Cinco séculos da história da gravura em mostra no Instituto Tomie Ohtake


Exposição reúne obras de Dürer a Andy Warhol, passando por Rembrandt e Picasso

Por Antonio Gonçalves Filho

A gravura faz lembrar uma cena do filme E la Nave Va, em que o luxuoso navio Gloria N transporta um rinoceronte em seu porão. O navio vai a pique e a besta afunda com ele. É bem provável que Fellini, o diretor, conhecesse a história da gravura de Dürer baseada em história parecida, a do rei português Manuel I, que pretendia presentear Sua Santidade, o Papa, com um rinoceronte vivo importado de Goa, Índia. A besta não chegou ao destino. Morreu no naufrágio. Baseado nos relatos de quem viu o bicho, o artista alemão Albrecht Dürer executou em 1515 sua mais conhecida gravura, que mostra o animal como uma máquina de batalha, o corpo encouraçado e as patas escamadas. Esta gravura é o carro-chefe da mostra O Rinoceronte: Cinco Séculos de Gravuras do Museu Albertina, em cartaz até dia 20 no Instituto Tomie Ohtake.

A exposição reúne 154 gravuras de diferentes épocas, do século 15 ao 20, de Dürer a Andy Warhol, passando por Bruegel, Ticiano, Goya, Rembrandt, Kirchner, Picasso, Munch, Egon Schiele e muito mais. São 41 artistas ao todo, selecionados pelo curador-chefe do museu austríaco Albertina, Christof Metzger, e Paulo Miyada, curador do Instituto Tomie Oktake.

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Gravura de Rembrandt, ousada em seu realismo, e um dos pontos altos da arte holandesa Foto: Instituto Tomie Ohtake

O Museu Albertina de Viena tem um acervo gráfico invejável, com mais de 50 mil desenhos e algo em torno de 1 milhão de gravuras. A exposição é forte candidata à melhor mostra do ano. Por meio dela o visitante vê uma síntese da história da gravura nos últimos cinco séculos, conhecendo cada uma das técnicas inventadas, desde a xilogravura e calcogravura, feitas por processo mecânico, até as mais modernas técnicas de impressão, ou seja, dos primeiros gravadores alemães ao pop Andy Warhol, presente com a série policromática das cadeiras elétricas.

As gravuras que mais impressionam são as obras executadas entre os séculos 17 e 18. A técnica da água-tinta permitiu a artistas com o pintor espanhol Goya imprimir diversos tons de cinza sobre superfícies maiores. De Goya foram selecionados trabalhos de suas mais conhecidas séries, entre elas Tauromaquia, até hoje uma referência para contemporâneos, que não param de fazer referências a ela.

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Litogravura do francês Toulouse-Lautreca, cuja excelência compete com sua pintura Foto: Instituto Tomie Ohtake

No início do século 19, a água-forte deu lugar à recém-descoberta litografia, que provocou uma verdadeira revolução nas artes visuais. No fim do século, a técnica estava consolidada a ponto de, em 1891, Toulouse-Lautrec se dedicar à cromolitografia, criada em Paris em 1837. Toulouse-Lautrec estava certo de que a técnica tinha força equivalente a de uma pintura (e seus cartazes expostos na mostra comprovam essa impressão). Os críticos da época, no entanto, consideravam suas litografias melhores que suas pinturas. Injustiça evidente.

Os pintores que recorreram à técnica da gravura se deram muito bem, a considerar os trabalhos selecionados para a exposição: Rembrandt, no século 17, foi mestre na técnica da água-forte, explorando ao máximo seu lado artesanal para que chegasse ao requinte de suas pinturas. Há na mostra tanto nus como cenas religiosas, que o tornaram o maior entre os holandeses da época, rivalizando com pintores do passado – Mantegna, por exemplo, o principal gravador do século 15 da Itália setentrional (que está na mostra).

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Xilogravura do expressionista Kirchner, do primeiro grupo alemão de vanguarda Foto: Instituto Tomie Ohtake

Também para os pintores expressionistas, perseguidos pelo regime nazista, a equivalência entre a pintura e a gravura era evidente. Vários mestres desse período estão presentes na mostra do Museu Albertina: Kirchner (1880-1938)), Heckel (1883-1970), Karl Schmidt-Rottluff (1884-1976) e Emil Nolde (1867-1956). O núcleo expressionista é um dos pontos altos da exposição no Instituto Tomie Ohtake: eles são o primeiro grupo de vanguarda do século 20 na Alemanha. Na simplificação da forma e no estilo que retoma o primitivismo, eles abriram caminho para mulheres gravadoras engajadas como Käthe Kollwitz, representada na exposição com exemplos de sua militância a favor dos despossuídos.

