Santa Ceia nas Olimpíadas, Jesus trans ou gay: Relembre outras vezes em que artistas incomodaram


Banksy, Paul McCarthy, Marina Abramovic e Porta dos Fundos são alguns dos artistas que geraram incômodo em alguns grupos da sociedade com as suas obras

Por Redação
Atualização:
Cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris recria Santa Ceia com draq queens e causa protesto de bispos. Foto: @Olympics (X)/

Das pinturas classicistas a óleo àquelas feitas digitalmente com auxílio de inteligência artificial. Do teatro grego aos monólogos contemporâneos. A arte se renova sempre acompanhando o tempo presente. Mas há um aspecto que não muda: o poder contestador que ela implica.

A representação de um banquete dionísico com drag queens e corpos diversos na abertura da Olimpíada de Paris na última sexta, 26 - que foi interpretada por muitos como uma sátira à última ceia de Jesus, eternizada por Leonardo da Vinci - incitou debates e, sobretudo, incômodo, inclusive aqui no Brasil.

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Ao longo dos anos, outras obras também repercutiram por provocarem o establishment social, seja religioso, moral ou político. Relembre outros casos que geraram debate e reações da sociedade.

Stop and Search - Banksy, 2007

Exposição imersiva The Art of Banksy Foto: Taba Benedicto / Estadão
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O artista de rua britânico, um dos mais famosos do mundo, é conhecido pelas obras que contestam valores sociais e políticos. Banksy começa a produzir murais pelas ruas de Brixton, em Londres, na Inglaterra, e, com o tempo, suas obras se espalharam pelo mundo.

Uma delas é Stop and Search (2007), que está em Bethlehem, na Palestina, e mostra um soldado sendo revistado por uma garota que nos lembra Dorothy, a doce e inocente personagem de O Mágico de Oz. A obra representa a rebelião contra figuras sociais de poder, e o título - pare e procure - remete às abordagens policiais que tinham como alvo, muitas vezes, imigrantes.

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O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu, Jo Clifford, 2016

A atriz Renata Carvalho no monólogo 'O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu', em cartaz no Sesc Santo Amaro. Foto: Ligia Jardim

Escrita pela dramaturga escocesa trans Jo Clifford, a peça recria a história de Jesus Cristo como uma transexual, em um discurso bíblico que remete à aceitação. A adaptação brasileira protagonizada pela atriz brasileira Renata Carvalho em 2020 foi proibida de ser encenada por um juiz da cidade de Jundiaí, no interior de São Paulo, com base num processo movido por uma moradora da cidade. A decisão, posteriormente revertida, alegava que a peça era “atentatória à dignidade da fé cristã” por “trazer Jesus Cristo reencarnado como uma mulher transexual”.

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A repercussão da peça e da decisão judicial fez com que Renata fosse alvo de ataques nas redes sociais. Na época, a diretora do espetáculo, Natalia Mallo, afirmou ter sido vítima de “censura”. “Apesar de saber que a peça pode causar opiniões contrárias, a gente nunca achou que seria alvo de censura”, disse ao Estadão. Criticando a decisão do juiz, ela lembrou que o Estado é laico. “Ficamos tristes de ver a lei aplicada daquela forma, baseada em opinião pessoal”.

A Primeira Tentação de Cristo - Porta dos Fundos, 2019

Jesus Cristo (Gregório Duvivier) e seu amigo gay (Fábio Porchat), na sátira "A Primeira Tentação de Cristo", do Porta dos Fundos Foto: Estadão
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Foram vários os problemas entre a trupe de humoristas do Porta dos Fundos e a iconografia da igreja católica. Depois dos especiais A Arca de Noé (2017) e Se Beber, Não Ceie (2018), o Porta lançou A Primeira Tentação de Cristo, em 2019, publicado na Netflix e não no canal de YouTube como de costume.

Na história, o Jesus Cristo interpretado por Gregório Duvivier se descobre gay e começa a namorar outro rapaz, de nome Orlando, vivido por Fábio Porchat. Há outras questões que incomodaram os religiosos, como Deus ser retratado como um personagem mentiroso.

