Sebastião Salgado revisita as primeiras fotos da carreira na Revolução dos Cravos; veja imagens


Exposição tem curadoria da esposa do fotógrafo Lélia Salgado e mostra registros do início da carreira, em meados dos anos 1970

Por Daniel Silveira
Atualização:

A partir desta sexta-feira, 10, o Museu da Imagem e do Som de São Paulo estreia sua programação Maio Fotografia no MIS 2024, com exposições de alguns fotógrafos, entre eles o brasileiro Sebastião Salgado, que participa com a mostra 50 anos da Revolução dos Cravos em Portugal. Os registros feitos no início de sua carreira, em meados dos anos 1970, acompanham a cobertura fotográfica do fim da ditadura salazarista no país europeu.

Imagens do início da carreira de Sebastião Salgado fazem parte da mostra '50 anos da Revolução dos Cravos', no MIS. Foto: Sebastião Salgado/Divulgação

Curiosamente, Sebastião estava na Europa exilado, tendo saído do Brasil para fugir da perseguição da ditadura militar. “Nós éramos ligados aos grupos que lutavam contra a ditadura. Tivemos que sair rápido do Brasil, senão a gente ia ser preso e torturado”, lembra Salgado em uma entrevista coletiva que contou com a participação do Estadão.

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Quando a Revolução dos Cravos estourou em Portugal, o fotógrafo, sua esposa, Lélia, e seu filho foram para o país. “Nos instalamos numa pequena pensão, ainda não tinha um ano que fazia fotografia, não tinha encomenda de jornal nem dinheiro para comprar os filmes.”

No entanto, a despeito da situação do casal, a viagem teve uma importância crucial para o jovem fotógrafo. “Em Portugal, aprendi como construir uma história em fotografia”, conta. “(Esta) exposição tem início, meio e fim, sendo o fim uma transição em direção à democracia, e a instalação dos novos países africanos, ex-colônias portuguesas”, diz, pontuando a narrativa contada pela mostra, que teve curadoria de sua esposa, com quem é casado há quase 60 anos.

No início de sua carreira, Sebastião Salgado estava exilado na Europa e acompanhou as transformações políticas em Portugal, nos anos 1970. Foto: Renato Amoroso/Divulgação
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O momento era de um país dividido, ferido pelas guerras de independência nas colônias africanas, em que muitos jovens fugiam para não ser chamados à luta. “Uma coisa muito importante de voltar a essas fotografias é que, no final das contas, ficou uma grande parte da nossa vida e é muito interessante lembrar da história e tentar contar desde o início”, diz o fotógrafo.

Além de relembrar o início da carreira, Salgado também contou sobre perrengues pelos quais passou como o acidente que sofreu em Moçambique quando, durante uma expedição, o caminhão militar onde estava explodiu numa mina, deixando apenas uma fratura na coluna, descoberta apenas três semanas atrás. O fotógrafo também contou sobre sua primeira experiência com um flash e como, ao lado de sua companheira, foi descobrindo como funcionava o instrumento, usou para um trabalho que ganhou a capa da revista Newsweek.

Menina na cidade do Porto durante manifestação. Foto: Sebastião Salgado/Divulgação
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A passagem de Salgado por Portugal no momento de uma transição política tão importante para o país ajudou também a moldar - ainda mais - seu posicionamento político e, por que não dizer, sua postura em relação ao mundo. Não à toa, seus trabalhos posteriores envolvem um olhar mais humanizado para as pessoas, como em Êxodos, em que retrata refugiados, ou uma visão do planeta Terra como um sistema vivo, como em Gênesis.

O fotógrafo, que tem um uma ONG junto com a esposa para reflorestar uma região do Vale do Rio Doce, o Instituto Terra, também se tornou uma potente voz ambientalista. “Acho que nós todos teremos que ser obrigados a lutar em direção à proteção do meio ambiente. O planeta está sendo abusado e nós estamos perdendo o controle. Em última instância, somos nós que vamos sofrer, a espécie humana”, opina, pontuando o momento em que vemos as enchentes no Rio Grande do Sul. “Pela primeira vez você viu um rio, um rio imenso, transbordar, invadir uma cidade, matar uma cidade”, completa.