Cartaz da exposição Secession de 1949, desenhado por Egon Schiele, remete à Santa Ceia Foto: Instituto Tomie Ohtake
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Há tantos pontos altos na exposição que seria injusto não citar outros grandes revolucionários como Manet, Picasso e Egon Schiele, entre tantos. Ou, para finalizar, a série das cadeiras elétricas de Andy Warhol, obra em que a confluência da ousadia formal com a temática provoca incômodo e estupefação. Uma mostra imperdível.

SERVIÇO

Rinoceronte: Cinco Séculos de Gravuras do Museu Albertina. Instituto Tomie Ohtake. Rua Coropés, 88. tel. 2245- 1900. 3ª./dom., 11h/20h. Grátis.. Até 20/11.

A gravura faz lembrar uma cena do filme E la Nave Va, em que o luxuoso navio Gloria N transporta um rinoceronte em seu porão. O navio vai a pique e a besta afunda com ele. É bem provável que Fellini, o diretor, conhecesse a história da gravura de Dürer baseada em história parecida, a do rei português Manuel I, que pretendia presentear Sua Santidade, o Papa, com um rinoceronte vivo importado de Goa, Índia. A besta não chegou ao destino. Morreu no naufrágio. Baseado nos relatos de quem viu o bicho, o artista alemão Albrecht Dürer executou em 1515 sua mais conhecida gravura, que mostra o animal como uma máquina de batalha, o corpo encouraçado e as patas escamadas. Esta gravura é o carro-chefe da mostra O Rinoceronte: Cinco Séculos de Gravuras do Museu Albertina, em cartaz até dia 20 no Instituto Tomie Ohtake.

A exposição reúne 154 gravuras de diferentes épocas, do século 15 ao 20, de Dürer a Andy Warhol, passando por Bruegel, Ticiano, Goya, Rembrandt, Kirchner, Picasso, Munch, Egon Schiele e muito mais. São 41 artistas ao todo, selecionados pelo curador-chefe do museu austríaco Albertina, Christof Metzger, e Paulo Miyada, curador do Instituto Tomie Oktake.

Gravura de Rembrandt, ousada em seu realismo, e um dos pontos altos da arte holandesa Foto: Instituto Tomie Ohtake

O Museu Albertina de Viena tem um acervo gráfico invejável, com mais de 50 mil desenhos e algo em torno de 1 milhão de gravuras. A exposição é forte candidata à melhor mostra do ano. Por meio dela o visitante vê uma síntese da história da gravura nos últimos cinco séculos, conhecendo cada uma das técnicas inventadas, desde a xilogravura e calcogravura, feitas por processo mecânico, até as mais modernas técnicas de impressão, ou seja, dos primeiros gravadores alemães ao pop Andy Warhol, presente com a série policromática das cadeiras elétricas.

As gravuras que mais impressionam são as obras executadas entre os séculos 17 e 18. A técnica da água-tinta permitiu a artistas com o pintor espanhol Goya imprimir diversos tons de cinza sobre superfícies maiores. De Goya foram selecionados trabalhos de suas mais conhecidas séries, entre elas Tauromaquia, até hoje uma referência para contemporâneos, que não param de fazer referências a ela.

Litogravura do francês Toulouse-Lautreca, cuja excelência compete com sua pintura Foto: Instituto Tomie Ohtake

No início do século 19, a água-forte deu lugar à recém-descoberta litografia, que provocou uma verdadeira revolução nas artes visuais. No fim do século, a técnica estava consolidada a ponto de, em 1891, Toulouse-Lautrec se dedicar à cromolitografia, criada em Paris em 1837. Toulouse-Lautrec estava certo de que a técnica tinha força equivalente a de uma pintura (e seus cartazes expostos na mostra comprovam essa impressão). Os críticos da época, no entanto, consideravam suas litografias melhores que suas pinturas. Injustiça evidente.

