Obras de Lasar Segall são salvas do nazismo


Museu que leva o nome do pintor inaugura nesta sexta-feira, 24, mostra com trabalhos que foram exibidos na exposição 'Arte Degenerada' há 80 anos, em Munique

Por Antonio Gonçalves Filho

Em 1937, o pintor Lasar Segall (1891-1957) teve obras confiscadas pelo regime nazista expostas na histórica mostra Entartete Kunst (Arte Degenerada), realizada em julho daquele ano em Munique. Tomando emprestado um termo médico (Entartung) para decretar, em tom depreciativo, toda a arte que não comungava da cartilha do nacional-socialismo alemão – ou seja, ligada a movimentos de vanguarda ou praticada por artistas de origem judaica – o Reich reuniu nas estreitas salas do Hofgarten de Munique 650 obras confiscadas de 32 museus e assinadas por artistas como Chagall, Otto Dix, Max Ernst, George Grosz, Paul Klee, Emil Nolde e Lasar Segall. Nos 80 anos da exposição alemã de “arte degenerada” e em clima de censura a artistas e exposições no Brasil, o Museu Lasar Segall abre neste sábado, 25, a mostra A ‘Arte Degenerada’ de Lasar Segall: Perseguição à Arte Moderna em Tempos de Guerra.

Autorretrato de Lasar Segall dos anos 1920 foi vandalizado em mostra antifascista Foto:

Primeira parceria do Museu Lasar Segall com o Museu de Arte Contemporânea da USP (MAC), a exposição reúne 35 gravuras e uma grande tela de Segall, obras confiscadas durante o nazismo de museus públicos alemães por ordem do poderoso Adolf Ziegler (1892-1959). Ziegler, que também era pintor (acadêmico), ocupou diversos postos importantes no Terceiro Reich, sendo nomeado pelo ministro de Propaganda de Hitler, Joseph Goebbels, em 1937, chefe da comissão que confiscou as obras para exibi-las em mostras itinerantes como exemplo do tipo de arte que os nazistas não iriam tolerar na Alemanha – telas cubistas, expressionistas etc..

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Embora tenha sido programada em 2015, ou seja, dois anos antes dos recentes casos de fechamento da exposição Queermuseu e perseguições a artistas e curadores no Brasil, a exposição, que tem como curadores Helouise Costa (do MAC) e Daniel Rincon (pesquisador do Museu Lasar Segall), é revestida de grande importância histórica. Nela figura a tela Eternos Caminhantes (1919), reproduzida abaixo e hoje no acervo do Museu Lasar Segall, que aparece no filme Arquitetura da Destruição (1989), documentário do sueco Peter Cohen sobre o uniformizador projeto estético do nazismo.

'Eternos Caminhantes' (1919): tela deSegall alude à condição dojudeu exilado Foto:

Além da tela Eternos Caminhantes, quatro outras obras de Segall estiveram na exposição de 1937 em Munique: as pinturas Amantes (hoje no acervo de um colecionador particular no Brasil) e Viúva (destruída), além das gravuras Mann und Weib (Homem e Mulher), Zwei Schemen (Dois Esboços) e um álbum não identificado contendo seis páginas (segundo o curador Daniel Rincon, provavelmente o álbum Bubu, de 1921).

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A exposição Arte Degenerada teve desdobramentos no Brasil e no mundo, lembra a pesquisadora e curadora Helouise Costa, citando como exemplo de reação contra a mostra nazista uma exposição organizada pelo crítico Herbert Read em Londres, em 1938, e outra chamada Arte Condenada pelo Terceiro Reich, promovida em 1945 pela galeria carioca de Miécio Askanasy, judeu polonês amigo de Segall. “Na exposição alemã de 1937, obras artísticas eram apresentadas como documentos amontoados de degeneração artística, como se pode ver no filme de Peter Cohen”, observa a curadora. “Em contrapartida, no dia anterior à abertura da mostra, Hitler inaugurou uma exposição montada com esmero na Haus der Kunst de Munique, museu concebido como uma resposta clássica à arte degenerada”, conclui, referindo-se ao monumental edifício do arquiteto Paul Ludwig Troost, aberto em 18 de julho de 1937 e ainda hoje em pé, servindo de salão de festas para a alta burguesia de Munique.

