‘A juventude vive como se nada tivesse acontecido’, diz diretor de ‘Ainda Somos os Mesmos’


Suspense político baseado em relatos reais de brasileiros que viveram a perseguição militar após golpe de Augusto Pinochet, em 1973, traz à tona os horrores da ditadura militar chilena. Filme com Edson Celulari e Lucas Zaffari está em cartaz no cinema

Por Matheus Mans

Gabriel (Lucas Zaffari) é um jovem que foge da ditadura no Brasil em busca de liberdade no Chile. O que ele não esperava é que, anos depois no país vizinho, o pior iria acontecer: a ainda mais feroz repressão de Pinochet. Após três anos fugindo do exército, ele encontra refúgio na embaixada argentina, onde luta pela sobrevivência com outros refugiados.

Essa é a história de Ainda Somos os Mesmos, suspense político que está em cartaz nos cinemas. Dirigido por Paulo Nascimento (Em Teu Nome), o longa é baseado em relatos reais de brasileiros que viveram a perseguição militar após o violento golpe de Augusto Pinochet, em 1973. Filmado entre o Chile e o Brasil, o longa revela as dificuldades enfrentadas por exilados que buscavam abrigo nas embaixadas do país latino.

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Edson Celulari interpreta o pai do protagonista de 'Ainda Somos os Mesmos' Foto: Edson Filho/Divulgação

Ao Estadão, Nascimento conta que tudo nasceu a partir de um outro filme do cineasta, de 2009, que conta a história de Bona (Leonardo Machado), um estudante de engenharia pobre que entra para a luta armada. “Ainda Somos os Mesmos é quase um spin-off de Em Teu Nome”, diz o diretor. “Estávamos lançando esse outro filme, no Uruguai, quando [o militante e refugiado João Carlos] Bona Garcia nos contou essa história toda que ele passou em uma embaixada quando estava no Chile”.

Mudanças

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Desde então, muito aconteceu. Nascimento foi atrás de mais histórias, transformando o relato de Bona em um mosaico de memórias. Além disso, o diretor passou por perdas entre Em Teu Nome e Ainda Somos os Mesmos: Leonardo Machado, que interpretou Bona, morreu aos 42 anos em 2018, assim como outro nome importante do elenco, Marcos Paulo. Já o próprio Bona morreu durante a pandemia, época em que o filme teve que parar.

Só agora, com Zaffari no papel principal, que o filme andou. O protagonista não se chama Bona e há algumas ideias novas no caminho, como a relação dele com o pai, interpretado por Edson Celulari e que tem um certo comprometimento com o governo brasileiro. Não só foi uma maneira de realizar o filme descolado dos personagens de Em Teu Nome, mas também de trazer novos conflitos – conectados, inclusive, com o que acontece hoje por aí.

Lucas Zaffari é Gabriel, o jovem militante brasileiro que precisa se refugiar na embaixada argentina Foto: Edson Filho/Divulgação
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“O pai do Gabriel colabora com o regime militar por razões econômicas, mas ele, na verdade, não tem uma ideologia clara. Só que ele acaba compactuando, obviamente, e isso vai contra o próprio filho”, diz Edson, ao Estadão, na segunda parceria com Nascimento. “É um personagem rico, com camadas, e isso foi o que me interessou. Tudo passa pela importância da memória, sobre algo que é tão recente para nós. Um perigo que nos ronda e que é importante ser dimensionado, esse terror, essa violência que esses regimes representaram em todos esses países”.

Filmes sobre a memória da ditadura

Em 2024, o cinema nacional testemunhou uma boa safra de filmes sobre a ditadura militar do Brasil e dos países da América Latina. São filmes como O Mensageiro, o documentário Jango no Exílio, Entrelinhas, , Prisão nos Andes e, claro, o Ainda Estou Aqui - que ainda não estreou nos cinemas, mas fez barulho no Festival de Veneza e foi escolhido pelo Brasil para tentar uma vaga no Oscar. Isso acontece não só pelo marco de 60 anos desde o golpe em 1964, mas também pelo desejo quase generalizado dos cineastas em falarem sobre a memória.

