Os limites da arte testados na mostra 'Continuum'


Exposição de Flávia Ribeiro reúne desenhos, fotos e esculturas, feitos entre 2014 e 2021, na Galeria Marcelo Guarnieri

Por Antonio Gonçalves Filho

Sobre Giacometti, uma das referências da artista Flávia Ribeiro em sua exposição Continuum, Sartre dizia ter o escultor um rosto antediluviano de um homem de Altamira, uma “silhueta indistinta caminhando no horizonte”. Logo à entrada da mostra, uma figura humana de costas, giacomettiana e obscurecida pelo negrume da noite eterna, entre o ser e o nada – para usar uma expressão de Sartre – traz nas mãos uma pequena escultura de bronze que remete à maquete da casa da própria Flávia (obra exposta ao lado), funcionando como um convite para entrar em seu mundo particular, povoado de “silhuetas indistintas”. Em três salas, o visitante poderá acompanhar o trabalho da artista entre 2014 e 2021, duros anos em que a artista paulistana, lutando contra (e vencendo) a morte, produziu alguns de seus mais notáveis trabalhos.

A artista Flávia Ribeiro com uma de suas obras na exposição 'Continuum' Foto: Alex Silva/Estadão

Com curadoria do filósofo Henrique Xavier, Continuum reúne desenhos, esculturas em bronze e gravuras estreitamente ligados e desdobrados uns nos outros – o título Continuum, esclarece a artista, diz respeito ao uso de um conceito de Einstein sobre a indivisibilidade do espaço e tempo e a unidade entre sujeito e objeto por Lawrence Durrell, como deixou claro o autor britânico em seu Quarteto de Alexandria, tetralogia com personagens cujas histórias se fundem. Durrell, a título de observação complementar, encontrou a resposta para o enigma da individuação, recorrendo ao que chamou de “realidade heráldica”, ou seja, respeitando o poder do mito.

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Flávia Ribeiro, além do forte vínculo que seu trabalho tem com a literatura e o mundo mítico, tem com Giacometti uma outra afinidade: o poder de tornar denso o espaço, formando um amálgama com as formas de suas esculturas que – de modo consciente ou não – remetem às “celas’ (ou jaulas) em que o escultor suíço encerrava seus homens delgados, no limiar do desaparecimento. A diferença é que Giacometti foi buscar essas formas na arte dos etruscos para evidenciar a crise do homem moderno reduzido a nada. Flávia vai por um caminho não existencialista, buscando como referências seus contemporâneos.

Referência a Giacometti mostra ser humano à beira do colpaso Foto: Alex Silva/Estadão

A artista, nascida em 1954, frequentou nos anos 1970 a Escola Brasil. Um de seus mestres foi o escultor José Resende que, de modo semelhante, experimentou todo tipo de material, do clássico bronze à parafina. Há na exposição uma obra que, de modo irônico, ela batizou de Pintura – díptico com uma tela negra, à maneira de Ad Reinhardt, mas feita com cera, e outra abóbora, que usa guache. Como se sabe, Reinhardt dizia que sua tela negra seria a última pintura que um artista poderia fazer. A definitiva. Flávia, então, brinca com a própria morte, como, aliás, em outras peças da exposição.

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A figura da entrada da exposição, por exemplo, é reduzida na segunda sala a um faixa preta na parede e um luminoso tapete amarelo no chão. Sempre o embate entre luz e treva, com o ouro seguindo a tradição de Bizâncio. “O ouro tem exatamente esse papel”, assegura a artista. Flávia busca não uma estilização de Giotto, mas uma composição que seja autenticamente interior, fruto da observação do mundo real – há, na mostra, até desenhos de insetos que circulam por seu ateliê.

Quando Flávia fez uma exposição no Instituto Figueiredo Ferraz há dois anos, o curador Henrique Xavier, a esse respeito, escreveu que o ouro pontuava “delicadamente” a mostra, referindo-se em particular à obra Duplo Figurado, imagem fotográfica que apresenta duas mãos sustentando uma esfera dourada (como a da citada figura da abertura desta exposição). É o ouro, em sua solenidade monumental, que revela a presença dessa imagem humana em tamanho real, como, no passado, o ouro distinguiu a figura dos santos dos mortais (a exemplo de Giotto, para voltar mais uma vez ao século 14).

Flávia, na terceira e última sala da exposição, diz que o conjunto de desenhos produzidos entre 2017 e 2019 faz referência a esculturas instaladas no mesmo espaço, tornando clara sua intenção de convidar o espectador a entrar no ‘continuum’ espacial do objeto, que era também o desejo de Giacometti, segundo o crítico David Sylvester. 

