Opinião|‘Argylle: O Superespião’ diverte com bom elenco e Dua Lipa, mas roteiro é desastroso; entenda


Filme que estreia esta semana faz sátira com agentes secretos do cinema, recebe ajuda de nomes como Bryce Dallas Howard, Sam Rockwell e Henry Cavill e erra no excesso de reviravoltas; leia crítica

Por Matheus Mans

Matthew Vaughn é um cineasta que gosta de rir, se divertir e fazer paródias em cima de certos subgêneros que já começam a virar uma piada por si só. Ele já deu risada do cinema de super-heróis (Kick-Ass) e, principalmente, do cinema clássico de espionagem ao melhor estilo James Bond (com os filmes Kingsman).

Agora, ele direciona seu humor para o cinema de agentes secretos com Argylle: O Superespião, que estreia nos cinemas nesta quinta-feira, 1º, com Bryce Dallas Howard, Sam Rockwell, Henry Cavill e participações especiais de Dua Lipa, Ariana deBose, John Cena e Samuel L. Jackson.

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Aqui, acompanhamos a história de Elly Conway (Bryce Dallas Howard), escritora de filmes de espionagem que, da noite para o dia, se vê envolvida em uma trama muito parecida com a de seus livros quando Aidan (Sam Rockwell), um agente especial, surge em sua vida. Criatividade aguçada ou dom premonitório? É isso que o filme busca resolver.

‘Argylle’: um filme divertido, mas nem tanto

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Na superfície, Argylle é um filme divertido. Assim como Vaughn soube redimensionar os absurdos dos heróis e dos espiões, aqui ele sabe colocar o ridículo das histórias sobre agentes secretos em outra escala.

Seja pela forma tosca que retrata o principal espião (na dicotomia divertida entre Rockwell e o agente idealizado vivido por Cavill) ou, então, por piscadelas sobre coisas que acontecem nessas histórias, como beijos apaixonados.

O elenco também ajuda muito a criar esse clima de paródia sem ser, exatamente, uma paródia: há um tom lúdico na criação de Bryce Dallas Howard (Jurassic World) e de Rockwell (Três Anúncios para um Crime), que dão dimensão desses absurdos que aprendemos a aceitar - e até mesmo a gostar - das histórias sobre espionagem e agentes.

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Henry Cavill, Dua Lipa e John Cena em cena de ‘Argylle: O Superespião’. Foto: Universal Pictures/Divulgação

O grande problema de Argylle não reside na direção, tampouco no elenco. Mas no roteiro desastroso de Jason Fuchs, que antes tinha créditos como roteirista em filmes como Mulher-Maravilha, A Era do Gelo 4 e IT: A Coisa 2.

Enquanto Vaughn tem uma direção divertida, Fuchs não sabe exatamente como contar boas piadas e, principalmente, não sabe quando parar. Parece que ele fica preso em uma ideia do começo ao fim, sem intervalos.

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A piada? Há tantas reviravoltas no filme que você começa a se perder no emaranhado de histórias. E não, isso não é uma coisa boa. Uma reviravolta pode surpreender, duas podem te deixar vidrado se forem muito bem escritas. Mas cinco, seis?

O filme começa a se desconectar. Aqui, mais especificamente, você se vê cada vez mais longe de Elly, que simplesmente deixa de existir na história para se tornar um motor desses plot twists descabidos.

Sam Rockwell vive Aidan e Bryce Dallas Howard interpreta Elly Conway em ‘Argylle: O Superespião’. Foto: Universal Pictures/Divulgação
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Os personagens mudam de identidade exageradamente. Primeiramente, isso se revela como uma sacada divertida e que faz graça com histórias de John le Carré, brincando com a linha que separa um escritor de espionagem de um espião – e, acima de tudo, sobre aquelas tramas de agentes com dupla identidade ou até tripla, como acontece no filme Atômica. Mas a piada é tão repetida que o filme não tem mais clareza do que está contando.

Elos frágeis

Dessa forma, o elo do espectador com os personagens se torna frágil. As mudanças bruscas de vilão para mocinho ou de mocinha para vilã não deixam que qualquer um crie conexão com os acontecimentos.

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Tudo se torna líquido: a história, os desejos do filme, nossa conexão com os personagens e os propósitos daquela trama. Se não fosse um bom elenco liderado por Rockwell e Bryce, o filme estaria totalmente perdido na mesma piada.

