Opinião|‘A Garota da Vez’ subverte a narrativa de filmes de serial killers e muda de perspectiva; entenda


Estreia de Anna Kendrick na direção conta a história de Rodney Alcala, mas tira o protagonismo do assassino; filme é um dos destaques entre as estreias da semana

Por Matheus Mans

Qualquer diretor interessado em surfar na onda do true crime se esbaldaria na história de Rodney Alcala, serial killer que matou mais de 130 mulheres ao longo de sua vida – sempre de forma cruel, envolvendo não só assassinato, mas também tortura e estupro. É, de maneira bem bizarra, um prato cheio para fazer um filme com um “psicopata charmoso” e se aproximar do que já vimos em Dahmer e Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal. Mas não é essa a visão de Anna Kendrick sobre essa história.

Anna Kendrick é protagonista, produtora e diretora de 'A Garota da Vez' Foto: Diamond Films/Divulgação
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Ela, que faz sua estreia na direção agora com A Garota da Vez, após uma longa carreira como atriz, não está interessada em fazer um filme sobre Alcala, mas sim sobre as vítimas que, em outros filmes, seriam apenas coadjuvantes de uma ou duas cenas. Ela tira qualquer peso da investigação da polícia, feita de maneira desleixada, com sobreviventes sendo ignoradas, e do próprio psicopata. O foco do filme é falar daquelas que foram silenciadas.

Assim, o longa-metragem, que estreia nos cinemas nesta quinta-feira, 10, usa seus mais de 90 minutos para colocar Alcala (Daniel Zovatto) como coadjuvante enquanto quatro mulheres ganham o protagonismo: desde a que pede ajuda para ele na mudança (Kathryn Gallagher), passando por uma adolescente (Autumn Best), a amiga de uma vítima (Nicolette Robinson) e até a jovem (Anna Kendrick) que participa de um programa de namoro com ele.

Surpreendentemente, a estreia de Kendrick na direção não foi planejada. Para o site Entertainment Weekly, ela explicou que simplesmente tomou a decisão quando nenhum outro diretor aceitou embarcar no projeto. “Como costuma acontecer com filmes, estava demorando uma eternidade e as peças não estavam se encaixando”, disse ela. “E então, muito rápido, você tem uma data de início das filmagens, mas nenhum diretor”.

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A atriz, que já estava confirmada como uma das protagonistas e também como produtora, decidiu se oferecer para o cargo. Para o site, ela também afirma que mexeu no texto do filme. O roteiro, afinal, é assinado por um homem, Ian McDonald, outro estreante.

Ter uma mulher por trás de tudo faz toda a diferença. “Embora gostasse do personagem, estava muito mais interessada no filme como um todo”, diz. “Fiquei muito animada com a ideia de pegar esse roteiro que eu tanto amava e moldá-lo da maneira que eu o via.”

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Um true crime mais consciente

O gênero de true crime é geralmente bem pouco consciente de suas questões narrativas quanto ao papel da mulher. Psicopatas que matam dezenas, às vezes centenas, de mulheres são transformados em galãs encantadores e charmosos. A vítima, que não teve chance em momento nenhum, volta a ser calada na tela. Parecem meros objetos de cena.

A Garota da Vez toma consciência disso e inverte a narrativa. Mostra o tempo todo como elas são silenciadas e tratadas como adereços de cena desde o programa de namoro na TV, em que o apresentador pede para a personagem de Kendrick apenas repetir frases prontas, até o momento em que a amiga de uma vítima é enganada ao falar que o homem, ali em rede nacional de televisão, é o tal que assassinou a colega a sangue frio.

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Em 'A Garota da Vez', o inimigo está ao lado Foto: Diamond Films/Divulgação

Indo além disso, A Garota da Vez tenta criar, por meio de uma narrativa um tanto desencontrada, uma conexão entre elas. Nenhuma se conhece de fato: duas apenas estão em um mesmo ambiente, sem trocar qualquer palavra. Kendrick, em uma direção surpreendentemente inspirada para um longa de estreia, mostra esse fio invisível que as conecta. Oras, elas são vítimas do criminoso (e da sociedade), não meros corpos à mercê.

