Cássio Michalany completa meio século de carreira com exposição


Obra do pintor é marcada pela coerência e pela permutação proveniente do jazz e da matemática

Por Antonio Gonçalves Filho
Obra do pintor Cássio Michalany Foto: Galeria Raquel Arnaud

Num livro dedicado à obra do pintor Cássio Michalany (Pinturas, Cosac Naify, 2001) o crítico Rodrigo Naves menciona três outros artistas que fizeram da repetição um meio de depurar o seu trabalho: Richard Serra, Amilcar de Castro e Sergio Camargo. Não por acaso, são três escultores que trabalharam com extrema economia formal, sendo o norte-americano ligado à escola minimalista. Seria possível dizer ainda, citando três pintores com os quais a pintura de Michalany dialoga – Ad Reinhardt, Ellsworth Kelly e Brice Marden –, que essa afinidade com o minimalismo não fez do artista brasileiro um formalista submisso ao padrão americano. Como bem observou Naves, é inútil buscar um parentesco com a abstração geométrica.

Michalany aprendeu, sim, com o minimalismo, mas não se evadiu para a geometria, e sim da geometria, para criar relações entre as cores que se aproximam de exercícios jazzísticos. Permutação para reordenar uma forma original é estratégia comum entre músicos de jazz, gênero com o qual Michalany se identifica. Essa permutação combinatória que deriva da matemática também pode ser aplicada à pintura, o que Michalany faz com maestria há meio século, desde que teve suas primeiras aulas com Baravelli nos idos de 1967. Esse meio século de pintura fez o pintor depurar suas permutações cíclicas, como prova sua exposição Composições Relacionadas, em cartaz até dia 30 deste mês na Galeria Raquel Arnaud, que representa o artista há 30 anos.

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Ellsworth Kelly dizia que todos buscamos na arte um sentido de permanência que faça oposição ao instável e caótico da vida cotidiana. Isso é uma ilusão, reconheceu Kelly. Telas se decompõem. A pintura muda de cor. “Mas você continua tentando congelar o mundo como se ele durasse para sempre”, admitia o pintor americano. Em certo sentido, o que Michalany propõe é algo semelhante, proporcionando ao espectador um encontro silencioso com a pintura, distante do caos urbano.

Em busca de uma resposta para o fato de Michalany ter se detido num mesmo esquema por meio século, Rodrigo Naves viu nele justamente “uma tentativa de reverter a serialização que comanda nossos dias”. Há nessas telas, ainda segundo Naves, “uma petição de sutileza”. Michalany buscaria encontrar na relação entre as cores uma certa tradução de um novo tipo de sociabilidade, conclui Naves. Livrando-se do contraste entre elas e renunciando a formas complexas, o pintor criaria uma passagem para o espectador contemplar um mundo pacificado, sem o gesto voluntarioso da pincelada ou imagens reconhecíveis.

A cada permutação, esse mesmo espectador sentiria a possibilidade de se colocar no lugar de um outro, assim como uma cor se desloca e toma a posição de outra nas telas de Michalany. Mas, a exemplo de Brice Marden, que conseguiu imprimir ao trabalho sua linguagem pessoal, o pintor brasileiro manteve seu idioma e seu compromisso com o mantra minimal de delimitar o território monocromático, mantendo a autonomia de cada uma das faixas permutadas como se fossem indivíduos se deslocando ou se revezando nesse campo.

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Não há nessa pintura uma transição cromática abrupta como nas obras da hard-edge americana. O colecionador José Olympio Pereira, que assina o texto do catálogo da exposição, chama a atenção para o caráter sutil e silencioso dessas permutações, fazendo uma analogia com a personalidade do pintor – “discreto, introspectivo”. Ele, que conheceu essa pintura em 1994, ao comprar um pequeno díptico preto e dourado, confessa que “olhava sem atenção sua obra.”