Exposições que seguiram o modelo da organizada por Miécio Askanasy em sua pioneira galeria moderna brasileira foram alvos de vandalismo, como a única mostra do Grupo Guignard na Escola Nacional de Belas Artes, em 1943, fechada por alunos conservadores da instituição. Na mostra do Museu Lasar Segall será exibido um autorretrato do pintor que teve um dos olhos perfurados por um intolerante simpatizante fascista numa dessas mostras (a tela foi restaurada). Ainda na mesma exposição, fotografias do austríaco Kurt Klagsbrunn mostram como os antifascistas se organizaram para defender a democracia e a arte de vanguarda no Brasil. São imagens de uma força avassaladora. E um alerta.A ARTE DEGENERADA DE LASAR SEGALL  Museu Lasar Segalll. R. Berta, 111, tel. 2159-0400. 4ª a 2ª, 11h às 19h. Abre sáb. (25), 17h. Até 30/4. Grátis.

Em 1937, o pintor Lasar Segall (1891-1957) teve obras confiscadas pelo regime nazista expostas na histórica mostra Entartete Kunst (Arte Degenerada), realizada em julho daquele ano em Munique. Tomando emprestado um termo médico (Entartung) para decretar, em tom depreciativo, toda a arte que não comungava da cartilha do nacional-socialismo alemão – ou seja, ligada a movimentos de vanguarda ou praticada por artistas de origem judaica – o Reich reuniu nas estreitas salas do Hofgarten de Munique 650 obras confiscadas de 32 museus e assinadas por artistas como Chagall, Otto Dix, Max Ernst, George Grosz, Paul Klee, Emil Nolde e Lasar Segall. Nos 80 anos da exposição alemã de “arte degenerada” e em clima de censura a artistas e exposições no Brasil, o Museu Lasar Segall abre neste sábado, 25, a mostra A ‘Arte Degenerada’ de Lasar Segall: Perseguição à Arte Moderna em Tempos de Guerra.

Autorretrato de Lasar Segall dos anos 1920 foi vandalizado em mostra antifascista Foto:

Primeira parceria do Museu Lasar Segall com o Museu de Arte Contemporânea da USP (MAC), a exposição reúne 35 gravuras e uma grande tela de Segall, obras confiscadas durante o nazismo de museus públicos alemães por ordem do poderoso Adolf Ziegler (1892-1959). Ziegler, que também era pintor (acadêmico), ocupou diversos postos importantes no Terceiro Reich, sendo nomeado pelo ministro de Propaganda de Hitler, Joseph Goebbels, em 1937, chefe da comissão que confiscou as obras para exibi-las em mostras itinerantes como exemplo do tipo de arte que os nazistas não iriam tolerar na Alemanha – telas cubistas, expressionistas etc..

Embora tenha sido programada em 2015, ou seja, dois anos antes dos recentes casos de fechamento da exposição Queermuseu e perseguições a artistas e curadores no Brasil, a exposição, que tem como curadores Helouise Costa (do MAC) e Daniel Rincon (pesquisador do Museu Lasar Segall), é revestida de grande importância histórica. Nela figura a tela Eternos Caminhantes (1919), reproduzida abaixo e hoje no acervo do Museu Lasar Segall, que aparece no filme Arquitetura da Destruição (1989), documentário do sueco Peter Cohen sobre o uniformizador projeto estético do nazismo.

'Eternos Caminhantes' (1919): tela deSegall alude à condição dojudeu exilado Foto:

Além da tela Eternos Caminhantes, quatro outras obras de Segall estiveram na exposição de 1937 em Munique: as pinturas Amantes (hoje no acervo de um colecionador particular no Brasil) e Viúva (destruída), além das gravuras Mann und Weib (Homem e Mulher), Zwei Schemen (Dois Esboços) e um álbum não identificado contendo seis páginas (segundo o curador Daniel Rincon, provavelmente o álbum Bubu, de 1921).