Alcala, enquanto isso, nunca é charmoso como Bundy e Dahmer foram retratados recentemente na televisão – causando uma correta reclamação por parte da audiência, que vê isso como uma espécie de validação dos encontros sexuais entre vítima e psicopata. Alcala é inteligente e sabe conversar, mas nunca esbanja charme: por mais que um sorriso ou outro chame a atenção, o personagem está sempre na tela como verdadeira ameaça.

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Isso é importante, inclusive, para o espectador conseguir entender a situação enquanto as vítimas estão no escuro. A Garota da Vez é um longa-metragem de sobrevivência, sem que as personagens tenham consciência disso, jogando no colo do espectador o medo, a tensão e a repulsa. Você teme por elas e nunca fica realmente encantado pelo criminoso. Nem seria preciso dizer isso, mas é o correto, o caminho mais importante nessa história.

A Garota da Vez é um filme que sabe como tratar a história de um criminoso, jogando luz nas vítimas e no sistema – mostrando como há uma culpa compartilhada em casos como esse, mas sempre apontando o dedo de forma correta única e exclusivamente para o psicopata. O mundo brinca com as mulheres como se fossem objetos, às vezes bonecas. E Kendrick devolve a resposta: é preciso mudar a perspectiva de tudo para entender.

Qualquer diretor interessado em surfar na onda do true crime se esbaldaria na história de Rodney Alcala, serial killer que matou mais de 130 mulheres ao longo de sua vida – sempre de forma cruel, envolvendo não só assassinato, mas também tortura e estupro. É, de maneira bem bizarra, um prato cheio para fazer um filme com um “psicopata charmoso” e se aproximar do que já vimos em Dahmer e Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal. Mas não é essa a visão de Anna Kendrick sobre essa história.

Anna Kendrick é protagonista, produtora e diretora de 'A Garota da Vez' Foto: Diamond Films/Divulgação

Ela, que faz sua estreia na direção agora com A Garota da Vez, após uma longa carreira como atriz, não está interessada em fazer um filme sobre Alcala, mas sim sobre as vítimas que, em outros filmes, seriam apenas coadjuvantes de uma ou duas cenas. Ela tira qualquer peso da investigação da polícia, feita de maneira desleixada, com sobreviventes sendo ignoradas, e do próprio psicopata. O foco do filme é falar daquelas que foram silenciadas.

Assim, o longa-metragem, que estreia nos cinemas nesta quinta-feira, 10, usa seus mais de 90 minutos para colocar Alcala (Daniel Zovatto) como coadjuvante enquanto quatro mulheres ganham o protagonismo: desde a que pede ajuda para ele na mudança (Kathryn Gallagher), passando por uma adolescente (Autumn Best), a amiga de uma vítima (Nicolette Robinson) e até a jovem (Anna Kendrick) que participa de um programa de namoro com ele.

Surpreendentemente, a estreia de Kendrick na direção não foi planejada. Para o site Entertainment Weekly, ela explicou que simplesmente tomou a decisão quando nenhum outro diretor aceitou embarcar no projeto. “Como costuma acontecer com filmes, estava demorando uma eternidade e as peças não estavam se encaixando”, disse ela. “E então, muito rápido, você tem uma data de início das filmagens, mas nenhum diretor”.

A atriz, que já estava confirmada como uma das protagonistas e também como produtora, decidiu se oferecer para o cargo. Para o site, ela também afirma que mexeu no texto do filme. O roteiro, afinal, é assinado por um homem, Ian McDonald, outro estreante.

Ter uma mulher por trás de tudo faz toda a diferença. “Embora gostasse do personagem, estava muito mais interessada no filme como um todo”, diz. “Fiquei muito animada com a ideia de pegar esse roteiro que eu tanto amava e moldá-lo da maneira que eu o via.”

Um true crime mais consciente

O gênero de true crime é geralmente bem pouco consciente de suas questões narrativas quanto ao papel da mulher. Psicopatas que matam dezenas, às vezes centenas, de mulheres são transformados em galãs encantadores e charmosos. A vítima, que não teve chance em momento nenhum, volta a ser calada na tela. Parecem meros objetos de cena.

