamente o embate vida/dor, sempre presente na trajetória artística de Borelli, que parece ambientar a lenta degradação da qual a ferrugem, em várias tonalidades, é tomada como metáfora. Nesse lago/pântano, os corpos pouco ficam de pé. Arrastam-se, buscam-se como apoios, e estão quase o tempo todo isolados dentro dos agrupamentos que vão surgindo. Os excelentes duetos funcionam como focos que dilatam as gestualidades que entretecem a coreografia. A instigante proposta de Borelli suscita reflexões sobre o que é, de fato, necessário para se criar dança. De um lado, está a possibilidade de os bailarinos realizarem o projeto artístico e, do outro, a justeza do projeto. Ao colocar no chão uma companhia habituada com a lógica da verticalidade, seria necessário um tempo mais longo de ensaio para que corpos tão treinados a dançar sustentando a coluna ereta conseguissem naturalizar a sutileza do peso de quem se arrasta para não ser tragado pela força da gravidade. Quanto à coreografia, justamente por acontecer quase o tempo inteiro no chão, talvez pudesse ter eleita uma outra lógica para a sua composição. Em alguns momentos, a interrogação que Sandro Borelli colocou no título do seu Lago dos Cisnes? para indicar seus objetivos se faz visível, mas em outros, nos quais os desenhos dos gestos ganham proeminência, parece que a coreografia foi simplesmente deitada, mas não surgiu do chão. Além da interrogação, houve um desmembramento do título e da música de Tchaikovsky. O lago tornou-se o eixo em torno do qual a obra se organizou, e a partitura original a ser entremeada com interferências sonoras de Gustavo Domingues. Elas são excelentes mas, infelizmente, não encontraram ainda a sua melhor articulação com a música de Tchaikovsky, bem tocada pela Orquestra Experimental de Repertório, regida pelo maestro Jamil Maluf. Os momentos em que surgem e os momentos em que desaparecem parecem gratuitos, como se qualquer outra trilha sonora pudesse ocupar a mesma função. Há que destacar e apoiar ter sido esta a escolha da diretora Mônica Mion para encerrar as comemorações dos 40 anos do Balé da Cidade de São Paulo. O fato de a companhia dançar uma produção a partir de uma referência tão emblemática quanto O Lago dos Cisnes como que pontua a importante posição artística que essa companhia pública vem consolidando. Além de apoiar e investir em coreógrafos brasileiros, colaborando para a consolidação e difusão da dança que se produz no nosso País (o que sinaliza também a compreensão da sua responsabilidade enquanto companhia mantida com dinheiro público), demonstra um entendimento de que as obras históricas se prestam às surpresas da sua releitura. Ao assumir o enfrentamento desse tipo de risco, o Balé da Cidade confirma que uma companhia oficial deve responder às necessidades específicas do seu entorno, e que essa é a direção a inspirar a consolidação do seu perfil, abandonando os modelos colonizados que guiam a maior parte desse tipo de companhia. O convite feito a Sandro Borelli, que já havia contribuído com seis outras montagens para o Balé da Cidade, educa o seu público nessa direção. O primeiro O Lago dos Cisnes, estreado em 1877, na Rússia, não deu certo e foram necessários 18 anos para que chegasse à versão que o consagrou como um quase sinônimo de balé. Para que O Lago dos Cisnes? recém-estreado chegue à sua melhor forma, não será necessário tanto tempo, mas o contato entre criador e criatura não deve ser interrompido.

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