Socialites endinheirados que se mascaravam para combater o crime eram uma verdadeira febre nos quadrinhos do final da década de 1930. A Lady Luck, de Will Eisner, e a Ms. Fury, de June Mills, foram dois exemplos de personagens assim. Mas o justiceiro proveniente da high society que mais se destacou foi o Batman, criação de Bob Kane e Bill Finger que completa 80 anos este mês.
Destaque da 27ª edição da revista Detective Comics, o homem-morcego foi o protagonista de uma história despretenciosa, O Caso do Sindicato dos Químicos, e seus criadores certamente não esperavam que ele se tornasse um dos principais ícones da cultura pop, com uma influência que se espalha para além dos quadrinhos de heróis, espraiando-se pela televisão, cinema, games e todo tipo de mídia.
Este mês, a DC Comics comemora a publicação da milésima Detective Comics oito décadas após a aparição original do guardião de Gotham City. Nos quadrinhos, Batman já passou pelas habilidosas mãos de criadores como Frank Miller, Alan Moore e Neil Gaiman, vivendo diversas fases — mais cômicas no começo, passando para tons mais soturnos, chegando a histórias de forte teor psicológico e até, mais recentemente, questionando sua vida dedicada ao combate ao crime, quando, recentemente, o arco narrativo escrito por Tom King subverteu conceitos do herói, que abandonou a capa para tentar ser feliz.
Não tardou para que Batman saísse dos quadrinhos e invadisse a TV. Na década de 1960, o personagem foi interpretado por Adam West, antagonizado pela cômica versão do Coringa de Cesar Romero. Houve também uma animação iniciada em 1968, ano em que a série live-action foi encerrada. Desde então, Bruce Wayne — e seus coadjuvantes, como Arlequina, Coringa, Mulher-Gato, Bane e Robin — apareceu em diversos programas televisivos, mas o passo adiante em sua carreira seria o cinema.
Após uma série de histórias clássicas dos quadrinhos como A Piada Mortal (1988), de Alan Moore, O Cavaleiro das Trevas (1989), de Frank Miller, e Asilo Arkham (1986), de Grant Morrison, o personagem se credenciou definitivamente para alçar voos mais altos e garantir o público das telonas. O primeiro filme do herói foi dirigido por ninguém menos que Tim Burton, em 1989, e obteve excelente recepção ao mesclar os tons mais sombrios dos quadrinhos com as cores extravagantes e o alívio cômico da televisão. No entanto, os filmes seguintes, lançados nos anos 1990, decepcionaram e fizeram o herói amargar alguns anos na geladeira. Inclusive, Batman & Robin (1997), de Joel Schumacher, ficou marcado como um dos piores filmes do gênero em todos os tempos — George Clooney já pediu desculpas publicamente algumas vezes por sua atuação no longa.
Embora nos quadrinhos o Batman nunca tenha perdido sua relevância, um ano importante para o renascimento do herói em outras mídias foi 2005. Com o lançamento de Batman Begins a trilogia dirigida por Christopher Nolan tinha início. Cavaleiro das Trevas (2008), que contou com a impressionante atuação de Heath Ledger como o Coringa, arrebatando prêmios como o Oscar, o Globo de Ouro, o Bafta e o prêmio do Sindicato dos Atores, foi o filme que praticamente consolidou o gênero de super-heróis como um formato viável nos cinemas, no mesmo ano em que outro bilionário mascarado, Tony Stark, ganhava seu primeiro filme e dava início ao universo cinematográfico da Marvel.
Se o Cavaleiro das Trevas ecoa no cinema até hoje, no ano anterior, em 2007, o herói deixou sua marca definitivamente nos games. Batman já havia ganhado jogos para várias plataformas, como Nintendo, Super Nintendo, Playstation, Genesis e PC, desde os anos 1980. Mas a adaptação da HQ Asilo Arkham para o mundo eletrônico pelo estúdio Rocksteady foi tão bem-sucedida em Batman: Arkham Asylum (2007), Arkham City (2011) e Arkham Knight (2015), que até hoje os games de ação têm elementos do combate e da jogabilidade introduzidos na série do herói — incluindo o recente Marvel’s Spiderman, de 2018, que se inspirou bastante nos jogos do concorrente.
A mais recente encarnação do Batman nos cinemas, de Ben Affleck, talvez não tenha sido a mais auspiciosa, tendo em vista as reações mistas a filmes como Batman Vs. Superman (2016) e Liga da Justiça (2017), que obrigaram a DC a repensar seu universo compartilhado no cinema. Entretanto, aos 80 anos, Batman segue sendo um dos principais personagens da editora, ao lado do Super-Homem e da Mulher-Maravilha, e uma dos mais influentes criações de toda a cultura pop.