A Garota da Vez toma consciência disso e inverte a narrativa. Mostra o tempo todo como elas são silenciadas e tratadas como adereços de cena desde o programa de namoro na TV, em que o apresentador pede para a personagem de Kendrick apenas repetir frases prontas, até o momento em que a amiga de uma vítima é enganada ao falar que o homem, ali em rede nacional de televisão, é o tal que assassinou a colega a sangue frio.

Em 'A Garota da Vez', o inimigo está ao lado Foto: Diamond Films/Divulgação

Indo além disso, A Garota da Vez tenta criar, por meio de uma narrativa um tanto desencontrada, uma conexão entre elas. Nenhuma se conhece de fato: duas apenas estão em um mesmo ambiente, sem trocar qualquer palavra. Kendrick, em uma direção surpreendentemente inspirada para um longa de estreia, mostra esse fio invisível que as conecta. Oras, elas são vítimas do criminoso (e da sociedade), não meros corpos à mercê.

Alcala, enquanto isso, nunca é charmoso como Bundy e Dahmer foram retratados recentemente na televisão – causando uma correta reclamação por parte da audiência, que vê isso como uma espécie de validação dos encontros sexuais entre vítima e psicopata. Alcala é inteligente e sabe conversar, mas nunca esbanja charme: por mais que um sorriso ou outro chame a atenção, o personagem está sempre na tela como verdadeira ameaça.

Isso é importante, inclusive, para o espectador conseguir entender a situação enquanto as vítimas estão no escuro. A Garota da Vez é um longa-metragem de sobrevivência, sem que as personagens tenham consciência disso, jogando no colo do espectador o medo, a tensão e a repulsa. Você teme por elas e nunca fica realmente encantado pelo criminoso. Nem seria preciso dizer isso, mas é o correto, o caminho mais importante nessa história.

A Garota da Vez é um filme que sabe como tratar a história de um criminoso, jogando luz nas vítimas e no sistema – mostrando como há uma culpa compartilhada em casos como esse, mas sempre apontando o dedo de forma correta única e exclusivamente para o psicopata. O mundo brinca com as mulheres como se fossem objetos, às vezes bonecas. E Kendrick devolve a resposta: é preciso mudar a perspectiva de tudo para entender.

Qualquer diretor interessado em surfar na onda do true crime se esbaldaria na história de Rodney Alcala, serial killer que matou mais de 130 mulheres ao longo de sua vida – sempre de forma cruel, envolvendo não só assassinato, mas também tortura e estupro. É, de maneira bem bizarra, um prato cheio para fazer um filme com um “psicopata charmoso” e se aproximar do que já vimos em Dahmer e Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal. Mas não é essa a visão de Anna Kendrick sobre essa história.

Anna Kendrick é protagonista, produtora e diretora de 'A Garota da Vez' Foto: Diamond Films/Divulgação

Ela, que faz sua estreia na direção agora com A Garota da Vez, após uma longa carreira como atriz, não está interessada em fazer um filme sobre Alcala, mas sim sobre as vítimas que, em outros filmes, seriam apenas coadjuvantes de uma ou duas cenas. Ela tira qualquer peso da investigação da polícia, feita de maneira desleixada, com sobreviventes sendo ignoradas, e do próprio psicopata. O foco do filme é falar daquelas que foram silenciadas.

Assim, o longa-metragem, que estreia nos cinemas nesta quinta-feira, 10, usa seus mais de 90 minutos para colocar Alcala (Daniel Zovatto) como coadjuvante enquanto quatro mulheres ganham o protagonismo: desde a que pede ajuda para ele na mudança (Kathryn Gallagher), passando por uma adolescente (Autumn Best), a amiga de uma vítima (Nicolette Robinson) e até a jovem (Anna Kendrick) que participa de um programa de namoro com ele.

Surpreendentemente, a estreia de Kendrick na direção não foi planejada. Para o site Entertainment Weekly, ela explicou que simplesmente tomou a decisão quando nenhum outro diretor aceitou embarcar no projeto. “Como costuma acontecer com filmes, estava demorando uma eternidade e as peças não estavam se encaixando”, disse ela. “E então, muito rápido, você tem uma data de início das filmagens, mas nenhum diretor”.