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Não importava tanto a existência física das esculturas do suíço, mas a interação do espectador com seus objetos, tornando essencial sua presença para a existência da obra – daí que muitos desenhos parecem esculturas e vice-versa, cabendo ao espectador definir sua natureza. Uma exposição, enfim, cuja energia parece infindável para quem esteve tão perto da morte.

Sobre Giacometti, uma das referências da artista Flávia Ribeiro em sua exposição Continuum, Sartre dizia ter o escultor um rosto antediluviano de um homem de Altamira, uma “silhueta indistinta caminhando no horizonte”. Logo à entrada da mostra, uma figura humana de costas, giacomettiana e obscurecida pelo negrume da noite eterna, entre o ser e o nada – para usar uma expressão de Sartre – traz nas mãos uma pequena escultura de bronze que remete à maquete da casa da própria Flávia (obra exposta ao lado), funcionando como um convite para entrar em seu mundo particular, povoado de “silhuetas indistintas”. Em três salas, o visitante poderá acompanhar o trabalho da artista entre 2014 e 2021, duros anos em que a artista paulistana, lutando contra (e vencendo) a morte, produziu alguns de seus mais notáveis trabalhos.

A artista Flávia Ribeiro com uma de suas obras na exposição 'Continuum' Foto: Alex Silva/Estadão

Com curadoria do filósofo Henrique Xavier, Continuum reúne desenhos, esculturas em bronze e gravuras estreitamente ligados e desdobrados uns nos outros – o título Continuum, esclarece a artista, diz respeito ao uso de um conceito de Einstein sobre a indivisibilidade do espaço e tempo e a unidade entre sujeito e objeto por Lawrence Durrell, como deixou claro o autor britânico em seu Quarteto de Alexandria, tetralogia com personagens cujas histórias se fundem. Durrell, a título de observação complementar, encontrou a resposta para o enigma da individuação, recorrendo ao que chamou de “realidade heráldica”, ou seja, respeitando o poder do mito.

Flávia Ribeiro, além do forte vínculo que seu trabalho tem com a literatura e o mundo mítico, tem com Giacometti uma outra afinidade: o poder de tornar denso o espaço, formando um amálgama com as formas de suas esculturas que – de modo consciente ou não – remetem às “celas’ (ou jaulas) em que o escultor suíço encerrava seus homens delgados, no limiar do desaparecimento. A diferença é que Giacometti foi buscar essas formas na arte dos etruscos para evidenciar a crise do homem moderno reduzido a nada. Flávia vai por um caminho não existencialista, buscando como referências seus contemporâneos.

Referência a Giacometti mostra ser humano à beira do colpaso Foto: Alex Silva/Estadão

A artista, nascida em 1954, frequentou nos anos 1970 a Escola Brasil. Um de seus mestres foi o escultor José Resende que, de modo semelhante, experimentou todo tipo de material, do clássico bronze à parafina. Há na exposição uma obra que, de modo irônico, ela batizou de Pintura – díptico com uma tela negra, à maneira de Ad Reinhardt, mas feita com cera, e outra abóbora, que usa guache. Como se sabe, Reinhardt dizia que sua tela negra seria a última pintura que um artista poderia fazer. A definitiva. Flávia, então, brinca com a própria morte, como, aliás, em outras peças da exposição.

A figura da entrada da exposição, por exemplo, é reduzida na segunda sala a um faixa preta na parede e um luminoso tapete amarelo no chão. Sempre o embate entre luz e treva, com o ouro seguindo a tradição de Bizâncio. “O ouro tem exatamente esse papel”, assegura a artista. Flávia busca não uma estilização de Giotto, mas uma composição que seja autenticamente interior, fruto da observação do mundo real – há, na mostra, até desenhos de insetos que circulam por seu ateliê.

Quando Flávia fez uma exposição no Instituto Figueiredo Ferraz há dois anos, o curador Henrique Xavier, a esse respeito, escreveu que o ouro pontuava “delicadamente” a mostra, referindo-se em particular à obra Duplo Figurado, imagem fotográfica que apresenta duas mãos sustentando uma esfera dourada (como a da citada figura da abertura desta exposição). É o ouro, em sua solenidade monumental, que revela a presença dessa imagem humana em tamanho real, como, no passado, o ouro distinguiu a figura dos santos dos mortais (a exemplo de Giotto, para voltar mais uma vez ao século 14).

Flávia, na terceira e última sala da exposição, diz que o conjunto de desenhos produzidos entre 2017 e 2019 faz referência a esculturas instaladas no mesmo espaço, tornando clara sua intenção de convidar o espectador a entrar no ‘continuum’ espacial do objeto, que era também o desejo de Giacometti, segundo o crítico David Sylvester. 

Não importava tanto a existência física das esculturas do suíço, mas a interação do espectador com seus objetos, tornando essencial sua presença para a existência da obra – daí que muitos desenhos parecem esculturas e vice-versa, cabendo ao espectador definir sua natureza. Uma exposição, enfim, cuja energia parece infindável para quem esteve tão perto da morte.