As reações foram barulhentas de políticos e por parte da igreja. O grupo foi alvo de um atentado na antiga sede, com ataque de bombas e um princípio de incêndio. Também tentaram tirar o episódio do ar por ordem judicial, mas o pedido foi negado.

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Em 2023, o grupo lançaria outro especial de fim de ano, mas cancelou devido à guerra entre Israel e Palestina.

La Bête - Wagner Schwartz, 2017

Cena do espetáculo La Bête, de Wagner Schwartz Foto: Caroline Moraes|Divulgação

Na bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) de 2017, o artista brasileiro Wagner Schwartz performou La Bête, junto à réplica de um um origami de papel da série Bichos, criação de Lygia Clark. Assim como a obra da artista, que pedia a interação, o performer também se colocou à disposição do público. Uma mulher e a filha de cinco anos se aproximaram do artista, que estava nu, e tocaram parte de sua perna e seus pés. Um vídeo do momento, retirado de contexto, circulou nas redes e suscitou ataques ao artista com acusações de pedofilia na rede e ameaças à integridade física do curador da mostra, Luiz Camilo Osório.

Schwartz foi chamado a depor e um inquérito foi aberto pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP) para investigar o suposto caso de pedofilia. O processo foi arquivado.

Tree, Paul McCarthy, 2014

Na época, algumas pessoas ficaram chocadas ao ver uma cilíndrica e gigantesca escultura verde exposta na Praça Vendôme, em Paris. A obra Tree, de Paul McCarthy, foi vandalizada por lembrar um objeto fálico e ser considerada “imprópria”. Até aí, nada de novo: o célebre Davi, de Michelangelo, já chocava autoridades desde o século 16, quando tentaram incluir uma tanga para tapar sua nudez.

Rhythm 0 (Ritmo 0), Marina Abramovic, 1975

A artista Marina Abramovic: 'Ritmo 0' levou o procedimento da artista ao limite do risco físico.  

Nessa que é uma das mais famosas performances da artista sérvia, Abramovic colocou 72 itens sobre uma mesa - entre eles, um machado, uma pistola e uma bala de revólver - e ficou por seis horas na Galleria Studio Morra, de Nápoles, à disposição do público para que fizesse o que quisesse com ela, sem resistência. Em determinado momento, um espectador colocou a arma na mão da artista e a apontou para seu pescoço. A imagem registrada por um fotógrafo ficou eternizada no imaginário sobre a artista.

Cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris recria Santa Ceia com draq queens e causa protesto de bispos. Foto: @Olympics (X)/

Das pinturas classicistas a óleo àquelas feitas digitalmente com auxílio de inteligência artificial. Do teatro grego aos monólogos contemporâneos. A arte se renova sempre acompanhando o tempo presente. Mas há um aspecto que não muda: o poder contestador que ela implica.

A representação de um banquete dionísico com drag queens e corpos diversos na abertura da Olimpíada de Paris na última sexta, 26 - que foi interpretada por muitos como uma sátira à última ceia de Jesus, eternizada por Leonardo da Vinci - incitou debates e, sobretudo, incômodo, inclusive aqui no Brasil.

Ao longo dos anos, outras obras também repercutiram por provocarem o establishment social, seja religioso, moral ou político. Relembre outros casos que geraram debate e reações da sociedade.

Stop and Search - Banksy, 2007

Exposição imersiva The Art of Banksy Foto: Taba Benedicto / Estadão

O artista de rua britânico, um dos mais famosos do mundo, é conhecido pelas obras que contestam valores sociais e políticos. Banksy começa a produzir murais pelas ruas de Brixton, em Londres, na Inglaterra, e, com o tempo, suas obras se espalharam pelo mundo.

Uma delas é Stop and Search (2007), que está em Bethlehem, na Palestina, e mostra um soldado sendo revistado por uma garota que nos lembra Dorothy, a doce e inocente personagem de O Mágico de Oz. A obra representa a rebelião contra figuras sociais de poder, e o título - pare e procure - remete às abordagens policiais que tinham como alvo, muitas vezes, imigrantes.