Os pintores que recorreram à técnica da gravura se deram muito bem, a considerar os trabalhos selecionados para a exposição: Rembrandt, no século 17, foi mestre na técnica da água-forte, explorando ao máximo seu lado artesanal para que chegasse ao requinte de suas pinturas. Há na mostra tanto nus como cenas religiosas, que o tornaram o maior entre os holandeses da época, rivalizando com pintores do passado – Mantegna, por exemplo, o principal gravador do século 15 da Itália setentrional (que está na mostra).

Xilogravura do expressionista Kirchner, do primeiro grupo alemão de vanguarda Foto: Instituto Tomie Ohtake

Também para os pintores expressionistas, perseguidos pelo regime nazista, a equivalência entre a pintura e a gravura era evidente. Vários mestres desse período estão presentes na mostra do Museu Albertina: Kirchner (1880-1938)), Heckel (1883-1970), Karl Schmidt-Rottluff (1884-1976) e Emil Nolde (1867-1956). O núcleo expressionista é um dos pontos altos da exposição no Instituto Tomie Ohtake: eles são o primeiro grupo de vanguarda do século 20 na Alemanha. Na simplificação da forma e no estilo que retoma o primitivismo, eles abriram caminho para mulheres gravadoras engajadas como Käthe Kollwitz, representada na exposição com exemplos de sua militância a favor dos despossuídos.

Cartaz da exposição Secession de 1949, desenhado por Egon Schiele, remete à Santa Ceia Foto: Instituto Tomie Ohtake

Há tantos pontos altos na exposição que seria injusto não citar outros grandes revolucionários como Manet, Picasso e Egon Schiele, entre tantos. Ou, para finalizar, a série das cadeiras elétricas de Andy Warhol, obra em que a confluência da ousadia formal com a temática provoca incômodo e estupefação. Uma mostra imperdível.

SERVIÇO

Rinoceronte: Cinco Séculos de Gravuras do Museu Albertina. Instituto Tomie Ohtake. Rua Coropés, 88. tel. 2245- 1900. 3ª./dom., 11h/20h. Grátis.. Até 20/11.

A gravura faz lembrar uma cena do filme E la Nave Va, em que o luxuoso navio Gloria N transporta um rinoceronte em seu porão. O navio vai a pique e a besta afunda com ele. É bem provável que Fellini, o diretor, conhecesse a história da gravura de Dürer baseada em história parecida, a do rei português Manuel I, que pretendia presentear Sua Santidade, o Papa, com um rinoceronte vivo importado de Goa, Índia. A besta não chegou ao destino. Morreu no naufrágio. Baseado nos relatos de quem viu o bicho, o artista alemão Albrecht Dürer executou em 1515 sua mais conhecida gravura, que mostra o animal como uma máquina de batalha, o corpo encouraçado e as patas escamadas. Esta gravura é o carro-chefe da mostra O Rinoceronte: Cinco Séculos de Gravuras do Museu Albertina, em cartaz até dia 20 no Instituto Tomie Ohtake.

A exposição reúne 154 gravuras de diferentes épocas, do século 15 ao 20, de Dürer a Andy Warhol, passando por Bruegel, Ticiano, Goya, Rembrandt, Kirchner, Picasso, Munch, Egon Schiele e muito mais. São 41 artistas ao todo, selecionados pelo curador-chefe do museu austríaco Albertina, Christof Metzger, e Paulo Miyada, curador do Instituto Tomie Oktake.

Gravura de Rembrandt, ousada em seu realismo, e um dos pontos altos da arte holandesa Foto: Instituto Tomie Ohtake

O Museu Albertina de Viena tem um acervo gráfico invejável, com mais de 50 mil desenhos e algo em torno de 1 milhão de gravuras. A exposição é forte candidata à melhor mostra do ano. Por meio dela o visitante vê uma síntese da história da gravura nos últimos cinco séculos, conhecendo cada uma das técnicas inventadas, desde a xilogravura e calcogravura, feitas por processo mecânico, até as mais modernas técnicas de impressão, ou seja, dos primeiros gravadores alemães ao pop Andy Warhol, presente com a série policromática das cadeiras elétricas.

As gravuras que mais impressionam são as obras executadas entre os séculos 17 e 18. A técnica da água-tinta permitiu a artistas com o pintor espanhol Goya imprimir diversos tons de cinza sobre superfícies maiores. De Goya foram selecionados trabalhos de suas mais conhecidas séries, entre elas Tauromaquia, até hoje uma referência para contemporâneos, que não param de fazer referências a ela.