Bryce Dallas Howard e Samuel L. Jackson em ‘Argylle: O Superespião’. Foto: Universal Pictures/Divulgação

Nossa atenção no filme é desviada o tempo todo para outros assuntos e, principalmente, em cenas visualmente impressionantes - há uma sequência de luta com Rockwell e Bryce, já no ato final, que tem um visual realmente divertido, com uma fumaça rosa tomando conta de tudo.

Mas, novamente: será que podemos acreditar no que estamos vendo? Será que Fuchs, em alguns minutos, não vai colocar outra reviravolta engraçadinha por aqui?

Isso sem falar da falta de originalidade: a premissa do filme, sobre a escritora que se depara com suas criações, lembra a aventura Cidade Perdida, com Sandra Bullock. Afinal, o filme tem uma história quase igual, mas menos divertida. A premissa, então, é idêntica.

Só que Argylle, mesmo com esses problemas, diverte por ser, acima de tudo, ingênuo – até nas atuações, que mais se aproximam de um universo lúdico de uma criança imaginando a vida de um agente especial.

Dua Lipa e Henry Cavill em ‘Argylle: O Superespião’. Foto: Universal Pictures/Divulgação

A simplicidade das cenas e a forma como coisas complexas se resolvem fazem do filme uma comédia genuína. Há ainda uma edição criativa, que trabalha para misturar Rockwell e Cavill em cena. Difícil isso, pelo menos, não tirar um bom sorriso.

Você pode sair do filme frustrado por perceber que não há grandes momentos. Pelo contrário: parece que há mais fragilidades do que pontos fortes, principalmente por ser Vaughn. O segredo é se deixar levar pelo absurdo e encontrar graça não apenas na paródia da espionagem, mas na forma que o cinema está se enxergando, colocando cada vez mais acontecimentos por minutos para evitar que o público dê aquela espiada no celular.

Matthew Vaughn é um cineasta que gosta de rir, se divertir e fazer paródias em cima de certos subgêneros que já começam a virar uma piada por si só. Ele já deu risada do cinema de super-heróis (Kick-Ass) e, principalmente, do cinema clássico de espionagem ao melhor estilo James Bond (com os filmes Kingsman).

Agora, ele direciona seu humor para o cinema de agentes secretos com Argylle: O Superespião, que estreia nos cinemas nesta quinta-feira, 1º, com Bryce Dallas Howard, Sam Rockwell, Henry Cavill e participações especiais de Dua Lipa, Ariana deBose, John Cena e Samuel L. Jackson.

Aqui, acompanhamos a história de Elly Conway (Bryce Dallas Howard), escritora de filmes de espionagem que, da noite para o dia, se vê envolvida em uma trama muito parecida com a de seus livros quando Aidan (Sam Rockwell), um agente especial, surge em sua vida. Criatividade aguçada ou dom premonitório? É isso que o filme busca resolver.

‘Argylle’: um filme divertido, mas nem tanto

Na superfície, Argylle é um filme divertido. Assim como Vaughn soube redimensionar os absurdos dos heróis e dos espiões, aqui ele sabe colocar o ridículo das histórias sobre agentes secretos em outra escala.

Seja pela forma tosca que retrata o principal espião (na dicotomia divertida entre Rockwell e o agente idealizado vivido por Cavill) ou, então, por piscadelas sobre coisas que acontecem nessas histórias, como beijos apaixonados.

O elenco também ajuda muito a criar esse clima de paródia sem ser, exatamente, uma paródia: há um tom lúdico na criação de Bryce Dallas Howard (Jurassic World) e de Rockwell (Três Anúncios para um Crime), que dão dimensão desses absurdos que aprendemos a aceitar - e até mesmo a gostar - das histórias sobre espionagem e agentes.

Henry Cavill, Dua Lipa e John Cena em cena de ‘Argylle: O Superespião’. Foto: Universal Pictures/Divulgação

O grande problema de Argylle não reside na direção, tampouco no elenco. Mas no roteiro desastroso de Jason Fuchs, que antes tinha créditos como roteirista em filmes como Mulher-Maravilha, A Era do Gelo 4 e IT: A Coisa 2.

Enquanto Vaughn tem uma direção divertida, Fuchs não sabe exatamente como contar boas piadas e, principalmente, não sabe quando parar. Parece que ele fica preso em uma ideia do começo ao fim, sem intervalos.

A piada? Há tantas reviravoltas no filme que você começa a se perder no emaranhado de histórias. E não, isso não é uma coisa boa. Uma reviravolta pode surpreender, duas podem te deixar vidrado se forem muito bem escritas. Mas cinco, seis?