Havi Zarai, no Iraque, West Mosul, pelas lentes de Gabriel Chaim. Foto: Gabriel Chaim/Divulgação
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Outras narrativas

A programação do Maio Fotografia no MIS 2024 também inclui outros fotógrafos como Gabriel Chaim, que traz para o museu a exposição 10 anos de guerras sem fim. Chaim se dedica a documentar guerras e crises humanitárias no Oriente Médio, Europa e África, e ganha sua primeira retrospectiva. Além da exposição, a programação inclui o lançamento do livro Gabriel Chaim: 10 anos de guerras sem fim, da editora Vento Leste, no dia 22, no Auditório MIS, com entrada gratuita.

Registro do Cinema Iluzjon (Kino Iluzjon), na Polônia, do fotógrafo Sergio Poroger. Foto: Sergio Poroger/Divulgação
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Outro fotógrafo que participa da programação é Sergio Poroger, que traz seu olhar para diversos cinemas de rua no mundo inteiro para a mostra Uma rua chamada cinema. “Essa é uma exposição que homenageia os profissionais que trabalham incansavelmente dentro de uma sala de cinema para fazer a magia acontecer”, conta. Suas imagens revelam alguns segredos e transportam os espectadores para o fascinante universo paralelo da sétima arte.

Chico Buarque e Gal Costa no Rio de Janeiro em 1976, num registro de Thereza Eugênia. Foto: Thereza Eugênia/Divulgação

Já a fotógrafa baiana Thereza Eugênia traz a mostra Encontros, que retrata figuras muito conhecidas do grande público em situações comuns do dia a dia. Nomes como Chico Buarque, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Ney Matogrosso, Gal Costa, Gilberto Gil, Fafá de Belém, Djavan, Gonzaguinha, Zezé Motta e Roberto Carlos.

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Fazendo bigoudis: registro feito na década de 1960 pela fotógrafa Maureen Bisilliat. Foto: Maureen Bisilliat/Divulgação

Já a exposição Mulheres na frente e atrás das câmeras, com imagens do Acervo MIS, destaca quatro nomes: a inglesa radicada no Brasil Maureen Bisilliat, a cubana Maria Eugenia Haya (Marucha), a paulistana Lucila Wroblewski e a sérvia radicada no Brasil Gordana Mani. Os registros oferecem um panorama da representação feminina na coleção e dão uma perspectiva multigeracional e multiétnica da produção fotográfica da década de 1960 até o final da primeira década dos anos 2000.

Batalha de Iwo Jima, em 1945, em foto ganhadora do prêmio Pulitzer, que faz parte da coleção Allan Porter. Foto: Joe Rosenthal/Divulgação

Na mostra Como a história foi contada, com imagens da coleção do fotojornalista Allan Porter, foram selecionadas mais de 60 fotografias de momentos históricos ao redor do mundo entre os anos 1966 e 1981, de quando o fotógrafo esteve à frente da Revista Camera. As imagens foram cedidas por por Wulf Rössler.

O jovem fotógrafo Bruno Mathias mostra seu olhar para o Rio Tietê, na cidade de Suzano. Foto: Bruno Mathias/Divulgação

Entre os consagrados fotógrafos também está o novato Bruno Mathias, com a exposição Infravermelho, uma realidade oculta, que faz parte do projeto Nova Fotografia do MIS, que seleciona novos talentos da fotografia nacional por meio de convocatória anual. Por meio do uso da tecnologia infravermelho aplicada a fotografias, o artista revela um universo onírico e por vezes distópico de São Paulo.

Programação paralela

Além das exposições, o mês de maio também contará com outras atividades voltadas ao mundo da fotografia, todas com entrada gratuita. No sábado, 11, tem o lançamento do livro Thereza Eugênia: Portraits 1970-1980 (Editora Motriz), no dia 18, será lançado o livro Coisas que eu vi (Editora Vento Leste), de Claudio Edinger, e exibição de fotografias do autor. Já no dia 22 de maios acontece um bate-papo com Gabriel Chaim e lançamento do livro 10 anos de guerras sem fim (Editora Vento Leste).

