Análise: Em 'No Coração do Mundo', o sentimento de que a vida não pode ser só isso que se tem


"No Coração do Mundo', filme de Gabriel Martins e Maurilio Martins, é o retrato do Brasil em sua humana precariedade

Por Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Os diretores de No Coração do Mundo, Gabriel Martins e Maurilio Martins, instalam-se em Contagem (MG) como se estivessem em sua própria casa. Na verdade, estão mesmo em casa, pois lá está sua origem, os bairros onde nasceram e cresceram. Pode-se morar onde se quiser mais tarde na vida – mas é na paisagem da infância e da primeira juventude que se forjam as imagens e impressões mais fortes. Tudo isso para falar da naturalidade com que as imagens projetadas na tela nos atingem: elas respiram naturalidade e honestidade. De certa forma, ilustram a forma batida de Tolstoi, segundo a qual, para se atingir a universalidade, é preciso falar de sua própria aldeia. 

Com Grace Passô, 'No Coração do Mundo' retrata o Brasil Foto: Leonardo Feliciano

Estamos diante de figuras reconhecíveis por seu jeito de ser, modo de andar e falar. E reconhecíveis também no modo de pensar e enfrentar os desafios da vida, que nunca são poucos e nem pequenos num país chamado Brasil e num bairro periférico. O enredo é trançado entre seus personagens, Marcos (Leo Pyrata), Ana (Kelly Crifer), Rose (Barbara Colen) e Selma (Grace Passô), em suas improvisadas estratégias de sobrevivência. Às vezes, é quase um documentário do modo de vida brasileiro nas classes médias baixas e pobres. A tática de dar conta do dia a dia em múltiplos empregos e subempregos, como a cabeleireira que pretende diversificar-se em motorista de Uber, a fotógrafa improvisada de classes estudantis que pensa haver bolado um plano infalível para tirar o pé da lama e a matriarca que vende de porta em porta produtos de limpeza fabricados em casa. Pode incluir pequenos delitos (que às vezes se tornam grandes). É o retrato do Brasil, em sua humana precariedade. 

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Pode-se dizer que o mundo do trabalho e dos pequenos empregos é retratado com sintomática frequência nos filmes mineiros, tendo já aparecido em obras de envergadura como Arábia, de João Dumans e Affonso Uchôa, e Temporada, de André Novais de Oliveira. São obras que inovam em sua poética e estética e bebem na compreensão honesta do que significa o viver da mão para a boca do povo brasileiro, que, mesmo assim, não perde sua ternura, seu humor e o desejo de encontrar algo melhor. 

O “coração do mundo” do título é a expressão empregada pela personagem de Grace Passô (maravilhosa atriz) para designar aquele lugar em que se deseja estar no futuro. É o sonho, a utopia, a expressão do desejo e do inconformismo. A vida não pode ser apenas isto – esta é a forma em que a negação do status quo se expressa nas classes populares em sua pulsação potencialmente política. 

Os diretores de No Coração do Mundo, Gabriel Martins e Maurilio Martins, instalam-se em Contagem (MG) como se estivessem em sua própria casa. Na verdade, estão mesmo em casa, pois lá está sua origem, os bairros onde nasceram e cresceram. Pode-se morar onde se quiser mais tarde na vida – mas é na paisagem da infância e da primeira juventude que se forjam as imagens e impressões mais fortes. Tudo isso para falar da naturalidade com que as imagens projetadas na tela nos atingem: elas respiram naturalidade e honestidade. De certa forma, ilustram a forma batida de Tolstoi, segundo a qual, para se atingir a universalidade, é preciso falar de sua própria aldeia. 