Quando o colecionador passou a se interessar por essa pintura, descobriu composições cromáticas “misteriosas, enigmáticas”, algumas estreitamente vinculadas a movimentos importantes, como o neoconcreto, em particular a série de pinturas-objetos de Michalany, que rompem com o plano e, segundo o colecionador, aludem aos objetos ativos de Willys de Castro. Para José Olympio Pereira, o caminho de Michalany para a tridimensionalidade (a exemplo de Ellsworth Kelly) se define com essas caixas.

A permutação das cores nas telas de Michalany começou nos anos 1990. Nos anos 1980 predominavam as telas monocromáticas. Com o advento das permutações cíclicas, a estrutura do quadro foi radicalmente alterada. Também o primeiro objeto ativo de Willys de Castro, de 1959, era uma tela monocromática (um retângulo pintado de amarelo) que fazia o olho do espectador vagar pela superfície em busca de um porto seguro. Essa âncora veio com a tridimensionalidade, que mudou a percepção do objeto. Podemos esperar algo parecido com Michalany?

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Obras do pintor Cássio Michalany emexposição na Galeria Raquel Arnaud Foto: Galeria Raquel Arnaud
Obra do pintor Cássio Michalany Foto: Galeria Raquel Arnaud

Num livro dedicado à obra do pintor Cássio Michalany (Pinturas, Cosac Naify, 2001) o crítico Rodrigo Naves menciona três outros artistas que fizeram da repetição um meio de depurar o seu trabalho: Richard Serra, Amilcar de Castro e Sergio Camargo. Não por acaso, são três escultores que trabalharam com extrema economia formal, sendo o norte-americano ligado à escola minimalista. Seria possível dizer ainda, citando três pintores com os quais a pintura de Michalany dialoga – Ad Reinhardt, Ellsworth Kelly e Brice Marden –, que essa afinidade com o minimalismo não fez do artista brasileiro um formalista submisso ao padrão americano. Como bem observou Naves, é inútil buscar um parentesco com a abstração geométrica.

Michalany aprendeu, sim, com o minimalismo, mas não se evadiu para a geometria, e sim da geometria, para criar relações entre as cores que se aproximam de exercícios jazzísticos. Permutação para reordenar uma forma original é estratégia comum entre músicos de jazz, gênero com o qual Michalany se identifica. Essa permutação combinatória que deriva da matemática também pode ser aplicada à pintura, o que Michalany faz com maestria há meio século, desde que teve suas primeiras aulas com Baravelli nos idos de 1967. Esse meio século de pintura fez o pintor depurar suas permutações cíclicas, como prova sua exposição Composições Relacionadas, em cartaz até dia 30 deste mês na Galeria Raquel Arnaud, que representa o artista há 30 anos.

Ellsworth Kelly dizia que todos buscamos na arte um sentido de permanência que faça oposição ao instável e caótico da vida cotidiana. Isso é uma ilusão, reconheceu Kelly. Telas se decompõem. A pintura muda de cor. “Mas você continua tentando congelar o mundo como se ele durasse para sempre”, admitia o pintor americano. Em certo sentido, o que Michalany propõe é algo semelhante, proporcionando ao espectador um encontro silencioso com a pintura, distante do caos urbano.

Em busca de uma resposta para o fato de Michalany ter se detido num mesmo esquema por meio século, Rodrigo Naves viu nele justamente “uma tentativa de reverter a serialização que comanda nossos dias”. Há nessas telas, ainda segundo Naves, “uma petição de sutileza”. Michalany buscaria encontrar na relação entre as cores uma certa tradução de um novo tipo de sociabilidade, conclui Naves. Livrando-se do contraste entre elas e renunciando a formas complexas, o pintor criaria uma passagem para o espectador contemplar um mundo pacificado, sem o gesto voluntarioso da pincelada ou imagens reconhecíveis.

A cada permutação, esse mesmo espectador sentiria a possibilidade de se colocar no lugar de um outro, assim como uma cor se desloca e toma a posição de outra nas telas de Michalany. Mas, a exemplo de Brice Marden, que conseguiu imprimir ao trabalho sua linguagem pessoal, o pintor brasileiro manteve seu idioma e seu compromisso com o mantra minimal de delimitar o território monocromático, mantendo a autonomia de cada uma das faixas permutadas como se fossem indivíduos se deslocando ou se revezando nesse campo.