A partir desta sexta-feira, 10, o Museu da Imagem e do Som de São Paulo estreia sua programação Maio Fotografia no MIS 2024, com exposições de alguns fotógrafos, entre eles o brasileiro Sebastião Salgado, que participa com a mostra 50 anos da Revolução dos Cravos em Portugal. Os registros feitos no início de sua carreira, em meados dos anos 1970, acompanham a cobertura fotográfica do fim da ditadura salazarista no país europeu.

Imagens do início da carreira de Sebastião Salgado fazem parte da mostra '50 anos da Revolução dos Cravos', no MIS. Foto: Sebastião Salgado/Divulgação

Curiosamente, Sebastião estava na Europa exilado, tendo saído do Brasil para fugir da perseguição da ditadura militar. “Nós éramos ligados aos grupos que lutavam contra a ditadura. Tivemos que sair rápido do Brasil, senão a gente ia ser preso e torturado”, lembra Salgado em uma entrevista coletiva que contou com a participação do Estadão.

Quando a Revolução dos Cravos estourou em Portugal, o fotógrafo, sua esposa, Lélia, e seu filho foram para o país. “Nos instalamos numa pequena pensão, ainda não tinha um ano que fazia fotografia, não tinha encomenda de jornal nem dinheiro para comprar os filmes.”

No entanto, a despeito da situação do casal, a viagem teve uma importância crucial para o jovem fotógrafo. “Em Portugal, aprendi como construir uma história em fotografia”, conta. “(Esta) exposição tem início, meio e fim, sendo o fim uma transição em direção à democracia, e a instalação dos novos países africanos, ex-colônias portuguesas”, diz, pontuando a narrativa contada pela mostra, que teve curadoria de sua esposa, com quem é casado há quase 60 anos.

No início de sua carreira, Sebastião Salgado estava exilado na Europa e acompanhou as transformações políticas em Portugal, nos anos 1970. Foto: Renato Amoroso/Divulgação

O momento era de um país dividido, ferido pelas guerras de independência nas colônias africanas, em que muitos jovens fugiam para não ser chamados à luta. “Uma coisa muito importante de voltar a essas fotografias é que, no final das contas, ficou uma grande parte da nossa vida e é muito interessante lembrar da história e tentar contar desde o início”, diz o fotógrafo.

Além de relembrar o início da carreira, Salgado também contou sobre perrengues pelos quais passou como o acidente que sofreu em Moçambique quando, durante uma expedição, o caminhão militar onde estava explodiu numa mina, deixando apenas uma fratura na coluna, descoberta apenas três semanas atrás. O fotógrafo também contou sobre sua primeira experiência com um flash e como, ao lado de sua companheira, foi descobrindo como funcionava o instrumento, usou para um trabalho que ganhou a capa da revista Newsweek.

Menina na cidade do Porto durante manifestação. Foto: Sebastião Salgado/Divulgação

A passagem de Salgado por Portugal no momento de uma transição política tão importante para o país ajudou também a moldar - ainda mais - seu posicionamento político e, por que não dizer, sua postura em relação ao mundo. Não à toa, seus trabalhos posteriores envolvem um olhar mais humanizado para as pessoas, como em Êxodos, em que retrata refugiados, ou uma visão do planeta Terra como um sistema vivo, como em Gênesis.

O fotógrafo, que tem um uma ONG junto com a esposa para reflorestar uma região do Vale do Rio Doce, o Instituto Terra, também se tornou uma potente voz ambientalista. “Acho que nós todos teremos que ser obrigados a lutar em direção à proteção do meio ambiente. O planeta está sendo abusado e nós estamos perdendo o controle. Em última instância, somos nós que vamos sofrer, a espécie humana”, opina, pontuando o momento em que vemos as enchentes no Rio Grande do Sul. “Pela primeira vez você viu um rio, um rio imenso, transbordar, invadir uma cidade, matar uma cidade”, completa.

