A saga Transformers ficou negativamente marcada pelos filmes da era Michael Bay, sempre lembrados pela duração exagerada, as explosões e a câmera lenta sem motivo. É motivo de piada até hoje. É difícil reverter essa imagem, mas não dá para dizer que a Paramount Pictures não está tentando: fez dois bons filmes desvinculados ao trabalho de Bay, Bumblebee e O Despertar das Feras, e lança agora a animação Transformers: O Início.
Estreia desta quinta-feira, 26, o longa-metragem de animação conta a história de origem não apenas dos Transformers, mas também dos inimigos mortais que os acompanham desde sempre: os Decepticons. A trama mostra que Optimus Prime e Megatron eram grandes amigos antes de se tornarem rivais, e revela os eventos que levaram ao fim deste laço.
Por meio de um bom visual, ainda que não tão ousado quanto outros grandes filmes de animação de hoje, como Aranhaverso, Gato de Botas 2 e afins, o longa-metragem cria um universo de ficção científica com riscos, traços e cores.
É um mundo bem mais vivo do que aquele anterior, criado por Bay, e parece estar interessado em voltar à essência da saga inspirada nos brinquedos da Hasbro. O foco aqui não está na explosão, na pancadaria ou em qualquer coisa do tipo. Está na história, como era na boa série de animação dos anos 1980.
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Um filme com algo a dizer
Isso talvez seja fruto não apenas de um trabalho do estúdio, em colocar a franquia de volta com os pés no chão, mas também das boas apostas nos nomes por trás do filme. No roteiro, um trio acostumado com filmes da Marvel: Eric Pearson, de Thor: Ragnarok, Andrew Barrer e Gabriel Ferrari, ambos parceiros em Homem-Formiga e a Vespa. Na direção, enquanto isso, alguém do mundo da animação: Josh Cooley, do simpático Toy Story 4.
É a mistura que vemos na tela. Há preocupação visual, mas, acima de tudo, o desejo de contar uma boa história, cavando fundo no que aliens-robôs que se transformam em carros podem nos trazer. Aliás, vale notar: este talvez seja o primeiro filme da saga que se assume verdadeiramente como ficção científica, sem medo de abraçar o gênero. Afinal, Bay sempre seguiu o caminho da ação desenfreada, se preocupando pouco com algo além disso – é como uma versão de Velozes & Furiosos que se leva a sério demais, mas que, ao invés de Vin Diesel, conta com robôs gigantes.
Nessa busca pela essência de Transformers, o longa-metragem se encontra. Surpreende ainda ao tratar de temas sociais em sua história, sobre dois robôs operários que lutam contra o sistema ditatorial que se impôs em Cybertron, o planeta de origem dessas criaturas. Tem algo de sobrevivência aqui, enquanto os personagens tentam entender como se encaixam nesse novo mundo com autoritarismo, opressão e coisas do tipo. Há uma luta rebelde que infla os ânimos e traz um tipo de discussão inédita nesse mundo.
Obviamente, Transformers: O Início não chega a ser um libelo contra o capitalismo – oras, estamos falando de um filme de um estúdio gigantesco dos Estados Unidos e inspirado em brinquedos de uma outra empresa milionária. Mas talvez seja o mais perto que veremos dessas histórias seguindo nesse sentido, mostrando que há algo a dizer mesmo ao falar de robôs e carros. Não é preciso apostar sempre em uma única saída para essa franquia, com explosões e câmera lenta.
Transformers: O Início surpreende. É uma animação mais séria, consciente de suas limitações e possibilidades, que abraça aquilo que a franquia pode ser: divertida, mas ainda emocionante; uma ficção científica de verdade, com toques de aventura; e, o que mais choca, com uma história para contar. E assim, já com três bons filmes na conta, dá para dizer: Transformers tem uma nova cara – e é bem melhor do que aquela que vimos antes.