A proposta da primeira edição da feira Rotas Brasileiras, da SP-Arte, que terminou no domingo (28),era a de aproximar o público paulista de outras regiões do País. Isso aconteceu, de fato. Galerias como a Marco Zero, de Recife, em seu segundo ano de funcionamento, e a Paulo Darzé, de Salvador, que montou mostra com obras de Siron Franco (preços por volta de R$ 220 mil), venderam bem na feira, mas isso se deve, em parte, aos valores das obras, que não eram tão altos como as das galerias de São Paulo. A expectativa de vender trabalhos acima de R$ 1 milhão foi, de certo modo, frustrada.
Segundo a maioria dos galeristas consultados, o segmento dasobras milionárias ficou em segundo plano. Mesmo assim, um ou outro trabalho nesse patamar encontrou colecionadores, dispostos a pagar por grandes nomes como Tunga e Sérgio Camargo. Foi o caso de uma “trança” do escultor pernambucano Tunga, vendida por R$ 2 milhões, seguida por uma escultura de Vanderlei Lopes, que alcançou R$ 450 mil, ambasna mesma galeria, a Millan.
Lá também foram vendidas obras de artistas indígenas como Jaider Esbell (um tela por R$ 150 mil) e Caboco (R$ 30 mil), confirmando a mudança de rota de alguns colecionadores, que estão preferindo investir em artistas contemporâneos figurativos dentro de uma tradição étnica. Os galeristas participantes de Rotas Brasileiras foram atrás dos artistas fora do eixo Rio–São Paulo, e não apenas indígenas, como os das etnias Mehinaku e Waujá, entre outras.
Uma galeria aproveitou a oportunidade para organizar uma mostra que cruzou a arte indígena com artistas do movimento neoconcreto. Sócio da estreante Galatea, Tomás Toledo colocou lado a lado pinturas do artista indígena Aislan Pankararu, Aluísio Carvão e Raimundo Collares, mostrando como o grafismo tribal marcou a arte desses dois últimos muito antes da recente redescoberta da arte étnica. Detalhe: a aproximação é só formal, pois o preço de uma tela de Aislan varia de R$ 12 mil a R$ 30 mil, enquanto uma obra neoconcreta de Lygia Clark atingiu R$ 3,5 milhões.
Até por isso, as galerias iniciantes, que trabalham com artistas novos, tiveram bons resultados nas vendas. A citada Marco Zero trouxe nomes praticamente desconhecidos no mercado paulista e vendeu obras do pernambucano Rayano Rayo, de Recife, um jovem de 34 anos, por R$ 37 mil. Outro artista da mesma geração e cidade, Bozó Bacamarte, ex-mecânico de 36 anos, vendeu trabalhos por preços equivalentes. Sócia da galeria, Marcelle Farias diz que, apesar da época não ser propícia (férias, juros elevados, concorrência da outras feiras, como a do Rio, que abre em setembro), vendeu quase tudo o que trouxe de Recife.
Mentora da mostra Rotas Brasileira, Fernanda Feitosa destacou o papel que a feira teve na promoção de artistas indígenas e afrodescendentes, citando o estande montado por Denilson Baniwa – hoje um dos protagonistas da ascensão de artistas indígenas como Katú Mirim. O diálogo entre artistas de diferentes gerações – o de Marepe, artista do Recôncavo Baiano, coma carioca Panmela Castro – deu igualmente bons resultados. A Galeria de Luisa Strina foi uma das que mais vendeu na feira.
Uma exceção entre as galerias que trabalham com consagrados e vendeu bem foi a Almeida & Dale. Ela organizou uma mostra só com esculturas de Sérgio Camargo e telas de um artista (seringueiro) do Amazonas que ele colecionava, Hélio Melo, já falecido e agora redescoberto pelo mercado. A galeria vendeu cinco obras dele por preços variáveis entre R$ 100 mil e R$ 800 mil.
Galerias que tradicionalmente trabalham com nomes históricos venderam pouco na feira. A de Paulo Kuczynski vendeu obras de Waltércio Caldas e mais outros três grandes contemporâneos. A Dan Galeria tinha obras raras de Guignard, Ismael Nery e Portinari, mas só comercializou trabalhos em torno de R$ 240 mil. A Galeria Frente, também com obras raras de Guignard (R$ 2 milhões) e Cícero Dias (um painel de 1928 por R$ 2,5 milhões) também não teve compradores dispostos a apostar tão alto.