Litogravura do francês Toulouse-Lautreca, cuja excelência compete com sua pintura Foto: Instituto Tomie Ohtake

No início do século 19, a água-forte deu lugar à recém-descoberta litografia, que provocou uma verdadeira revolução nas artes visuais. No fim do século, a técnica estava consolidada a ponto de, em 1891, Toulouse-Lautrec se dedicar à cromolitografia, criada em Paris em 1837. Toulouse-Lautrec estava certo de que a técnica tinha força equivalente a de uma pintura (e seus cartazes expostos na mostra comprovam essa impressão). Os críticos da época, no entanto, consideravam suas litografias melhores que suas pinturas. Injustiça evidente.

Os pintores que recorreram à técnica da gravura se deram muito bem, a considerar os trabalhos selecionados para a exposição: Rembrandt, no século 17, foi mestre na técnica da água-forte, explorando ao máximo seu lado artesanal para que chegasse ao requinte de suas pinturas. Há na mostra tanto nus como cenas religiosas, que o tornaram o maior entre os holandeses da época, rivalizando com pintores do passado – Mantegna, por exemplo, o principal gravador do século 15 da Itália setentrional (que está na mostra).

Xilogravura do expressionista Kirchner, do primeiro grupo alemão de vanguarda Foto: Instituto Tomie Ohtake

Também para os pintores expressionistas, perseguidos pelo regime nazista, a equivalência entre a pintura e a gravura era evidente. Vários mestres desse período estão presentes na mostra do Museu Albertina: Kirchner (1880-1938)), Heckel (1883-1970), Karl Schmidt-Rottluff (1884-1976) e Emil Nolde (1867-1956). O núcleo expressionista é um dos pontos altos da exposição no Instituto Tomie Ohtake: eles são o primeiro grupo de vanguarda do século 20 na Alemanha. Na simplificação da forma e no estilo que retoma o primitivismo, eles abriram caminho para mulheres gravadoras engajadas como Käthe Kollwitz, representada na exposição com exemplos de sua militância a favor dos despossuídos.

Cartaz da exposição Secession de 1949, desenhado por Egon Schiele, remete à Santa Ceia Foto: Instituto Tomie Ohtake

Há tantos pontos altos na exposição que seria injusto não citar outros grandes revolucionários como Manet, Picasso e Egon Schiele, entre tantos. Ou, para finalizar, a série das cadeiras elétricas de Andy Warhol, obra em que a confluência da ousadia formal com a temática provoca incômodo e estupefação. Uma mostra imperdível.

SERVIÇO

Rinoceronte: Cinco Séculos de Gravuras do Museu Albertina. Instituto Tomie Ohtake. Rua Coropés, 88. tel. 2245- 1900. 3ª./dom., 11h/20h. Grátis.. Até 20/11.

A gravura faz lembrar uma cena do filme E la Nave Va, em que o luxuoso navio Gloria N transporta um rinoceronte em seu porão. O navio vai a pique e a besta afunda com ele. É bem provável que Fellini, o diretor, conhecesse a história da gravura de Dürer baseada em história parecida, a do rei português Manuel I, que pretendia presentear Sua Santidade, o Papa, com um rinoceronte vivo importado de Goa, Índia. A besta não chegou ao destino. Morreu no naufrágio. Baseado nos relatos de quem viu o bicho, o artista alemão Albrecht Dürer executou em 1515 sua mais conhecida gravura, que mostra o animal como uma máquina de batalha, o corpo encouraçado e as patas escamadas. Esta gravura é o carro-chefe da mostra O Rinoceronte: Cinco Séculos de Gravuras do Museu Albertina, em cartaz até dia 20 no Instituto Tomie Ohtake.

A exposição reúne 154 gravuras de diferentes épocas, do século 15 ao 20, de Dürer a Andy Warhol, passando por Bruegel, Ticiano, Goya, Rembrandt, Kirchner, Picasso, Munch, Egon Schiele e muito mais. São 41 artistas ao todo, selecionados pelo curador-chefe do museu austríaco Albertina, Christof Metzger, e Paulo Miyada, curador do Instituto Tomie Oktake.