A exposição Arte Degenerada teve desdobramentos no Brasil e no mundo, lembra a pesquisadora e curadora Helouise Costa, citando como exemplo de reação contra a mostra nazista uma exposição organizada pelo crítico Herbert Read em Londres, em 1938, e outra chamada Arte Condenada pelo Terceiro Reich, promovida em 1945 pela galeria carioca de Miécio Askanasy, judeu polonês amigo de Segall. “Na exposição alemã de 1937, obras artísticas eram apresentadas como documentos amontoados de degeneração artística, como se pode ver no filme de Peter Cohen”, observa a curadora. “Em contrapartida, no dia anterior à abertura da mostra, Hitler inaugurou uma exposição montada com esmero na Haus der Kunst de Munique, museu concebido como uma resposta clássica à arte degenerada”, conclui, referindo-se ao monumental edifício do arquiteto Paul Ludwig Troost, aberto em 18 de julho de 1937 e ainda hoje em pé, servindo de salão de festas para a alta burguesia de Munique.

Exposições que seguiram o modelo da organizada por Miécio Askanasy em sua pioneira galeria moderna brasileira foram alvos de vandalismo, como a única mostra do Grupo Guignard na Escola Nacional de Belas Artes, em 1943, fechada por alunos conservadores da instituição. Na mostra do Museu Lasar Segall será exibido um autorretrato do pintor que teve um dos olhos perfurados por um intolerante simpatizante fascista numa dessas mostras (a tela foi restaurada). Ainda na mesma exposição, fotografias do austríaco Kurt Klagsbrunn mostram como os antifascistas se organizaram para defender a democracia e a arte de vanguarda no Brasil. São imagens de uma força avassaladora. E um alerta.A ARTE DEGENERADA DE LASAR SEGALL  Museu Lasar Segalll. R. Berta, 111, tel. 2159-0400. 4ª a 2ª, 11h às 19h. Abre sáb. (25), 17h. Até 30/4. Grátis.

Em 1937, o pintor Lasar Segall (1891-1957) teve obras confiscadas pelo regime nazista expostas na histórica mostra Entartete Kunst (Arte Degenerada), realizada em julho daquele ano em Munique. Tomando emprestado um termo médico (Entartung) para decretar, em tom depreciativo, toda a arte que não comungava da cartilha do nacional-socialismo alemão – ou seja, ligada a movimentos de vanguarda ou praticada por artistas de origem judaica – o Reich reuniu nas estreitas salas do Hofgarten de Munique 650 obras confiscadas de 32 museus e assinadas por artistas como Chagall, Otto Dix, Max Ernst, George Grosz, Paul Klee, Emil Nolde e Lasar Segall. Nos 80 anos da exposição alemã de “arte degenerada” e em clima de censura a artistas e exposições no Brasil, o Museu Lasar Segall abre neste sábado, 25, a mostra A ‘Arte Degenerada’ de Lasar Segall: Perseguição à Arte Moderna em Tempos de Guerra.

Autorretrato de Lasar Segall dos anos 1920 foi vandalizado em mostra antifascista Foto:

Primeira parceria do Museu Lasar Segall com o Museu de Arte Contemporânea da USP (MAC), a exposição reúne 35 gravuras e uma grande tela de Segall, obras confiscadas durante o nazismo de museus públicos alemães por ordem do poderoso Adolf Ziegler (1892-1959). Ziegler, que também era pintor (acadêmico), ocupou diversos postos importantes no Terceiro Reich, sendo nomeado pelo ministro de Propaganda de Hitler, Joseph Goebbels, em 1937, chefe da comissão que confiscou as obras para exibi-las em mostras itinerantes como exemplo do tipo de arte que os nazistas não iriam tolerar na Alemanha – telas cubistas, expressionistas etc..

Embora tenha sido programada em 2015, ou seja, dois anos antes dos recentes casos de fechamento da exposição Queermuseu e perseguições a artistas e curadores no Brasil, a exposição, que tem como curadores Helouise Costa (do MAC) e Daniel Rincon (pesquisador do Museu Lasar Segall), é revestida de grande importância histórica. Nela figura a tela Eternos Caminhantes (1919), reproduzida abaixo e hoje no acervo do Museu Lasar Segall, que aparece no filme Arquitetura da Destruição (1989), documentário do sueco Peter Cohen sobre o uniformizador projeto estético do nazismo.