Com Grace Passô, 'No Coração do Mundo' retrata o Brasil Foto: Leonardo Feliciano

Estamos diante de figuras reconhecíveis por seu jeito de ser, modo de andar e falar. E reconhecíveis também no modo de pensar e enfrentar os desafios da vida, que nunca são poucos e nem pequenos num país chamado Brasil e num bairro periférico. O enredo é trançado entre seus personagens, Marcos (Leo Pyrata), Ana (Kelly Crifer), Rose (Barbara Colen) e Selma (Grace Passô), em suas improvisadas estratégias de sobrevivência. Às vezes, é quase um documentário do modo de vida brasileiro nas classes médias baixas e pobres. A tática de dar conta do dia a dia em múltiplos empregos e subempregos, como a cabeleireira que pretende diversificar-se em motorista de Uber, a fotógrafa improvisada de classes estudantis que pensa haver bolado um plano infalível para tirar o pé da lama e a matriarca que vende de porta em porta produtos de limpeza fabricados em casa. Pode incluir pequenos delitos (que às vezes se tornam grandes). É o retrato do Brasil, em sua humana precariedade. 

Pode-se dizer que o mundo do trabalho e dos pequenos empregos é retratado com sintomática frequência nos filmes mineiros, tendo já aparecido em obras de envergadura como Arábia, de João Dumans e Affonso Uchôa, e Temporada, de André Novais de Oliveira. São obras que inovam em sua poética e estética e bebem na compreensão honesta do que significa o viver da mão para a boca do povo brasileiro, que, mesmo assim, não perde sua ternura, seu humor e o desejo de encontrar algo melhor. 

O “coração do mundo” do título é a expressão empregada pela personagem de Grace Passô (maravilhosa atriz) para designar aquele lugar em que se deseja estar no futuro. É o sonho, a utopia, a expressão do desejo e do inconformismo. A vida não pode ser apenas isto – esta é a forma em que a negação do status quo se expressa nas classes populares em sua pulsação potencialmente política. 

Os diretores de No Coração do Mundo, Gabriel Martins e Maurilio Martins, instalam-se em Contagem (MG) como se estivessem em sua própria casa. Na verdade, estão mesmo em casa, pois lá está sua origem, os bairros onde nasceram e cresceram. Pode-se morar onde se quiser mais tarde na vida – mas é na paisagem da infância e da primeira juventude que se forjam as imagens e impressões mais fortes. Tudo isso para falar da naturalidade com que as imagens projetadas na tela nos atingem: elas respiram naturalidade e honestidade. De certa forma, ilustram a forma batida de Tolstoi, segundo a qual, para se atingir a universalidade, é preciso falar de sua própria aldeia. 

Com Grace Passô, 'No Coração do Mundo' retrata o Brasil Foto: Leonardo Feliciano

Estamos diante de figuras reconhecíveis por seu jeito de ser, modo de andar e falar. E reconhecíveis também no modo de pensar e enfrentar os desafios da vida, que nunca são poucos e nem pequenos num país chamado Brasil e num bairro periférico. O enredo é trançado entre seus personagens, Marcos (Leo Pyrata), Ana (Kelly Crifer), Rose (Barbara Colen) e Selma (Grace Passô), em suas improvisadas estratégias de sobrevivência. Às vezes, é quase um documentário do modo de vida brasileiro nas classes médias baixas e pobres. A tática de dar conta do dia a dia em múltiplos empregos e subempregos, como a cabeleireira que pretende diversificar-se em motorista de Uber, a fotógrafa improvisada de classes estudantis que pensa haver bolado um plano infalível para tirar o pé da lama e a matriarca que vende de porta em porta produtos de limpeza fabricados em casa. Pode incluir pequenos delitos (que às vezes se tornam grandes). É o retrato do Brasil, em sua humana precariedade. 

Pode-se dizer que o mundo do trabalho e dos pequenos empregos é retratado com sintomática frequência nos filmes mineiros, tendo já aparecido em obras de envergadura como Arábia, de João Dumans e Affonso Uchôa, e Temporada, de André Novais de Oliveira. São obras que inovam em sua poética e estética e bebem na compreensão honesta do que significa o viver da mão para a boca do povo brasileiro, que, mesmo assim, não perde sua ternura, seu humor e o desejo de encontrar algo melhor. 

O “coração do mundo” do título é a expressão empregada pela personagem de Grace Passô (maravilhosa atriz) para designar aquele lugar em que se deseja estar no futuro. É o sonho, a utopia, a expressão do desejo e do inconformismo. A vida não pode ser apenas isto – esta é a forma em que a negação do status quo se expressa nas classes populares em sua pulsação potencialmente política. 

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