Gravura de Rembrandt, ousada em seu realismo, e um dos pontos altos da arte holandesa Foto: Instituto Tomie Ohtake

O Museu Albertina de Viena tem um acervo gráfico invejável, com mais de 50 mil desenhos e algo em torno de 1 milhão de gravuras. A exposição é forte candidata à melhor mostra do ano. Por meio dela o visitante vê uma síntese da história da gravura nos últimos cinco séculos, conhecendo cada uma das técnicas inventadas, desde a xilogravura e calcogravura, feitas por processo mecânico, até as mais modernas técnicas de impressão, ou seja, dos primeiros gravadores alemães ao pop Andy Warhol, presente com a série policromática das cadeiras elétricas.

As gravuras que mais impressionam são as obras executadas entre os séculos 17 e 18. A técnica da água-tinta permitiu a artistas com o pintor espanhol Goya imprimir diversos tons de cinza sobre superfícies maiores. De Goya foram selecionados trabalhos de suas mais conhecidas séries, entre elas Tauromaquia, até hoje uma referência para contemporâneos, que não param de fazer referências a ela.

Litogravura do francês Toulouse-Lautreca, cuja excelência compete com sua pintura Foto: Instituto Tomie Ohtake

No início do século 19, a água-forte deu lugar à recém-descoberta litografia, que provocou uma verdadeira revolução nas artes visuais. No fim do século, a técnica estava consolidada a ponto de, em 1891, Toulouse-Lautrec se dedicar à cromolitografia, criada em Paris em 1837. Toulouse-Lautrec estava certo de que a técnica tinha força equivalente a de uma pintura (e seus cartazes expostos na mostra comprovam essa impressão). Os críticos da época, no entanto, consideravam suas litografias melhores que suas pinturas. Injustiça evidente.

Os pintores que recorreram à técnica da gravura se deram muito bem, a considerar os trabalhos selecionados para a exposição: Rembrandt, no século 17, foi mestre na técnica da água-forte, explorando ao máximo seu lado artesanal para que chegasse ao requinte de suas pinturas. Há na mostra tanto nus como cenas religiosas, que o tornaram o maior entre os holandeses da época, rivalizando com pintores do passado – Mantegna, por exemplo, o principal gravador do século 15 da Itália setentrional (que está na mostra).

Xilogravura do expressionista Kirchner, do primeiro grupo alemão de vanguarda Foto: Instituto Tomie Ohtake

Também para os pintores expressionistas, perseguidos pelo regime nazista, a equivalência entre a pintura e a gravura era evidente. Vários mestres desse período estão presentes na mostra do Museu Albertina: Kirchner (1880-1938)), Heckel (1883-1970), Karl Schmidt-Rottluff (1884-1976) e Emil Nolde (1867-1956). O núcleo expressionista é um dos pontos altos da exposição no Instituto Tomie Ohtake: eles são o primeiro grupo de vanguarda do século 20 na Alemanha. Na simplificação da forma e no estilo que retoma o primitivismo, eles abriram caminho para mulheres gravadoras engajadas como Käthe Kollwitz, representada na exposição com exemplos de sua militância a favor dos despossuídos.

Cartaz da exposição Secession de 1949, desenhado por Egon Schiele, remete à Santa Ceia Foto: Instituto Tomie Ohtake

Há tantos pontos altos na exposição que seria injusto não citar outros grandes revolucionários como Manet, Picasso e Egon Schiele, entre tantos. Ou, para finalizar, a série das cadeiras elétricas de Andy Warhol, obra em que a confluência da ousadia formal com a temática provoca incômodo e estupefação. Uma mostra imperdível.

SERVIÇO

Rinoceronte: Cinco Séculos de Gravuras do Museu Albertina. Instituto Tomie Ohtake. Rua Coropés, 88. tel. 2245- 1900. 3ª./dom., 11h/20h. Grátis.. Até 20/11.

A gravura faz lembrar uma cena do filme E la Nave Va, em que o luxuoso navio Gloria N transporta um rinoceronte em seu porão. O navio vai a pique e a besta afunda com ele. É bem provável que Fellini, o diretor, conhecesse a história da gravura de Dürer baseada em história parecida, a do rei português Manuel I, que pretendia presentear Sua Santidade, o Papa, com um rinoceronte vivo importado de Goa, Índia. A besta não chegou ao destino. Morreu no naufrágio. Baseado nos relatos de quem viu o bicho, o artista alemão Albrecht Dürer executou em 1515 sua mais conhecida gravura, que mostra o animal como uma máquina de batalha, o corpo encouraçado e as patas escamadas. Esta gravura é o carro-chefe da mostra O Rinoceronte: Cinco Séculos de Gravuras do Museu Albertina, em cartaz até dia 20 no Instituto Tomie Ohtake.