A atriz, que já estava confirmada como uma das protagonistas e também como produtora, decidiu se oferecer para o cargo. Para o site, ela também afirma que mexeu no texto do filme. O roteiro, afinal, é assinado por um homem, Ian McDonald, outro estreante.

Ter uma mulher por trás de tudo faz toda a diferença. “Embora gostasse do personagem, estava muito mais interessada no filme como um todo”, diz. “Fiquei muito animada com a ideia de pegar esse roteiro que eu tanto amava e moldá-lo da maneira que eu o via.”

Um true crime mais consciente

O gênero de true crime é geralmente bem pouco consciente de suas questões narrativas quanto ao papel da mulher. Psicopatas que matam dezenas, às vezes centenas, de mulheres são transformados em galãs encantadores e charmosos. A vítima, que não teve chance em momento nenhum, volta a ser calada na tela. Parecem meros objetos de cena.

A Garota da Vez toma consciência disso e inverte a narrativa. Mostra o tempo todo como elas são silenciadas e tratadas como adereços de cena desde o programa de namoro na TV, em que o apresentador pede para a personagem de Kendrick apenas repetir frases prontas, até o momento em que a amiga de uma vítima é enganada ao falar que o homem, ali em rede nacional de televisão, é o tal que assassinou a colega a sangue frio.

Em 'A Garota da Vez', o inimigo está ao lado Foto: Diamond Films/Divulgação

Indo além disso, A Garota da Vez tenta criar, por meio de uma narrativa um tanto desencontrada, uma conexão entre elas. Nenhuma se conhece de fato: duas apenas estão em um mesmo ambiente, sem trocar qualquer palavra. Kendrick, em uma direção surpreendentemente inspirada para um longa de estreia, mostra esse fio invisível que as conecta. Oras, elas são vítimas do criminoso (e da sociedade), não meros corpos à mercê.

Alcala, enquanto isso, nunca é charmoso como Bundy e Dahmer foram retratados recentemente na televisão – causando uma correta reclamação por parte da audiência, que vê isso como uma espécie de validação dos encontros sexuais entre vítima e psicopata. Alcala é inteligente e sabe conversar, mas nunca esbanja charme: por mais que um sorriso ou outro chame a atenção, o personagem está sempre na tela como verdadeira ameaça.

Isso é importante, inclusive, para o espectador conseguir entender a situação enquanto as vítimas estão no escuro. A Garota da Vez é um longa-metragem de sobrevivência, sem que as personagens tenham consciência disso, jogando no colo do espectador o medo, a tensão e a repulsa. Você teme por elas e nunca fica realmente encantado pelo criminoso. Nem seria preciso dizer isso, mas é o correto, o caminho mais importante nessa história.

A Garota da Vez é um filme que sabe como tratar a história de um criminoso, jogando luz nas vítimas e no sistema – mostrando como há uma culpa compartilhada em casos como esse, mas sempre apontando o dedo de forma correta única e exclusivamente para o psicopata. O mundo brinca com as mulheres como se fossem objetos, às vezes bonecas. E Kendrick devolve a resposta: é preciso mudar a perspectiva de tudo para entender.

Qualquer diretor interessado em surfar na onda do true crime se esbaldaria na história de Rodney Alcala, serial killer que matou mais de 130 mulheres ao longo de sua vida – sempre de forma cruel, envolvendo não só assassinato, mas também tortura e estupro. É, de maneira bem bizarra, um prato cheio para fazer um filme com um “psicopata charmoso” e se aproximar do que já vimos em Dahmer e Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal. Mas não é essa a visão de Anna Kendrick sobre essa história.

Anna Kendrick é protagonista, produtora e diretora de 'A Garota da Vez' Foto: Diamond Films/Divulgação

Ela, que faz sua estreia na direção agora com A Garota da Vez, após uma longa carreira como atriz, não está interessada em fazer um filme sobre Alcala, mas sim sobre as vítimas que, em outros filmes, seriam apenas coadjuvantes de uma ou duas cenas. Ela tira qualquer peso da investigação da polícia, feita de maneira desleixada, com sobreviventes sendo ignoradas, e do próprio psicopata. O foco do filme é falar daquelas que foram silenciadas.