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“Eu acho que esse filme tem uma missão muito importante. Por mais que a gente esteja perturbado com tanta informação chegando todo dia, a principal coisa que deveria nos orientar nesse momento, principalmente os jovens, é a memória”, diz o diretor. “Estamos vivendo um período em que a falta de memória é a coisa mais perigosa que existe. A juventude vive como se nada tivesse acontecido, como se tudo fosse ficção”.

Para Nascimento, hoje, é difícil explicar para os mais jovens o que era viver em um tempo onde você podia simplesmente desaparecer de um dia para o outro, sem entender o porquê. Ou, ainda, estar conversando com alguém em um bar e, no dia seguinte, ser dedurado por essa pessoa por algum motivo e desaparecer. “O que é viver com medo de não saber com quem você pode ou não pode conversar?”, questiona o cineasta.

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“Essa linha tênue entre a barbárie e a civilização é algo muito grave para ser esquecido, e hoje estamos esquecendo”, continua. “O filme fala sobre os jovens daquela época, que hoje estão vivos, com seus 70 e poucos anos, e que não são apenas velhinhos contando histórias para malucos. Eles viveram uma trajetória impressionante. Conheci o Bona, mas conheço muitos outros que passaram por isso e conseguiram ser, hoje, seres humanos.”

Por fim, ainda há um desejo de ir além das fronteiras, já que o filme transcende o Chile para abordar uma realidade comum na América Latina. “As histórias se mesclam”. diz. “O que aconteceu no Chile, aconteceu no Brasil, na Argentina e ainda acontece de diferentes formas. O filme é sobre resistir, lembrar e contar essas histórias às novas gerações”, finaliza o diretor.

Gabriel (Lucas Zaffari) é um jovem que foge da ditadura no Brasil em busca de liberdade no Chile. O que ele não esperava é que, anos depois no país vizinho, o pior iria acontecer: a ainda mais feroz repressão de Pinochet. Após três anos fugindo do exército, ele encontra refúgio na embaixada argentina, onde luta pela sobrevivência com outros refugiados.

Essa é a história de Ainda Somos os Mesmos, suspense político que está em cartaz nos cinemas. Dirigido por Paulo Nascimento (Em Teu Nome), o longa é baseado em relatos reais de brasileiros que viveram a perseguição militar após o violento golpe de Augusto Pinochet, em 1973. Filmado entre o Chile e o Brasil, o longa revela as dificuldades enfrentadas por exilados que buscavam abrigo nas embaixadas do país latino.

Edson Celulari interpreta o pai do protagonista de 'Ainda Somos os Mesmos' Foto: Edson Filho/Divulgação

Ao Estadão, Nascimento conta que tudo nasceu a partir de um outro filme do cineasta, de 2009, que conta a história de Bona (Leonardo Machado), um estudante de engenharia pobre que entra para a luta armada. “Ainda Somos os Mesmos é quase um spin-off de Em Teu Nome”, diz o diretor. “Estávamos lançando esse outro filme, no Uruguai, quando [o militante e refugiado João Carlos] Bona Garcia nos contou essa história toda que ele passou em uma embaixada quando estava no Chile”.

Mudanças

Desde então, muito aconteceu. Nascimento foi atrás de mais histórias, transformando o relato de Bona em um mosaico de memórias. Além disso, o diretor passou por perdas entre Em Teu Nome e Ainda Somos os Mesmos: Leonardo Machado, que interpretou Bona, morreu aos 42 anos em 2018, assim como outro nome importante do elenco, Marcos Paulo. Já o próprio Bona morreu durante a pandemia, época em que o filme teve que parar.

Só agora, com Zaffari no papel principal, que o filme andou. O protagonista não se chama Bona e há algumas ideias novas no caminho, como a relação dele com o pai, interpretado por Edson Celulari e que tem um certo comprometimento com o governo brasileiro. Não só foi uma maneira de realizar o filme descolado dos personagens de Em Teu Nome, mas também de trazer novos conflitos – conectados, inclusive, com o que acontece hoje por aí.