O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu, Jo Clifford, 2016

A atriz Renata Carvalho no monólogo 'O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu', em cartaz no Sesc Santo Amaro. Foto: Ligia Jardim

Escrita pela dramaturga escocesa trans Jo Clifford, a peça recria a história de Jesus Cristo como uma transexual, em um discurso bíblico que remete à aceitação. A adaptação brasileira protagonizada pela atriz brasileira Renata Carvalho em 2020 foi proibida de ser encenada por um juiz da cidade de Jundiaí, no interior de São Paulo, com base num processo movido por uma moradora da cidade. A decisão, posteriormente revertida, alegava que a peça era “atentatória à dignidade da fé cristã” por “trazer Jesus Cristo reencarnado como uma mulher transexual”.

A repercussão da peça e da decisão judicial fez com que Renata fosse alvo de ataques nas redes sociais. Na época, a diretora do espetáculo, Natalia Mallo, afirmou ter sido vítima de “censura”. “Apesar de saber que a peça pode causar opiniões contrárias, a gente nunca achou que seria alvo de censura”, disse ao Estadão. Criticando a decisão do juiz, ela lembrou que o Estado é laico. “Ficamos tristes de ver a lei aplicada daquela forma, baseada em opinião pessoal”.

A Primeira Tentação de Cristo - Porta dos Fundos, 2019

Jesus Cristo (Gregório Duvivier) e seu amigo gay (Fábio Porchat), na sátira "A Primeira Tentação de Cristo", do Porta dos Fundos Foto: Estadão

Foram vários os problemas entre a trupe de humoristas do Porta dos Fundos e a iconografia da igreja católica. Depois dos especiais A Arca de Noé (2017) e Se Beber, Não Ceie (2018), o Porta lançou A Primeira Tentação de Cristo, em 2019, publicado na Netflix e não no canal de YouTube como de costume.

Na história, o Jesus Cristo interpretado por Gregório Duvivier se descobre gay e começa a namorar outro rapaz, de nome Orlando, vivido por Fábio Porchat. Há outras questões que incomodaram os religiosos, como Deus ser retratado como um personagem mentiroso.

As reações foram barulhentas de políticos e por parte da igreja. O grupo foi alvo de um atentado na antiga sede, com ataque de bombas e um princípio de incêndio. Também tentaram tirar o episódio do ar por ordem judicial, mas o pedido foi negado.

Em 2023, o grupo lançaria outro especial de fim de ano, mas cancelou devido à guerra entre Israel e Palestina.

La Bête - Wagner Schwartz, 2017

Cena do espetáculo La Bête, de Wagner Schwartz Foto: Caroline Moraes|Divulgação

Na bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) de 2017, o artista brasileiro Wagner Schwartz performou La Bête, junto à réplica de um um origami de papel da série Bichos, criação de Lygia Clark. Assim como a obra da artista, que pedia a interação, o performer também se colocou à disposição do público. Uma mulher e a filha de cinco anos se aproximaram do artista, que estava nu, e tocaram parte de sua perna e seus pés. Um vídeo do momento, retirado de contexto, circulou nas redes e suscitou ataques ao artista com acusações de pedofilia na rede e ameaças à integridade física do curador da mostra, Luiz Camilo Osório.

Schwartz foi chamado a depor e um inquérito foi aberto pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP) para investigar o suposto caso de pedofilia. O processo foi arquivado.

Tree, Paul McCarthy, 2014

Na época, algumas pessoas ficaram chocadas ao ver uma cilíndrica e gigantesca escultura verde exposta na Praça Vendôme, em Paris. A obra Tree, de Paul McCarthy, foi vandalizada por lembrar um objeto fálico e ser considerada “imprópria”. Até aí, nada de novo: o célebre Davi, de Michelangelo, já chocava autoridades desde o século 16, quando tentaram incluir uma tanga para tapar sua nudez.

Rhythm 0 (Ritmo 0), Marina Abramovic, 1975

A artista Marina Abramovic: 'Ritmo 0' levou o procedimento da artista ao limite do risco físico.  

Nessa que é uma das mais famosas performances da artista sérvia, Abramovic colocou 72 itens sobre uma mesa - entre eles, um machado, uma pistola e uma bala de revólver - e ficou por seis horas na Galleria Studio Morra, de Nápoles, à disposição do público para que fizesse o que quisesse com ela, sem resistência. Em determinado momento, um espectador colocou a arma na mão da artista e a apontou para seu pescoço. A imagem registrada por um fotógrafo ficou eternizada no imaginário sobre a artista.

Cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris recria Santa Ceia com draq queens e causa protesto de bispos. Foto: @Olympics (X)/

Das pinturas classicistas a óleo àquelas feitas digitalmente com auxílio de inteligência artificial. Do teatro grego aos monólogos contemporâneos. A arte se renova sempre acompanhando o tempo presente. Mas há um aspecto que não muda: o poder contestador que ela implica.

A representação de um banquete dionísico com drag queens e corpos diversos na abertura da Olimpíada de Paris na última sexta, 26 - que foi interpretada por muitos como uma sátira à última ceia de Jesus, eternizada por Leonardo da Vinci - incitou debates e, sobretudo, incômodo, inclusive aqui no Brasil.

Ao longo dos anos, outras obras também repercutiram por provocarem o establishment social, seja religioso, moral ou político. Relembre outros casos que geraram debate e reações da sociedade.

Stop and Search - Banksy, 2007

Exposição imersiva The Art of Banksy Foto: Taba Benedicto / Estadão

O artista de rua britânico, um dos mais famosos do mundo, é conhecido pelas obras que contestam valores sociais e políticos. Banksy começa a produzir murais pelas ruas de Brixton, em Londres, na Inglaterra, e, com o tempo, suas obras se espalharam pelo mundo.

Uma delas é Stop and Search (2007), que está em Bethlehem, na Palestina, e mostra um soldado sendo revistado por uma garota que nos lembra Dorothy, a doce e inocente personagem de O Mágico de Oz. A obra representa a rebelião contra figuras sociais de poder, e o título - pare e procure - remete às abordagens policiais que tinham como alvo, muitas vezes, imigrantes.

O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu, Jo Clifford, 2016

A atriz Renata Carvalho no monólogo 'O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu', em cartaz no Sesc Santo Amaro. Foto: Ligia Jardim

Escrita pela dramaturga escocesa trans Jo Clifford, a peça recria a história de Jesus Cristo como uma transexual, em um discurso bíblico que remete à aceitação. A adaptação brasileira protagonizada pela atriz brasileira Renata Carvalho em 2020 foi proibida de ser encenada por um juiz da cidade de Jundiaí, no interior de São Paulo, com base num processo movido por uma moradora da cidade. A decisão, posteriormente revertida, alegava que a peça era “atentatória à dignidade da fé cristã” por “trazer Jesus Cristo reencarnado como uma mulher transexual”.

A repercussão da peça e da decisão judicial fez com que Renata fosse alvo de ataques nas redes sociais. Na época, a diretora do espetáculo, Natalia Mallo, afirmou ter sido vítima de “censura”. “Apesar de saber que a peça pode causar opiniões contrárias, a gente nunca achou que seria alvo de censura”, disse ao Estadão. Criticando a decisão do juiz, ela lembrou que o Estado é laico. “Ficamos tristes de ver a lei aplicada daquela forma, baseada em opinião pessoal”.

A Primeira Tentação de Cristo - Porta dos Fundos, 2019

Jesus Cristo (Gregório Duvivier) e seu amigo gay (Fábio Porchat), na sátira "A Primeira Tentação de Cristo", do Porta dos Fundos Foto: Estadão

Foram vários os problemas entre a trupe de humoristas do Porta dos Fundos e a iconografia da igreja católica. Depois dos especiais A Arca de Noé (2017) e Se Beber, Não Ceie (2018), o Porta lançou A Primeira Tentação de Cristo, em 2019, publicado na Netflix e não no canal de YouTube como de costume.

Na história, o Jesus Cristo interpretado por Gregório Duvivier se descobre gay e começa a namorar outro rapaz, de nome Orlando, vivido por Fábio Porchat. Há outras questões que incomodaram os religiosos, como Deus ser retratado como um personagem mentiroso.

As reações foram barulhentas de políticos e por parte da igreja. O grupo foi alvo de um atentado na antiga sede, com ataque de bombas e um princípio de incêndio. Também tentaram tirar o episódio do ar por ordem judicial, mas o pedido foi negado.

