Alguns espetáculos merecem ser vistos pelo conjunto. Outros chamam a atenção por um texto brilhante, uma direção inspirada, uma cenografia arrojada etc. Tango, Bolero e Cha Cha Cha - em cartaz às 21 h no Teatro Cultura Artística - encaixa-se no segundo caso. A montagem alça vôo e faz grande sucesso de público graças ao esforço de um ator, Edwin Luisi. Em Tango, Bolero e Cha Cha Cha, Luisi, intérprete que os espectadores de teatro se acostumaram a ver em dramas, vive um papel extrovertido, burlesco. Na obra escrita por Eloy Araújo, Edwin Luisi faz Lana Lee, transexual de sucesso na Europa e nos Estados Unidos. Ocorre que Lana Lee se chamava Daniel, era casado e tinha um filho. Largou a família, encarou a mudança de sexo e tornou-se um êxito no show biz mundial. Dez anos depois, volta ao Brasil, disposto a explicar-se. E traz o partner, Peter (Paulo César Grande). As reações da mulher (Maria Helena Dias), do filho (Jorge Neves) e da empregada (Ivone Hoffman) à transformação de Daniel alimentam a ação previsível (e politicamente correta) de Tango... O texto derrapa na obviedade das situações e no desenlace interminável, que recorre a um solo de Paulo César Grande, insosso e sem carisma, antes de dar ao público um grand finale nada grandioso. A direção de Bibi Ferreira é convencional e burocrática, assim como a cenografia e os figurinos. A diretora assinou uma montagem profissional e eficiente, nada mais. A peça dá pouca chance a Maria Helena Dias. Jorge Neves é ator limitado e desperdiça suas cenas, assim como Paulo César Grande. Ivone Hoffman, na pele da empregada Genevra, constrói a personagem de modo funcional e extremamente engraçado. Edwin Luisi, em atuação extraordinária, rouba a cena. Seu desenho físico de Lana Lee chega a beirar a acrobacia. Vigoroso, brilhante, o ator transita pelo caricatural, mas nunca se limita à caricatura. O grau de energia que emprega para compor Lana Lee leva sua atuação para o terreno das grandes performances. Luisi amplia as fronteiras nas quais transita e revela-se um humorista popular hábil e arrebatador.