Lucas Zaffari é Gabriel, o jovem militante brasileiro que precisa se refugiar na embaixada argentina Foto: Edson Filho/Divulgação

“O pai do Gabriel colabora com o regime militar por razões econômicas, mas ele, na verdade, não tem uma ideologia clara. Só que ele acaba compactuando, obviamente, e isso vai contra o próprio filho”, diz Edson, ao Estadão, na segunda parceria com Nascimento. “É um personagem rico, com camadas, e isso foi o que me interessou. Tudo passa pela importância da memória, sobre algo que é tão recente para nós. Um perigo que nos ronda e que é importante ser dimensionado, esse terror, essa violência que esses regimes representaram em todos esses países”.

Filmes sobre a memória da ditadura

Em 2024, o cinema nacional testemunhou uma boa safra de filmes sobre a ditadura militar do Brasil e dos países da América Latina. São filmes como O Mensageiro, o documentário Jango no Exílio, Entrelinhas, , Prisão nos Andes e, claro, o Ainda Estou Aqui - que ainda não estreou nos cinemas, mas fez barulho no Festival de Veneza e foi escolhido pelo Brasil para tentar uma vaga no Oscar. Isso acontece não só pelo marco de 60 anos desde o golpe em 1964, mas também pelo desejo quase generalizado dos cineastas em falarem sobre a memória.

“Eu acho que esse filme tem uma missão muito importante. Por mais que a gente esteja perturbado com tanta informação chegando todo dia, a principal coisa que deveria nos orientar nesse momento, principalmente os jovens, é a memória”, diz o diretor. “Estamos vivendo um período em que a falta de memória é a coisa mais perigosa que existe. A juventude vive como se nada tivesse acontecido, como se tudo fosse ficção”.

Para Nascimento, hoje, é difícil explicar para os mais jovens o que era viver em um tempo onde você podia simplesmente desaparecer de um dia para o outro, sem entender o porquê. Ou, ainda, estar conversando com alguém em um bar e, no dia seguinte, ser dedurado por essa pessoa por algum motivo e desaparecer. “O que é viver com medo de não saber com quem você pode ou não pode conversar?”, questiona o cineasta.

“Essa linha tênue entre a barbárie e a civilização é algo muito grave para ser esquecido, e hoje estamos esquecendo”, continua. “O filme fala sobre os jovens daquela época, que hoje estão vivos, com seus 70 e poucos anos, e que não são apenas velhinhos contando histórias para malucos. Eles viveram uma trajetória impressionante. Conheci o Bona, mas conheço muitos outros que passaram por isso e conseguiram ser, hoje, seres humanos.”

Por fim, ainda há um desejo de ir além das fronteiras, já que o filme transcende o Chile para abordar uma realidade comum na América Latina. “As histórias se mesclam”. diz. “O que aconteceu no Chile, aconteceu no Brasil, na Argentina e ainda acontece de diferentes formas. O filme é sobre resistir, lembrar e contar essas histórias às novas gerações”, finaliza o diretor.

Gabriel (Lucas Zaffari) é um jovem que foge da ditadura no Brasil em busca de liberdade no Chile. O que ele não esperava é que, anos depois no país vizinho, o pior iria acontecer: a ainda mais feroz repressão de Pinochet. Após três anos fugindo do exército, ele encontra refúgio na embaixada argentina, onde luta pela sobrevivência com outros refugiados.

Essa é a história de Ainda Somos os Mesmos, suspense político que está em cartaz nos cinemas. Dirigido por Paulo Nascimento (Em Teu Nome), o longa é baseado em relatos reais de brasileiros que viveram a perseguição militar após o violento golpe de Augusto Pinochet, em 1973. Filmado entre o Chile e o Brasil, o longa revela as dificuldades enfrentadas por exilados que buscavam abrigo nas embaixadas do país latino.

Edson Celulari interpreta o pai do protagonista de 'Ainda Somos os Mesmos' Foto: Edson Filho/Divulgação

Ao Estadão, Nascimento conta que tudo nasceu a partir de um outro filme do cineasta, de 2009, que conta a história de Bona (Leonardo Machado), um estudante de engenharia pobre que entra para a luta armada. “Ainda Somos os Mesmos é quase um spin-off de Em Teu Nome”, diz o diretor. “Estávamos lançando esse outro filme, no Uruguai, quando [o militante e refugiado João Carlos] Bona Garcia nos contou essa história toda que ele passou em uma embaixada quando estava no Chile”.