Havi Zarai, no Iraque, West Mosul, pelas lentes de Gabriel Chaim. Foto: Gabriel Chaim/Divulgação

Outras narrativas

A programação do Maio Fotografia no MIS 2024 também inclui outros fotógrafos como Gabriel Chaim, que traz para o museu a exposição 10 anos de guerras sem fim. Chaim se dedica a documentar guerras e crises humanitárias no Oriente Médio, Europa e África, e ganha sua primeira retrospectiva. Além da exposição, a programação inclui o lançamento do livro Gabriel Chaim: 10 anos de guerras sem fim, da editora Vento Leste, no dia 22, no Auditório MIS, com entrada gratuita.

Registro do Cinema Iluzjon (Kino Iluzjon), na Polônia, do fotógrafo Sergio Poroger. Foto: Sergio Poroger/Divulgação

Outro fotógrafo que participa da programação é Sergio Poroger, que traz seu olhar para diversos cinemas de rua no mundo inteiro para a mostra Uma rua chamada cinema. “Essa é uma exposição que homenageia os profissionais que trabalham incansavelmente dentro de uma sala de cinema para fazer a magia acontecer”, conta. Suas imagens revelam alguns segredos e transportam os espectadores para o fascinante universo paralelo da sétima arte.

Chico Buarque e Gal Costa no Rio de Janeiro em 1976, num registro de Thereza Eugênia. Foto: Thereza Eugênia/Divulgação

Já a fotógrafa baiana Thereza Eugênia traz a mostra Encontros, que retrata figuras muito conhecidas do grande público em situações comuns do dia a dia. Nomes como Chico Buarque, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Ney Matogrosso, Gal Costa, Gilberto Gil, Fafá de Belém, Djavan, Gonzaguinha, Zezé Motta e Roberto Carlos.

Fazendo bigoudis: registro feito na década de 1960 pela fotógrafa Maureen Bisilliat. Foto: Maureen Bisilliat/Divulgação

Já a exposição Mulheres na frente e atrás das câmeras, com imagens do Acervo MIS, destaca quatro nomes: a inglesa radicada no Brasil Maureen Bisilliat, a cubana Maria Eugenia Haya (Marucha), a paulistana Lucila Wroblewski e a sérvia radicada no Brasil Gordana Mani. Os registros oferecem um panorama da representação feminina na coleção e dão uma perspectiva multigeracional e multiétnica da produção fotográfica da década de 1960 até o final da primeira década dos anos 2000.

Batalha de Iwo Jima, em 1945, em foto ganhadora do prêmio Pulitzer, que faz parte da coleção Allan Porter. Foto: Joe Rosenthal/Divulgação

Na mostra Como a história foi contada, com imagens da coleção do fotojornalista Allan Porter, foram selecionadas mais de 60 fotografias de momentos históricos ao redor do mundo entre os anos 1966 e 1981, de quando o fotógrafo esteve à frente da Revista Camera. As imagens foram cedidas por por Wulf Rössler.

O jovem fotógrafo Bruno Mathias mostra seu olhar para o Rio Tietê, na cidade de Suzano. Foto: Bruno Mathias/Divulgação

Entre os consagrados fotógrafos também está o novato Bruno Mathias, com a exposição Infravermelho, uma realidade oculta, que faz parte do projeto Nova Fotografia do MIS, que seleciona novos talentos da fotografia nacional por meio de convocatória anual. Por meio do uso da tecnologia infravermelho aplicada a fotografias, o artista revela um universo onírico e por vezes distópico de São Paulo.

Programação paralela

Além das exposições, o mês de maio também contará com outras atividades voltadas ao mundo da fotografia, todas com entrada gratuita. No sábado, 11, tem o lançamento do livro Thereza Eugênia: Portraits 1970-1980 (Editora Motriz), no dia 18, será lançado o livro Coisas que eu vi (Editora Vento Leste), de Claudio Edinger, e exibição de fotografias do autor. Já no dia 22 de maios acontece um bate-papo com Gabriel Chaim e lançamento do livro 10 anos de guerras sem fim (Editora Vento Leste).