Não há nessa pintura uma transição cromática abrupta como nas obras da hard-edge americana. O colecionador José Olympio Pereira, que assina o texto do catálogo da exposição, chama a atenção para o caráter sutil e silencioso dessas permutações, fazendo uma analogia com a personalidade do pintor – “discreto, introspectivo”. Ele, que conheceu essa pintura em 1994, ao comprar um pequeno díptico preto e dourado, confessa que “olhava sem atenção sua obra.”

Quando o colecionador passou a se interessar por essa pintura, descobriu composições cromáticas “misteriosas, enigmáticas”, algumas estreitamente vinculadas a movimentos importantes, como o neoconcreto, em particular a série de pinturas-objetos de Michalany, que rompem com o plano e, segundo o colecionador, aludem aos objetos ativos de Willys de Castro. Para José Olympio Pereira, o caminho de Michalany para a tridimensionalidade (a exemplo de Ellsworth Kelly) se define com essas caixas.

A permutação das cores nas telas de Michalany começou nos anos 1990. Nos anos 1980 predominavam as telas monocromáticas. Com o advento das permutações cíclicas, a estrutura do quadro foi radicalmente alterada. Também o primeiro objeto ativo de Willys de Castro, de 1959, era uma tela monocromática (um retângulo pintado de amarelo) que fazia o olho do espectador vagar pela superfície em busca de um porto seguro. Essa âncora veio com a tridimensionalidade, que mudou a percepção do objeto. Podemos esperar algo parecido com Michalany?

Obras do pintor Cássio Michalany emexposição na Galeria Raquel Arnaud Foto: Galeria Raquel Arnaud
Obra do pintor Cássio Michalany Foto: Galeria Raquel Arnaud

Num livro dedicado à obra do pintor Cássio Michalany (Pinturas, Cosac Naify, 2001) o crítico Rodrigo Naves menciona três outros artistas que fizeram da repetição um meio de depurar o seu trabalho: Richard Serra, Amilcar de Castro e Sergio Camargo. Não por acaso, são três escultores que trabalharam com extrema economia formal, sendo o norte-americano ligado à escola minimalista. Seria possível dizer ainda, citando três pintores com os quais a pintura de Michalany dialoga – Ad Reinhardt, Ellsworth Kelly e Brice Marden –, que essa afinidade com o minimalismo não fez do artista brasileiro um formalista submisso ao padrão americano. Como bem observou Naves, é inútil buscar um parentesco com a abstração geométrica.

Michalany aprendeu, sim, com o minimalismo, mas não se evadiu para a geometria, e sim da geometria, para criar relações entre as cores que se aproximam de exercícios jazzísticos. Permutação para reordenar uma forma original é estratégia comum entre músicos de jazz, gênero com o qual Michalany se identifica. Essa permutação combinatória que deriva da matemática também pode ser aplicada à pintura, o que Michalany faz com maestria há meio século, desde que teve suas primeiras aulas com Baravelli nos idos de 1967. Esse meio século de pintura fez o pintor depurar suas permutações cíclicas, como prova sua exposição Composições Relacionadas, em cartaz até dia 30 deste mês na Galeria Raquel Arnaud, que representa o artista há 30 anos.

Ellsworth Kelly dizia que todos buscamos na arte um sentido de permanência que faça oposição ao instável e caótico da vida cotidiana. Isso é uma ilusão, reconheceu Kelly. Telas se decompõem. A pintura muda de cor. “Mas você continua tentando congelar o mundo como se ele durasse para sempre”, admitia o pintor americano. Em certo sentido, o que Michalany propõe é algo semelhante, proporcionando ao espectador um encontro silencioso com a pintura, distante do caos urbano.

