A organização social Sustenidos, responsável pela gestão do Teatro Municipal de São Paulo, prevê a possibilidade de demissão de cerca de 100 artistas da casa no final de fevereiro. Segundo a entidade, há um déficit previsto para o ano de R$ 13,3 milhões. A Fundação Teatro Municipal, no entanto, questiona os números. Responsável por fazer os repasses da Prefeitura, a fundação afirma que não há déficit no contrato com a OS.
“Para acompanhar a inflação do período entre junho de 2021 e dezembro de 2022, o valor do repasse em 2023 deveria ser de R$ 136,6 milhões, ou seja, R$ 24,1 milhões a mais do que o valor previsto na LOA (Lei Orçamentária Anual), que é de R$ 114 milhões”, diz Andrea Saturnino, diretora do Teatro Municipal.
Segundo ela, “não há um projeto de demissão dos integrantes dos corpos artísticos”. “Mas, para cobrir o déficit que temos no orçamento, será necessário realizar cortes severos. Estamos estudando todas as alternativas possíveis - se o corte for feito apenas nos corpos artísticos, isso corresponderá a aproximadamente 100 integrantes”.
Procurada pelo Estadão, a Secretaria Municipal de Cultura questiona, em nota, os números apresentados pela Sustenidos. Segundo o texto, houve um acréscimo de R$ 8 milhões no repasse, suficiente para cobrir as despesas do ano.
“O repasse para a Sustenidos previsto na LOA de 2022 era de 109 milhões. Foi realizado crédito suplementar em 29 de dezembro de 2022, no valor de R$ 2,6 milhões, que seria usado, de acordo com a OS, para evitar demissões. Para 2023, houve um aumento no repasse de recursos para R$ 114,2 milhões. Ou seja, se considerado o repasse adicional realizado no final de 2022 (R$2,6 milhões) e a diferença do orçamento de 2022 para 2023 (R$ 5 milhões), o projeto Complexo Theatro Municipal terá esse acréscimo de quase R$ 8 milhões”, diz a nota.
Na última segunda-feira, a Sustenidos reuniu-se com representantes dos Corpos Estáveis do Municipal - Coro Lírico, Orquestra Sinfônica Municipal, Coral Paulistano, Balé da Cidade e Quarteto da Cidade - para discutir a questão. O encontro foi motivado por desentendimentos que se seguiram ao anúncio, em meados de janeiro, da realização de testes de avaliação dos cantores do coro. Em um primeiro momento, a Sustenidos afirmou que os testes tinham motivação artística. Após a reação da classe musical e conversas com a fundação, os testes foram suspensos. E, na reunião, a OS voltou atrás e informou os artistas de que as provas estavam ligadas à questão financeira.
Artistas ouvidos na segunda-feira pelo Estadão, sob condição de anonimato, mostraram preocupação com o fato dos testes terem sido suspensos e não cancelados. “A demissão de 106 artistas significa praticamente um terço dos corpos estáveis, o que vai inviabilizar o nosso trabalho”, afirmou o representante de um dos corpos estáveis.
Os testes, de fato, não estão fora do radar da Sustenidos. Andrea Saturnino afirma que os testes anunciados originalmente ofereceriam um respaldo técnico no caso de cortes, uma vez que “eles devem ser feitos com critério técnicos”. Ou seja, se os cortes forem confirmados, a Sustenidos acena com a possibilidade de realização das provas.
Representantes dos corpos estáveis devem se reunir nos próximos dias com a Fundação Teatro Municipal para tratar do assunto. A Sustenidos, por sua vez, afirma que já foram realizadas várias reuniões com a fundação e que, no momento, aguarda “uma avaliação final e retorno da parte deles”.
BALÉ
Também na reunião de segunda foi discutida a rescisão do contrato da diretora assistente do Balé da Cidade de São Paulo. “Foi dito na reunião que o cargo não seria extinto, como anteriormente eles haviam afirmado, e que a demissão da diretora foi de ordem pessoal”, diz um representante. De acordo com a Sustenidos, “poderá haver nova contratação para este cargo após a revisão de suas atribuições, e desde que haja disponibilidade orçamentária, o que depende também da resposta da fundação sobre o suplemento do repasse de 2023″.