A partir desta sexta-feira, 10, o Museu da Imagem e do Som de São Paulo estreia sua programação Maio Fotografia no MIS 2024, com exposições de alguns fotógrafos, entre eles o brasileiro Sebastião Salgado, que participa com a mostra 50 anos da Revolução dos Cravos em Portugal. Os registros feitos no início de sua carreira, em meados dos anos 1970, acompanham a cobertura fotográfica do fim da ditadura salazarista no país europeu.

Imagens do início da carreira de Sebastião Salgado fazem parte da mostra '50 anos da Revolução dos Cravos', no MIS. Foto: Sebastião Salgado/Divulgação

Curiosamente, Sebastião estava na Europa exilado, tendo saído do Brasil para fugir da perseguição da ditadura militar. “Nós éramos ligados aos grupos que lutavam contra a ditadura. Tivemos que sair rápido do Brasil, senão a gente ia ser preso e torturado”, lembra Salgado em uma entrevista coletiva que contou com a participação do Estadão.

Quando a Revolução dos Cravos estourou em Portugal, o fotógrafo, sua esposa, Lélia, e seu filho foram para o país. “Nos instalamos numa pequena pensão, ainda não tinha um ano que fazia fotografia, não tinha encomenda de jornal nem dinheiro para comprar os filmes.”

No entanto, a despeito da situação do casal, a viagem teve uma importância crucial para o jovem fotógrafo. “Em Portugal, aprendi como construir uma história em fotografia”, conta. “(Esta) exposição tem início, meio e fim, sendo o fim uma transição em direção à democracia, e a instalação dos novos países africanos, ex-colônias portuguesas”, diz, pontuando a narrativa contada pela mostra, que teve curadoria de sua esposa, com quem é casado há quase 60 anos.

No início de sua carreira, Sebastião Salgado estava exilado na Europa e acompanhou as transformações políticas em Portugal, nos anos 1970. Foto: Renato Amoroso/Divulgação

O momento era de um país dividido, ferido pelas guerras de independência nas colônias africanas, em que muitos jovens fugiam para não ser chamados à luta. “Uma coisa muito importante de voltar a essas fotografias é que, no final das contas, ficou uma grande parte da nossa vida e é muito interessante lembrar da história e tentar contar desde o início”, diz o fotógrafo.

Além de relembrar o início da carreira, Salgado também contou sobre perrengues pelos quais passou como o acidente que sofreu em Moçambique quando, durante uma expedição, o caminhão militar onde estava explodiu numa mina, deixando apenas uma fratura na coluna, descoberta apenas três semanas atrás. O fotógrafo também contou sobre sua primeira experiência com um flash e como, ao lado de sua companheira, foi descobrindo como funcionava o instrumento, usou para um trabalho que ganhou a capa da revista Newsweek.

Menina na cidade do Porto durante manifestação. Foto: Sebastião Salgado/Divulgação

A passagem de Salgado por Portugal no momento de uma transição política tão importante para o país ajudou também a moldar - ainda mais - seu posicionamento político e, por que não dizer, sua postura em relação ao mundo. Não à toa, seus trabalhos posteriores envolvem um olhar mais humanizado para as pessoas, como em Êxodos, em que retrata refugiados, ou uma visão do planeta Terra como um sistema vivo, como em Gênesis.

O fotógrafo, que tem um uma ONG junto com a esposa para reflorestar uma região do Vale do Rio Doce, o Instituto Terra, também se tornou uma potente voz ambientalista. “Acho que nós todos teremos que ser obrigados a lutar em direção à proteção do meio ambiente. O planeta está sendo abusado e nós estamos perdendo o controle. Em última instância, somos nós que vamos sofrer, a espécie humana”, opina, pontuando o momento em que vemos as enchentes no Rio Grande do Sul. “Pela primeira vez você viu um rio, um rio imenso, transbordar, invadir uma cidade, matar uma cidade”, completa.