Em busca de uma resposta para o fato de Michalany ter se detido num mesmo esquema por meio século, Rodrigo Naves viu nele justamente “uma tentativa de reverter a serialização que comanda nossos dias”. Há nessas telas, ainda segundo Naves, “uma petição de sutileza”. Michalany buscaria encontrar na relação entre as cores uma certa tradução de um novo tipo de sociabilidade, conclui Naves. Livrando-se do contraste entre elas e renunciando a formas complexas, o pintor criaria uma passagem para o espectador contemplar um mundo pacificado, sem o gesto voluntarioso da pincelada ou imagens reconhecíveis.

A cada permutação, esse mesmo espectador sentiria a possibilidade de se colocar no lugar de um outro, assim como uma cor se desloca e toma a posição de outra nas telas de Michalany. Mas, a exemplo de Brice Marden, que conseguiu imprimir ao trabalho sua linguagem pessoal, o pintor brasileiro manteve seu idioma e seu compromisso com o mantra minimal de delimitar o território monocromático, mantendo a autonomia de cada uma das faixas permutadas como se fossem indivíduos se deslocando ou se revezando nesse campo.

Não há nessa pintura uma transição cromática abrupta como nas obras da hard-edge americana. O colecionador José Olympio Pereira, que assina o texto do catálogo da exposição, chama a atenção para o caráter sutil e silencioso dessas permutações, fazendo uma analogia com a personalidade do pintor – “discreto, introspectivo”. Ele, que conheceu essa pintura em 1994, ao comprar um pequeno díptico preto e dourado, confessa que “olhava sem atenção sua obra.”

Quando o colecionador passou a se interessar por essa pintura, descobriu composições cromáticas “misteriosas, enigmáticas”, algumas estreitamente vinculadas a movimentos importantes, como o neoconcreto, em particular a série de pinturas-objetos de Michalany, que rompem com o plano e, segundo o colecionador, aludem aos objetos ativos de Willys de Castro. Para José Olympio Pereira, o caminho de Michalany para a tridimensionalidade (a exemplo de Ellsworth Kelly) se define com essas caixas.

A permutação das cores nas telas de Michalany começou nos anos 1990. Nos anos 1980 predominavam as telas monocromáticas. Com o advento das permutações cíclicas, a estrutura do quadro foi radicalmente alterada. Também o primeiro objeto ativo de Willys de Castro, de 1959, era uma tela monocromática (um retângulo pintado de amarelo) que fazia o olho do espectador vagar pela superfície em busca de um porto seguro. Essa âncora veio com a tridimensionalidade, que mudou a percepção do objeto. Podemos esperar algo parecido com Michalany?

Obras do pintor Cássio Michalany emexposição na Galeria Raquel Arnaud Foto: Galeria Raquel Arnaud
Obra do pintor Cássio Michalany Foto: Galeria Raquel Arnaud

Num livro dedicado à obra do pintor Cássio Michalany (Pinturas, Cosac Naify, 2001) o crítico Rodrigo Naves menciona três outros artistas que fizeram da repetição um meio de depurar o seu trabalho: Richard Serra, Amilcar de Castro e Sergio Camargo. Não por acaso, são três escultores que trabalharam com extrema economia formal, sendo o norte-americano ligado à escola minimalista. Seria possível dizer ainda, citando três pintores com os quais a pintura de Michalany dialoga – Ad Reinhardt, Ellsworth Kelly e Brice Marden –, que essa afinidade com o minimalismo não fez do artista brasileiro um formalista submisso ao padrão americano. Como bem observou Naves, é inútil buscar um parentesco com a abstração geométrica.

Michalany aprendeu, sim, com o minimalismo, mas não se evadiu para a geometria, e sim da geometria, para criar relações entre as cores que se aproximam de exercícios jazzísticos. Permutação para reordenar uma forma original é estratégia comum entre músicos de jazz, gênero com o qual Michalany se identifica. Essa permutação combinatória que deriva da matemática também pode ser aplicada à pintura, o que Michalany faz com maestria há meio século, desde que teve suas primeiras aulas com Baravelli nos idos de 1967. Esse meio século de pintura fez o pintor depurar suas permutações cíclicas, como prova sua exposição Composições Relacionadas, em cartaz até dia 30 deste mês na Galeria Raquel Arnaud, que representa o artista há 30 anos.