'Eternos Caminhantes' (1919): tela deSegall alude à condição dojudeu exilado Foto:

Além da tela Eternos Caminhantes, quatro outras obras de Segall estiveram na exposição de 1937 em Munique: as pinturas Amantes (hoje no acervo de um colecionador particular no Brasil) e Viúva (destruída), além das gravuras Mann und Weib (Homem e Mulher), Zwei Schemen (Dois Esboços) e um álbum não identificado contendo seis páginas (segundo o curador Daniel Rincon, provavelmente o álbum Bubu, de 1921).

A exposição Arte Degenerada teve desdobramentos no Brasil e no mundo, lembra a pesquisadora e curadora Helouise Costa, citando como exemplo de reação contra a mostra nazista uma exposição organizada pelo crítico Herbert Read em Londres, em 1938, e outra chamada Arte Condenada pelo Terceiro Reich, promovida em 1945 pela galeria carioca de Miécio Askanasy, judeu polonês amigo de Segall. “Na exposição alemã de 1937, obras artísticas eram apresentadas como documentos amontoados de degeneração artística, como se pode ver no filme de Peter Cohen”, observa a curadora. “Em contrapartida, no dia anterior à abertura da mostra, Hitler inaugurou uma exposição montada com esmero na Haus der Kunst de Munique, museu concebido como uma resposta clássica à arte degenerada”, conclui, referindo-se ao monumental edifício do arquiteto Paul Ludwig Troost, aberto em 18 de julho de 1937 e ainda hoje em pé, servindo de salão de festas para a alta burguesia de Munique.

Exposições que seguiram o modelo da organizada por Miécio Askanasy em sua pioneira galeria moderna brasileira foram alvos de vandalismo, como a única mostra do Grupo Guignard na Escola Nacional de Belas Artes, em 1943, fechada por alunos conservadores da instituição. Na mostra do Museu Lasar Segall será exibido um autorretrato do pintor que teve um dos olhos perfurados por um intolerante simpatizante fascista numa dessas mostras (a tela foi restaurada). Ainda na mesma exposição, fotografias do austríaco Kurt Klagsbrunn mostram como os antifascistas se organizaram para defender a democracia e a arte de vanguarda no Brasil. São imagens de uma força avassaladora. E um alerta.A ARTE DEGENERADA DE LASAR SEGALL  Museu Lasar Segalll. R. Berta, 111, tel. 2159-0400. 4ª a 2ª, 11h às 19h. Abre sáb. (25), 17h. Até 30/4. Grátis.

Em 1937, o pintor Lasar Segall (1891-1957) teve obras confiscadas pelo regime nazista expostas na histórica mostra Entartete Kunst (Arte Degenerada), realizada em julho daquele ano em Munique. Tomando emprestado um termo médico (Entartung) para decretar, em tom depreciativo, toda a arte que não comungava da cartilha do nacional-socialismo alemão – ou seja, ligada a movimentos de vanguarda ou praticada por artistas de origem judaica – o Reich reuniu nas estreitas salas do Hofgarten de Munique 650 obras confiscadas de 32 museus e assinadas por artistas como Chagall, Otto Dix, Max Ernst, George Grosz, Paul Klee, Emil Nolde e Lasar Segall. Nos 80 anos da exposição alemã de “arte degenerada” e em clima de censura a artistas e exposições no Brasil, o Museu Lasar Segall abre neste sábado, 25, a mostra A ‘Arte Degenerada’ de Lasar Segall: Perseguição à Arte Moderna em Tempos de Guerra.

Autorretrato de Lasar Segall dos anos 1920 foi vandalizado em mostra antifascista Foto:

Primeira parceria do Museu Lasar Segall com o Museu de Arte Contemporânea da USP (MAC), a exposição reúne 35 gravuras e uma grande tela de Segall, obras confiscadas durante o nazismo de museus públicos alemães por ordem do poderoso Adolf Ziegler (1892-1959). Ziegler, que também era pintor (acadêmico), ocupou diversos postos importantes no Terceiro Reich, sendo nomeado pelo ministro de Propaganda de Hitler, Joseph Goebbels, em 1937, chefe da comissão que confiscou as obras para exibi-las em mostras itinerantes como exemplo do tipo de arte que os nazistas não iriam tolerar na Alemanha – telas cubistas, expressionistas etc..