Havi Zarai, no Iraque, West Mosul, pelas lentes de Gabriel Chaim. Foto: Gabriel Chaim/Divulgação

Outras narrativas

A programação do Maio Fotografia no MIS 2024 também inclui outros fotógrafos como Gabriel Chaim, que traz para o museu a exposição 10 anos de guerras sem fim. Chaim se dedica a documentar guerras e crises humanitárias no Oriente Médio, Europa e África, e ganha sua primeira retrospectiva. Além da exposição, a programação inclui o lançamento do livro Gabriel Chaim: 10 anos de guerras sem fim, da editora Vento Leste, no dia 22, no Auditório MIS, com entrada gratuita.

Registro do Cinema Iluzjon (Kino Iluzjon), na Polônia, do fotógrafo Sergio Poroger. Foto: Sergio Poroger/Divulgação

Outro fotógrafo que participa da programação é Sergio Poroger, que traz seu olhar para diversos cinemas de rua no mundo inteiro para a mostra Uma rua chamada cinema. “Essa é uma exposição que homenageia os profissionais que trabalham incansavelmente dentro de uma sala de cinema para fazer a magia acontecer”, conta. Suas imagens revelam alguns segredos e transportam os espectadores para o fascinante universo paralelo da sétima arte.

Chico Buarque e Gal Costa no Rio de Janeiro em 1976, num registro de Thereza Eugênia. Foto: Thereza Eugênia/Divulgação

Já a fotógrafa baiana Thereza Eugênia traz a mostra Encontros, que retrata figuras muito conhecidas do grande público em situações comuns do dia a dia. Nomes como Chico Buarque, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Ney Matogrosso, Gal Costa, Gilberto Gil, Fafá de Belém, Djavan, Gonzaguinha, Zezé Motta e Roberto Carlos.

Fazendo bigoudis: registro feito na década de 1960 pela fotógrafa Maureen Bisilliat. Foto: Maureen Bisilliat/Divulgação

Já a exposição Mulheres na frente e atrás das câmeras, com imagens do Acervo MIS, destaca quatro nomes: a inglesa radicada no Brasil Maureen Bisilliat, a cubana Maria Eugenia Haya (Marucha), a paulistana Lucila Wroblewski e a sérvia radicada no Brasil Gordana Mani. Os registros oferecem um panorama da representação feminina na coleção e dão uma perspectiva multigeracional e multiétnica da produção fotográfica da década de 1960 até o final da primeira década dos anos 2000.

Batalha de Iwo Jima, em 1945, em foto ganhadora do prêmio Pulitzer, que faz parte da coleção Allan Porter. Foto: Joe Rosenthal/Divulgação

Na mostra Como a história foi contada, com imagens da coleção do fotojornalista Allan Porter, foram selecionadas mais de 60 fotografias de momentos históricos ao redor do mundo entre os anos 1966 e 1981, de quando o fotógrafo esteve à frente da Revista Camera. As imagens foram cedidas por por Wulf Rössler.

O jovem fotógrafo Bruno Mathias mostra seu olhar para o Rio Tietê, na cidade de Suzano. Foto: Bruno Mathias/Divulgação

Entre os consagrados fotógrafos também está o novato Bruno Mathias, com a exposição Infravermelho, uma realidade oculta, que faz parte do projeto Nova Fotografia do MIS, que seleciona novos talentos da fotografia nacional por meio de convocatória anual. Por meio do uso da tecnologia infravermelho aplicada a fotografias, o artista revela um universo onírico e por vezes distópico de São Paulo.

Programação paralela

Além das exposições, o mês de maio também contará com outras atividades voltadas ao mundo da fotografia, todas com entrada gratuita. No sábado, 11, tem o lançamento do livro Thereza Eugênia: Portraits 1970-1980 (Editora Motriz), no dia 18, será lançado o livro Coisas que eu vi (Editora Vento Leste), de Claudio Edinger, e exibição de fotografias do autor. Já no dia 22 de maios acontece um bate-papo com Gabriel Chaim e lançamento do livro 10 anos de guerras sem fim (Editora Vento Leste).