A exposição reúne 154 gravuras de diferentes épocas, do século 15 ao 20, de Dürer a Andy Warhol, passando por Bruegel, Ticiano, Goya, Rembrandt, Kirchner, Picasso, Munch, Egon Schiele e muito mais. São 41 artistas ao todo, selecionados pelo curador-chefe do museu austríaco Albertina, Christof Metzger, e Paulo Miyada, curador do Instituto Tomie Oktake.

Gravura de Rembrandt, ousada em seu realismo, e um dos pontos altos da arte holandesa Foto: Instituto Tomie Ohtake

O Museu Albertina de Viena tem um acervo gráfico invejável, com mais de 50 mil desenhos e algo em torno de 1 milhão de gravuras. A exposição é forte candidata à melhor mostra do ano. Por meio dela o visitante vê uma síntese da história da gravura nos últimos cinco séculos, conhecendo cada uma das técnicas inventadas, desde a xilogravura e calcogravura, feitas por processo mecânico, até as mais modernas técnicas de impressão, ou seja, dos primeiros gravadores alemães ao pop Andy Warhol, presente com a série policromática das cadeiras elétricas.

As gravuras que mais impressionam são as obras executadas entre os séculos 17 e 18. A técnica da água-tinta permitiu a artistas com o pintor espanhol Goya imprimir diversos tons de cinza sobre superfícies maiores. De Goya foram selecionados trabalhos de suas mais conhecidas séries, entre elas Tauromaquia, até hoje uma referência para contemporâneos, que não param de fazer referências a ela.

Litogravura do francês Toulouse-Lautreca, cuja excelência compete com sua pintura Foto: Instituto Tomie Ohtake

No início do século 19, a água-forte deu lugar à recém-descoberta litografia, que provocou uma verdadeira revolução nas artes visuais. No fim do século, a técnica estava consolidada a ponto de, em 1891, Toulouse-Lautrec se dedicar à cromolitografia, criada em Paris em 1837. Toulouse-Lautrec estava certo de que a técnica tinha força equivalente a de uma pintura (e seus cartazes expostos na mostra comprovam essa impressão). Os críticos da época, no entanto, consideravam suas litografias melhores que suas pinturas. Injustiça evidente.

Os pintores que recorreram à técnica da gravura se deram muito bem, a considerar os trabalhos selecionados para a exposição: Rembrandt, no século 17, foi mestre na técnica da água-forte, explorando ao máximo seu lado artesanal para que chegasse ao requinte de suas pinturas. Há na mostra tanto nus como cenas religiosas, que o tornaram o maior entre os holandeses da época, rivalizando com pintores do passado – Mantegna, por exemplo, o principal gravador do século 15 da Itália setentrional (que está na mostra).

Xilogravura do expressionista Kirchner, do primeiro grupo alemão de vanguarda Foto: Instituto Tomie Ohtake

Também para os pintores expressionistas, perseguidos pelo regime nazista, a equivalência entre a pintura e a gravura era evidente. Vários mestres desse período estão presentes na mostra do Museu Albertina: Kirchner (1880-1938)), Heckel (1883-1970), Karl Schmidt-Rottluff (1884-1976) e Emil Nolde (1867-1956). O núcleo expressionista é um dos pontos altos da exposição no Instituto Tomie Ohtake: eles são o primeiro grupo de vanguarda do século 20 na Alemanha. Na simplificação da forma e no estilo que retoma o primitivismo, eles abriram caminho para mulheres gravadoras engajadas como Käthe Kollwitz, representada na exposição com exemplos de sua militância a favor dos despossuídos.

Cartaz da exposição Secession de 1949, desenhado por Egon Schiele, remete à Santa Ceia Foto: Instituto Tomie Ohtake

Há tantos pontos altos na exposição que seria injusto não citar outros grandes revolucionários como Manet, Picasso e Egon Schiele, entre tantos. Ou, para finalizar, a série das cadeiras elétricas de Andy Warhol, obra em que a confluência da ousadia formal com a temática provoca incômodo e estupefação. Uma mostra imperdível.

SERVIÇO

Rinoceronte: Cinco Séculos de Gravuras do Museu Albertina. Instituto Tomie Ohtake. Rua Coropés, 88. tel. 2245- 1900. 3ª./dom., 11h/20h. Grátis.. Até 20/11.

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