Embora tenha sido programada em 2015, ou seja, dois anos antes dos recentes casos de fechamento da exposição Queermuseu e perseguições a artistas e curadores no Brasil, a exposição, que tem como curadores Helouise Costa (do MAC) e Daniel Rincon (pesquisador do Museu Lasar Segall), é revestida de grande importância histórica. Nela figura a tela Eternos Caminhantes (1919), reproduzida abaixo e hoje no acervo do Museu Lasar Segall, que aparece no filme Arquitetura da Destruição (1989), documentário do sueco Peter Cohen sobre o uniformizador projeto estético do nazismo.

'Eternos Caminhantes' (1919): tela deSegall alude à condição dojudeu exilado Foto:

Além da tela Eternos Caminhantes, quatro outras obras de Segall estiveram na exposição de 1937 em Munique: as pinturas Amantes (hoje no acervo de um colecionador particular no Brasil) e Viúva (destruída), além das gravuras Mann und Weib (Homem e Mulher), Zwei Schemen (Dois Esboços) e um álbum não identificado contendo seis páginas (segundo o curador Daniel Rincon, provavelmente o álbum Bubu, de 1921).

A exposição Arte Degenerada teve desdobramentos no Brasil e no mundo, lembra a pesquisadora e curadora Helouise Costa, citando como exemplo de reação contra a mostra nazista uma exposição organizada pelo crítico Herbert Read em Londres, em 1938, e outra chamada Arte Condenada pelo Terceiro Reich, promovida em 1945 pela galeria carioca de Miécio Askanasy, judeu polonês amigo de Segall. “Na exposição alemã de 1937, obras artísticas eram apresentadas como documentos amontoados de degeneração artística, como se pode ver no filme de Peter Cohen”, observa a curadora. “Em contrapartida, no dia anterior à abertura da mostra, Hitler inaugurou uma exposição montada com esmero na Haus der Kunst de Munique, museu concebido como uma resposta clássica à arte degenerada”, conclui, referindo-se ao monumental edifício do arquiteto Paul Ludwig Troost, aberto em 18 de julho de 1937 e ainda hoje em pé, servindo de salão de festas para a alta burguesia de Munique.

Exposições que seguiram o modelo da organizada por Miécio Askanasy em sua pioneira galeria moderna brasileira foram alvos de vandalismo, como a única mostra do Grupo Guignard na Escola Nacional de Belas Artes, em 1943, fechada por alunos conservadores da instituição. Na mostra do Museu Lasar Segall será exibido um autorretrato do pintor que teve um dos olhos perfurados por um intolerante simpatizante fascista numa dessas mostras (a tela foi restaurada). Ainda na mesma exposição, fotografias do austríaco Kurt Klagsbrunn mostram como os antifascistas se organizaram para defender a democracia e a arte de vanguarda no Brasil. São imagens de uma força avassaladora. E um alerta.A ARTE DEGENERADA DE LASAR SEGALL  Museu Lasar Segalll. R. Berta, 111, tel. 2159-0400. 4ª a 2ª, 11h às 19h. Abre sáb. (25), 17h. Até 30/4. Grátis.

Em 1937, o pintor Lasar Segall (1891-1957) teve obras confiscadas pelo regime nazista expostas na histórica mostra Entartete Kunst (Arte Degenerada), realizada em julho daquele ano em Munique. Tomando emprestado um termo médico (Entartung) para decretar, em tom depreciativo, toda a arte que não comungava da cartilha do nacional-socialismo alemão – ou seja, ligada a movimentos de vanguarda ou praticada por artistas de origem judaica – o Reich reuniu nas estreitas salas do Hofgarten de Munique 650 obras confiscadas de 32 museus e assinadas por artistas como Chagall, Otto Dix, Max Ernst, George Grosz, Paul Klee, Emil Nolde e Lasar Segall. Nos 80 anos da exposição alemã de “arte degenerada” e em clima de censura a artistas e exposições no Brasil, o Museu Lasar Segall abre neste sábado, 25, a mostra A ‘Arte Degenerada’ de Lasar Segall: Perseguição à Arte Moderna em Tempos de Guerra.