O filme começa a se desconectar. Aqui, mais especificamente, você se vê cada vez mais longe de Elly, que simplesmente deixa de existir na história para se tornar um motor desses plot twists descabidos.

Sam Rockwell vive Aidan e Bryce Dallas Howard interpreta Elly Conway em ‘Argylle: O Superespião’. Foto: Universal Pictures/Divulgação

Os personagens mudam de identidade exageradamente. Primeiramente, isso se revela como uma sacada divertida e que faz graça com histórias de John le Carré, brincando com a linha que separa um escritor de espionagem de um espião – e, acima de tudo, sobre aquelas tramas de agentes com dupla identidade ou até tripla, como acontece no filme Atômica. Mas a piada é tão repetida que o filme não tem mais clareza do que está contando.

Elos frágeis

Dessa forma, o elo do espectador com os personagens se torna frágil. As mudanças bruscas de vilão para mocinho ou de mocinha para vilã não deixam que qualquer um crie conexão com os acontecimentos.

Tudo se torna líquido: a história, os desejos do filme, nossa conexão com os personagens e os propósitos daquela trama. Se não fosse um bom elenco liderado por Rockwell e Bryce, o filme estaria totalmente perdido na mesma piada.

Bryce Dallas Howard e Samuel L. Jackson em ‘Argylle: O Superespião’. Foto: Universal Pictures/Divulgação

Nossa atenção no filme é desviada o tempo todo para outros assuntos e, principalmente, em cenas visualmente impressionantes - há uma sequência de luta com Rockwell e Bryce, já no ato final, que tem um visual realmente divertido, com uma fumaça rosa tomando conta de tudo.

Mas, novamente: será que podemos acreditar no que estamos vendo? Será que Fuchs, em alguns minutos, não vai colocar outra reviravolta engraçadinha por aqui?

Isso sem falar da falta de originalidade: a premissa do filme, sobre a escritora que se depara com suas criações, lembra a aventura Cidade Perdida, com Sandra Bullock. Afinal, o filme tem uma história quase igual, mas menos divertida. A premissa, então, é idêntica.

Só que Argylle, mesmo com esses problemas, diverte por ser, acima de tudo, ingênuo – até nas atuações, que mais se aproximam de um universo lúdico de uma criança imaginando a vida de um agente especial.

Dua Lipa e Henry Cavill em ‘Argylle: O Superespião’. Foto: Universal Pictures/Divulgação

A simplicidade das cenas e a forma como coisas complexas se resolvem fazem do filme uma comédia genuína. Há ainda uma edição criativa, que trabalha para misturar Rockwell e Cavill em cena. Difícil isso, pelo menos, não tirar um bom sorriso.

Você pode sair do filme frustrado por perceber que não há grandes momentos. Pelo contrário: parece que há mais fragilidades do que pontos fortes, principalmente por ser Vaughn. O segredo é se deixar levar pelo absurdo e encontrar graça não apenas na paródia da espionagem, mas na forma que o cinema está se enxergando, colocando cada vez mais acontecimentos por minutos para evitar que o público dê aquela espiada no celular.

Matthew Vaughn é um cineasta que gosta de rir, se divertir e fazer paródias em cima de certos subgêneros que já começam a virar uma piada por si só. Ele já deu risada do cinema de super-heróis (Kick-Ass) e, principalmente, do cinema clássico de espionagem ao melhor estilo James Bond (com os filmes Kingsman).

Agora, ele direciona seu humor para o cinema de agentes secretos com Argylle: O Superespião, que estreia nos cinemas nesta quinta-feira, 1º, com Bryce Dallas Howard, Sam Rockwell, Henry Cavill e participações especiais de Dua Lipa, Ariana deBose, John Cena e Samuel L. Jackson.

Aqui, acompanhamos a história de Elly Conway (Bryce Dallas Howard), escritora de filmes de espionagem que, da noite para o dia, se vê envolvida em uma trama muito parecida com a de seus livros quando Aidan (Sam Rockwell), um agente especial, surge em sua vida. Criatividade aguçada ou dom premonitório? É isso que o filme busca resolver.

‘Argylle’: um filme divertido, mas nem tanto

Na superfície, Argylle é um filme divertido. Assim como Vaughn soube redimensionar os absurdos dos heróis e dos espiões, aqui ele sabe colocar o ridículo das histórias sobre agentes secretos em outra escala.

Seja pela forma tosca que retrata o principal espião (na dicotomia divertida entre Rockwell e o agente idealizado vivido por Cavill) ou, então, por piscadelas sobre coisas que acontecem nessas histórias, como beijos apaixonados.