Em 2023, o grupo lançaria outro especial de fim de ano, mas cancelou devido à guerra entre Israel e Palestina.

La Bête - Wagner Schwartz, 2017

Cena do espetáculo La Bête, de Wagner Schwartz Foto: Caroline Moraes|Divulgação

Na bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) de 2017, o artista brasileiro Wagner Schwartz performou La Bête, junto à réplica de um um origami de papel da série Bichos, criação de Lygia Clark. Assim como a obra da artista, que pedia a interação, o performer também se colocou à disposição do público. Uma mulher e a filha de cinco anos se aproximaram do artista, que estava nu, e tocaram parte de sua perna e seus pés. Um vídeo do momento, retirado de contexto, circulou nas redes e suscitou ataques ao artista com acusações de pedofilia na rede e ameaças à integridade física do curador da mostra, Luiz Camilo Osório.

Schwartz foi chamado a depor e um inquérito foi aberto pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP) para investigar o suposto caso de pedofilia. O processo foi arquivado.

Tree, Paul McCarthy, 2014

Na época, algumas pessoas ficaram chocadas ao ver uma cilíndrica e gigantesca escultura verde exposta na Praça Vendôme, em Paris. A obra Tree, de Paul McCarthy, foi vandalizada por lembrar um objeto fálico e ser considerada “imprópria”. Até aí, nada de novo: o célebre Davi, de Michelangelo, já chocava autoridades desde o século 16, quando tentaram incluir uma tanga para tapar sua nudez.

Rhythm 0 (Ritmo 0), Marina Abramovic, 1975

A artista Marina Abramovic: 'Ritmo 0' levou o procedimento da artista ao limite do risco físico.  

Nessa que é uma das mais famosas performances da artista sérvia, Abramovic colocou 72 itens sobre uma mesa - entre eles, um machado, uma pistola e uma bala de revólver - e ficou por seis horas na Galleria Studio Morra, de Nápoles, à disposição do público para que fizesse o que quisesse com ela, sem resistência. Em determinado momento, um espectador colocou a arma na mão da artista e a apontou para seu pescoço. A imagem registrada por um fotógrafo ficou eternizada no imaginário sobre a artista.

Cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris recria Santa Ceia com draq queens e causa protesto de bispos. Foto: @Olympics (X)/

Das pinturas classicistas a óleo àquelas feitas digitalmente com auxílio de inteligência artificial. Do teatro grego aos monólogos contemporâneos. A arte se renova sempre acompanhando o tempo presente. Mas há um aspecto que não muda: o poder contestador que ela implica.

A representação de um banquete dionísico com drag queens e corpos diversos na abertura da Olimpíada de Paris na última sexta, 26 - que foi interpretada por muitos como uma sátira à última ceia de Jesus, eternizada por Leonardo da Vinci - incitou debates e, sobretudo, incômodo, inclusive aqui no Brasil.

Ao longo dos anos, outras obras também repercutiram por provocarem o establishment social, seja religioso, moral ou político. Relembre outros casos que geraram debate e reações da sociedade.

Stop and Search - Banksy, 2007

Exposição imersiva The Art of Banksy Foto: Taba Benedicto / Estadão

O artista de rua britânico, um dos mais famosos do mundo, é conhecido pelas obras que contestam valores sociais e políticos. Banksy começa a produzir murais pelas ruas de Brixton, em Londres, na Inglaterra, e, com o tempo, suas obras se espalharam pelo mundo.

Uma delas é Stop and Search (2007), que está em Bethlehem, na Palestina, e mostra um soldado sendo revistado por uma garota que nos lembra Dorothy, a doce e inocente personagem de O Mágico de Oz. A obra representa a rebelião contra figuras sociais de poder, e o título - pare e procure - remete às abordagens policiais que tinham como alvo, muitas vezes, imigrantes.