Autorretrato de Lasar Segall dos anos 1920 foi vandalizado em mostra antifascista Foto:

Primeira parceria do Museu Lasar Segall com o Museu de Arte Contemporânea da USP (MAC), a exposição reúne 35 gravuras e uma grande tela de Segall, obras confiscadas durante o nazismo de museus públicos alemães por ordem do poderoso Adolf Ziegler (1892-1959). Ziegler, que também era pintor (acadêmico), ocupou diversos postos importantes no Terceiro Reich, sendo nomeado pelo ministro de Propaganda de Hitler, Joseph Goebbels, em 1937, chefe da comissão que confiscou as obras para exibi-las em mostras itinerantes como exemplo do tipo de arte que os nazistas não iriam tolerar na Alemanha – telas cubistas, expressionistas etc..

Embora tenha sido programada em 2015, ou seja, dois anos antes dos recentes casos de fechamento da exposição Queermuseu e perseguições a artistas e curadores no Brasil, a exposição, que tem como curadores Helouise Costa (do MAC) e Daniel Rincon (pesquisador do Museu Lasar Segall), é revestida de grande importância histórica. Nela figura a tela Eternos Caminhantes (1919), reproduzida abaixo e hoje no acervo do Museu Lasar Segall, que aparece no filme Arquitetura da Destruição (1989), documentário do sueco Peter Cohen sobre o uniformizador projeto estético do nazismo.

'Eternos Caminhantes' (1919): tela deSegall alude à condição dojudeu exilado Foto:

Além da tela Eternos Caminhantes, quatro outras obras de Segall estiveram na exposição de 1937 em Munique: as pinturas Amantes (hoje no acervo de um colecionador particular no Brasil) e Viúva (destruída), além das gravuras Mann und Weib (Homem e Mulher), Zwei Schemen (Dois Esboços) e um álbum não identificado contendo seis páginas (segundo o curador Daniel Rincon, provavelmente o álbum Bubu, de 1921).

A exposição Arte Degenerada teve desdobramentos no Brasil e no mundo, lembra a pesquisadora e curadora Helouise Costa, citando como exemplo de reação contra a mostra nazista uma exposição organizada pelo crítico Herbert Read em Londres, em 1938, e outra chamada Arte Condenada pelo Terceiro Reich, promovida em 1945 pela galeria carioca de Miécio Askanasy, judeu polonês amigo de Segall. “Na exposição alemã de 1937, obras artísticas eram apresentadas como documentos amontoados de degeneração artística, como se pode ver no filme de Peter Cohen”, observa a curadora. “Em contrapartida, no dia anterior à abertura da mostra, Hitler inaugurou uma exposição montada com esmero na Haus der Kunst de Munique, museu concebido como uma resposta clássica à arte degenerada”, conclui, referindo-se ao monumental edifício do arquiteto Paul Ludwig Troost, aberto em 18 de julho de 1937 e ainda hoje em pé, servindo de salão de festas para a alta burguesia de Munique.

Exposições que seguiram o modelo da organizada por Miécio Askanasy em sua pioneira galeria moderna brasileira foram alvos de vandalismo, como a única mostra do Grupo Guignard na Escola Nacional de Belas Artes, em 1943, fechada por alunos conservadores da instituição. Na mostra do Museu Lasar Segall será exibido um autorretrato do pintor que teve um dos olhos perfurados por um intolerante simpatizante fascista numa dessas mostras (a tela foi restaurada). Ainda na mesma exposição, fotografias do austríaco Kurt Klagsbrunn mostram como os antifascistas se organizaram para defender a democracia e a arte de vanguarda no Brasil. São imagens de uma força avassaladora. E um alerta.A ARTE DEGENERADA DE LASAR SEGALL  Museu Lasar Segalll. R. Berta, 111, tel. 2159-0400. 4ª a 2ª, 11h às 19h. Abre sáb. (25), 17h. Até 30/4. Grátis.

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