Ellsworth Kelly dizia que todos buscamos na arte um sentido de permanência que faça oposição ao instável e caótico da vida cotidiana. Isso é uma ilusão, reconheceu Kelly. Telas se decompõem. A pintura muda de cor. “Mas você continua tentando congelar o mundo como se ele durasse para sempre”, admitia o pintor americano. Em certo sentido, o que Michalany propõe é algo semelhante, proporcionando ao espectador um encontro silencioso com a pintura, distante do caos urbano.

Em busca de uma resposta para o fato de Michalany ter se detido num mesmo esquema por meio século, Rodrigo Naves viu nele justamente “uma tentativa de reverter a serialização que comanda nossos dias”. Há nessas telas, ainda segundo Naves, “uma petição de sutileza”. Michalany buscaria encontrar na relação entre as cores uma certa tradução de um novo tipo de sociabilidade, conclui Naves. Livrando-se do contraste entre elas e renunciando a formas complexas, o pintor criaria uma passagem para o espectador contemplar um mundo pacificado, sem o gesto voluntarioso da pincelada ou imagens reconhecíveis.

A cada permutação, esse mesmo espectador sentiria a possibilidade de se colocar no lugar de um outro, assim como uma cor se desloca e toma a posição de outra nas telas de Michalany. Mas, a exemplo de Brice Marden, que conseguiu imprimir ao trabalho sua linguagem pessoal, o pintor brasileiro manteve seu idioma e seu compromisso com o mantra minimal de delimitar o território monocromático, mantendo a autonomia de cada uma das faixas permutadas como se fossem indivíduos se deslocando ou se revezando nesse campo.

Não há nessa pintura uma transição cromática abrupta como nas obras da hard-edge americana. O colecionador José Olympio Pereira, que assina o texto do catálogo da exposição, chama a atenção para o caráter sutil e silencioso dessas permutações, fazendo uma analogia com a personalidade do pintor – “discreto, introspectivo”. Ele, que conheceu essa pintura em 1994, ao comprar um pequeno díptico preto e dourado, confessa que “olhava sem atenção sua obra.”

Quando o colecionador passou a se interessar por essa pintura, descobriu composições cromáticas “misteriosas, enigmáticas”, algumas estreitamente vinculadas a movimentos importantes, como o neoconcreto, em particular a série de pinturas-objetos de Michalany, que rompem com o plano e, segundo o colecionador, aludem aos objetos ativos de Willys de Castro. Para José Olympio Pereira, o caminho de Michalany para a tridimensionalidade (a exemplo de Ellsworth Kelly) se define com essas caixas.

A permutação das cores nas telas de Michalany começou nos anos 1990. Nos anos 1980 predominavam as telas monocromáticas. Com o advento das permutações cíclicas, a estrutura do quadro foi radicalmente alterada. Também o primeiro objeto ativo de Willys de Castro, de 1959, era uma tela monocromática (um retângulo pintado de amarelo) que fazia o olho do espectador vagar pela superfície em busca de um porto seguro. Essa âncora veio com a tridimensionalidade, que mudou a percepção do objeto. Podemos esperar algo parecido com Michalany?

Obras do pintor Cássio Michalany emexposição na Galeria Raquel Arnaud Foto: Galeria Raquel Arnaud
Obra do pintor Cássio Michalany Foto: Galeria Raquel Arnaud

Num livro dedicado à obra do pintor Cássio Michalany (Pinturas, Cosac Naify, 2001) o crítico Rodrigo Naves menciona três outros artistas que fizeram da repetição um meio de depurar o seu trabalho: Richard Serra, Amilcar de Castro e Sergio Camargo. Não por acaso, são três escultores que trabalharam com extrema economia formal, sendo o norte-americano ligado à escola minimalista. Seria possível dizer ainda, citando três pintores com os quais a pintura de Michalany dialoga – Ad Reinhardt, Ellsworth Kelly e Brice Marden –, que essa afinidade com o minimalismo não fez do artista brasileiro um formalista submisso ao padrão americano. Como bem observou Naves, é inútil buscar um parentesco com a abstração geométrica.