Sobre Giacometti, uma das referências da artista Flávia Ribeiro em sua exposição Continuum, Sartre dizia ter o escultor um rosto antediluviano de um homem de Altamira, uma “silhueta indistinta caminhando no horizonte”. Logo à entrada da mostra, uma figura humana de costas, giacomettiana e obscurecida pelo negrume da noite eterna, entre o ser e o nada – para usar uma expressão de Sartre – traz nas mãos uma pequena escultura de bronze que remete à maquete da casa da própria Flávia (obra exposta ao lado), funcionando como um convite para entrar em seu mundo particular, povoado de “silhuetas indistintas”. Em três salas, o visitante poderá acompanhar o trabalho da artista entre 2014 e 2021, duros anos em que a artista paulistana, lutando contra (e vencendo) a morte, produziu alguns de seus mais notáveis trabalhos.

A artista Flávia Ribeiro com uma de suas obras na exposição 'Continuum' Foto: Alex Silva/Estadão

Com curadoria do filósofo Henrique Xavier, Continuum reúne desenhos, esculturas em bronze e gravuras estreitamente ligados e desdobrados uns nos outros – o título Continuum, esclarece a artista, diz respeito ao uso de um conceito de Einstein sobre a indivisibilidade do espaço e tempo e a unidade entre sujeito e objeto por Lawrence Durrell, como deixou claro o autor britânico em seu Quarteto de Alexandria, tetralogia com personagens cujas histórias se fundem. Durrell, a título de observação complementar, encontrou a resposta para o enigma da individuação, recorrendo ao que chamou de “realidade heráldica”, ou seja, respeitando o poder do mito.

Flávia Ribeiro, além do forte vínculo que seu trabalho tem com a literatura e o mundo mítico, tem com Giacometti uma outra afinidade: o poder de tornar denso o espaço, formando um amálgama com as formas de suas esculturas que – de modo consciente ou não – remetem às “celas’ (ou jaulas) em que o escultor suíço encerrava seus homens delgados, no limiar do desaparecimento. A diferença é que Giacometti foi buscar essas formas na arte dos etruscos para evidenciar a crise do homem moderno reduzido a nada. Flávia vai por um caminho não existencialista, buscando como referências seus contemporâneos.

Referência a Giacometti mostra ser humano à beira do colpaso Foto: Alex Silva/Estadão

A artista, nascida em 1954, frequentou nos anos 1970 a Escola Brasil. Um de seus mestres foi o escultor José Resende que, de modo semelhante, experimentou todo tipo de material, do clássico bronze à parafina. Há na exposição uma obra que, de modo irônico, ela batizou de Pintura – díptico com uma tela negra, à maneira de Ad Reinhardt, mas feita com cera, e outra abóbora, que usa guache. Como se sabe, Reinhardt dizia que sua tela negra seria a última pintura que um artista poderia fazer. A definitiva. Flávia, então, brinca com a própria morte, como, aliás, em outras peças da exposição.

A figura da entrada da exposição, por exemplo, é reduzida na segunda sala a um faixa preta na parede e um luminoso tapete amarelo no chão. Sempre o embate entre luz e treva, com o ouro seguindo a tradição de Bizâncio. “O ouro tem exatamente esse papel”, assegura a artista. Flávia busca não uma estilização de Giotto, mas uma composição que seja autenticamente interior, fruto da observação do mundo real – há, na mostra, até desenhos de insetos que circulam por seu ateliê.

Quando Flávia fez uma exposição no Instituto Figueiredo Ferraz há dois anos, o curador Henrique Xavier, a esse respeito, escreveu que o ouro pontuava “delicadamente” a mostra, referindo-se em particular à obra Duplo Figurado, imagem fotográfica que apresenta duas mãos sustentando uma esfera dourada (como a da citada figura da abertura desta exposição). É o ouro, em sua solenidade monumental, que revela a presença dessa imagem humana em tamanho real, como, no passado, o ouro distinguiu a figura dos santos dos mortais (a exemplo de Giotto, para voltar mais uma vez ao século 14).

Flávia, na terceira e última sala da exposição, diz que o conjunto de desenhos produzidos entre 2017 e 2019 faz referência a esculturas instaladas no mesmo espaço, tornando clara sua intenção de convidar o espectador a entrar no ‘continuum’ espacial do objeto, que era também o desejo de Giacometti, segundo o crítico David Sylvester. 

Não importava tanto a existência física das esculturas do suíço, mas a interação do espectador com seus objetos, tornando essencial sua presença para a existência da obra – daí que muitos desenhos parecem esculturas e vice-versa, cabendo ao espectador definir sua natureza. Uma exposição, enfim, cuja energia parece infindável para quem esteve tão perto da morte.