Assim, o longa-metragem, que estreia nos cinemas nesta quinta-feira, 10, usa seus mais de 90 minutos para colocar Alcala (Daniel Zovatto) como coadjuvante enquanto quatro mulheres ganham o protagonismo: desde a que pede ajuda para ele na mudança (Kathryn Gallagher), passando por uma adolescente (Autumn Best), a amiga de uma vítima (Nicolette Robinson) e até a jovem (Anna Kendrick) que participa de um programa de namoro com ele.

Surpreendentemente, a estreia de Kendrick na direção não foi planejada. Para o site Entertainment Weekly, ela explicou que simplesmente tomou a decisão quando nenhum outro diretor aceitou embarcar no projeto. “Como costuma acontecer com filmes, estava demorando uma eternidade e as peças não estavam se encaixando”, disse ela. “E então, muito rápido, você tem uma data de início das filmagens, mas nenhum diretor”.

A atriz, que já estava confirmada como uma das protagonistas e também como produtora, decidiu se oferecer para o cargo. Para o site, ela também afirma que mexeu no texto do filme. O roteiro, afinal, é assinado por um homem, Ian McDonald, outro estreante.

Ter uma mulher por trás de tudo faz toda a diferença. “Embora gostasse do personagem, estava muito mais interessada no filme como um todo”, diz. “Fiquei muito animada com a ideia de pegar esse roteiro que eu tanto amava e moldá-lo da maneira que eu o via.”

Um true crime mais consciente

O gênero de true crime é geralmente bem pouco consciente de suas questões narrativas quanto ao papel da mulher. Psicopatas que matam dezenas, às vezes centenas, de mulheres são transformados em galãs encantadores e charmosos. A vítima, que não teve chance em momento nenhum, volta a ser calada na tela. Parecem meros objetos de cena.

A Garota da Vez toma consciência disso e inverte a narrativa. Mostra o tempo todo como elas são silenciadas e tratadas como adereços de cena desde o programa de namoro na TV, em que o apresentador pede para a personagem de Kendrick apenas repetir frases prontas, até o momento em que a amiga de uma vítima é enganada ao falar que o homem, ali em rede nacional de televisão, é o tal que assassinou a colega a sangue frio.

Em 'A Garota da Vez', o inimigo está ao lado Foto: Diamond Films/Divulgação

Indo além disso, A Garota da Vez tenta criar, por meio de uma narrativa um tanto desencontrada, uma conexão entre elas. Nenhuma se conhece de fato: duas apenas estão em um mesmo ambiente, sem trocar qualquer palavra. Kendrick, em uma direção surpreendentemente inspirada para um longa de estreia, mostra esse fio invisível que as conecta. Oras, elas são vítimas do criminoso (e da sociedade), não meros corpos à mercê.

Alcala, enquanto isso, nunca é charmoso como Bundy e Dahmer foram retratados recentemente na televisão – causando uma correta reclamação por parte da audiência, que vê isso como uma espécie de validação dos encontros sexuais entre vítima e psicopata. Alcala é inteligente e sabe conversar, mas nunca esbanja charme: por mais que um sorriso ou outro chame a atenção, o personagem está sempre na tela como verdadeira ameaça.

Isso é importante, inclusive, para o espectador conseguir entender a situação enquanto as vítimas estão no escuro. A Garota da Vez é um longa-metragem de sobrevivência, sem que as personagens tenham consciência disso, jogando no colo do espectador o medo, a tensão e a repulsa. Você teme por elas e nunca fica realmente encantado pelo criminoso. Nem seria preciso dizer isso, mas é o correto, o caminho mais importante nessa história.

A Garota da Vez é um filme que sabe como tratar a história de um criminoso, jogando luz nas vítimas e no sistema – mostrando como há uma culpa compartilhada em casos como esse, mas sempre apontando o dedo de forma correta única e exclusivamente para o psicopata. O mundo brinca com as mulheres como se fossem objetos, às vezes bonecas. E Kendrick devolve a resposta: é preciso mudar a perspectiva de tudo para entender.

Opinião por Matheus Mans

Repórter de cultura, tecnologia e gastronomia desde 2012 e desde 2015 no Estadão. É formado em jornalismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie com especialização em audiovisual. É membro votante da Online Film Critics Society.

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