O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu, Jo Clifford, 2016

A atriz Renata Carvalho no monólogo 'O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu', em cartaz no Sesc Santo Amaro. Foto: Ligia Jardim

Escrita pela dramaturga escocesa trans Jo Clifford, a peça recria a história de Jesus Cristo como uma transexual, em um discurso bíblico que remete à aceitação. A adaptação brasileira protagonizada pela atriz brasileira Renata Carvalho em 2020 foi proibida de ser encenada por um juiz da cidade de Jundiaí, no interior de São Paulo, com base num processo movido por uma moradora da cidade. A decisão, posteriormente revertida, alegava que a peça era “atentatória à dignidade da fé cristã” por “trazer Jesus Cristo reencarnado como uma mulher transexual”.

A repercussão da peça e da decisão judicial fez com que Renata fosse alvo de ataques nas redes sociais. Na época, a diretora do espetáculo, Natalia Mallo, afirmou ter sido vítima de “censura”. “Apesar de saber que a peça pode causar opiniões contrárias, a gente nunca achou que seria alvo de censura”, disse ao Estadão. Criticando a decisão do juiz, ela lembrou que o Estado é laico. “Ficamos tristes de ver a lei aplicada daquela forma, baseada em opinião pessoal”.

A Primeira Tentação de Cristo - Porta dos Fundos, 2019

Jesus Cristo (Gregório Duvivier) e seu amigo gay (Fábio Porchat), na sátira "A Primeira Tentação de Cristo", do Porta dos Fundos Foto: Estadão

Foram vários os problemas entre a trupe de humoristas do Porta dos Fundos e a iconografia da igreja católica. Depois dos especiais A Arca de Noé (2017) e Se Beber, Não Ceie (2018), o Porta lançou A Primeira Tentação de Cristo, em 2019, publicado na Netflix e não no canal de YouTube como de costume.

Na história, o Jesus Cristo interpretado por Gregório Duvivier se descobre gay e começa a namorar outro rapaz, de nome Orlando, vivido por Fábio Porchat. Há outras questões que incomodaram os religiosos, como Deus ser retratado como um personagem mentiroso.

As reações foram barulhentas de políticos e por parte da igreja. O grupo foi alvo de um atentado na antiga sede, com ataque de bombas e um princípio de incêndio. Também tentaram tirar o episódio do ar por ordem judicial, mas o pedido foi negado.

Em 2023, o grupo lançaria outro especial de fim de ano, mas cancelou devido à guerra entre Israel e Palestina.

La Bête - Wagner Schwartz, 2017

Cena do espetáculo La Bête, de Wagner Schwartz Foto: Caroline Moraes|Divulgação

Na bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) de 2017, o artista brasileiro Wagner Schwartz performou La Bête, junto à réplica de um um origami de papel da série Bichos, criação de Lygia Clark. Assim como a obra da artista, que pedia a interação, o performer também se colocou à disposição do público. Uma mulher e a filha de cinco anos se aproximaram do artista, que estava nu, e tocaram parte de sua perna e seus pés. Um vídeo do momento, retirado de contexto, circulou nas redes e suscitou ataques ao artista com acusações de pedofilia na rede e ameaças à integridade física do curador da mostra, Luiz Camilo Osório.

Schwartz foi chamado a depor e um inquérito foi aberto pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP) para investigar o suposto caso de pedofilia. O processo foi arquivado.

Tree, Paul McCarthy, 2014

Na época, algumas pessoas ficaram chocadas ao ver uma cilíndrica e gigantesca escultura verde exposta na Praça Vendôme, em Paris. A obra Tree, de Paul McCarthy, foi vandalizada por lembrar um objeto fálico e ser considerada “imprópria”. Até aí, nada de novo: o célebre Davi, de Michelangelo, já chocava autoridades desde o século 16, quando tentaram incluir uma tanga para tapar sua nudez.

Rhythm 0 (Ritmo 0), Marina Abramovic, 1975

A artista Marina Abramovic: 'Ritmo 0' levou o procedimento da artista ao limite do risco físico.  

Nessa que é uma das mais famosas performances da artista sérvia, Abramovic colocou 72 itens sobre uma mesa - entre eles, um machado, uma pistola e uma bala de revólver - e ficou por seis horas na Galleria Studio Morra, de Nápoles, à disposição do público para que fizesse o que quisesse com ela, sem resistência. Em determinado momento, um espectador colocou a arma na mão da artista e a apontou para seu pescoço. A imagem registrada por um fotógrafo ficou eternizada no imaginário sobre a artista.

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