A partir desta sexta-feira, 10, o Museu da Imagem e do Som de São Paulo estreia sua programação Maio Fotografia no MIS 2024, com exposições de alguns fotógrafos, entre eles o brasileiro Sebastião Salgado, que participa com a mostra 50 anos da Revolução dos Cravos em Portugal. Os registros feitos no início de sua carreira, em meados dos anos 1970, acompanham a cobertura fotográfica do fim da ditadura salazarista no país europeu.

Imagens do início da carreira de Sebastião Salgado fazem parte da mostra '50 anos da Revolução dos Cravos', no MIS. Foto: Sebastião Salgado/Divulgação

Curiosamente, Sebastião estava na Europa exilado, tendo saído do Brasil para fugir da perseguição da ditadura militar. “Nós éramos ligados aos grupos que lutavam contra a ditadura. Tivemos que sair rápido do Brasil, senão a gente ia ser preso e torturado”, lembra Salgado em uma entrevista coletiva que contou com a participação do Estadão.

Quando a Revolução dos Cravos estourou em Portugal, o fotógrafo, sua esposa, Lélia, e seu filho foram para o país. “Nos instalamos numa pequena pensão, ainda não tinha um ano que fazia fotografia, não tinha encomenda de jornal nem dinheiro para comprar os filmes.”

No entanto, a despeito da situação do casal, a viagem teve uma importância crucial para o jovem fotógrafo. “Em Portugal, aprendi como construir uma história em fotografia”, conta. “(Esta) exposição tem início, meio e fim, sendo o fim uma transição em direção à democracia, e a instalação dos novos países africanos, ex-colônias portuguesas”, diz, pontuando a narrativa contada pela mostra, que teve curadoria de sua esposa, com quem é casado há quase 60 anos.

No início de sua carreira, Sebastião Salgado estava exilado na Europa e acompanhou as transformações políticas em Portugal, nos anos 1970. Foto: Renato Amoroso/Divulgação

O momento era de um país dividido, ferido pelas guerras de independência nas colônias africanas, em que muitos jovens fugiam para não ser chamados à luta. “Uma coisa muito importante de voltar a essas fotografias é que, no final das contas, ficou uma grande parte da nossa vida e é muito interessante lembrar da história e tentar contar desde o início”, diz o fotógrafo.

Além de relembrar o início da carreira, Salgado também contou sobre perrengues pelos quais passou como o acidente que sofreu em Moçambique quando, durante uma expedição, o caminhão militar onde estava explodiu numa mina, deixando apenas uma fratura na coluna, descoberta apenas três semanas atrás. O fotógrafo também contou sobre sua primeira experiência com um flash e como, ao lado de sua companheira, foi descobrindo como funcionava o instrumento, usou para um trabalho que ganhou a capa da revista Newsweek.

Menina na cidade do Porto durante manifestação. Foto: Sebastião Salgado/Divulgação

A passagem de Salgado por Portugal no momento de uma transição política tão importante para o país ajudou também a moldar - ainda mais - seu posicionamento político e, por que não dizer, sua postura em relação ao mundo. Não à toa, seus trabalhos posteriores envolvem um olhar mais humanizado para as pessoas, como em Êxodos, em que retrata refugiados, ou uma visão do planeta Terra como um sistema vivo, como em Gênesis.

O fotógrafo, que tem um uma ONG junto com a esposa para reflorestar uma região do Vale do Rio Doce, o Instituto Terra, também se tornou uma potente voz ambientalista. “Acho que nós todos teremos que ser obrigados a lutar em direção à proteção do meio ambiente. O planeta está sendo abusado e nós estamos perdendo o controle. Em última instância, somos nós que vamos sofrer, a espécie humana”, opina, pontuando o momento em que vemos as enchentes no Rio Grande do Sul. “Pela primeira vez você viu um rio, um rio imenso, transbordar, invadir uma cidade, matar uma cidade”, completa.