Sobre Giacometti, uma das referências da artista Flávia Ribeiro em sua exposição Continuum, Sartre dizia ter o escultor um rosto antediluviano de um homem de Altamira, uma “silhueta indistinta caminhando no horizonte”. Logo à entrada da mostra, uma figura humana de costas, giacomettiana e obscurecida pelo negrume da noite eterna, entre o ser e o nada – para usar uma expressão de Sartre – traz nas mãos uma pequena escultura de bronze que remete à maquete da casa da própria Flávia (obra exposta ao lado), funcionando como um convite para entrar em seu mundo particular, povoado de “silhuetas indistintas”. Em três salas, o visitante poderá acompanhar o trabalho da artista entre 2014 e 2021, duros anos em que a artista paulistana, lutando contra (e vencendo) a morte, produziu alguns de seus mais notáveis trabalhos.

A artista Flávia Ribeiro com uma de suas obras na exposição 'Continuum' Foto: Alex Silva/Estadão

Com curadoria do filósofo Henrique Xavier, Continuum reúne desenhos, esculturas em bronze e gravuras estreitamente ligados e desdobrados uns nos outros – o título Continuum, esclarece a artista, diz respeito ao uso de um conceito de Einstein sobre a indivisibilidade do espaço e tempo e a unidade entre sujeito e objeto por Lawrence Durrell, como deixou claro o autor britânico em seu Quarteto de Alexandria, tetralogia com personagens cujas histórias se fundem. Durrell, a título de observação complementar, encontrou a resposta para o enigma da individuação, recorrendo ao que chamou de “realidade heráldica”, ou seja, respeitando o poder do mito.

Flávia Ribeiro, além do forte vínculo que seu trabalho tem com a literatura e o mundo mítico, tem com Giacometti uma outra afinidade: o poder de tornar denso o espaço, formando um amálgama com as formas de suas esculturas que – de modo consciente ou não – remetem às “celas’ (ou jaulas) em que o escultor suíço encerrava seus homens delgados, no limiar do desaparecimento. A diferença é que Giacometti foi buscar essas formas na arte dos etruscos para evidenciar a crise do homem moderno reduzido a nada. Flávia vai por um caminho não existencialista, buscando como referências seus contemporâneos.

Referência a Giacometti mostra ser humano à beira do colpaso Foto: Alex Silva/Estadão

A artista, nascida em 1954, frequentou nos anos 1970 a Escola Brasil. Um de seus mestres foi o escultor José Resende que, de modo semelhante, experimentou todo tipo de material, do clássico bronze à parafina. Há na exposição uma obra que, de modo irônico, ela batizou de Pintura – díptico com uma tela negra, à maneira de Ad Reinhardt, mas feita com cera, e outra abóbora, que usa guache. Como se sabe, Reinhardt dizia que sua tela negra seria a última pintura que um artista poderia fazer. A definitiva. Flávia, então, brinca com a própria morte, como, aliás, em outras peças da exposição.

A figura da entrada da exposição, por exemplo, é reduzida na segunda sala a um faixa preta na parede e um luminoso tapete amarelo no chão. Sempre o embate entre luz e treva, com o ouro seguindo a tradição de Bizâncio. “O ouro tem exatamente esse papel”, assegura a artista. Flávia busca não uma estilização de Giotto, mas uma composição que seja autenticamente interior, fruto da observação do mundo real – há, na mostra, até desenhos de insetos que circulam por seu ateliê.

Quando Flávia fez uma exposição no Instituto Figueiredo Ferraz há dois anos, o curador Henrique Xavier, a esse respeito, escreveu que o ouro pontuava “delicadamente” a mostra, referindo-se em particular à obra Duplo Figurado, imagem fotográfica que apresenta duas mãos sustentando uma esfera dourada (como a da citada figura da abertura desta exposição). É o ouro, em sua solenidade monumental, que revela a presença dessa imagem humana em tamanho real, como, no passado, o ouro distinguiu a figura dos santos dos mortais (a exemplo de Giotto, para voltar mais uma vez ao século 14).

Flávia, na terceira e última sala da exposição, diz que o conjunto de desenhos produzidos entre 2017 e 2019 faz referência a esculturas instaladas no mesmo espaço, tornando clara sua intenção de convidar o espectador a entrar no ‘continuum’ espacial do objeto, que era também o desejo de Giacometti, segundo o crítico David Sylvester. 

Não importava tanto a existência física das esculturas do suíço, mas a interação do espectador com seus objetos, tornando essencial sua presença para a existência da obra – daí que muitos desenhos parecem esculturas e vice-versa, cabendo ao espectador definir sua natureza. Uma exposição, enfim, cuja energia parece infindável para quem esteve tão perto da morte.

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