O elenco também ajuda muito a criar esse clima de paródia sem ser, exatamente, uma paródia: há um tom lúdico na criação de Bryce Dallas Howard (Jurassic World) e de Rockwell (Três Anúncios para um Crime), que dão dimensão desses absurdos que aprendemos a aceitar - e até mesmo a gostar - das histórias sobre espionagem e agentes.

Henry Cavill, Dua Lipa e John Cena em cena de ‘Argylle: O Superespião’. Foto: Universal Pictures/Divulgação

O grande problema de Argylle não reside na direção, tampouco no elenco. Mas no roteiro desastroso de Jason Fuchs, que antes tinha créditos como roteirista em filmes como Mulher-Maravilha, A Era do Gelo 4 e IT: A Coisa 2.

Enquanto Vaughn tem uma direção divertida, Fuchs não sabe exatamente como contar boas piadas e, principalmente, não sabe quando parar. Parece que ele fica preso em uma ideia do começo ao fim, sem intervalos.

A piada? Há tantas reviravoltas no filme que você começa a se perder no emaranhado de histórias. E não, isso não é uma coisa boa. Uma reviravolta pode surpreender, duas podem te deixar vidrado se forem muito bem escritas. Mas cinco, seis?

O filme começa a se desconectar. Aqui, mais especificamente, você se vê cada vez mais longe de Elly, que simplesmente deixa de existir na história para se tornar um motor desses plot twists descabidos.

Sam Rockwell vive Aidan e Bryce Dallas Howard interpreta Elly Conway em ‘Argylle: O Superespião’. Foto: Universal Pictures/Divulgação

Os personagens mudam de identidade exageradamente. Primeiramente, isso se revela como uma sacada divertida e que faz graça com histórias de John le Carré, brincando com a linha que separa um escritor de espionagem de um espião – e, acima de tudo, sobre aquelas tramas de agentes com dupla identidade ou até tripla, como acontece no filme Atômica. Mas a piada é tão repetida que o filme não tem mais clareza do que está contando.

Elos frágeis

Dessa forma, o elo do espectador com os personagens se torna frágil. As mudanças bruscas de vilão para mocinho ou de mocinha para vilã não deixam que qualquer um crie conexão com os acontecimentos.

Tudo se torna líquido: a história, os desejos do filme, nossa conexão com os personagens e os propósitos daquela trama. Se não fosse um bom elenco liderado por Rockwell e Bryce, o filme estaria totalmente perdido na mesma piada.

Bryce Dallas Howard e Samuel L. Jackson em ‘Argylle: O Superespião’. Foto: Universal Pictures/Divulgação

Nossa atenção no filme é desviada o tempo todo para outros assuntos e, principalmente, em cenas visualmente impressionantes - há uma sequência de luta com Rockwell e Bryce, já no ato final, que tem um visual realmente divertido, com uma fumaça rosa tomando conta de tudo.

Mas, novamente: será que podemos acreditar no que estamos vendo? Será que Fuchs, em alguns minutos, não vai colocar outra reviravolta engraçadinha por aqui?

Isso sem falar da falta de originalidade: a premissa do filme, sobre a escritora que se depara com suas criações, lembra a aventura Cidade Perdida, com Sandra Bullock. Afinal, o filme tem uma história quase igual, mas menos divertida. A premissa, então, é idêntica.

Só que Argylle, mesmo com esses problemas, diverte por ser, acima de tudo, ingênuo – até nas atuações, que mais se aproximam de um universo lúdico de uma criança imaginando a vida de um agente especial.

Dua Lipa e Henry Cavill em ‘Argylle: O Superespião’. Foto: Universal Pictures/Divulgação

A simplicidade das cenas e a forma como coisas complexas se resolvem fazem do filme uma comédia genuína. Há ainda uma edição criativa, que trabalha para misturar Rockwell e Cavill em cena. Difícil isso, pelo menos, não tirar um bom sorriso.

Você pode sair do filme frustrado por perceber que não há grandes momentos. Pelo contrário: parece que há mais fragilidades do que pontos fortes, principalmente por ser Vaughn. O segredo é se deixar levar pelo absurdo e encontrar graça não apenas na paródia da espionagem, mas na forma que o cinema está se enxergando, colocando cada vez mais acontecimentos por minutos para evitar que o público dê aquela espiada no celular.

Opinião por Matheus Mans

Repórter de cultura, tecnologia e gastronomia desde 2012 e desde 2015 no Estadão. É formado em jornalismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie com especialização em audiovisual. É membro votante da Online Film Critics Society.

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