Havi Zarai, no Iraque, West Mosul, pelas lentes de Gabriel Chaim. Foto: Gabriel Chaim/Divulgação

Outras narrativas

A programação do Maio Fotografia no MIS 2024 também inclui outros fotógrafos como Gabriel Chaim, que traz para o museu a exposição 10 anos de guerras sem fim. Chaim se dedica a documentar guerras e crises humanitárias no Oriente Médio, Europa e África, e ganha sua primeira retrospectiva. Além da exposição, a programação inclui o lançamento do livro Gabriel Chaim: 10 anos de guerras sem fim, da editora Vento Leste, no dia 22, no Auditório MIS, com entrada gratuita.

Registro do Cinema Iluzjon (Kino Iluzjon), na Polônia, do fotógrafo Sergio Poroger. Foto: Sergio Poroger/Divulgação

Outro fotógrafo que participa da programação é Sergio Poroger, que traz seu olhar para diversos cinemas de rua no mundo inteiro para a mostra Uma rua chamada cinema. “Essa é uma exposição que homenageia os profissionais que trabalham incansavelmente dentro de uma sala de cinema para fazer a magia acontecer”, conta. Suas imagens revelam alguns segredos e transportam os espectadores para o fascinante universo paralelo da sétima arte.

Chico Buarque e Gal Costa no Rio de Janeiro em 1976, num registro de Thereza Eugênia. Foto: Thereza Eugênia/Divulgação

Já a fotógrafa baiana Thereza Eugênia traz a mostra Encontros, que retrata figuras muito conhecidas do grande público em situações comuns do dia a dia. Nomes como Chico Buarque, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Ney Matogrosso, Gal Costa, Gilberto Gil, Fafá de Belém, Djavan, Gonzaguinha, Zezé Motta e Roberto Carlos.

Fazendo bigoudis: registro feito na década de 1960 pela fotógrafa Maureen Bisilliat. Foto: Maureen Bisilliat/Divulgação

Já a exposição Mulheres na frente e atrás das câmeras, com imagens do Acervo MIS, destaca quatro nomes: a inglesa radicada no Brasil Maureen Bisilliat, a cubana Maria Eugenia Haya (Marucha), a paulistana Lucila Wroblewski e a sérvia radicada no Brasil Gordana Mani. Os registros oferecem um panorama da representação feminina na coleção e dão uma perspectiva multigeracional e multiétnica da produção fotográfica da década de 1960 até o final da primeira década dos anos 2000.

Batalha de Iwo Jima, em 1945, em foto ganhadora do prêmio Pulitzer, que faz parte da coleção Allan Porter. Foto: Joe Rosenthal/Divulgação

Na mostra Como a história foi contada, com imagens da coleção do fotojornalista Allan Porter, foram selecionadas mais de 60 fotografias de momentos históricos ao redor do mundo entre os anos 1966 e 1981, de quando o fotógrafo esteve à frente da Revista Camera. As imagens foram cedidas por por Wulf Rössler.

O jovem fotógrafo Bruno Mathias mostra seu olhar para o Rio Tietê, na cidade de Suzano. Foto: Bruno Mathias/Divulgação

Entre os consagrados fotógrafos também está o novato Bruno Mathias, com a exposição Infravermelho, uma realidade oculta, que faz parte do projeto Nova Fotografia do MIS, que seleciona novos talentos da fotografia nacional por meio de convocatória anual. Por meio do uso da tecnologia infravermelho aplicada a fotografias, o artista revela um universo onírico e por vezes distópico de São Paulo.

Programação paralela

Além das exposições, o mês de maio também contará com outras atividades voltadas ao mundo da fotografia, todas com entrada gratuita. No sábado, 11, tem o lançamento do livro Thereza Eugênia: Portraits 1970-1980 (Editora Motriz), no dia 18, será lançado o livro Coisas que eu vi (Editora Vento Leste), de Claudio Edinger, e exibição de fotografias do autor. Já no dia 22 de maios acontece um bate-papo com Gabriel Chaim e lançamento do livro 10 anos de guerras sem fim (Editora Vento Leste).

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