A solidão infantil encontra expressão forte neste A Rota Selvagem, de Andrew Haigh. Charley (Charlie Plummer) é um garoto sem mãe que vive com um pai inconstante, Ray (Travis Fimmel), em condições precárias e mudando de um lugar para outro. Charley precisa se virar e encontra emprego de tratador de cavalos com o trambiqueiro Del (Steve Buscemi).
Del vive de apostas e dá uma turbinada nos cavalos em fim de linha para que vençam uma derradeira corrida. Um desses animais é Lean on Pete, pelo qual o garoto se afeiçoa. Charley sabe que, se Lean on Pete não se der bem na corrida, pode ir para o abate clandestino, no México. Trata de salvar-lhe a vida. Esse é prólogo do que seria um “horse movie”, visualmente muito bonito e bastante pungente. Porque seu tema, afinal, é a busca de proteção e ponto de referência num mundo indiferente, que parece tudo negar.
Criança, cavalo, solidão, pais ausentes – tudo isso parece confluir para um cinema de tipo chantagista, daqueles de arrancar à força lágrimas do espectador. Pois bem, a vantagem de A Rota Selvagem é jamais usar golpes baixos para despertar emoção. Sua estrutura é muito pouco sentimental, como se o diretor se contentasse em narrar fatos, de maneira quase objetiva, confiante de que eles falam por si mesmos, sem necessidade de adornos adicionais. É despojado, sem ser seco.
Andrew Haigh é diretor de boa mão. Dele, já havíamos visto o drama intimista 45 anos, em que uma esposa (Charlotte Rampling) descobre que o marido jamais se esqueceu de um amor de juventude. Em A Rota Selvagem, os recursos cênicos são muito diferentes. Haigh parte para a América profunda e, com a ajuda de excelentes atores (o garoto Plummer é ótimo, Buscemi dá show), explora de maneira visual essa solidão que só se encontra nos grandes espaços abertos. Um menino só, diante do mundo imenso.