Michalany aprendeu, sim, com o minimalismo, mas não se evadiu para a geometria, e sim da geometria, para criar relações entre as cores que se aproximam de exercícios jazzísticos. Permutação para reordenar uma forma original é estratégia comum entre músicos de jazz, gênero com o qual Michalany se identifica. Essa permutação combinatória que deriva da matemática também pode ser aplicada à pintura, o que Michalany faz com maestria há meio século, desde que teve suas primeiras aulas com Baravelli nos idos de 1967. Esse meio século de pintura fez o pintor depurar suas permutações cíclicas, como prova sua exposição Composições Relacionadas, em cartaz até dia 30 deste mês na Galeria Raquel Arnaud, que representa o artista há 30 anos.

Ellsworth Kelly dizia que todos buscamos na arte um sentido de permanência que faça oposição ao instável e caótico da vida cotidiana. Isso é uma ilusão, reconheceu Kelly. Telas se decompõem. A pintura muda de cor. “Mas você continua tentando congelar o mundo como se ele durasse para sempre”, admitia o pintor americano. Em certo sentido, o que Michalany propõe é algo semelhante, proporcionando ao espectador um encontro silencioso com a pintura, distante do caos urbano.

Em busca de uma resposta para o fato de Michalany ter se detido num mesmo esquema por meio século, Rodrigo Naves viu nele justamente “uma tentativa de reverter a serialização que comanda nossos dias”. Há nessas telas, ainda segundo Naves, “uma petição de sutileza”. Michalany buscaria encontrar na relação entre as cores uma certa tradução de um novo tipo de sociabilidade, conclui Naves. Livrando-se do contraste entre elas e renunciando a formas complexas, o pintor criaria uma passagem para o espectador contemplar um mundo pacificado, sem o gesto voluntarioso da pincelada ou imagens reconhecíveis.

A cada permutação, esse mesmo espectador sentiria a possibilidade de se colocar no lugar de um outro, assim como uma cor se desloca e toma a posição de outra nas telas de Michalany. Mas, a exemplo de Brice Marden, que conseguiu imprimir ao trabalho sua linguagem pessoal, o pintor brasileiro manteve seu idioma e seu compromisso com o mantra minimal de delimitar o território monocromático, mantendo a autonomia de cada uma das faixas permutadas como se fossem indivíduos se deslocando ou se revezando nesse campo.

Não há nessa pintura uma transição cromática abrupta como nas obras da hard-edge americana. O colecionador José Olympio Pereira, que assina o texto do catálogo da exposição, chama a atenção para o caráter sutil e silencioso dessas permutações, fazendo uma analogia com a personalidade do pintor – “discreto, introspectivo”. Ele, que conheceu essa pintura em 1994, ao comprar um pequeno díptico preto e dourado, confessa que “olhava sem atenção sua obra.”

Quando o colecionador passou a se interessar por essa pintura, descobriu composições cromáticas “misteriosas, enigmáticas”, algumas estreitamente vinculadas a movimentos importantes, como o neoconcreto, em particular a série de pinturas-objetos de Michalany, que rompem com o plano e, segundo o colecionador, aludem aos objetos ativos de Willys de Castro. Para José Olympio Pereira, o caminho de Michalany para a tridimensionalidade (a exemplo de Ellsworth Kelly) se define com essas caixas.

A permutação das cores nas telas de Michalany começou nos anos 1990. Nos anos 1980 predominavam as telas monocromáticas. Com o advento das permutações cíclicas, a estrutura do quadro foi radicalmente alterada. Também o primeiro objeto ativo de Willys de Castro, de 1959, era uma tela monocromática (um retângulo pintado de amarelo) que fazia o olho do espectador vagar pela superfície em busca de um porto seguro. Essa âncora veio com a tridimensionalidade, que mudou a percepção do objeto. Podemos esperar algo parecido com Michalany?

Obras do pintor Cássio Michalany emexposição na Galeria Raquel Arnaud Foto: Galeria Raquel Arnaud

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