Mudanças

Desde então, muito aconteceu. Nascimento foi atrás de mais histórias, transformando o relato de Bona em um mosaico de memórias. Além disso, o diretor passou por perdas entre Em Teu Nome e Ainda Somos os Mesmos: Leonardo Machado, que interpretou Bona, morreu aos 42 anos em 2018, assim como outro nome importante do elenco, Marcos Paulo. Já o próprio Bona morreu durante a pandemia, época em que o filme teve que parar.

Só agora, com Zaffari no papel principal, que o filme andou. O protagonista não se chama Bona e há algumas ideias novas no caminho, como a relação dele com o pai, interpretado por Edson Celulari e que tem um certo comprometimento com o governo brasileiro. Não só foi uma maneira de realizar o filme descolado dos personagens de Em Teu Nome, mas também de trazer novos conflitos – conectados, inclusive, com o que acontece hoje por aí.

Lucas Zaffari é Gabriel, o jovem militante brasileiro que precisa se refugiar na embaixada argentina Foto: Edson Filho/Divulgação

“O pai do Gabriel colabora com o regime militar por razões econômicas, mas ele, na verdade, não tem uma ideologia clara. Só que ele acaba compactuando, obviamente, e isso vai contra o próprio filho”, diz Edson, ao Estadão, na segunda parceria com Nascimento. “É um personagem rico, com camadas, e isso foi o que me interessou. Tudo passa pela importância da memória, sobre algo que é tão recente para nós. Um perigo que nos ronda e que é importante ser dimensionado, esse terror, essa violência que esses regimes representaram em todos esses países”.

Filmes sobre a memória da ditadura

Em 2024, o cinema nacional testemunhou uma boa safra de filmes sobre a ditadura militar do Brasil e dos países da América Latina. São filmes como O Mensageiro, o documentário Jango no Exílio, Entrelinhas, , Prisão nos Andes e, claro, o Ainda Estou Aqui - que ainda não estreou nos cinemas, mas fez barulho no Festival de Veneza e foi escolhido pelo Brasil para tentar uma vaga no Oscar. Isso acontece não só pelo marco de 60 anos desde o golpe em 1964, mas também pelo desejo quase generalizado dos cineastas em falarem sobre a memória.

“Eu acho que esse filme tem uma missão muito importante. Por mais que a gente esteja perturbado com tanta informação chegando todo dia, a principal coisa que deveria nos orientar nesse momento, principalmente os jovens, é a memória”, diz o diretor. “Estamos vivendo um período em que a falta de memória é a coisa mais perigosa que existe. A juventude vive como se nada tivesse acontecido, como se tudo fosse ficção”.

Para Nascimento, hoje, é difícil explicar para os mais jovens o que era viver em um tempo onde você podia simplesmente desaparecer de um dia para o outro, sem entender o porquê. Ou, ainda, estar conversando com alguém em um bar e, no dia seguinte, ser dedurado por essa pessoa por algum motivo e desaparecer. “O que é viver com medo de não saber com quem você pode ou não pode conversar?”, questiona o cineasta.

“Essa linha tênue entre a barbárie e a civilização é algo muito grave para ser esquecido, e hoje estamos esquecendo”, continua. “O filme fala sobre os jovens daquela época, que hoje estão vivos, com seus 70 e poucos anos, e que não são apenas velhinhos contando histórias para malucos. Eles viveram uma trajetória impressionante. Conheci o Bona, mas conheço muitos outros que passaram por isso e conseguiram ser, hoje, seres humanos.”

Por fim, ainda há um desejo de ir além das fronteiras, já que o filme transcende o Chile para abordar uma realidade comum na América Latina. “As histórias se mesclam”. diz. “O que aconteceu no Chile, aconteceu no Brasil, na Argentina e ainda acontece de diferentes formas. O filme é sobre resistir, lembrar e contar essas histórias às novas gerações”, finaliza o diretor.

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